Chega a ser irónico. O sarcasmo cospe-nos na cara dos sonhos. Crescemos juntas, engendramos prioridades para uma vida adulta que, então, víamos tão distante. Tão distante que nem parecia nossa. Crescemos iguais, com sonhos opostos. Tínhamos as prioridades invertidas. O topo da tua pirâmide, base da minha. E o que eu julgava pro bono, tu tinhas como sine qua non. Sem a qual não pode ser: eu gritava "carreira" e tu clamavas "amor". Chega a ser irónico, ver como a vida nos trocou as voltas. A vida, então tão longínqua, tornou-se uma realidade palpável. Um problema real. Aqui e agora: tu não tens escolha. Ingénuas, como quando éramos miúdas e sonhávamos quem seríamos quando tivéssemos a idade que hoje temos, não lhe demos ouvidos. Eu escolhi a carreira e tu escolheste o amor. Crescemos a acreditar que a vida é feita de escolhas. De encontros entre as nossas prioridades e as oportunidades que o acaso se lembra de dar. Rimo-nos do destino.
Hoje acordo ao lado do homem que nunca julguei encontrar, ou merecer. De tronco despido, beija-me a testa enquanto me pede de mansinho que fique mais cinco minutos. Mais cinco minutos de amor. Hoje tu mal paras em casa porque trabalhas a um ritmo que exige mais de ti do que cinco minutos de suor.
Sonhar que podíamos ter tudo não foi só ingénuo como foi cobarde. Fechamos olhos à vida e ao poder que o acaso tem. Porque a vida também é feita de desencontros. Chega a ser injusto. E não tem graça nenhuma.
Forte e realista, como sempre.
ResponderExcluirmuito forte, muito bom :)
ResponderExcluirmuito obrigada por teres aqui o meu blog partilhado :)
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