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•.¸¸.ஐ Luz que clareia meus escuros ஐ Capítulo 2

Seu amor, sua vida

Era dia...
Era sol...
Era céu...
Era dia de sol raiando no céu.

Era tarde...
Era chuva...
Era vento...
Era tarde de chuva de vento.

Era noite...
Era lua...
Era mar...
Era noite de lua no mar.

Era menina...
Era mulher...
Era paixão...
Era menina-mulher apaixonada.

Era anjo...
Era amor...
Era vida...
Era seu anjo, seu amor, sua vida.

A volta para casa foi mais tranquila. Isso significava menos trânsito. A companhia da voz de Alanis também foi ótima.

Antes de ler qualquer coisa, precisava de um banho. Deixei a pasta com o material da poetisa em minha aconchegante biblioteca, meu lugar preferido. Subi rápido as escadas e não me demorei muito. Sem ninguém em casa, desci de calcinha e sutiã mesmo. Passei na geladeira, peguei uma maçã e fui para a biblioteca.

Abri minha caixa de e-mails rapidamente. Nada que me despertasse atenção. Respondi alguns recados que achei que devia e um me deixou chateada. Desmanchar o programa de sábado à noite. A baladinha com a Alysha teria que esperar. Uma pena! Iria sentir falta dela em minha cama e, principalmente, nas minhas pernas de madrugada.

- Só espero que essa nova poetisa valha realmente à pena! Me tirar uma noite de música, dança, beijo e sexo é só para pessoas realmente muito importantes! – falei comigo mesma.

Desliguei o computador, sentei-me confortavelmente em minha cadeira.

- Muito bem, gracinha, mostre-me seus encantos!

Peguei a pasta, abri com cuidado e já me surpreendi pelo desenho que estava por cima.

- Huuuuummmmmmmmm!!! Quem terá sido a bela modelo?! – curiosíssima.

Em minhas mãos, um desenho feito a lápis de uma bela mulher nua, deitada numa praia. Pena que não se via o rosto dela.

- Menos mal! Assim, não vou precisar estampar esse desenho no jornal solicitando a presença dessa mulher! – deixei o desenho sobre a mesa rindo com meus pensamentos.

Encontrei uma encadernação com uma pré-capa desenhada também à mão. Um belo pergaminho, uma pena e o nome do livro “Versos Meus”. Admirei a caligrafia. Estilo clássico. Comecei a criar certa expectativa pela tal poetisa. Passei os dedos pelas letras e sorri. Senti uma vibração muito boa daquele projeto de livro que tinha em mãos.

Mais embaixo da capa, escrevia-se o nome dela. A mesma caligrafia encantadora. E o nome mais ainda: Elísia de Bourbon. Fiquei alguns minutos pensando nesse nome e imaginando a dona. Ele bem que combinava com o desenho da mulher, mas por algum motivo, soube que aquele desenho não era de Elísia. Menos de meia hora com aquela pasta em mãos, e a poetisa já tinha um nome em minha mente.

Fiquei satisfeita com a imagem formada por minha imaginação. Tomei o cuidado, porém, de não imaginar nenhum rosto. Sobre quem seria Elísia, preferi deixar para descobrir nos subtextos ou nas entrelinhas dos poemas dela.

Virei a capa. No local da dedicatória um espaço em branco. Fiquei intrigada, mas achei melhor passar logo aos poemas. Afinal, minha equipe havia pedido urgência na avaliação daquela obra.

A folha que seria uma espécie de folha de rosto me chamou atenção pela frase escolhida. “Há momentos em que é preciso pôr em palavras tudo aquilo que mantemos dentro de nós”. Concordei de imediato! Pretensiosamente, achei até que havia sido escrito para mim.

Tornei-me editora de livros por paixão e vício. O sonho de meu pai era que fizesse Medicina, como ele e minha mãe. Minha mãe, a princípio não se mostrou muito feliz com minha decisão de estudar sobre aquilo que mais gostava: literatura. Quando, porém, passei a me destacar como crítica literária e editora, ela ficou orgulhosa e terminou por me confessar estar muito feliz com minha profissão.

