UM VULTO NA PENUMBRA
Clarice assistiu um filme impróprio no cinema.
Ela tem 11 anos e a película estava regulamentada para pessoas acima de 13. Entrou com a irmã mais velha e as primas.
O filme tinha cenas violentas, o que deve tê-la deixado bastante impressionada.
Duas da manhã, durmo pesadamente e sinto uma mão me tocar o rosto.
Abro os olhos e vejo aquela figura conhecida dissolvida na penumbra do quarto.
- Pai, estou tendo um sonho ruim.
Chego-me para o lado, puxo o edredom e ofereço o canto.
- Deita aqui, que papai te protege, digo flexionando o bíceps deficiente de musculatura.
Ela ri, deita ao meu lado, abraça-me e dorme quase que imediatamente.
Passo a noite em claro.
Fico ali, guardando o sono de Clarice, de olho na janela, de olho em Liam Neeson.
BIOGRAFIA
Estou terminando de ler a biografia do músico paraibano Zé Ramalho. Clarice, a caçula, entra no quarto e se deita ao meu lado:
- Pai, que livro é este?
Respondo, sem tirar o olho da página 236.
- É bom?
Aceno afirmativamente com a cabeça.
Ela olha na capa e vê a foto do compositor em tronco nu, braços abertos.
- Livro de terror, né?
Sorrio. Zé Ramalho não é lá dos mais belos. E respondo tratar-se de uma obra biográfica.
Clarice coça a cabeça, olha para mim e pergunta:
- O senhor não acha que já passou da hora de escreverem a minha biografia?
Concordei.
Já passou da hora.
Adormeceu aqui, a cabeça jogada em meu ombro, a mãozinha direita segurando o livro.
Clarice assistiu um filme impróprio no cinema.
Ela tem 11 anos e a película estava regulamentada para pessoas acima de 13. Entrou com a irmã mais velha e as primas.
O filme tinha cenas violentas, o que deve tê-la deixado bastante impressionada.
Duas da manhã, durmo pesadamente e sinto uma mão me tocar o rosto.
Abro os olhos e vejo aquela figura conhecida dissolvida na penumbra do quarto.
- Pai, estou tendo um sonho ruim.
Chego-me para o lado, puxo o edredom e ofereço o canto.
- Deita aqui, que papai te protege, digo flexionando o bíceps deficiente de musculatura.
Ela ri, deita ao meu lado, abraça-me e dorme quase que imediatamente.
Passo a noite em claro.
Fico ali, guardando o sono de Clarice, de olho na janela, de olho em Liam Neeson.
BIOGRAFIA
Estou terminando de ler a biografia do músico paraibano Zé Ramalho. Clarice, a caçula, entra no quarto e se deita ao meu lado:
- Pai, que livro é este?
Respondo, sem tirar o olho da página 236.
- É bom?
Aceno afirmativamente com a cabeça.
Ela olha na capa e vê a foto do compositor em tronco nu, braços abertos.
- Livro de terror, né?
Sorrio. Zé Ramalho não é lá dos mais belos. E respondo tratar-se de uma obra biográfica.
Clarice coça a cabeça, olha para mim e pergunta:
- O senhor não acha que já passou da hora de escreverem a minha biografia?
Concordei.
Já passou da hora.
Adormeceu aqui, a cabeça jogada em meu ombro, a mãozinha direita segurando o livro.
* Clarice tem, hoje, 17 anos. No próximo mês de setembro ela iniciará sua trajetória acadêmica na Temple University, em Filadélfia. Está chegando a hora, eu sei. Vou ter que guardá-la de longe. Bem longe.
3 comments:
Bom demais te ler, Robert. Ri gostoso ao citar o Liam Neeson, que por acaso a Netflix me oferece como sugestão agora há pouco.
Abração e curta muito esses meses.
Ya casi llega la hora... sí. Ya casi. Quedan unos días. Raíces ya tiene. Ahora necesita alas. ¿Se las darás?
Cuídate, Roberto. Abrazo. Grande.
Y ha llegado la hora. Estoy segura de que todo irá bien.
Abrazo, Roberto. Grande. El trompo gira. Y nosotros con él.
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