Gosto de observar as pessoas em silêncio, gosto inclusive de tecer comentários mudos e cerebrais, confesso que por vezes um tanto mesquinhos – “Credoooooo, parece um chouriço com este casaco”, “Coitado, que figurinha!”, Caramba, és aquilo que se pode chamar uma verdadeira idiota!” – quando o caso está mal parado chego mesmo a ofensas verbais do tipo “Que filho da put@ me saíste ó otário”. Para além destas, e apenas entre mim e o meu cérebro, desfila por vezes um rosário de afirmações poéticas do género.
Em suma, são comentários egoístas, poderiam ser diálogos, não fosse o acaso de serem mudos e ficarem confinados ao meu cérebro.
Observo o que mexe e o inanimado, comento comigo o belo e o feio numa surdina que raramente chego a partilhar.
Passo dias e dias que falo mais comigo do que com os outros…tenho preguiça de deitar conversas para fora, sabe-me bem conversar para dentro.
Gosto ainda das expressões, dos trejeitos, de arregalares de olhos, de mãos nervosas e agitadas…de falas com o corpo, de indícios de vida…
Em contrapartida, e porque geralmente há sempre um reverso da medalha, são raras as vezes que me consigo manter calada em situações que não me dizem respeito…meto o bedelho, opino, chego até a intrometer-me no pacato trivial das conversas alheias de fila de supermercado ou de locais de espera – “Uiiiii, se está cara a gasolina!”, “Também me aconteceu o mesmo!”, “Está um frio que não se aguenta!” - e por aí fora, porque esta boca às vezes desobedece-me e parece uma matraca...nem sempre a consigo conter.
Sou 2 em 1, ou talvez uma calada faladora.
Faço-me companhia assim. Não fossem estes meus laivos de intromissão a contrariar e acharia que tenho longos períodos de vivência numa bolha gigante.
Gosto de sorrir para as pessoas ou de fazer umas trombas monumentais se por qualquer motivo estas me irritam. Gosto que sintam que estou ali (acho que acabei de descobrir que gosto de ser notada).
Quando rio, rio mesmo…alto e despudoradamente, chocando provavelmente os outros mortais.
Quando me enervo, é impossível que alguém não note as minhas explosões imediatas…
Quando me zango falo alto, grito (quero eu dizer), mas grito mesmo, com todos os decibéis que a garganta me permite. Geralmente até ficar rouca e num tom que, tal como as gargalhadas, provavelmente choca também os outros mortais.
Sou pouco polida às vezes, mas em contrapartida não me podem acusar de ser pouco expressiva...sempre é um pontinho a favor.
Hoje senti necessidade de fazer esta observância de mim, talvez porque os balanços não se fazem só em Janeiro, talvez porque hoje é Fevereiro, talvez porque ou porque, ou porque…
E a espaços, conto-vos, bocadinhos soltos de mim, assim, só porque sim!