Numa dessas conversas gostosas entre mãe e filha, raras entre nós duas, ela acabou me contando que foi apaixonada por um poeta antes de conhecer meu pai. Ela não disse quem e eu não perguntei, porque, provavelmente, eu conheceria. Tentei imaginar o que ela diria se soubesse que fui seduzida para o mundo da literatura, ainda adolescente, por uma poetisa grega.

Preferi não dizer nada sobre isso e apenas comentei sobre um novo livro que acabava de passar por minhas mãos. Uma seleção de poesias gregas belíssimas e a maioria quase desconhecidas. Ela ficou interessada e prometi mandar um exemplar, havia poucos dias estava nas livrarias e despertando interesse de leitores.

Mas uma coisa que nem minha mãe nem outras pessoas sabiam era que eu também escrevia. Ou, que eu tentava escrever. E escrevo mesmo por necessidade. Preciso escrever ou me sufoco. As narrativas não dariam conta de meus momentos catárticos, por isso a predileção pela poesia.

Deixei minhas lembranças com minha mãe de lado e concentrei-me no material em minhas mãos, tentando controlar a ansiedade que havia se instalado em mim.

Passei ao primeiro poema irrequieta e gostei da fonte escolhida para digitação. Era um tipo de caligrafia cursiva.


Anonimato

As mãos estão sobrecarregadas
Papéis, papéis e mais papéis
Sedentos de versos, estrofes, arte...

A pena movimenta-se quase sozinha
Mecanicamente desenhando letras
Que tomam forma, ganham vida,
Mexem com a imaginação alheia

A tua face de leitor oculto me fascina
Tua crítica me deixa ansiosa
Preciso saber teu veredicto
Os olhos fixos, perturbados,
A adrenalina a mil
Quase tendo um orgasmo.

Manifesta-te, fala, grita, geme
Anuncia-te, quero uma palavra tua
Minhas mãos tremem,
Meu coração palpita
E minha alma, viciada em palavras,
Sede aos encantos do teu anonimato

Tens plenos poderes para decidir
Se irás ou não ler o próximo poema
O simples virar de páginas
Mexe com o meu metabolismo.

A cada verso que irás ler ou não,
Estará um pouco de minhas almas,
De minhas faces ocultas
Que, talvez, irás descobrir.
A partir de agora, a decisão é tua!

- Você me pegou mesmo de jeito, ma chérie! Não desgrudo desse livro até descobri-la por completo – tive necessidade de dizer isso em voz alta, como se ela pudesse ouvir.

•.¸¸.ஐ Dadivosa

Veio de madrugada molhar os pés na primeira onda. Abriu os braços devagar e se entregou à Dama Celeste. Com duas conchas nas mãos, vestida de orvalho, ela era a oferenda naquela noite mística de Lua vermelha. Lilith foi caminhando compassadamente, segura para dentro d’água, sendo bebida pelo mar, que navegava manso pelos seios dela.

Poder-se-ia mesmo afirmar que fora de seus olhos garçons que um pintor retirara a luz com que pintara a Lua. De seus delicados dedos, uma alada canção ascendia, enquanto o mar lhe lambia as pernas. Era luz, era ruiva, era água. Lilith: cor de amor, cheiro de Lua e batizada com néctar de vida. Síntese da beleza noturna.

O sentimento que tinha pela Senhora do Céu era tanto e tão intenso que mergulhou no reflexo acetinado da amada. As cores foram ficando distantes no brilho dos olhos dela. Entregue à própria sede ensandecida, foi se fazendo luz no fluir e refluir das águas. Líquida constituição e desintegração de si acompanhada pelo som próprio da vida em sinfonia com a alma lunar.

