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sexta-feira, 15 de novembro de 2024

VDA?

Toda caminhada é do berço ao túmulo.
Não se se sabe quantas léguas nos restam, mas estamos tão cansados!



Anderson Dias Cardoso.

sexta-feira, 16 de agosto de 2024

AGONIAS

(Só) quem morreu todos os dias, sabe o quanto dói viver.



Anderson Dias Cardoso.

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

O Painel Dos Pintores Mortos.


Sempre havia um sorriso para aquela ala, para aquele painel quase folclórico onde orgulhosamente apresentava seus notórios antepassados em um emaranhado barroco de rostos.
Rezava a lenda que o primeiro à finar foi Augusto. Pintou-se numa jocosa brincadeira, onde ele era o coveiro que sepultava a si mesmo, e sorria, pá em punhos e cara cadavérica. Mal se diferençava o vivo do morto.
Tal brincadeira e logo descia deveras à cova.
Seu irmão, Afonso, lhe prestou homenagem e continuou os belos traços, se representando travestido de padre em exercício de extrema unção, concedendo ao menos o paraíso ao que, pela insensatez do chiste debochado pagou com a vida tal irreverência!
Morto também o irmão, em destino semelhante, interveio o filho deste com acréscimos de uma procissão, e se confortou se pintando anjo para guiar os dois parentes à glória celestial.
Seu destino não foi diferente, recebeu recompensa pela insolência e deixou os pincéis que recebera de seu pai, que recebera do irmão de seu pai, ao seu filho, que ousou pintar sua mão como a mão estendida de Deus resgatando a parentada morta.
Morreu também, este e outros tantos que fizeram emendas à obra mórbida, e aos que foram adicionados como figurantes no enterro, e este estojo que carrego em minhas mãos é testemunha de cada tragédia, e chegou-me através de um pai zeloso que morreu de velhice, e me impediu de brincar com minha vida pintando o que quer que seja nesse imenso recorte de mortes!
Não sou supersticioso, mas não flerto com as possibilidades; por mais absurdas que possam parecer, e assim como me mantive artista; porém longe dessa imensa representação da morte assim ensinarei ao meu filho Lucas que evite este local, e possa se manter vivo!
Ele será um grande artista! Em seus seis anos já caracteriza à todos que lhe agradam o coração com desenhos cheios de personalidade, bem similares ao real! Não e mesmo Lucas?
A menção do nome despertou a criança ruiva do transe, e ela se desviou dos rabiscos que traçava em giz vermelho.
O pai notou os óculos redondos, o bigode ralo, a discreta calva e a camisa xadrez numa figura próxima ao caixão.
Lágrimas deslizavam pelas bochechas rosadas.
Uma tristeza profunda beijou o coração paterno, ele se abaixou, abraçou a criança e lhe entregou o estojo.
Ambos sabiam o que isso queria dizer.

 Anderson Dias Cardoso.

domingo, 5 de junho de 2011

Livro dos Recordes.


Mirei minha mediocridade, feiúra e baixa estatura e notei que a fama estava longe de mim, num nicho de bizarrice bem comum nos dias atuais. Foi consultando o “Livro dos Recordes” que descobri possibilidades de me fazer notar, e dessas selecionei empolgado um feito para marcar minha existência e me empenhei de todo, e fiz com que outros se empenhassem da mesma forma!
Encerrei-me em minha casa e decidi não sair até “bater” o indiano “Nelson” em sua reclusão de 53 anos.
A família estranhou a meta, mas foi solidária ao meu sonho e me forneceu o necessário à conclusão do meu ideal, e ainda ponteou relacionamentos com fornecedores de maneira previdente, tratando da possibilidade de suas mortes como a interrupção de um sonho!
A morte realmente veio, e de 79 até 93 já havia ceifado meus pais e rompeu as relações próximas que muito me auxiliavam a acessar o “mundo exterior”; mas a Internet e celular chegaram em poucos anos e devido ao bom relacionamento estruturado pelos finados com açougueiros, padeiros e outros, me era garantida comida à porta!As contas eram pagas pela boa pensão deixada por meus pais.
Cada ano maior orgulho, e a solidão não era tão aguda quando se podia freqüentar salas de chat!
Utilizava-me dessa ferramenta, mas não comprometia minha identidade, pois temia chacotas e relacionamentos que pudessem me furtar de cumprir minha jornada.
O mundo nem me parecia um encanto, pois ao me informar nos noticiários, os males da humanidade sobrepujavam toda ordem e beleza dos poucos momentos amenos que ocupavam o resto daqueles programas. E quanto aos filmes... Eu sabia que não retratavam a realidade!
Nos momentos de ócio, entre os afazeres domésticos e outras atividades rotineiras comecei um diário onde registrava minhas memórias, e me excitava ao imaginar quantas pessoas se admirariam com minha vontade férrea e se iludiriam com histórias inventadas para preencher o vazio de acontecimentos interessantes que eram a realidade dos dias compridos e solitários de clausura.
O quadragésimo ano de reclusão foi comemorado com mesa farta, e duas cadeiras vazias. Brindei-me com muito vinho, comi “Spaghetti  à Carbonara” fingindo ser de minha mãe.Escutei os discos preferidos de meu pai e ousei uns passinhos de dança na sala acarpetada!
Senti rodar as estruturas de meu pequeno mundo, e cai sorrindo sobre a quina vítrea da mesa de centro e nem mesmo notei que a minha vida abandonava aquela casa, rompendo meu contrato com a imortalização do meu feito!
Dos meus credores o padeiro era o mais sovina, e não se conformou ao ver que eu não havia saldado minha conta antes de partir e em sua revolta resolveu desvirtuar meu feito e inventou minha loucura e a morte de meus pais por conta dessa minha ambição, e me desmereceu em outros comércios e círculos até que minha memória foi de todo vilipendiada, e eu tornado num  demônio esquizofrênico; alguém para se esquecer.
Felizmente não se costuma escrever insultos como epitáfios, então levei somente o gosto do desperdício de existência para o túmulo!

Anderson Dias Cardoso.
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