Há pouco tempo passou no
cinema um filme com a Julianne Moore que muitos acharam impressionante.
Chamava-se O Meu Nome é Alice e conduzia-nos a um patamar moderado de
perda de identidade e autonomia da protagonista.
Fui ver o filme com
a minha mãe. Ambas calámos a dor indelével da ferida retocada até ao
final da exibição. Então, virámo-nos uma para a outra e concordámos que o
filme (tal como o livro em que se baseia) apenas aflora a doença.
Alzheimer é sentença pior que outros males, porque significa o fim da esperança. Para o doente e para quem o ama.
Não digo que o filme seja mau, mas incompleto. Fica-se pela perda de
sentido de orientação, incapacidade de prosseguir a vida profissional,
deterioração dos cuidados pessoais.
Para nós, Alzheimer começou com a
incapacidade para preencher as palavras cruzadas acompanhada da perda
de vocabulário e a compra do jornal sem dinheiro, que acautelámos
prevenindo as senhoras da papelaria.
Depressa começaram as idas
constantes ao hospital, para hidratação e nutrição do meu pai que, antes
dos 60 anos(!), desaprendera de comer e deixara de sentir sede. As
saídas furtivas à rua, o impulso de meter a mão num tacho ao lume ou
numa tomada, os comentários e comportamentos inadequados. Rapidamente
evoluiu para um estado de magreza gritante e uma vulnerabilidade que
troca o sentido à vida da família. O olhar vazio de quem tudo
desaprende.
O doente desconfia da própria imagem reflectida no
espelho e deixa de reconhecer quase toda a gente. Multiplicam-se
infecções respiratórias e urinárias.
As crises de agressividade
podem ser frequentes e o(s) cuidador(es) sofre(m) de exaustão,
isolamento e suportam um fardo económico brutal.
Alzheimer não é como o filme com a Julianne Moore nem é doença que deva servir de base a piadas de mau gosto.
Hoje é o Dia Internacional da doença este texto é a minha forma de sensibilizar para a demência.