Quando toda em luz transformada, parte de tudo e nada, brilhou de dentro do mar e ascendeu. E o mistério das luzes vermelhas irrompeu aos céus. Misteriosamente belas e dançantes, deram forma a imagens-miragens mágicas e encantadoras por revelarem o quão o perto é longe e o quão o longe é perto da unicidade.

•.¸¸.ஐ Luz que clareia meus escuros ஐ Capítulo 1

"Faltas

Os relâmpagos cortavam o céu
Os trovões faziam tudo tremer
As gotas de chuva caíam
O vento uivava
E as árvores pareciam tocar seus galhos ao chão
De repente, tudo ficou calmo
Já era noite e o céu estrelado
Saudava a lua maravilhosamente cheia
Despontando detrás das montanhas azuis...
Era para ser perfeitos,
Mas faltava você.

O mar em rebentação rebelava-se nas pedras
Cavava buracos na areia
Cuspia algas, conchas, lixo e náufragos
Pedaços de embarcações e redes de pesca
Da praia podia-se observas as ardentias.
De repente, tudo ficou calmo
O sol desabrochava num céu anil
Acompanhando os pássaros em revoada...
Era para ser maravilhoso,
Mas faltava você.

O vento transparente cortava as campinas
A verde relva estava colorida
Por flores de todo tipo
Atraindo borboletas multicoloridas,
E pássaros de plumas esvoaçantes
De repente, tudo ficou quieto
O céu escureceu, o mar se rebelou
E até mesmo o tempo, implacável, parou...
Era para ser eterno,
Mas faltava você!”



Depois de uma noite de sonhos agitados, o corpo parece ainda mais cansado que quando deitou. Abri os olhos com preguiça e achando um crime aquela escuridão confortadora da noite ter de ir embora. Definitivamente, o dia sufoca as paredes da inconsciência. Sinto esse sufoco a cada sol que nasce. Esperar pela manhã deixou, há muito, de fazer sentido. Só quero a noite em meu colo como uma gata que esconde duas luas de insônia com o fechar dos olhos cansados.

Parabenizei-me por conseguir pensar isso tudo logo após abrir os olhos. Geralmente, demoro um pouco mais para acordar. Mais precisamente, o tempo que fico embaixo do chuveiro frio.

Parei em minha escrivaninha, na seção de CDs e escolhi um para levar ao banheiro. Nele se lia seleção, saiu da capa e foi direto tocar no som. Fiquei feliz em escutar a voz de Notis Sfakianakis ecoando em meu banheiro. Não poderia começar melhor o dia!

Entrei debaixo do chuveiro e fiquei ali tentando adivinhar qual seria a próxima música. Enquanto as faixas tocavam, eu tinha a certeza de que era o CD perfeito para se dar de presente ao grande amor da sua vida.

Parei. Que história é essa de grande amor da sua vida? Fechei o chuveiro, meio assustada.

Nunca havia pensado nisso antes... Na verdade, nunca havia acreditado. Tive muitos relacionamentos, alguns muito bons. Mas amar... Não. E isso não me incomodava. Pelo menos não até esse momento.

Saí do box, desliguei o som e voltei para minha cama ainda desfeita. Fiquei intrigada com aquele meu pensamento tão surreal a mim. O que estava acontecendo?

Não que não fosse bom, mas a ideia de querer alguém dentro de minha casa 24 horas, todos os dias da semana, todos os meses do ano, assustava-me. O conforto de morar sozinha por escolha própria era um refúgio difícil de querer abrir mão.

Eu havia deixado o conforto da casa de minha mãe num bairro residencial de Amphipolis, uma das mais belas e grandes cidades gregas da atualidade e onde nasci, assim que me formei na Academia. Desde que passava os fins de semana em Porto de Elara quando criança e adolescente, sonhava em ter uma casa por lá.

