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15/06/2011

Magazine Cultural II - Gonçalo M. Tavares

O anti-tecnicista que escreve mecânicamente
Sábado dia 18 pelas 21:30 no Café Concerto do TMG,

Lê-se depressa. Não estou a apreciar. Estou desiludido. Já não lia Gonçalo M. Tavares há 5 anos pelo menos e algo mudou, em mim, ou nos livros dele. Tinha gostado, agora não gosto. Este ganhou o prémio do melhor livro estrangeiro em França. E enquanto escritor, é elogiado a torto e a direito. Tenho sempre a sensação de estar a ler a introdução e já vou a meio. Gonçalo cria uma personagem que é apenas um veículo para reflexões forçadas, previsíveis, académicas e batidas. Sobretudo, não são credíveis. 


Curiosamente, os temas sobrepõem-se ao La Carte Et le Territoire do Houellebecq e assim uma pessoa pode perceber porque é que o Houellebecq está noutro patamar. No Aprender a Rezar na Era da Técnica as personagens são bonecos unidimensionais, sem qualquer réstia de mistério ou interesse. Pode passar por intenção inicial, criar uma espécie de "sims" que se movem num espaço cartesiano com o eixo natureza e o eixo sociedade, mas percebe-se que não é opção, é limitação. É um livro desprovido de vida, neutro, inerte. A violência, sexo ou crueldade, descritas de forma fria e indiferente, não me causam o efeito que era suposto causar. Talvez provoquem calafrios a donas de casa entre dois livros do António Lobo Antunes ou a críticos literários que gostam das coisas no sítio do costume com um qb de irreverência para apimentar e ser moderno. E depois repete-se. Penso que já a li a frase "O que mais surpreendera Lenz, não fora a [COISA QUE PELOS VISTOS O LEITOR PENSAVA QUE SURPREENDERA LENZ] mas sim a[COISA QUE AFINAL SURPREENDEU LENZ]" umas quatro vezes. Percebemos a ideia num parágrafo mas ele continua a desenvolver o originalíssimo tema do combate com a doença que vai conquistando orgãos no corpo, ou da criança que teve uma educação muito rígida em que não podia mostrar medo ou era castigada ou dos comportamentos humanos em geral, como a ambição, a subserviência ou o medo. Não há risco neste romance, há apenas uns espamos ocasionais por territórios de absurdo forçado que me parecem a reinterpretação de coisas lidas e familiares. É um ensaio académico linear sobre a condição humana etc. etc. 


Desde o título, pretensioso, ao próprio uso de nomes forçados como Lenz Buchmann para criar um vazio de referências, tudo é consciente e pensado. Do Gonçalo M. Tavares, não há nada. Nem uma linha. Não tem voz literária. Não existe. Se ao menos houvesse um erro, uma vírgula mal posta, poderíamos dizer "ah, cá está o Gonçalo M. Tavares", mas não, aquela merda está escrita de forma perfeita, inteligente e escorreita e lê-se bem, como aquelas pautas de música barroca escritas por um computador com um algoritmo matemático inspirado nas obras de Bach.


In: http://tolanbaranduna.blogspot.com/2011/02/aprender-rezar-na-era-da-tecnica.html

2 comentários:

Tiago M. Franco disse...

Não podia discordar mais sobre a vossa opinião relativamente a esta obra. Concordo quando afirma que "Gonçalo cria uma personagem que é apenas um veículo para reflexões forçadas", só que ao contrário de si, vejo nesse processo de criação literária a genialidade do autor. São muitas as passagens que lhe poderia referir desta obra, mas olhando para os recentes distúrbios em Londres, veja como o autor é extremamente contemporâneo " Lens não tinha ilusões: só não entrava numa qualquer rua da cidade com a mesma cautela e com a arma preparada para disparar porque, naquele outro espaço, algo ainda inibia o ódio: a mútua vantagem económica."

Anónimo disse...

Concordo em absoluto. A escrita deste Tavares retornado é um bacalhau seco. Mas tal como os outros meninos da pandilha Tavares-Peixoto-Hugo Mãe, não se pode criticar se não caem-nos logo em cima os acólitos da literatura barata e os lobys das editoras com insultos de todo o tamanho. E compararem o gajo ao Kafka?! Drogaram-se com o quê? Pelo caminho que isto leva, devem estar mesmo a mandar o shakespeare para a fogueira e a proclamar o Tavares como o Canône ocidental!