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dominó - imagem do Google |
Incansável é a busca
do ser humano por respostas aos mistérios da vida e do universo. Existem
alguns desses segredos que viraram chavão, como o tal “de onde viemos e para onde vamos?” (especulações
populares referentes ao meio científico), ou ainda os assuntos da fé (criação,
céu e inferno, entre outras dúvidas dentro das crenças), e por aí vai. Mas
perceba que nada disso é pequeno, coisa que se resolve com simples especulações
ou conjecturas, ou horas perdidas em divagações e filosofia de boteco. Nesses assuntos, e
em muitos outros, as cátedras ainda engatinham tais quais bebês prematuros,
isso devido ao grau de complexidade que envolve cada um desses assuntos.
Muitos deles, claro,
se resolvidos ou respondidos, não irão alterar em nada a rota natural de nossos
destinos. Um ou outro, inclusive, sofrem fundamentações espúrias vindas da
ânsia humana em questionar sem razão. Outros são assuntos sérios e poderiam
indicar mudanças significativas em nossa forma de conduzir as coisas. Enfim,
são problemas a serem resolvidos, e que tomam um tempo imenso da humanidade. Penso
que parte desse esforço poderia ser dedicado a assuntos de grau de complexidade
bem menor, mas que afetam diretamente tudo o que acontece a nossa volta.
Assim é a raça humana.
Dedica esforços imensos para vergar um metal que sequer está ao alcance dos
olhos mas que intimida somente pelo pressuposto de sua existência, enquanto o
que machuca de verdade é a minúscula pedra que está no sapato e que, com a
repetição dos micro ferimentos que causa, poderá criar uma enorme ferida.
Escotomas?
O menor dos seus
problemas pode ser, amiúde, seu maior atraso. É claro que sim, pois na sua
ânsia de crescer a qualquer custo, só o que você vê é aquilo que está gritante
e diante dos teus olhos. O que é pequeno ou secundário, mas que está ali e se
repetindo a todo instante, passa despercebido.
O acumulo do que é
pequeno pode criar uma montanha. Então, quando você dá conta do que está
acontecendo, existe um muro quase intransponível diante de você, e moldado
inteiramente com aqueles tijolinhos miúdos, irrelevantes até aquele instante.
Durante muito tempo, só o que você fazia era desviar, ou passar sobre eles.
Afinal, eram só tijolinhos, não é? Até que um dia, assim numa terça-feira
qualquer e chuvosa, você notou que não dava mais para contornar, e muito menos
existia algo (ou alguém) que auxiliasse você a passar por cima.
Passar por cima?
Isso soa de um jeito
estranho, não é? Muitas vezes, ficamos até envaidecidos quando alguém comenta
algo assim conosco: “Você é incrível. Passa por cima de tudo como se nada
existisse.”. Até que num dado momento notamos uma inversão nessa “verdade”, e vemos que
estamos a mercê de um atropelamento por parte de tudo aquilo que “passamos por
cima”. O sentimento de fragilidade aparece, e o que era para ser algo fácil
para um caráter imediatista, passa a ser um sofrimento claro e angustiante,
próprio daqueles que negligenciaram os efeitos que seus atos poderiam acarretar
durante um percurso tão delicado quanto a vida.
E nessa hora, o que
mais se quer é passar por baixo, de um jeito discreto e silencioso, sem ser
percebido por ninguém.
Ninguém?
Não é bem assim. É
nesse instante que um conflito interno começa. Pessoas que “passam por cima de
tudo” são turronas, donas de uma personalidade forte, e acham que não precisam
de ninguém. Nunca. Se, por acaso ou por fato premeditado, precisam de alguém, é
por puro interesse.
Então, no momento em que estão no chão, o que deveria ser
mais difícil é admitir que se precisa de ajuda. Mas não. As pessoas até
admitem, mas o ato de pedir ajuda leva a outro, o de assumir erros e, também, a
responsabilidade por tudo o que esses erros acarretaram. E tudo desanda de vez.
Infortúnios?
Edward Lorenz descreve
muito bem o que os pequenos e quase invisíveis acontecimentos podem causar em
nossa vida. Na década de 1960, disse ele que “o bater das asas de uma borboleta no
Brasil pode causar, tempos depois, um tornado no Texas”¹. Mais tarde e com aprofundamentos, isso veio a
ser conhecido como a TEORIA DO CAOS, que tenta explicar como “uma pequenina mudança no início de um evento qualquer pode trazer consequências
enormes e absolutamente desconhecidas no futuro. Por isso, tais eventos seriam
praticamente imprevisíveis - caóticos, portanto.”².