Quando me formei em Letras na Academia Ateniense, minha mãe me entregou as chaves de minha casa e o cartão de uma conta bancária. Presente de meu pai, falecido desde que eu tinha dez anos, que ela fez questão de honrar e nunca revelar nada sobre. Mas, ultimamente, estava sentindo aquela casa, a minha casa, vazia.

Olhei para o teto e as estrelas que havia pintado lá. Duas gotas teimosas lacrimejaram pelo meu rosto. Antes que pudesse começar outro pensamento, meu telefone tocou. Era da editora onde trabalhava.

— Alô?

— Bom dia. A senhorita Shayiera Halliwell, por favor.

— É ela. O que foi?

— O senhor Edgar pediu para ligar e avisar que marcou uma reunião extraordinária hoje, às 11 horas, no escritório dele.

— O quê? Ele enlouqueceu? — alterei o tom.

— Desculpe, eu só estou dando o recado — disse uma voz apaziguadora e um pouco assustada.

— Não... Eu quem peço desculpas... Você é nova aí? — aquela voz não me era familiar, mas aprovei.

— Ah, sim. Estou cobrindo as férias da outra secretária. Meu nome é Fernanda.

— Ok. Diga ao nosso chefinho que eu estarei aí.

Arrumei o quarto de qualquer jeito e abri meu closet. Não queria pensar em roupa. Peguei minha calça jeans mais confortável e combinei com minha camiseta branca preferida. Óculos de sol, chave do carro, chaves da casa, bolsa completa, sem maquiagem — não suporto!

Desci as escadas e fui para a cozinha. Comi um pouco da salada de frutas que tinha na geladeira. Combinou com o calor da estação. Saí com pressa.

Um engarrafamento depois e cheguei à sede da editora. Estavam me esperando para começar a reunião. Olhei apenas de relance para a sala da secretária nova, mas o suficiente para admirar a beleza que tinha. Sorri e não me censurei por isso.

— Bom dia! — cumprimentei a todos não muito simpática.

— Muito bom dia, Shay — disse Edgar, o presidente da editora, ao me ver. Ele ainda não perdera as esperanças comigo.

— Onde é o incêndio? Temos um candidato ao Nobel de Literatura para convocar essa reunião em pleno sábado de manhã? — disse enquanto me sentava.

Todos na sala riram. Além de Edgar e eu, estavam presentes Roberta, a chefe de edição, e Carlos, o vice-presidente da empresa. A tal Fernanda, nova secretária, chegou uns instantes depois, para o meu divertimento.

— Espero dar o candidato ao Nobel da próxima vez, senhorita diretora executiva e de criação. Por enquanto, terá que se contentar com uma nova poetisa — respondeu Carlos.

Todos perceberam a minha reação de surpresa.

— Você está brincando? — perguntei sem querer acreditar.

— Não, Shay. O Carlos está falando sério — disse a Beta.

— Eu espero que exista um motivo bastante bom para eu ter sido tirada de casa em pleno sábado de manhã por causa de uma nova poetisa! — respondi exaltada e me recostei na cadeira.

— Mas é justamente por isso que chamamos você aqui, Shay! Pensamos que essa nova poetisa é um excelente motivo para fazer você sair de casa em pleno sábado. Queremos fazer um grande lançamento da obra dela. Mas a sua opinião será decisiva. Se você me disser que sim, eu mando o pessoal começar a trabalhar no projeto do livro dela amanhã, mas se disser que não, aí publicaremos, mas de forma mais discreta — falou Beta, fazendo-me ficar interessada no assunto.

— Hum... Deixem-me ver então o que essa nova poetisa tem que deixou a minha equipe de chefia tão encantada logo com o primeiro trabalho — e estendi as mãos para Beta já sorridente.

Ela me deu uma pasta preta um tanto pesada e disse que eu poderia levar para ler em casa, mas que me dedicasse mais que nunca.

— Sim, minha chefinha de edição, tudo o que a senhora mandar! — falei em tom de brincadeira, fazendo todos rirem novamente.

