Não percebes de timing. Não sabes que palavras ou que deixas dizer, não deduzes nem induzes porque perguntar é o caminho mais fácil e tu não queres difícil. Procuras fórmulas, equações em domínios que conheças, derivadas que já saibas de cor, formatações padrão.
Não percebes de timing nem de deixas. Não tens por costume dizer as coisas certas nem procurar sinais porque perguntar é o caminho mais fácil e tu não queres difícil. Procuras pontas soltas, porque nós são complicados - longe com eles! Oh, tão longe com eles!
Não tens por costume dizer as coisas certas, perceber as erradas.
E eu fiquei sempre. Mesmo quando não disseste as coisas certas, não percebeste nem deduziste ou induziste as erradas - os sinais, difusos, longe com eles - porque só caminhas por trilhos fáceis. Não moro nessa rua, onde nós se desfazem em pontas soltas e os sinais se concretizam em respostas lineares, tão perfeitamente lineares como uma fórmula, equações em domínios que conheças ou derivadas que saibas de cor, qual formatação padrão. Estou, aliás, do outro lado do bairro.
Hoje só queria que te tivesses aventurado no desconhecido, cruzasses avenidas onde vivem as letras e morrem as ciências, enfrentando berros altos e loucos em domínios que desconhecesses.
Tinhas uma escolha. Tiveste sempre.
Não me resigno mais à minha. Sou esquerdina, descendente de gerações tidas como filhas do Diabo, assassinadas na Idade Média porque o destro era o inteligente, o puro, o normal. Fujo à regra, berro, alto e loucamente, letras que me moram no peito - oh, longe com ele!
Longe contigo: escolho hoje. Cada um na sua rua, quando pensei partilhar contigo um tecto, uma casa e, mais a mais, um coração (em demasia). Cada qual no seu domínio, se assim percebes melhor.
Escolho hoje: não vou mais ficar. Não percebes de timing, não tens por costume dizer as palavras certas e pior que não procurares as erradas é preferires sempre o caminho mais fácil. Afinal, sou esquerdina descendente de filhas do Diabo, tu fruto da inteligência destra, a ciência do perguntar e ficares-te por respostas padrão. Não as há, não percebes?! Não vês que não existem para lá das tuas estúpidas fórmulas?!
Não te iludas pensando que, porque tens uma mão esquerdina e outra destra, podendo elas coexistir, poderemos nós também: por alguma razão não sabes escrever com as duas.
Hoje consegui sacar «Anatomia de Grey» sem te pedir ajuda. Não te mandei mensagem quando os olhos vibraram inchaço vermelho, chorando berros loucos e altos. Olhei-me ao espelho sem ter de te perguntar se (ainda) me achas bonita. Até falei de ti sem deixar que o peito dilacerasse mercúrio penoso. Não foi fácil.
Mas o difícil, a mim, não me assusta.
Afinal, sou esquerdina, filha de filhas do Diabo e cruzo, pelo amanhecer, travessias onde moram letras e morrem as ciências. Morrem as ciências, porque não as há, neste bairro que é a vida.
Há sempre um grande aliado: o tempo!
ResponderExcluirUma verdadeira feminista nunca se dá por derrotada :)
Um beijinho!
ó Joana. escreves tão mas tão bem! Este texto está espectacular. Senti tudo,
ResponderExcluirObrigada pelas tuas palavras, comentários como os teus dão me (ainda) mais vontade de continuar.
ResponderExcluirGostava de saber o que te dizer, mas também eu não consigo ter palavras...
ResponderExcluirForte, forte. Um texto imensamente forte! *
E os ambidextros são o que? :o
ResponderExcluirUm bom e forte post, como sempre!
Gosto quando repetes as frases, a ideia principal volta sempre. Muito, muito bom! *
Sexta-feira, 13. Sentimentos difusos. Escolhas difíceis. Mas nada disso te assusta.
ResponderExcluirÉs forte. Vais continuar a sê-lo. E escreverás com as duas mãos, com as destras de quem ficar, sem procurar o fácil.
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