Mostrar mensagens com a etiqueta pai. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta pai. Mostrar todas as mensagens

21 abril 2016

Pai


Chamava-me Filoxera
O Porto o viu nascer
A ordem dos factos é outra
Mas por esta o quero dizer

Lembro o meu pai-herói
Faz dez anos que partiu
Abalara já na garupa
Da memória que lhe fugiu

Era Rui e era Barros
Não jogava futebol
Com uma lupa acendia
Cigarros expostos ao sol

Fez teatro n’Os Modestos
Na juventude do tempo
Escreveu para os jornais
Leitor crítico e atento

                            Homem sempre de Abril                            
Desde o berço até à morte
Votou, amou e viveu
Do lado esquerdo da sorte

Dançou quando eu nasci
Q’ um homem também dança
Se contido, mas babado
Ao nascer-lhe uma criança
  
Chorava as dores alheias
Vivia de punho erguido
Dizia que o povo unido
Jamais seria vencido

Apontava-me os beirais
Na primavera, exultante
Saudando as andorinhas
No regresso triunfante

Ensinou-me a perseverança
A rectidão e a coragem
Mostrou-me, desde criança,
Como viver esta viagem.

19 março 2013

Pai



Só te disse adeus meses depois.
Não me ocorreu dizer adeus quando vi a tua urna ser engolida pelo forno crematório.
Nunca se está preparada para dizer adeus. Nem ao fim de dez anos de doença. Dez anos que levaram o que eras, deixando-me, em vez de ti, um ser amorfo, sem brilho no olhar, sem força na atitude, sem a mordacidade das nossas “bocas”.
Fiquei sem poder de negociação quando o Alzheimer se instalou em ti. E ficou, para sempre, o meu calcanhar de Aquiles.
Naquele dia eu não estava preparada para te dizer adeus. Não quando, para se despedirem de ti, vieram do Porto familiares, que te eram tão próximos, e que continuaram desavindos e não se reaproximaram.
Não quando eu tinha uma vida dentro de mim, prestes a ver a luz dum dia onde já não te encontraria.
Tenho vivido estes últimos quase sete anos com a dor aninhada, carinhosamente, no lado esquerdo do peito, onde se guardam as tatuagens invisíveis que a vida nos oferece sem pedirmos.
Tenho sabido lidar com ela, garanto-te que tenho.
Mas hoje fazes-me tanta falta! E essa do ocupa-me todo o meu ser.
O Vasco está enorme e parece ter herdado alguns aspectos do teu carácter.
A Mafalda far-te-ia babar. Menina, loura, olhos azuis, sempre preocupada com os outros, toda ela charme.
Fazem-me falta as nossas danças cúmplices, rodopiando sobre nós mesmos, num passo desajeitado que faria qualquer pessoa rir-se de nós. Os olhares que nos dispensavam palavras. Até a tua exigência demasiada. A forma crua como me fazias ver que cabe a cada um de nós enfrentar as suas fraquezas, bater-se pelas suas causas.
Não te cheguei a dizer que foste um pai exemplar em quase tudo.
Não me preocupa isso, porque sei que te disse, sempre, o quanto te amava e admirava.
Mesmo quando já não me retribuías o abraço, quando o te cérebro doente não decifrava as minhas os meus lábios encriptados. Disse-to sempre. Não nos faltou diálogo nem o meu aconchego em ti.
Hoje, promete que não me censuras a lamechice, sim?
Porque hoje sou só saudade e lágrimas. E lamechice. Lamento.
Lamento não saber quando te vi pela última vez. A gravidez impediu-me de entrar na enfermaria onde te foram roubados os últimos sopros. Saíste de lá para um desfile triste de rostos conhecidos.
Lamento não termos conversado sobre os livros que me deixaste e os autores que descobri depois.  Os filmes que gostarias de ter visto. Lamento não termos assistido a mais concertos, não me termos bebido juntos uns copos de vinho, a acompanhar uns conselhos paternais sobre os meus amores e desamores.
Lamento já não estares para te rires por eu levar as angústias e as alegrias ao teu ouvido, tudo em doses generosas.
Segui os teus conselhos, pai. E os gostos que me incutiste. E a garra.
Estás em cada linha que leio, cada palavra que escrevo, cada luta que venço, cada manifestação que engrosso, cada sorriso. Cada lágrima.
Estarás sempre.
Só uma coisa não conseguiste ensinar-me:  o que fazer com esta saudade dolorosa. Infinita…
E, desta vez, sou eu que peço: aparece. E ri-te das minhas lágrimas. Não me deixes aqui sozinha…

22 abril 2012

Soneto para o meu pai





Seis anos de orfandade
Ensinaram-me a viver
Numa infinita saudade
Qu' ainda estou a aprender.