— Ah! Além de escrever, ela desenha também. Acho que você vai se surpreender! — tentou me empolgar o Carlos.

— Mas quanta propaganda! Tudo bem, seja feita a vontade de vocês! Estou indo para minha casa neste exato momento, vou me trancar no meu quarto e só saio de lá quando terminar de ler o material. Está bem assim?

— Esse livro não poderia estar em melhores mãos que nas suas, Shay. Confio totalmente em você para esse trabalho — sorriu a Beta pra mim.

— Uau! Isso é que é rasgar elogios! — riu Edgar.

— Gente, calma, eu sei que eu sou linda, gostosa e competente! E eu dou conta de vocês dois, então, não se afobem! — dei uma piscadinha para cada um, fazendo a Beta chorar de rir e o Edgar ficar com uma expressão de quem está imaginando coisas.

A tal nova secretária não tirava os olhos de mim. Ela pensava que eu não havia notado, mas... Sim, eu notei! Gostei mais ainda do interesse que vi nos olhos dela. Como diria a minha irmã mais nova, Natasha, “ela é da causa”. Segurei o riso ao me lembrar de Tasha.

Guardei a pasta em minha bolsa e me levantei da mesa.

— Estou liberada?

— Só se aceitar almoçar conosco! — respondeu Edgar.

— Vai depender do cardápio, mon cher...

— Peixe. Algo bem leve para suportar esse calor. O que me diz? — quis saber ele todo cheio de esperanças.

Mas peixe era algo que eu jamais recusaria.

— Por mim está ótimo! Vamos ao almoço então.

Esperei que Edgar, Beta e Carlos saíssem da sala só para brincar um pouquinho com o desejo da secretária. Uma coisa que eu adorava fazer.

— Fernanda...

Ela me olhou quase assustada ao ouvir seu nome.

— Quero pedir desculpas mais uma vez por hoje de manhã, ao telefone. Você não me conhece ainda. Não acordo com o melhor do meu humor — sorri simpática e interessada no devido tom.

Ela pareceu ter ficado sem voz, apenas me olhando. Eu já havia passado por essa situação inúmeras vezes. E a Tashinha sempre me dizia que a culpa era minha. “Quem mandou nascer essa mulher deslumbrante? É de tirar qualquer um do sério!”, dizia ela enquanto pulava em cima de mim e me enchia de beijos ao narrar minha altura privilegiada, cabelos pretos e olhos azuis. As visitas dela sempre terminavam em festival de pipoca, sorvete e guerra de travesseiros!

— Ah, imagina, senhorita Shayiera, não precisa pedir desculpas — foi tudo que Fernanda conseguiu dizer.

Não sei bem o motivo, mas gostei dela, talvez fossem as pernas.

— Pode me chamar de Shay, como meus amigos, mas agora vamos almoçar. Meu café da manhã foi uma salada de frutas basiquinha e eu estou com fome! — disse estendendo o braço.

Ela acompanhou cada movimento meu com os olhos e sorriu. Apenas fez que sim com a cabeça e saiu comigo da sala de reuniões.

O almoço transcorreu muito bem. Divertido na medida certa e muito saboroso. Mas decidi não esticar com eles para a cervejinha — que, aliás, eu não suporto. Fui para casa decidida a saber o porquê daquele sucesso todo da tal poetisa com a minha equipe de trabalho.

•.¸¸.ஐ Aladas

Tens na pele as cores das flores que voam
teu aroma são asas
tens letras nas esquinas das pernas
onde desejo escrever um poema.

Tens nos lábios o coração
num dia quente
despertas nos meus a sede.
Leio um chamado em teus olhos,
não resisto a eles.
E anseio pousar em teus seios, na rosa
nos lábios para sentir teu pulsar.

Repousas num canto das estrelas
num canteiro de flores duradouras
onde te espero e te desejo...
Dar-te-ia rosas em ninhos de borboletas!

