sexta-feira, 12 de agosto de 2011

Coração que está de partida, e nunca partido.


"(…) é preciso partir
é preciso chegar
é preciso partir é preciso chegar… Ah, como esta vida é urgente!"





Mário Quintana, Poema Transitório






(Boas férias!)

segunda-feira, 8 de agosto de 2011

Quando for grande, quero ser.

Chega a ser irónico. O sarcasmo cospe-nos na cara dos sonhos. Crescemos juntas, engendramos prioridades para uma vida adulta que, então, víamos tão distante. Tão distante que nem parecia nossa. Crescemos iguais, com sonhos opostos. Tínhamos as prioridades invertidas. O topo da tua pirâmide, base da minha. E o que eu julgava pro bono, tu tinhas como sine qua non. Sem a qual não pode ser: eu gritava "carreira" e tu clamavas "amor". Chega a ser irónico, ver como a vida nos trocou as voltas. A vida, então tão longínqua, tornou-se uma realidade palpável. Um problema real. Aqui e agora: tu não tens escolha. Ingénuas, como quando éramos miúdas e sonhávamos quem seríamos quando tivéssemos a idade que hoje temos, não lhe demos ouvidos. Eu escolhi a carreira e tu escolheste o amor. Crescemos a acreditar que a vida é feita de escolhas. De encontros entre as nossas prioridades e as oportunidades que o acaso se lembra de dar. Rimo-nos do destino.

Hoje acordo ao lado do homem que nunca julguei encontrar, ou merecer. De tronco despido, beija-me a testa enquanto me pede de mansinho que fique mais cinco minutos. Mais cinco minutos de amor. Hoje tu mal paras em casa porque trabalhas a um ritmo que exige mais de ti do que cinco minutos de suor.
Sonhar que podíamos ter tudo não foi só ingénuo como foi cobarde. Fechamos olhos à vida e ao poder que o acaso tem. Porque a vida também é feita de desencontros. Chega a ser injusto. E não tem graça nenhuma.

terça-feira, 26 de julho de 2011

Amor, ponto e vírgula.

Diz-se muito do amor. Há sempre mais qualquer coisa a dizer dele. Acrescenta-se, porque não é novidade nenhuma. Nascemos porque amamos. Ou porque alguém quis que viessemos a poder amar. Viver, amando. Diz-se muito do amor. Mas é do desamor que não me canso de falar. Da sensação de sucção que fica depois do amor. A vida a escapar-se dele, de nós. Aquele vento de dentro para fora, o buraco negro centrado no peito e voltado para toda a gente. E de toda a gente nunca há uma que nos perceba. Porque o desamor não se percebe. Não se percebe como apareceu, como não vai embora. Num povo de fadistas, parece-nos coisa eterna. Começa torrencial e nunca termina, ameniza naquele dormente estado de chove e não molha. Falar-vos do desamor depois de me assumir voz do amor, é como enunciar-vos a morte depois de vos prometer vida. Mas o amor peca aí, pelas promessas. O desamor tem a tarefa facilitada, então. Tem muito por onde pegar, pano para mangas para pontos finais. Habituados a vírgulas, a pontos de exclamação, olhamos para o ponto final e não percebemos. Alguém na impressão se enganou, alguém dactilografou aquilo mal. Era uma vírgula com certeza, porque não há mais? Espreitamos para lá do ponto e a página em branco presenteia-se como um abismo claro e evidente. Não há mais nada. A história bonita ficou escrita para trás, e uma longa história, porque do amor muito se diz. E não se percebe. Quer-se saber quem decidiu aquele fim de frase, fim de sentença, a pior delas todas. Ditada assim "ponto". Sempre me ensinaram que nas vírgulas se respira e nos pontos finais se pausa. Gabava-me da minha leitura exímia e exagerava na pontuação. Expirava nas vírgulas, entoava as exclamações e lia "ponto" para mim quando chegava a fim de frase. Fim de linha. Ponto. Pausava. Mas no desamor não se pausa. Depois do amor, não se chega a fim de linha. Empurram-nos do abismo. E não se respira porque não há vírgulas, nem se exclama porque a página é de um branco solitário e desansabido. A vida sem cor, depois do amor. E não há muito que gabar porque não há que ler. A história escrita até ao fim, e o fim sempre desolador. Eterno, fadista. Ponto.

quarta-feira, 13 de julho de 2011

Saudosismo não, Amor.

Sei o que pensas sobre eu voltar. Foste o primeiro a avisar-me que não visitasse a casa onde fui feliz, porque sou uma mulher saudosista. Avisaste-me das regras da sensatez. Voltar aqui é como relembrar porque fui embora. Como quem olha uma cicatriz que fingiu não ter. Talvez precise acender um cigarro. Sei como detestas este meu vício, mas sou uma mulher saudosista.
Não trago grandes cartas na manga. Não preparei grandes enredos, nem tenho um número especial para lançar neste meu regresso. Chamemos-lhe isso, o meu regresso. Sei que vais voltar cá também, mais cedo ou mais tarde. Quando vires os maços de tabaco espalhados e as folhas rasuradas de ideias, raramente completas, vais dizer que está tudo na mesma. Sou uma mulher saudosista, mas não é a nostalgia que me define. Nem tão pouco os meus vícios. Está tudo diferente agora, repara. A ferida sarou, levou pontos e lágrimas - e quando me perguntam de que foi a cicatriz não escondo o que ma deixou. O desamor.
Apago o cigarro num cinzeiro improvisado. Chateia-me esse cheiro adocicado e quente que me pesa nas mãos quando me sento a escrever, maldito vício. Olho em redor - estou de volta. Mas não regresso desarmada, isso não só seria insensato como impossível. Quando voltares cá, tu também, bate à porta. Vou mudar as fechaduras pela manhã - e não te admires se não te responder. Sou uma mulher saudosista mas, mais que isso, tenho histórias para continuar e um amor para viver. Um Coração em Demasia à espera.

segunda-feira, 11 de julho de 2011

E se...














... o Coração estivesse pronto para voltar?