Um dia consegui perceber, que apesar de lhe chamar "Madrinha" na verdade não era minha madrinha, na verdade, nem tão pouco familia de sangue. Era Madrinha de casamento dos meus pais, Mãe de um antigo noivo da minha Mãe que faleceu em Angola. Mais tarde viria a ser Madrinha de batismo do meu irmão mais velho, mas como desde que me entendo como gente ouvi chamar-lhe Madrinha, Madrinha seria para mim.
Madrinha e Padrinho, que cresci ao lado deles, junto a eles, as casas eram lado a lado, pegadas até, que partilharam connosco as suas vidas e nós as nossas, com os quais passamos tantos natais, tantos aniversários, tantas datas importantes, aqueles que para a minha filha são o Padrinho e a Madrinha, aqueles que fizeram de nós a sua família....
Não faz sentido chegar ali e não A ver, não é justo ter de explicar-lhe a Ele que Aquela com quem partilhou uma vida de mais de 75 anos, com quem teve dois filhos que cedo demais perderam, já não vai regressar a casa. Ouvir que já sabia, pois havia-o sentido durante a noite! Certo que nos tem a nós, mas senti naquele momento o vazio que lhe penetrou a alma "Que vai ser de mim sem ela?"...
Não me venham dizer que tenho de me conformar, que já se esperava, que a idade não perdoa... Não é por me lembrar que tinha 95 anos que vou sentir menos a sua MORTE.
Ficam gravados 34 anos na minha vida, acompanhou-me desde que nasci, poucos dias foram, aqueles em que não a vi e não me consigo mentalizar que terei de olhar para aquela porta e dizer...´
"Até sempre Madrinha!"
(imagem daqui)