Sinto-te em cada leitura,
E na emoção que se tece,
Na memória que perdura,
Em cada dia que amanhece.


Sei-te distante no tempo,
Constante no pensamento
Emoção que me completa


Sei-te no livro publicado,
No meu poema cantado,
Nesta alma de poeta.

19 março 2012

PAI



Estás numa dimensão não corpórea e eu sinto saudades de nossa dança infantil.
Estás no meu gosto pela leitura, em cada livro que guardo, no mar, nas fotos. E eu tenho saudades de conversar contigo.
Estás nos traços do meu rosto, nos do meu irmão, no gosto do teu neto pelo xadrez, no sentido contestatário da tua neta e em cada um dos muitos outros netos e bisnetos. E a todos fazes falta.
Estás no meu apreço pelo Porto, em cada navio que observo, em cada lembrança das nossas viagens. E eu sinto saudades de descobrir o mundo contigo.
Estás na minha determinação, no livro que estou quase a publicar, no silêncio e no isolamento que tanto aprecio. Mas gostava que ainda estivesses com os meus filhos.
Estás em todas as minhas alegrias, em cada uma das minhas tristezas. E eu sinto falta dos teus conselhos e das tuas críticas.
Não estás visível connosco à mesa no nosso dia do pai. Mas estarás sempre em mim.

21 abril 2010

17/4/1937 - 21/4/2006


A saudade é uma estrada escura,
que não tem fim.
Percorro-a na solidão dos dias,
vazia de mim.

17 abril 2010

Porque o dia é teu

O dia já não é de festa, mas ainda é teu. (Assim  como o mês, e esta semana, sobretudo...)
Procurei as palavras certas para a saudade. As frases para o vazio.
Nenhumas traduziam a falta que me fazes.
Assim, volto a dizer que sei que estás em cada onda, em cada partícula do ar de Abril, em cada flor que da terra nasce. Porque no fim te devolvemos à liberdade.

(o resto fica entre nós, PAI. Porque há mensagens que vão directas...).

19 março 2010

Num dia que já não é meu...

... faltas tu, perdido nesse plano infinito de onde não se sai.
Faltam as palavras.
Sobram as saudades, que esmagam a minha alma. Para sempre.
Acompanhas-me a cada momento.
Inspiras-me na conduta diária.
De ti sorvi a sede de saber.
Contigo aprendi a coerência, a responsabilidade, a ambição.
Se escrevo, é por ti.
Se rasgo o peito para mitigar a dor, é pela nostalgia.
Não aceito. Ainda.
A doença, que me roubou o pai precocemente.
A dor.
A ausência.
A perda.
Ainda te amo.
Amar-te-ei sempre,
PAI.

(a falta que me fazes!...)

17 abril 2009

Hoje era o teu dia

(repito a foto que publiquei há um ano, dado que não tenho nenhuma outra do meu pai sozinho em formato digital e já não disponho de scannner)

A vida é um momento minúsculo no tempo do Universo.
Por isso, não tardará para que estejamos juntos nesta data que era a do teu aniversário.
Até lá, acompanha-me a figura de um pai especial, um homem recto, justo, culto, determinado e com uma sensibilidade muito própria.
A falta que tu me fazes!... Mas sei que estás em cada onda, em cada partícula do ar de Abril, em cada flor que da terra nasce. Porque no fim te devolvemos à liberdade.
Parabéns! Parabéns! (o resto fica entre nós, há mensagens que vão directas...).
Hoje soltarei para o ar um beijo. Com ele, o meu amor eterno.

19 março 2009

PAI


Bate forte, fortemente, esta saudade latente

Podia começar assim, um poema que escrevesse para ti, pai.
Mas nunca fui capaz de tecer poesia. Se fosse, tu merecê-la-ias.
Dizem que hoje é o Dia do Pai. Não te tenho comigo, nem ao meu pai emprestado, o inglês que partiu há pouco para esse plano onde se diluem as angústias, se anulam as preocupações.
Fazes-me falta. Já o disse aqui muitas vezes e continuarei a dizê-lo. Nunca foste do estilo "pai galinha". Eras aberto, comunicativo, frontal. Pouco dado a manifestar emoções, no entanto, sensível.
Hoje, para mim, não é dia de cemitério. Não quiseste ocupar o espaço e o tempo dos rituais fúnebres. Respeitámos, até porque também acho mais sensata, a tua opção.
E, porque este é um texto dirigido a ti, quem achar que não está para tristezas pode acabar aqui a leitura.
É que eu estou cheia de segredos para deitar cá para fora. E, enquanto não consigo fazê-lo quanto aos outros, pelo menos vou recordar os bichinhos de conta que enrolávamos na mão, era eu miúda de uns cinco anos, as noites de quarta, quando víamos os filmes na tv juntos, já adolescente, as conversas que tinhas comigo sobre temas que para outros pais eram tabú.
A doença. Essa devastação chamada Alzheimer que me roubou o pai cedo demais. Até uma morte que antecedeu uns dias o nascimento da tua neta. Gravidez enlutada. Quando ela nasceu, não chorei de dor, chorei pelo vosso desencontro. Pelas cinzas que fui obrigada a espalhar ao sabor das ondas porque a mãe assim teimou... Foi aí que te disse adeus. Adeus é, para mim, palavra apenas para esta situação: a morte. Estava demasiado perturbada para me despedir de ti quando a urna entrou para a tua última vontade, pelo que só disse adeus dias mais tarde. Junto ao infinito azul.

