domingo, 20 de novembro de 2016

e se

Por vezes o introvertido será tomado por tímido, anti-social, misantropo ou simplesmente incapaz de comunicar-se com o mundo e seus habitantes, enquanto, ao tentar ocasionalmente abrir a boca com o intuito de externar alguma constatação pertinente ou avisar aos outros sobre o iceberg que se aproxima, prestes a chocar-se contra o navio, não é sequer notado, já que todos estão ocupados demais falando sobre si mesmos. O palco é de quem gritar mais alto, fica cada vez mais claro. Estará, sim, em constante e intenso diálogo interno, tanto que por vezes poderá deixar escapar alguma consideração mais veemente ou mesmo ríspida, enquanto tenta convencer ou dissuadir a si mesmo de algum assunto qualquer de suma importância, embora discorde.

O introvertido também será, com frequência, paranóico, neurótico e hipocondríaco. Solitários todos são. Ao preencher os citados requisitos, certamente ocupará a maior parte do seu tempo desperto ‒ e possivelmente durante o sono ‒ conjecturando sobre os possíveis e terríveis desdobramentos dos desdobramentos dos desdobramentos da menor hipótese improvável e sem qualquer relevância, mas que lhe parecerá urgente, crucial, crítica. O introvertido paranóico exemplar está sempre muitos passos à frente de si mesmo, e por andar tão ocupado em evitar os obstáculos futuros e imaginários que inventa, acaba tropeçando nos próprios calcanhares o tempo todo.

quarta-feira, 2 de novembro de 2016

chapa mamba — remoto

terça-feira, 25 de outubro de 2016

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

chuchu beleza

terça-feira, 4 de outubro de 2016

divulgação


saiu uma matéria falando sobre os 
últimos lançamentos da chupa manga recs.
com spoilers do que virá em breve


sexta-feira, 30 de setembro de 2016

na mesma linha

Aderbal Silmeira, vulgo Silmeirinha, candidato a vereador pelo PHB, na verdade atua primeiramente como motorista do C-10, vulgo Fátima/Central, além de acumular as funções de cobrador e vendedor de guloseimas, tudo isso durante o itinerário. Não satisfeito em empurrar balas pastilhas e jujubas aos passageiros enquanto cobra a passagem e calcula o troco, anuncia, entre uma curva e outra, sua extraordinária candidatura; obrigando todos a ouvirem o pavoroso jingle repetidas vezes durante o trajeto que, acredite, nunca pareceu tão longo. Sorte a dos que saltam ainda nos arcos da Lapa, antes do pequeno mas infeliz congestionamento que sempre se forma a essa hora na avenida Mem de Sá. Apesar de versátil multi-tarefas, Silmeirinha as realiza todas com a mesma incompetência e desleixo e, enquanto dirige o ônibus com o som no último volume, ainda arruma tempo para discutir com a senhora que, segundo ele, entrou pela porta de trás sem pagar o bilhete; ao que os outros passageiros contestam em tom desaprovador e têm de descer nos pontos errados, já que ele não lhes dá a mínima atenção. Se pudessem, certamente todos votariam pelo impeachment do motorista ali mesmo.

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

música eleitoral


Dia desses, minha mulher lembrou de uma frase que eu havia dito sem pensar muito: o patamar mais baixo da música é o jingle político. Vocês hão de convir que não há nada mais irritante — exagero, eu sei — do que um sertanejo, baião, ou outro estilo popular qualquer, devidamente higienizado, com uma letra mal encaixada louvando esse ou aquele candidato. A tentativa patética de, humanizando-o, caracterizá-lo como "do povo", "um cara comum", "um homem (ou mulher) de visão" ou qualquer outra baboseira do tipo, não apenas soa tão falsa quanto um anúncio de água em póTM, como expande o significado do termo "genérico". Me faltam o tempo e, francamente, a paciência para tanto, mas é possível que uma pesquisa, mesmo que superficial, consiga traçar os perfis básicos do jingle político brasileiro em alguns poucos estilos e métricas nas últimas décadas. [1]

terça-feira, 27 de setembro de 2016

son of computer music

segunda-feira, 26 de setembro de 2016

mais leituras aleatórias


Ao voltar de uma viagem a Curitiba, me deparei com uma queima de estoque de livros novos no aeroporto. Entre os títulos psicografados e auto-ajuda para empresários, consegui encontrar algumas coisas interessantes a preço de banana, como o ótimo "Signos e Estilos da Modernidade - ensaios sobra a sociologia das formas literárias", do italiano Franco Moretti. A pompa do título brasileiro e de seu subtítulo pode ser o suficiente para um pedante mediano erigir uma reputação (como encontrei depois em um texto sobre o livro), mas, longe disso, a pretensão aqui é apenas compartilhar alguns trechos que me chamaram a atenção até agora e movimentar este pobre e deserto espaço.

