Ela dança quase parada
olhando a névoa que devora a pedra
e baila a bordo da casa que flutua
como um barco cigano
olhando a névoa que devora a pedra
e baila a bordo da casa que flutua
como um barco cigano
Dança com os olhos molhados
a cada aceno de despedida
a cada fantasma do passado
e a cada nova ferida
Dança a noite mal dormida
nas retinas fatigadas
na alma estilhaçada
na carne toda doída
Dança o sorriso de plástico
a flor murchando no peito
dança em nome do pai
do filho e do espírito santo
Dança de mal com Deus
dança de bem com o homem
dança com os pecados seus
mesmo os que não cometeu
Dança com um par invisível
rodopia com a dor indizível
dança com os dois pés amarrados
e seus sapatos de cinderela
A moça dança sozinha
e no rodar de sua saia
rodopiam dores
maremotos, furacões
e no rodar de sua saia
rodopiam dores
maremotos, furacões
Dança um tango sem alma
dança para encontrar a calma
dança para esquecer
a solidão que escolheu como par
A moça dança, dança, dança...
ela não consegue parar de dançar
a moça dança, dança, dança...
ela não para de rodopiar.
A moça dança, dança, dança...
(30 de Agosto de 2016)