Sunday, April 10, 2011
fechado pra balanço
amigos queridos,
este blog vai dar uma pausa.
quanto tempo? confesso que não sei. pode ser uma semana, um mês. pode ser pelo resto dos meus dias.
por motivos tantos e que não merecem ser citados, não tenho conseguido produzir cronicas que mereçam ser lidas por vocês.
e, para que cesse em mim essa sensaçao de fraude, peço a vocês que me concedam esta pausa.
neste meio tempo, tentarei retomar a escrita de um romance que adormeceu dentro de mim e, esta madrugada, pediu-me para caminhar.
deixo-lhes uma canção de Roberto Mendes e muito de afeto.
abração do
roberto.
ps: assis, lírica, nina, taninha, mirze, diubs, beta, jorge pimenta, marcantonio,lu marinho, ramúcio, nanini, campanella, andrea e todos aqueles que esqueci de mencionar, o meu muito obrigado. vocês fizeram este blog.
Saturday, April 2, 2011
A Lupa de Adolfo Bioy Casares
__«Não espero nada. O facto não é horrível. Desde que o
resolvi, ganhei tranquilidade.
__Mas essa mulher deu-me uma esperança. Tenho que
temer as esperanças.
__Ela olha os entardeceres todas as tardes; eu, escondido,
fico a olhá-la. Ontem, e hoje outra vez, descobri que as
minhas noites e dias estão à espera dessa hora. A mulher,
com a sua sensualidade de cigana e com o lenço colorido
grande demais, parece-me ridícula. No entanto, sinto,
talvez com um pouco de humor, que se pudesse ser olhado
um instante por ela, falar com ela um instante, receberia
ao mesmo tempo o socorro que o homem tem nos amigos,
nas noivas e nos que são do seu próprio sangue.»
(...)
A mostrar as mensagens mais recentes com o marcador adolfo bioy casares. Mostrar mensagens mais antigas A mostrar as mensagens mais recentes com o marcador adolfo bioy casares. Mostrar mensagens mais antigas
__«Não espero nada. O facto não é horrível. Desde que o
resolvi, ganhei tranquilidade.
__Mas essa mulher deu-me uma esperança. Tenho que
temer as esperanças.
__Ela olha os entardeceres todas as tardes; eu, escondido,
fico a olhá-la. Ontem, e hoje outra vez, descobri que as
minhas noites e dias estão à espera dessa hora. A mulher,
com a sua sensualidade de cigana e com o lenço colorido
grande demais, parece-me ridícula. No entanto, sinto,
talvez com um pouco de humor, que se pudesse ser olhado
um instante por ela, falar com ela um instante, receberia
ao mesmo tempo o socorro que o homem tem nos amigos,
nas noivas e nos que são do seu próprio sangue.»
(...)
«Quinta hipótese: os intrusos seriam um grupo de mortos amigos; eu, um viajante, como Dante ou Swedenborg, ou se não outro morto, de outra raça, num momento diferente da sua metamorfose; esta ilha, o purgatório ou céu daqueles mortos (fica enunciada a possibilidade de vários céus; se houvesse só um e todos para lá fôssemos e nos esperasse aí um casamento encantador com todas as suas quartas-feiras literárias, seríamos já muitos a ter deixado de morrer).
Compreendia agora que os romancistas nos proponham fantasmas que se lamentam. Os mortos continuam entre os vivos. Custa-lhes mudar de costumes, renunciar ao tabaco, ao prestígio de violadores de mulheres. Fiquei horrorizado (pensei com teatralidade interior) por ser invisível; horrorizado por Faustine, próxima, estar noutro planeta (o nome Faustine deixou-me melancólico); mas estou morto, estou fora de alcance (verei Faustine, vê-la-ei a ir-se e os meus sinais, as minhas súplicas, as minhas tentativas, não a poderão atingir); todas as soluções medonhas são apenas esperanças frustradas.
(…)
É assombroso o invento ter enganado o inventor. Também eu acreditei que as imagens tinham vida; mas a nossa situação não era a mesma: Morel tinha imaginado tudo; tinha presenciado e conduzido o desenvolvimento da sua obra; eu deparei com ela finalizada, a funcionar.
Esta cegueira do inventor a respeito do invento é surpreendente, e recomenda-nos circunspecção nos juízos… Talvez eu esteja a generalizar acerca dos abismos de um homem, a moralizar a partir de uma peculiaridade de Morel.
Aplaudo a orientação que, sem dúvida inconscientemente, ele imprimiu aos seus tacteios de perpetuação do homem: limitou-se a conservar as sensações; e, embora equivocando-se, predisse a verdade: o homem, só, há-de aparecer. Em tudo isto poderá ver-se o triunfo do meu velho axioma: não se deve tentar conservar vivo o corpo todo.»
Adolfo Bioy Casares
A Invenção de Morel
A Musica que Toca Sem parar:contribuição de Luiz Nassif, o Coral do Sadaic desfia lindamente a antológica Regreso a La Tonada, de Armando Tejada Gómez e Tito Francia.
Antígona, 2003
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