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quarta-feira, 15 de outubro de 2014

Dores e emoções de uma descoberta

Olá, amigos, segue mais um texto de memórias literárias produzido na Escola Municipal Tiradentes, em Nossa Senhora da Glória - SE, por ocasião das oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa "Escrevendo o Futuro", edição de 2014. Este é o texto de memórias que foi selecionado pela comissão municipal e participou da etapa estadual da olimpíada. Vamos a ele:

Baú da Lembranças

DORES E EMOÇÕES DE UMA DESCOBERTA

Faz muito tempo, mas como não trazer comigo as lembranças de momentos maravilhosos iguais aos que vivi nos tempos de garotinha? Embora minha infância não tenha sido das melhores, as emoções que experimentei são inesquecíveis. 

Em 1948, Nossa Senhora da Glória, no interior de Sergipe, estava em processo de desenvolvimento. As ruas não eram calçadas ainda, havia um pequeno comércio e o que predominava mesmo na paisagem era a vegetação. Isso explica porque antes de ser denominada com o nome da santa, a povoação era conhecida como Boca da Mata. 

Eu morava onde hoje é a praça da igreja matriz. Ali, naquela época, era um imenso terreiro. Havia apenas a igreja, fileiras de casas dos dois lados, e, na frente da igreja, um terreno por onde vinham as procissões, onde aconteciam as festas de reisado. Nessas festas as pessoas se deixavam contagiar pela música, abraçavam-se entusiasmadas, pois todos eram conhecidos, era uma grande alegria.  

Mãe Velha ia à missa aos domingos. Eu, é claro, a acompanhava, apesar de não gostar muito. Ia só para me livrar dos afazeres que Mainha me mandava cumprir. Em um desses domingos, se bem me lembro, Mainha não me deixou acompanhar Mãe Velha. Foi nesse dia que vivi as dores e emoções de uma descoberta. 

Era 9h da manhã, estava limpando o moringueiro, onde se guardavam os pratos para as refeições do dia a dia. De repente, ouvi um barulho estranho vindo da rua. Parecia até quando papai comia feijoada: bloc, bloc, bloc. Quando fui correr para ver o que estava havendo do lado de fora, BLAC! Acabei derrubando todos os pratos. Fiquei apavorada. Estava com medo do que havia do lado de fora, daquele barulho, e com mais medo ainda do que iria acontecer comigo quando Mainha chegasse e visse o que tinha feito com os pratos. Mesmo assim, a curiosidade cutucava meu juízo e queria ver o que estava acontecendo. Chegando lá fora, não sei que emoção tomou conta de mim, pois minhas pernas tremiam, minhas mãos gelavam, vi uma coisa estranha, meio assustadora. Naquele momento não sei se era medo mesmo o que sentia, ou surpresa pela visão de algo tão inexplicável. Tempos depois, vim saber o nome daquele troço: era um caminhão! Foi o primeiro caminhão a chegar à minha cidade. 

Esse foi o dia mais emocionante, marcante e dolorido da minha vida. Isso por dois motivos: primeiro, é claro, porque tive a emoção de presenciar a chegada do primeiro caminhão em Glória e segundo porque levei a maior surra por ter quebrado naquele dia todos os pratos que tínhamos em casa. Essas marcas trago até hoje.

Naquela época, Dona Marizete não tinha ideia do que era um caminhão, mas nossa cidade ainda era muito pequena, pouco desenvolvida, não havia ainda luz elétrica, água encanada, nem as crianças frequentavam a escola. Nessa entrevista, ela chegou a se emocionar ao lembrar esses fatos aparentemente pouco importantes, mas que, para ela, se tornaram inesquecíveis.  