Queria aninhar-me em tua cabeleira;
Voar junto da tua imaginação.
Em ti carregas a paixão
levemente como as pétalas que perfumam
e deixas ao ar as letras para que eu te escreva
a ternura quase impossível
de quem carrega os sonhos dentro dum beijo

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Um poema de asas e sentires... Para ela!

•.¸¸.ஐ Borboleteares

Abro os poros às margens férteis do tempo novo. Não há sombras neste jardim onde acordam entoações de primavera – ainda que não seja essa a estação do lado de fora de mim. Procuro-me no fundo de manhãs a cores, reinvento-me na matriz das borboletas. Desprendo os anseios na vertigem da bruma, sou pedaços de vento desenhando voos ao redor de sua flor.

Borboleteio em sua janela, percorro as ondas de seus desejos e me perco a decifrar sensações no relevo de seus lençóis, onde os mapas paralelos se entrecruzam em regatos íntimos.

E quando as flores morrerem em madrugadas de poesia, almejo renascer sempre depois do prazer pleno, gozando a liberdade de ser borboleta, quando tudo posso, tudo quero, preciso e aceito.

E então meu voo será sem amanhã, e a vida não estará contida nos meus olhos e peito, mas borboleteará descompromissada em sua alma, desesperadamente infinita como o azul do firmamento.

•.¸¸.ஐ Luz que clareia meus escuros ஐ Prólogo

Caminhando sem destino, guiada por uma Lua branca em noite escura, pensava na madrugada daquela quinta-feira. O prazer era tanto que chegava a doer... Mas não uma dor física. Doer dentro, como se fosse à alma. Mais um delírio que uma dor. Uma morte e uma ressurreição. O êxtase e o relaxamento absolutos, unidos de forma incoerentemente simultâneas.

Provavelmente, as poucas pessoas que passavam por mim não entenderiam meu sorriso sem endereço ou aparente motivo. Mas eu ainda podia sentir cada centímetro do corpo dela e aquele perfume de mulher que me enlouquecia. Jamais me esqueceria do jeito dela me olhar. Não sei explicar ao certo... Ela me enfeitiça como se tivesse a Lua presa nos olhos.

Tentei lembrar os versos que desenhamos em minha cama aquela madrugada... Não consegui. Lembrei-me das carícias, dos toques, dos gemidos. Voltei para casa e fui entrando. Ao contrário do que faço sempre, não olhei para trás. Apenas fechei meus olhos e ouvi o que o mar tinha a me dizer.

Fui direto ao banheiro de minha suíte, no andar de cima. Não estava muito preocupada com o tempo. Aquele momento seria meu. Fiquei ali, na banheira, brincando com a espuma. Ternas são as noites!

Saí do banho disposta e renovada. Penteei os cabelos de qualquer jeito. A noite estava quente, abafada. Tirei meu notebook da escrivaninha, joguei a toalha molhada em cima da cama e deitei sobre ela. Alguns versos desajeitados apareciam na tela. Apaguei-os. Tentei algumas frases, mas não ficou bom. Deixei de lado e saí para a varanda. Não me importou que estivesse nua... Queria mesmo ser beijada pela maresia salpicando o ar das espumas de que se moldou Afrodite. Inesperados, os impulsos do desejo afloraram. A pele apenas metáfora em palavra liquefeita.

Na noite dos tempos, para o mundo, cessa o sonho, procura-se o infinito.



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A partir de hoje, publicarei semanalmente o meu primeiro romance, Luz que clareia meus escuros. Este texto é livremente inspirado na história de Xena, Warrior Princess.

Beijos e borboleteios
•.¸¸.ஐ

•.¸¸.ஐ Colheita

Era uma tarde sem nexo de uma terça-feira besta. Ônibus parados, internet lenta e aquele calor modorrento fazendo com que todas as cidades do mundo sejam um pouco irmãs de Macondo. Até mesmo o sorriso fazia força para nascer em rostos enrugados, poros buscando sombras de pele.