sexta-feira, 5 de agosto de 2016

single



segunda-feira, 1 de agosto de 2016

chupa manga zine nº2



compre o impresso aqui: chupamanga.iluria.com/pd-3069fd
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estarei na parada gráfica (museu do trabalho, porto alegre) nos dias 6 e 7 de agosto, para quem quiser conferir pessoalmente.


sexta-feira, 1 de julho de 2016

world muzik

é engraçado como a internet trouxe novos meios de nos relacionarmos com o mundo. hoje posso trabalhar, me divertir e aprender muita coisa sem sair de casa, mas isso não significa que as interações sociais não aconteçam. conheci o stano através do soundcloud, quando ele me mandou uma mensagem com o link das suas músicas, e desde então não parei de ouvi-las. um cara mais ou menos da minha idade do outro lado do mundo também grava coisas estranhas sozinho e não tem pra quem mostrar. das centenas de arquivos que ele me enviou, escolhi doze que representam um pouco da diversidade do seu trabalho, coloquei em uma ordem interessante e tentei masterizar as gravações na raça. o resultado é esse álbum de estreia, apresentando o camarada por aqui e preparando o caminho para outros lançamentos -- tem muito mais de onde veio isso.


terça-feira, 14 de junho de 2016

quarta-feira, 8 de junho de 2016

chapa mamba inédito




Essa é uma das faixas que estará no compacto em vinil "Lombra Society Discos vol.2", programado para setembro.

segunda-feira, 6 de junho de 2016

novidades musicais

Em breve vou iniciar uma newsletter marota do meu humilde selo Chupa Manga Records (gravações caseiras, experimentalismos, anti-hits, pop torto, bandas obscuras e correspondentes interplanetários). 

Nela constarão, dentre outros: 
lançamentos em formato físico e digital; atualizações sobre as mercadorias do selo; promoções, descontos e faixas exclusivas para os assinantes; datas de show/turnê dos projetos envolvidos (quando for o caso); alguma notícia pertinente sobre música em geral e outros assuntos de interesse.

Tudo nas redes sociais parece virar ruído, então vamos tentar transmitir a informação de outra forma. Prometemos envios esporádicos. Uma vez por mês, no máximo, para não encher o saco de ninguém.

Não custa nada, caso queira se inscrever basta fazê-lo em aqui (rápido, fácil e indolor - via mailchimp).


quinta-feira, 19 de maio de 2016

leituras cruzadas e livre associação



Tenho lido vários livros ou trechos deles ao mesmo tempo, hábito que costuma levar a conexões interessantes e soluções inesperadas a questões que estejam rondando a minha cabeça no momento. Ainda mais agora, quando a ficção tem concorrência tão desleal com a própria realidade, alguns textos se destacam como alegorias do presente, interpretações possíveis e parábolas que me chamaram a atenção. Foi o caso recente do poema Hino Nacional, de Drummond, em "Brejo das Almas" (1934):

sexta-feira, 6 de maio de 2016

factótum: demos, 2008

terça-feira, 26 de abril de 2016

músicas ligeiras


Pensa-se imediatamente naquilo a que hoje chamamos «variedades». Mas as variedades são um fenómeno do nosso século, que surge com as indústrias da música (gravação e radiodifusão).
A música de variedades é um caso particular da música ligeira do século XX (as coisas serão provavelmente diferentes no século XXI). Essa música reconhece-se por dois caracteres diferentes:
— um ritmo e uma harmonia elementares, uma escrita de há cem ou duzentos anos (ultra-simplificada) com pormenores de estilo em voga.
— o papel preponderante dos «arranjadores» (orquestradores... e dos intérpretes)

segunda-feira, 25 de abril de 2016

avant-noise experimental live

terça-feira, 12 de abril de 2016

lançamento

Saiu o novo Chupa Manga Zine! Dia 30 tem lançamento em Porto Alegre.
O flyer aí embaixo é um quadrinho do poster do Gabriel Góes, que acompanha a edição.
Aqui tá o evento, e já dá pra comprar por aqui.


domingo, 10 de abril de 2016

Estimado Sr.                  ,

conforme seu contato no dia 3 do último mês, reafirmamos que o serviço dentário conveniado ainda consta dentro da garantia estendida de seis semanas, sendo por isso perfeitamente possível a troca do item danificado por um novo de igual ou menor valor. Caso deseje apenas o conserto por parte do fabricante, nossa equipe estará pronta para atendê-lo assim que preciso. Para tanto, solicitamos que envie o dente em questão para o endereço impresso no verso deste envelope, onde será devidamente submetido a um rigoroso exame por parte de nossos especialistas, e, não sendo constatado mau uso, devolvido com todas as restaurações em dia e sem qualquer ônus para vossa senhoria. (exceto as despesas postais, naturalmente)

Lembramos que as instruções para extração encontram-se no 28º parágrafo, inciso II (com o perdão do trocadilho), do contrato de adesão.

