não esquecer, desligar a musiquita do lado direito
Estou a escrever este texto, crónica, desabafo, baboseira ou o que lhe quiserem chamar, directamente de um boteco de montaditos em Ayamonte. A terminar um “jarro de cerveza”, que não é mais que uma caneca, e beberia outra não fosse este maldito sentido de responsabilidade que me persegue e na eminência de ficar alcoolizada em terras de Juan Carlos, que, era de facto o que me apetecia de momento.
Para chegarmos ao porquê deste, hoje, “jarro de cerveza” temos que recuar quase dois anos, quando descobri com uma enorme estupefacção, que o gato Serafim, bem como a restante família felina, eram portadores de SIDA felina. Ora o gato Serafim, o meu gato mariconço, frágil, caseiro, tímido, muito pouco dado a socializações e para quem quase só EU existo, não merecia ter sido contagiado, sem sequer se ter exposto ao perigo das redondezas.
ADIANTE…
A família acabou por morrer e o Serafim tem resistido estoicamente, cada vez com + mazelas, + magricela e com muito mau aspecto e eu…sempre à espera do dia D.
Ontem à noite, para espanto, começou a esvair-se em pus e entrei em estado de choque. Telefonia para as urgências veterinárias e a doutora (tão, mas tão QUERIDA) tratou de me acalmar, deu-me instruções de combate e mandou-nos lá estar logo de manhã. E fomos, logo, logo, os primeiros…eu nervosa e o Serafim a chorar todo o caminho, porque gato que se preze não gosta de caixas transportadoras.
E a veterinária olhou com olhos de pessoa experiente e ditou a sentença “o mais sensato era dar-lhe uma injecção para morrer”, e desta vez fui eu a esvair-me num filho da put@ de um choro, que me impediu de aceitar a proposta. E chegámos a acordo quanto ao adiamento da morte do Serafim e concordámos também em que ele ainda tem muita energia e que provavelmente ainda se vai aguentar muito tempo, cada vez com mais mazelas, mas com uma resistência felina que lhe permite estar desperto e mover-se e comer pouca comida de gato e muitas guloseimas de humano e seguir-me para todo o lado e gostar de mim como se eu fosse o seu ídolo e eu, ADORÁ-LO incondicionalmente (e estar feita parva, sozinha, a chorar no meio de uma cervejaria em Ayamonte).
BEM, vai daí que sai da veterinária, fui comprar antibiótico, mediquei o Serafim e fugi de mim…
Vim para a Espanha que tanto gosto, apesar desta zona ser como que o parente foleiro, a ouvir Ayo, como se não houvesse amanhã. A necessidade de sair de casa e de ouvir castelhano, porque é a língua que fica mais à mão, era tanta que fugi, literalmente…vontade mesmo tinha de ouvir um sotaque argentino, ou indiano, mas isso ficará para uma outra oportunidade.
Ficaria aqui a escrever mais umas tantas horas, mas não os quero massacrar...se é que conseguiram chegar até aqui.
Raios me partam (por favor deuses, não levem esta profecia muito à letra) se um dia não escrevo um livro a contar coisas. A contar coisas minhas em jeito de estórias iguais às vossas.
Soubesse eu os truques da escrita…
Acabei a cerveja, são 16.00 horas, vou regressar ao português, ao Serafim…e a mim!
para que saibam, o meu Serafim já foi um gato lindo