Lorena Torres - 7ª C

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domingo, 24 de agosto de 2014

Criança não, nasci adulta

Olá, amigos, eis aqui mais um texto de memórias literárias produzido por alunos da Escola Municipal Tiradentes, em Nossa Senhora da Glória - SE por ocasião das oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa "Escrevendo o Futuro", edição de 2014:

Baú das Lembranças

Criança não, nasci adulta

Depois de muito insistir, minha avó, Maria Josefa, que hoje tem 77 anos, me contou a história de sua vida. “Não era uma moça das mais belas, mas era como uma pequena estrela entre onze irmãos. Fomos criados, eu e meus irmãos, como os meses do ano: Pedro, Gerino, Genevino, João, José, Antônio, Glória, São José, Maria de Lourdes, Maria Verônica, Gerdal e eu.

Fomos todos criados trabalhando na roça. Acordávamos era cedo, quatro ou cinco horas da manhã. Quebrávamos uma planta de juazeiro e passávamos a escova de dentes por dentro. Diziam que isso conservava os dentes. Comíamos um ovo estrelado com um bolinho de cuscuz e íamos para a roça. Não era muito longe. Depois que eu e meu compadre Pedro tirávamos o leite das cabras que o nosso pai criava, íamos cavar os buracos para plantar milho, feijão e algodão. Muitas vezes, quando tirávamos o leite das cabras, enchíamos uma tigela e tomávamos na hora. O leite saía quentinho do peito da cabra e ia diretamente para a tigelinha, chega vinha fofinho, como um travesseiro, parecia uma nuvem, e eu tomava em grandes goles, sem coar nem nada. Era uma delícia!

Às vezes, quando chegava em casa, minha mãe dizia:

- Esses meninos estão é com “fastio”! Saíram daqui morrendo e fome e agora não querem comer!

Como o leite de cabra é forte, a barriga ficava estufada!

Minha mãe criava um “magote” de moleques, um verdadeiro formigueiro. Eu fazia o almoço lá na roça mesmo. Era fava, um dente de alho, esbagaçava um ovo lá dentro e comíamos. Sei que deve estar se perguntando como era que cozinhava. Não, não era em um fogão de lenha. Eram três pedras que colocava apoiadas uma na outra, fazia o fogo e cozinhava em uma panela de barro.

Não tinha tempo de ir para a escola, só ia uma vez por semana, quando dava certo. Não completei a segunda série, nunca fiz prova como se faz hoje em dia. Ía a pé. Caminhava uma légua, se não me engano. Naquela época, não havia lanche na escola como hoje, era uma colherzinha de leite ninho de vez em quando, e olhe lá! Meu pai também implicava e não gostava que eu estudasse. Dizia:

- Que peste de escola! Quem dá comida é a roça!

Chega me dava uma tristeza, mas ainda aprendi a ler um pouquinho, sei apenas escrever meu nome “malemal”, pois quando vou escrever, erro as letras... aí, pronto, azeda tudo, parece que o Cão atenta e dá uma tremedeira na mão, que nem sempre acerto meu nome!

Logo no finalzinho da segunda série, comecei a namorar o finado José, aí pronto, que eu não estudava mesmo! Nosso namoro era assim: eu na ponta de um banco e ele na outra, só nos olhares. Não pegávamos na mão, se não meus irmãos diziam ao meu pai. Fuxiqueiros! Depois de quatro anos de noivado, ele me deu um beijo de surpresa, então pulei logo nos braços dele pensando: ‘Ave Maria, se meu pai sonhar uma coisa dessas, eu morro!’.

Meu falecido marido, antes de nos casarmos, me chamou várias vezes para fugirmos, mas nunca tive coragem. Fiz uma promessa a Nossa Senhora de que quando casasse daria minha grinalda de presente a ela... Dito e feito! Nunca soube como era um homem. Só vim saber depois do casamento. Hoje em dia, os jovens mal namoram, já estão fazendo tudo, beijam-se, abraçam-se e... Deus me livre! Aquilo é feio!

Os jovens de hoje têm uma vida boa. Nunca tive muito tempo para brincar. Quando isso acontecia, brincava com “capuco” de milho enrolado em panos velhos em vez de bonecas. Fazia panelinhas e chaleirinhas de barro, colocava no sol para secar, mas quando colocava algum líquido dentro, elas desmanchavam. Acho que não deixava queimar direito. Mas minha brincadeira mais séria era cuidar de meus irmãos enquanto minha mãe ia para a roça ajudar meu pai à noite. Antes de a noite engolir o dia, eu ia buscar água para fazer a comida e tomar banho.

