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terça-feira, 4 de abril de 2023

textos secretos





Penso que não sofria com a tua partida. Estava tudo ali como habitualmente, as árvores, as rosas, a sombra móvel da casa sobre o terraço, a hora e a data, e tu, apesar disso, tu estavas ausente. Não pensava que tivesses de regressar. Em volta do parque rolas sobre os telhados gritavam por companhia. E depois eram sete horas da tarde.

Disse para mim que te teria amado. Pensava que já só me restava de ti uma recordação hesitante, mas não; enganava-me, havia ainda estas praias em volta dos olhos, onde beijar e deitar na areia ainda quente, e esse olhar centrado na morte.





 
Marguerite Duras

  

sábado, 4 de abril de 2020

silêncio



Silêncio, e depois
 Quis dizer-lhe que o amava 
 Gritá-lo

 É tudo






 Marguerite Duras
(Foto de Andrei Tarkovski)

terça-feira, 16 de julho de 2019

para sempre



E depois o dia voltou como habitualmente, com lágrimas e pronto para o teatro. 
E mais uma vez o teatro aconteceu.
 E em vez de morrer fui para aquele terraço no parque e sem emoção disse em voz alta
 a data do dia que era, segunda-feira quinze de Junho de 1981, 
que tu tinhas partido no calor terrível para sempre e que eu acreditava, 
sim, desta vez, que era para sempre. 







 Marguerite Duras
 (Foto de Nishe)

sexta-feira, 13 de outubro de 2017




Nunca encontrei mulher mais cobarde do que eu.
 Recapitulo: mulheres que estão à espera como eu, 
 não, nenhuma é assim tão cobarde






 Marguerite Duras
 (Foto de Saul Leiter)

domingo, 16 de julho de 2017

vazio de sinais




Estava tudo depurado de vida,
 isento, 
 vazio de sinais, e depois disse para comigo: 
 vou começar a escrever
 para me curar da mentira de um amor que acaba. 






 Marguerite Duras

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017




Por vezes pode dizer-se que nada acontece a não ser essa mentira






Marguerite Duras

sexta-feira, 9 de setembro de 2016

A dor




A dor é tão grande, a dor sufoca, já não tem ar. 
 A dor precisa de espaço. 
 Há gente a mais nas ruas. 






 Marguerite Duras

terça-feira, 7 de junho de 2016




Ontem à noite, depois da sua partida definitiva, 
fui para aquela sala do rés-do-chão que dá para o parque, 
fui para ali onde fico sempre no mês de junho, 
esse mês que inaugura o Inverno. 
 Tinha varrido a casa, 
tinha limpo tudo como se fosse antes do meu funeral. 
 Estava tudo depurado de vida, 
isento, 
vazio de sinais, e depois disse para comigo: 
vou começar a escrever
 para me curar da mentira de um amor que acaba. 
 Tinha lavado as minhas coisas, 
quatro coisas, 
estava tudo limpo, o meu corpo, o meu cabelo, a minha roupa, 
e também aquilo que encerrava o todo, 
o corpo e a roupa, 
estes quartos, 
esta casa, 
este parque.

 E depois comecei a escrever... 






 Marguerite Duras (Textos Secretos)

sexta-feira, 21 de agosto de 2015




estar ao abrigo do fim do amor,
 é a isso que eu chamo felicidade 






 Marguerite Duras

terça-feira, 11 de agosto de 2015




Penso em ti. Mas já não o digo. 






 Marguerite Duras
 (Foto de Mariam Sitchinava)

sábado, 1 de agosto de 2015




Era uma bela tarde. Era Agosto. 
Ah! Este mês terrível que se sabe ser o mais quente, o coração do ano
 - esse cume - este calvário de beleza
- este caminho da cruz do mês de Agosto 






 Marguerite Duras

quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Diálogos íntimos




Telefonara-lhe. Sou eu. Ela reconhecera-o logo pela voz.
Ele dissera: queria só ouvir a sua voz. Ela dissera: sou eu,
bom dia. Ele... tinha medo como dantes. A sua voz tremia de
repente... Dissera-lhe que era como dantes, que ainda a amava,
que nunca poderia deixar de a amar, que a amaria até à morte.

Marguerite Duras

domingo, 31 de julho de 2011

Onde estamos?




Esta noite chove. Chove em volta da casa e
sobre o mar também. O filme vai ficar assim,
como está. Não tenho mais imagens para lhe dar.
Já não sei onde estamos, em que fim de que amor,
em que recomeço de que outro amor, em que
história nos perdemos. Sei apenas quanto ao filme.
Apenas quanto ao filme, sei, sei que nenhuma
imagem, nem uma só imagem mais poderia
prolongá-lo.

Marguerite Duras