Olá, amigos, segue mais um texto de memórias literárias produzido na Escola Municipal Tiradentes, em Nossa Senhora da Glória - SE, por ocasião das oficinas da Olimpíada de Língua Portuguesa "Escrevendo o Futuro", edição de 2014. Este é o texto de memórias que foi selecionado pela comissão municipal e participou da etapa estadual da olimpíada. Vamos a ele:
Baú da Lembranças
DORES E EMOÇÕES DE UMA DESCOBERTA
Faz muito tempo, mas como não trazer comigo as lembranças de momentos maravilhosos iguais aos que vivi nos tempos de garotinha? Embora minha infância não tenha sido das melhores, as emoções que experimentei são inesquecíveis.
Em 1948, Nossa Senhora da Glória, no interior de Sergipe, estava em processo de desenvolvimento. As ruas não eram calçadas ainda, havia um pequeno comércio e o que predominava mesmo na paisagem era a vegetação. Isso explica porque antes de ser denominada com o nome da santa, a povoação era conhecida como Boca da Mata.
Eu morava onde hoje é a praça da igreja matriz. Ali, naquela época, era um imenso terreiro. Havia apenas a igreja, fileiras de casas dos dois lados, e, na frente da igreja, um terreno por onde vinham as procissões, onde aconteciam as festas de reisado. Nessas festas as pessoas se deixavam contagiar pela música, abraçavam-se entusiasmadas, pois todos eram conhecidos, era uma grande alegria.
Mãe Velha ia à missa aos domingos. Eu, é claro, a acompanhava, apesar de não gostar muito. Ia só para me livrar dos afazeres que Mainha me mandava cumprir. Em um desses domingos, se bem me lembro, Mainha não me deixou acompanhar Mãe Velha. Foi nesse dia que vivi as dores e emoções de uma descoberta.
Era 9h da manhã, estava limpando o moringueiro, onde se guardavam os pratos para as refeições do dia a dia. De repente, ouvi um barulho estranho vindo da rua. Parecia até quando papai comia feijoada: bloc, bloc, bloc. Quando fui correr para ver o que estava havendo do lado de fora, BLAC! Acabei derrubando todos os pratos. Fiquei apavorada. Estava com medo do que havia do lado de fora, daquele barulho, e com mais medo ainda do que iria acontecer comigo quando Mainha chegasse e visse o que tinha feito com os pratos. Mesmo assim, a curiosidade cutucava meu juízo e queria ver o que estava acontecendo. Chegando lá fora, não sei que emoção tomou conta de mim, pois minhas pernas tremiam, minhas mãos gelavam, vi uma coisa estranha, meio assustadora. Naquele momento não sei se era medo mesmo o que sentia, ou surpresa pela visão de algo tão inexplicável. Tempos depois, vim saber o nome daquele troço: era um caminhão! Foi o primeiro caminhão a chegar à minha cidade.
Esse foi o dia mais emocionante, marcante e dolorido da minha vida. Isso por dois motivos: primeiro, é claro, porque tive a emoção de presenciar a chegada do primeiro caminhão em Glória e segundo porque levei a maior surra por ter quebrado naquele dia todos os pratos que tínhamos em casa. Essas marcas trago até hoje.
Naquela época, Dona Marizete não tinha ideia do que era um caminhão, mas nossa cidade ainda era muito pequena, pouco desenvolvida, não havia ainda luz elétrica, água encanada, nem as crianças frequentavam a escola. Nessa entrevista, ela chegou a se emocionar ao lembrar esses fatos aparentemente pouco importantes, mas que, para ela, se tornaram inesquecíveis.
Lorena Torres - 7ª C |