Tive sete filhos, como os dias da semana, quatro com meu primeiro marido e três com o segundo. Hoje sou avó e bisavó. Tenho orgulho de minha família. Hoje em dia, vivo doente e vejo que as pessoas de que gosto estão indo embora. Não sou ninguém, não posso fazer nada, vivo calada, pois das cinzas vim e para as cinzas voltarei.

A vida é sofrida. Tenho apenas as lembranças.

Na minha vida, não tive tempo para ser criança. Nasci como uma adulta, vivi como uma adulta e vou morrer como uma idosa.”

Ysaévanne Feitosa - 7º Ano C


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sábado, 23 de agosto de 2014

Baú das lembranças

Olá, amigos, publicaremos neste espaço alguns textos de memórias literárias produzidos pelos alunos da Escola Municipal Tiradentes, em Nossa Senhora da Glória - SE. Eles foram elaborados por ocasião das oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa "Escrevendo o Futuro", edição de 2014. Eis o primeiro deles:

NOSTALGIA AGRIDOCE

Dona Maria tem 76 anos. Ela morava em uma cidade de Pernambuco. Contou-me como era sua vida antigamente e, a cada fato recordado, notei que seus olhos se enchiam de lágrimas. Sua emoção me contagiou. Pude imaginar cada cena, cada recordação, como se fosse minha.

“Meus tempos de criança foram difíceis, mas não ruins. Correntes, a cidadezinha de Pernambuco onde morei, tinha um clima meio bipolar: pelo dia ‘pegava fogo’, mas à noite fazia muito frio. 

Lembro-me como se fosse hoje das brincadeiras de ‘roda’, ‘pega-pega’, ‘ciranda’ e ‘corda’. Lembro também das travessuras. Eu e meus primos subíamos em uma mangueira que havia no quintal de minha casa. Ela era alta, áspera, as folhas verdinhas e as mangas pareciam sempre saborosas. Ah! Que saudade desse tempo!

Quando estávamos em casa, mamãe fazia um delicioso café, que tinha um cheirinho e um sabor inexplicável!
Naquele tempo, fazíamos de tudo uma festa. Pena que as coisas boas acabam logo. Minha vida, no entanto, não era só um mar de rosas. Eu tinha muitas responsabilidades. Quando não estava ajudando meus pais, estava cuidando de meus irmãos mais novos. Hoje em dia, já não é mais assim. As crianças têm tempo de sobra para estudar e brincar. Pena que nem todas saibam dividir o tempo para cada coisa. 

Meus pais não me deixavam estudar, diziam que era perda de tempo. Na verdade, mal me deixavam brincar. Eu precisava implorar bastante. Eles só concordavam porque o lugar onde costumávamos brincar era perto de casa. Brincávamos em um terreno que não tinha um cheiro muito agradável, mas não nos importávamos, só queríamos saber mesmo era da diversão.

Com o tempo, tornei-me uma jovem cheia de sonhos, mas não pude realizá-los. Casei-me muito nova e logo vim morar em Nossa Senhora da Glória, interior de Sergipe. Aqui o clima é meio parecido com o da cidade em que morava. As pessoas são educadas, a maioria das ruas é calçada, há muitas plantações e um comércio grande, enfim, é uma maravilha de cidade.

Mesmo assim, sinto muita falta dos meus parentes que deixei em Correntes. Sinto falta também das ruas largas, limpinhas e arborizadas, das crianças correndo na praça e da minha casa, que era azul e com um portãozinho branco. Que saudade!

Hoje sou uma idosa feliz, mas não muito realizada. Tenho muitos desejos e o maior deles é o de voltar a ver Correntes, a minha cidade natal, pela última vez.”


Gabrielle Souza - 8º Ano D













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