Foi então que me veio o livro, o perfume, o olhar. Vestida de boneca, a brisa se aproximando a cada passo, era como se o lume dos olhos dela pudesse refrescar meu sentir. E podia. Grãos de vento, de sombra, de água. Gotas de letras, de amor, dela. Deliciosamente dela.

Versos como gotas de delicadezas pinçadas da grande narrativa da vida ou pérolas prontas a florearem um romance. Quem sabe o nosso? Em cada poema, ela constrói uma imagem com palavras. De onde elas vieram? Por certo que as viu antes de escrevê-las... E as letras dela me levam pela mão, pelos vãos, pelas entrelinhas, reticências, silêncios.

E tudo deságua nela. E tudo venta dela. E tudo emana com uma força-delicadeza que me enternece, feito um toque de dedos de nuvem. E as marcas vão surgindo, sutis, se eternizando, vêm voando e fazendo ninho em meu coração.

Ah, ela que diz ser do barro do medo e do desejo; ela que é revirada pelas mãos do destino e o sopro do vento; ela que borboleteia diante de meus olhos fascinados, servis; ela ainda provoca, atenta e diz ser mais dela quando minha. Minha? E eu me resumo no querer fazê-la chover.

Espero-a em sobressalto, com todas as chamas do desejo acesas, tremente ao vento quente do virar de páginas. Espero que ela se volte para o meu deslumbramento feito de amor e de letras derramadas nestas linhas e me imobilize sobre seu corpo em movimento.

Ao fim da colheita, a sensação de que presenteia-me com um sopro bálsamo para um dia que seria qualquer e um pedaço da alma, desesperadamente infinita como o azul do céu.

•.¸¸.ஐ Sensuelle

As gotas finas que caíam das nuvens já cansadas de tanto chover a acompanhavam pelas ruas. Os cabelos soltos grudavam em seu corpo, tão molhados estavam. O mesmo acontecia com seu vestido. Lilás. Doce. De saia um pouco rodada e renda. Com direito a falsos botões na frente. Digo falsos porque não abriam. E botão que não abre que pode ser senão falso?

Passos médios, sem pressa. Pés descalços, sandálias na mão. Em seu pensamento, tinha a imagem de si diante do espelho. Lembrou-se da sensação desconcertante de que apenas parte dela estava naquele reflexo, como se fosse a pintura de uma meia Lua feita por alguém que nunca vira uma Lua cheia.

Pelo adiantado da hora, havia pouca gente pelas ruas. Ainda assim, assovios, dizeres e sorrisinhos pelo caminho. Não foram, porém, ouvidos ou percebidos. O silêncio dela era intransponível. Estava já a poucos metros do mar e sentia dele o perfume mais intenso. Amante sedutor. Chegou ao calçadão e levantou os olhos. As nuvens se desmanchavam e luzes distantes eram já vistas.

Deu alguns passos, talvez insegura. Era uma noite de segunda-feira. Não havia ninguém por perto de Helena. Olhou para frente e para trás. Medo ela não tinha. Era assim: surgida pela afirmação de sua própria negação. A moça acreditava ser capaz de se defender sozinha em qualquer situação. Não sei se era. Mas não teria que provar nada a ninguém. Não naquela noite. Não nestas linhas.

E sendo, caminhava, no mesmo ritmo, compassado, meio que brincando, meio que rebolando. Nada forçado, era natural. Demorou a reparar na criatura que, inusitadamente, acompanhava-lhe o andar. Ao lado de Helena, uma borboleta amarela esvoaçava, disposta a seguir da moça o caminho.

Aquela presença pequena e alada a fez sorrir entre os passos. Era estranho o que a jovem sentia. Uma sensação de aconchego ao lado da borboleta. Como se tivessem sempre esperado por aquele caminho, aquele encontro.

