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sexta-feira, 25 de março de 2011

Bar de jornalista


Como hoje é sexta-feira, dia bom para encher a cara com os amigos no bar, decidi republicar este post etílico-jornalístico.

Bar de jornalista não tem frescura.

É boteco, botequim. Simples. Não tem hostess na porta. É só chegar, entrar, sentar. Em cadeiras gastas, bambas, sem charme algum. Sem conforto algum. As mesinhas, unidas, viram mesonas e invadem as calçadas. Não tem regras de etiqueta.

Bar de jornalista é tosco. De tão feio, vira cult. A decoração não é assinada por designers. Nas paredes, de pintura descascada ou azulejos velhos, pôsteres de peças de teatro e filmes dividem espaço com a tubulação de água aparente e avisos de “Não aceitamos cheque”. Ar-condicionado aqui não entra. Só ventilador. LCD é luxo. TV tem que ser de tubo.

Bar de jornalista tem cardápio escrito com giz em lousas ou em folhas de sulfite plastificadas, remendadas com durex. Não tem garçom de mau humor. Não tem carta de vinho. Tem cerveja. Em garrafa. Tem moscas que sobrevoam as latinhas de Coca-Cola. Tem porção de calabresa, mandioca, provolone. Coisa boa, de entupir artéria.

Bar de jornalista é barulhento. São vozes que se cruzam, que discutem cultura, política, filosofia, sacanagem. Maledicências. Lamentações. Neuroses. Planos para mudar de vida que nunca saem do guardanapo.

Tem mulheres que pegam batata frita com a mão, homens que não têm vergonha de cruzar a perna como o Caetano Veloso. Tem gente feia, bonita, pobre, não tão pobre assim, branca, preta, multicolor. Tem artista. Tem gay. Tem artista gay. Tem intelectual. Tem gente metida a intelectual. Tem cheiro de mijo que vem do banheiro. Tem vida.

Bar de jornalista não tem frescura. Se tiver, desconfie.

quarta-feira, 9 de fevereiro de 2011

Fiscais


Há quem acredite que o jornalista, por ter a cabeça mais aberta, trata algumas questões com naturalidade. Bobagem. A homossexualidade, por exemplo, ainda é um tema tabu. Na mesa do bar, quando não estão falando da matéria do dia, filosofando ou reclamando do salário, muitos jornalistas costumam discutir a orientação sexual dos colegas. Dos que não estão presentes, claro.

Raphael: E aquele jornalista novo de música, hein? Bichona total.

Daniela: Ai, Rapha, nada a ver! Só porque ele é do Caderno de Cultura?

Raphael: Dani, é óbvio que ele é viado. Não é tão exagerado quanto o cara lá que cobre teatro, mas é viado. Vocês não viram as roupas justinhas? E aquele All Star vermelho?

Bruno: Peraí, eu também uso roupa justa e não sou gay!

Luís: Ah, Bruno, você eu também não sei, não... (risos)

Raphael: Gente, não é só a roupa. Vocês não leram o texto dele sobre a Lady Gaga? Numa parte lá, o cara usou a palavra “divina”. É ou não é viado?

Daniela: Me disseram que ele é sensível. Só isso. É tão raro ver homem sensível hoje que todo mundo já pensa que é gay.

(O garçom chega com a porção de batata frita)

Luís: Preciso contar uma coisa pra vocês: dia desses lá no café, eu ouvi um papo dele com aquela amiga dele do Roteiro Cultural, a esquisita, sabem?

Raphael: E aí, Luís? Aproveita e passa o sal.

Luís: (passando o sal) Ele dizia à esquisita que estava “amando horrores” a biografia do Ricky Martin. Na boa, isso depõe muito contra o cara.

Bruno: Porra, depõe mesmo, Luís. Se ele não é gay, já foi em alguma encarnação passada.

(Risos gerais)

Daniela: Agora, gente, sem maldade, aquela amiga dele do Roteiro Cultural cola um velcro forte, hein? Putz, meu, certeza!

São raros os jornalistas que não comentam a sexualidade alheia. Lembro-me de um editor que, toda vez que era perguntado sobre a chance de fulano ou sicrano ser gay, tinha uma resposta pronta. E cruel. “Eu que vou saber? Não sou fiscal de cu”.

quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Bar de jornalista


Bar de jornalista não tem frescura.

É boteco, botequim. Simples. Não tem hostess na porta. É só chegar, entrar, sentar. Em cadeiras gastas, bambas, sem charme algum. Sem conforto algum. As mesinhas, unidas, viram mesonas e invadem as calçadas. Não tem regras de etiqueta.

Bar de jornalista é tosco. De tão feio, vira cult. A decoração não é assinada por designers. Nas paredes, de pintura descascada ou azulejos velhos, pôsteres de peças de teatro e filmes dividem espaço com a tubulação de água aparente e avisos de “Não aceitamos cheque”. Ar-condicionado aqui não entra. Só ventilador. LCD é luxo. TV tem que ser de tubo.

Bar de jornalista tem cardápio escrito com giz em lousas ou em folhas de sulfite plastificadas, remendadas com durex. Não tem garçom de mau humor. Não tem carta de vinho. Tem cerveja. Em garrafa. Tem moscas que sobrevoam as latinhas de Coca-Cola. Tem porção de calabresa, mandioca, provolone. Coisa boa, de entupir artéria.

Bar de jornalista é barulhento. São vozes que se cruzam, que discutem cultura, política, filosofia, sacanagem. Maledicências. Lamentações. Neuroses. Planos para mudar de vida que nunca saem do guardanapo.

Tem mulheres que pegam batata frita com a mão, homens que não têm vergonha de cruzar a perna como o Caetano Veloso. Tem gente feia, bonita, pobre, não tão pobre assim, branca, preta, multicolor. Tem artista. Tem gay. Tem artista gay. Tem intelectual. Tem gente metida a intelectual. Tem cheiro de mijo que vem do banheiro. Tem vida.

Bar de jornalista não tem frescura. Se tiver, desconfie.


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