HOMEM NA ESCURIDÃO de Paul Auster (Edições ASA)
"As dores ligeiras exprimem-se; as grandes
dores são mudas” SÉNECA
Paul Auster é para
mim um caso de amor/ódio, ou mais exactamente, porque a escala não é essa, de
entusiamo/indiferença. Alterna romances e estórias sublimes e
esxtaordináriamente contadas com alguns titulos que, pessoalmente não
aconselho. É um facto que há escritores que escrevem muito, tem uma produção
literária avassaladora. De entre estes há cada vez menos que se possam
considerar bons em tudo o que publicam. Suponho que não será sómente
responsabilidade dos próprios. O mundo editorial tem vindo a revelar-se como um
universo num crescendo de “publish or die”, que, sinceramente não sei onde irá
parar. Para fazer só um pequeno reparo a este cenário atentem na quantidade
absolutamente indescritivel de novos titulos que surgem diáriamente e que se
acumulam de forma quase desrespeitosa nas prateleiras de livrarias e
hipermercados. É trágico para muitos bons autores e para não menos bons livros
que o tempo de exposição que merecem para chegarem até nós seja cada vez mais
reduzido. Se pelo lado egoista da coisa se pode saudar estea torrente de novos
titulos a inundar o mercado livreiro, penso que tem também o efeito perverso de
menorizar aquilo que efectivamente acima da média. Julgo que estamos numa fase
de nivelamento por baixo de tudo o que é publicado. Tenho muitas vezes a
sensação que um determinado autor que tenha o engenho de ter produzido alguma
obra digna de registo, é capaz de ser obrigado a publicar tudo aquilo que
escreveu, desde o médio ao sofrível e se calhar a resgatar à proverbial
“gaveta” produção que de outra forma não teria coragem de dar a ver a luz.
Tendo dito isto, que é um dado concreto para mim, e que me ocorreu por já ter lido
algumas coisas de Paul Auster que não está exactamente no mesmo patamar daquilo
que de melhor li dele, volto ao “Homem na Escuridão”, que é o que aqui me
interessa. È o caso de um bom livro, com uma excelente ideia de base, muito bem
explorada. É o exemplo acabado de uma estória que reconhecemos, apesar do duplo
universo que nos retrata, em que o universo onírico nocturno, onde a escuridão
da noite faz ressaltar as dores, temores e inquietações do protagonista, que as
projecta num cenário de uma América alternativa, em guerra consigo própria. É
um livro que puxa por nós enquanto leitores e nos conduz a encruzilhadas
mentais onde somos muitas vezes confrontados com os nossos próprios fantasmas.
Gostei. Recomendo. Termino com a desinteressante informação de que nem sequer
sabia que tinha este livro. Apareceu assim a modos de aparição na estante lá de
casa, ou dito de outra forma, surgiu “acidentamente” na “Estante”. Boa
surpresa! Boas Leituras!
Na
Mesinha De Cabeceira:
A Casa Verde de Mario Vargas Llosa (Dom Quixote)
Suite Francesa de Irene Nemirovsky (Dom Quixote)
O Cemitério de Praga de Umberto Eco (Gradiva)
No Coração Desta Terra de J.M. Coetzee (Dom Quixote)
A Intermitência de Andrea Camilleri (Bertrand)
Comentários
So many books, so little time
:-)