Atenciosamente,

                  , ,                &                 Odontologia Especializada

sexta-feira, 22 de janeiro de 2016

MÁQUINAS FALANTES

A GUERRA DO VINIL 

(em um passado nem tão distante  -  e nem tão distinto)


do livro
TALKING MACHINES - Some aspects of the early history of the gramophone
de V. K. CHEW (Londres, 1967)


p.34

O mercado de discos estava mesmo fadado a ser dominado pelo disco preto de goma-laca, com corte de agulha e 10 ou 12 polegadas de diâmetro, gravado dos dois lados. A Gramophone Company apresentou um disco de 10 polegadas em 1901 e um de 12 polegadas em 1903, e o primeiro disco a ser gravado em ambos os lados foi o Odeon, importado da Alemanha em 1904. Mas ainda haveria muita experimentação nas cores, materiais, tipo de corte e tamanho antes da padronização ser efetuada. Assim, o "inquebrável" disco vermelho Nicole, introduzido em 1903, foi um fracasso comercial, como também o foi o disco branco com corte fonográfico da Neophone, que trazia uma camada de celulóide sobre a base de papel comprimido, e sobreviveu, com a reorganização periódica da empresa fabricante, de 1904 a 1908. A firma Pathé, quando abandonou o cilindro pelo disco em 1906, também usava o corte fono; a gravação começava no meio em vez de na borda do disco, e era tocada com uma agulha de safira em vez de aço. Nas mãos da Pathé o corte fono foi tecnicamente bem-sucedido e a firma não introduziu um disco com corte de agulha até 1921.
Ao primeiro disco importado da Alemanha, o Odeon, seguiram o Beka, Favorite, Homophone, Lyraphone e outros. A competição entre eles forçou a queda do preço de um disco de 10 polegadas com dois lados de 4 shillings para 2 shillings e 6 pence em 1909, quando a Columbia entrou na batalha tomando o controle da Rena Company e lançando discos de dois lados a esse preço. A Gramophone Company parecia estar à parte da competição; seus preços permaneceram altos e ela não lançou discos de dupla face até 1912, mas sua subsidiária British Zonophone Company, tendo se fundido com a Twin Records em 1911, adentrou e eventualmente dominou a guerra de preços, o que produziu uma crise no setor de 1911 a 1914, enquanto uma enxurrada de novos discos alemães inundava o mercado e o preço do disco de 10 polegadas despencava até 10,5 pence.
A indústria das "máquinas falantes" estava bem servida na época, como sua contraparte hoje, pela imprensa especializada. As publicações Talking Machine News (de 1903), Phonotrader and Recorder (1906) e Sound Wave (1907)  formavam laços valiosos entre fabricantes, comerciantes e o grande público. Nelas, a integridade editorial era teimosamente mantida, por vezes contra forte pressão de anunciantes gananciosos. Uma crítica musical séria focada em discos de gramofone apareceu regularmente pela primeira vez em 1906 na alemã Phonographische Zeitschrift; na Inglaterra não atingiu o alto nível acadêmico e de estilo que agora tomamos por certo em publicações sérias sobre o gramofone até a criação de The Gramophone em 1923. Críticas técnicas, hoje exercidas por engenheiros habilidosos e com o dom da popularização, apareciam largamente em colunas de correspondência e a única qualificação necessária para participar delas parece ter sido o entusiasmo.

segunda-feira, 4 de janeiro de 2016

noise

domingo, 13 de dezembro de 2015

onde está o riso?

Nas breves alusões a respeito do constructo cômico, a Poética e a Retórica aristotélicas afirmam que são matérias de sustentação do cômico aquelas de natureza infamante. Porém advertem que nem tudo que é ignóbil deve servir ao riso. Dependendo de sua extração e natureza, as matérias baixas servem mais ao horror do que à graça. “A Comédia é Imitação dos Piores; não segundo todo gênero de vício, contudo, ainda que o Ridículo tenha origem no Feio. Pois o Ridículo é, por certa convenção, erro e feiúra sem dor e com o mínimo prejuízo; e a face deformada, distorcida sem dor, surge imediatamente como ridícula.” Contudo, a dificuldade de se estabelecer o que é exatamente “uma deformidade sem dor” levou o próprio Aristóteles, na sua Ética em Nicômaco, a colocar em dúvida se se pode mesmo definir o que seja o ridículo, especialmente porque muitos riem de coisas, na verdade, dolorosas. A resposta a si próprio veio no mesmo livro, na alusão a que algo pode ser doloroso para alguns sem que seja para outros, e o que determina isto é a disposição dos ânimos em cada audiência.

Geraldo Noel Arantes
CAMPOS DE CARVALHO: INÉDITOS, DISPERSOS E RENEGADOS
Dissertação de mestrado em Teoria e História Literária - Unicamp, 2004.

quarta-feira, 9 de dezembro de 2015

plunderphonics




Plunderphonics, ou audio-pirataria como uma prerrogativa composicional, foi um termo criado pelo artista John Oswald para seus experimentos sonoros em que desmembrava canções pop, trilhas de cinema e balés famosos utilizando gavadores e técnicas de reprodução alterada para criar novos sons "com a fonte ainda reconhecível".


Para saber mais, leia o artigo Do Dada ao Meme, no Chupa Manga Zine nº1