Mais alguns passos e Helena não sentiu mais aquele amarelo-vivo ao seu lado. Voltou os olhos para trás e notou um borboletear que tentava lhe chamar a atenção. Assim que a moça tinha os olhos fixos naquele voo circular, o ser alado pôs-se a voar em direção ao mar, indicando à outra que a seguisse. E ela foi.

Pisou na areia devagar. Só então notou aquela claridade familiar, que tanto amava. Voltou os olhos ao céu e se deparou com a Lua cheia. A maior que já vira. Podia senti-la tão perto... Mais um pouquinho e tocaria naquela face alva pela qual era apaixonada. Contudo, ao invés de levantar os pés, sentou-se. Ao lado dela, numa pequena elevação na areia, a borboleta descansou as asas.

Permaneceram assim, lado a lado. Até que a sensualidade de um esbarrar suave despertou Helena. Aquele tocar de minúsculos pés avançava deixando um rastro de ternura pela pele macia dela. Logo subiu até o joelho, passou às coxas. Alcançou o abdômen, os seios, colo, pescoço. Roçou-lhe os lábios e, com a licença dos cabelos, descansou pousada nas costas, bem no meio. A moça se sentiu inteira abraçada pela borboleta.

Naquele instante, o desejo de serem um único ser foi tão forte que a Lua intercedeu em favor das duas. Os corações bateram num ritmo só. As respirações se igualaram. A moça diminuiu e a borboleta cresceu. Até que houve harmonia. Helena abriu os olhos. Tinham nova cor e novo brilho. Âmbar.

Em suas costas, onde o pequeno ser pousara, um majestoso par de asas se mostrava imponente. Multicolorido, como o interior da moça – vocês não sabiam, mas ela guardava em si o arco-íris. Levantou-se com uma graciosidade desconhecida e sentiu o vento. Balançou as asas no mesmo ritmo. Não demorou a alcançar o céu.

O pouso de volta à areia foi delicado. Tocou primeiro com a ponta dos pés, feito bailarina alada, e foi baixando, devagar, até estar firme para soltar o peso do corpo. Foi então que, ao olhar para a Lua cheia, viu o reflexo de si mesma. No espelho de Helena, seu reflexo se mostrava nítido, único, como se feito por alguém que nunca conhecera outra Lua senão aquela.

•.¸¸.ஐ Amanheci outono


Sou parte delírio e tanta parte de espanto. Porque é o avesso de suave este mundo que me contém, que exubera ocorrências dúbias cujas manifestações se prestam a um aniquilamento gradativo das minhas maiores certezas; chamo o tempo ora cura, ora culpado das sobras a que me reduzo quando investigo-me o íntimo, desajustada.

E me deito nas sombras, e me embalo nos ventos, nas luas, plêiades, marés e vazantes. Mulher urdida em fina teia. Sujeito, singular, desejante. Emparedada no cimento da palavra, da linguagem mínima, mímica. Todos os dias são dias de se lembrar e de se esquecer - como é difícil manter o tempo sem memória de mim! As horas são todas filhas das dúvidas e dos medos que as povoam, crescem ligeiras regadas pelas inquietações subterrâneas que me alarmam os sentidos.

As pétalas do que tão pouco sei, do que tão pouco sou, do que tampouco... Hoje eu só queria encostar-me a um travesseiro de coisa nenhuma e ali dormir por semanas; perder-me do que é vão e do que é preciso; fechar os olhos ao importante e ao fútil; deixar que morra em mim tudo aquilo que não posso compreender.

Se sou verso inacabado, imperfeito, ao que me sabe, verso confessado rasgando o véu da boca, expõe meu grito. Da arte do barro, flor de lamaçal desabrochando lenta. Imperfeita e milenar reconstrução diária, metamorfose alada, ávida, voraz a consumir eterna o que alimenta o ciclo da ilusão. Queria amputar dos meus desejos os seus impossíveis, livrá-los do meu peso, fazer com que se tornassem tão leves que desaparecessem, etéreos, feito sonhos. E acordar talvez vazia, mas sem pressa de viver.