Tanto do que eu sou provém de ti! Tanto que eu te sinto aqui, junto a mim, todos os dias...
E agora, que não te tenho, que nunca mais te vou ter, dou por mim a pensar que ainda bem que foste poupado ao que se tem passado por aqui.
Precisava tanto de ter um pai agora! E os teus netos, esses, precisavam tanto de um avô...

19 março 2008

Dia do Pai

Dançou na noite em que nasci. E ganhou a aposta que fizera com a minha madrinha. Ela achava que eu seria um rapaz, ele garantia que sabia que tinha feito uma rapariga. Pois se até já tinha feito um rapaz!
Não conheceu o seu próprio pai e não era pródigo em carinhos nem em exprimir afectos. Porém, conseguia transmiti-los de forma muito própria. Até as alcunhas que me dedicava soavam carinhosas.
Tirava rolos e rolos de fotografias à sua bebé, eu. Cedo começou a comprar-me livros, desejoso que eu os apreciasse quando crescesse. Foi a sua melhor intuição.
A nossa cumplicidade cresceu por fases. Houve a fase da palmadinha ao deitar, a das brincadeiras com bichos-de-conta, sentados no rebordo do canteiro da estação do Estoril, enquanto esperávamos a chegada do comboio, a da compra das prendas em ocasiões festivas, a dos “campeonatos” de xadrês, a das sessões de cinema na tv às quartas à noite, a dos abraços dançados, num ritmo só nosso, e tantas outras.
Pelo meio, ensinou-me a responsabilidade, instigou-me o espírito crítico, despontou a minha consciência social e política.
Não me elogiava directamente, mas gabava-me quando conversava com familiares ou amigos.Foi o meu exemplo. Muitos amaram os seus pais, mas nem todos se orgulharam deles. Eu sempre tive razões para me orgulhar do meu.
Devo-lhe, em grande parte, a auto-confiança, a autonomia, a perseverança , a iniciativa, o sentimento de pertença a um local e a uma família.
Na adolescência, a fase contestada, o seu jeito muito próprio de estar e o seu liberalismo fizeram com que até os meus amigos lhe reconhecessem um certo carisma.
Lamento não o ter hoje comigo, participando da educação dos netos, brincando com eles e apreciando os seus feitos infantis. Lamento já não ter as risadas cúmplices e as “bocas” cáusticas.
Há muito que não o tenho para comemorar este Dia do Pai. Levou-mo a Doença de Alzheimer, muito antes de a própria morte o levar. Os últimos anos foram de monólogo. Ele já nada e dizia, mas eu continuava a falar.
Hoje, como todos os dias, penso nele. Com uma saudade cada vez maior. Uma dor magoada de quem nunca aceitou a doença mais temida, a perda mais prolongada.
Todos os dias, o mesmo pensamento: fazes-me falta.

21 outubro 2007

Um ano e meio.
Completa-se hoje um ano e meio desde que partiste, pai.
O mundo segue o seu curso, mas coxo por não te ter.
E eu sinto-me cada dia um bocadinho mais órfã.

18 junho 2007

Pai-herói

Numa das leituras nocturnas de histórias que antecedem o sono do meu filho, o facto de um ursinho do conto ficar preso debaixo do tronco tombado de uma árvore, suscitou-lhe a questão:
- Mãe, como é que o a árvore caiu?
- Provavelmente, a árvora já estaria fraquinha e, com uma rajada de vento forte, acabou por cair.
- Não, já sei: foi a raposa, que quando viu o ursinho ao pé da árvore, fez assim com as patas com muita, muita força (gesticula com os braços, no sentido de empurrar um tronco imaginário) e a árvore caiu.
- Mas as árvores não costumam cair com a força dos animais; às vezes, se já não estiverem muito saudáveis, pode ser um vento muito forte que as faz inclinar ou até cair...
- Ah, então foi o pai da raposa!

Moral da história: contentem-se e aproveitem, pais; não será para sempre que serão verdadeiros Hércules aos olhos dos vossos filhos.

LinkWithin

Blog Widget by LinkWithin