Não sei o que pensar
sobre a Teoria do Caos. Aqui, caos poderia ser definido como algo sem ordem, em
completa confusão, caótico. Então, o exemplo da borboleta citado por Lorenz não
bate. Imagino a cadeia de reações necessária, de forma ORDENADA, para que tal
coisa ocorra. Um evento desse porte, com tanta complexidade, não pode ocorrer
vindo apenas das coincidências. É claro que é apenas o ponto de vista de um
leigo, e você pode dizer que a coincidência é um dos condimentos principais do
caos. E se partirmos do princípio que essa teoria é real, então nós todos, tudo
a nossa volta, é fruto do caos. E que também todo problema de dimensões
estratosféricas pode ter (e tem, seguindo a teoria) raízes em eventos
minúsculos.
Neste caso, então,
cada infortúnio de sua vida, por maior que seja, teve origem em algo
imensamente menor, em alguma coisa que você sequer reparou ou negligenciou,
pensando que nada aconteceria se você simplesmente ignorasse tal coisa. Voltamos,
assim, aos pequenos problemas.
Tudo está escrito?
Aceitar a Teoria do
Caos é como afirmar a não existência do tão famigerado DESTINO. Sim, pois se
essa mesma borboleta que bateu as asas no Brasil e causou um tornado no Texas precisar
sobrevoar outra área que não aquela para onde ela deveria ir (isso motivado pela
chegada de outro vento forte que uma borboleta qualquer causou ao bater suas
asas em algum local remoto), ela será capturada por algum predador e não
depositará suas larvas, as mesmas que iriam virar outras borboletas e que causariam outros ventos, que desviariam rotas de outras borboletas, impedindo-as
de seguir assim seus desígnios naturais. Tal coisa provocaria um desastre na
cadeia alimentar (seguindo a Teoria do Caos), causando impacto na alimentação de seus predadores, que poderiam até deixar de nascer, o que
influenciaria também a nutrição e, com isso, a normalidade na existência daqueles que estão um degrau acima nessa
pirâmide predatória. Se colocarmos tudo isso numa época que me antecedeu, e
como meus pais se alimentam de carne, e estão no topo da cadeia alimentar, vai
saber se eles não seriam afetados? Neste caso, eu não estaria aqui, e tudo por
causa de uma dita borboleta com síndrome de ventilador.
Estou a um passo de
trocar a Teoria do Caos por aquela outra que diz que “tudo é Matrix”³. Ou seja, nada é realidade, apenas mera
percepção. Porém, alguém diria que foi uma borboleta metida a besta que
resolveu pousar num computador e, com isso, gerou Matrix. Acho mais saudável
permanecer no Caos.
Enquanto isso, outro
alguém dirá que sim, o destino existe, pois alguma força superior já havia
previsto, e escrito, que a bendita borboleta nasceria e bateria as asas alí,
naquele fatídico momento, a ponto de causar em seu final o tornado. Dirá, é
claro, que cada elemento necessário para corroborar o resultado final também
foi escrito e descrito minuciosamente no livro sagrado dos três tempos
(passado, presente e futuro). Destino. Tudo está escrito.
Não afirmo nada. Só
sento e escuto, penso, e fico amalucado. É um círculo, onde cada resposta gera
uma infinidade de outras perguntas. E quem sabe seja justamente isso, essa
cadeia de ações e reações, que mais me cative, e ela vem justamente da
afirmação do Caos.
Eis a parte sólida do
mistério. Justamente aquela que mais me dá arrepios e que me deixa reticente. O
medo de abrir a caixa.
Pandora?
Em linhas muito
superficiais, e para não tomar tempo, Pandora é um paralelo grego ao mito de
Adão e Eva, porém um tanto mais dramático.
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Caixa de Pandora - imagem do Google |
Veja que interessante essas passagens que
extraí de um texto: “Pandora está associada com fazer o mal
que não pode ser desfeito.” ⁴, “Pandora foi enviada para Epimeteu, que já tinha sido
alertado por seu irmão a não aceitar nada dos deuses. Ele, por ‘ver sempre
depois’, agiu de forma precipitada e ficou encantado com a bela Pandora. Ela
chegou trazendo uma caixa fechada, um presente de casamento para Epimeteu.” ⁴ e “Ao abrir a caixa na frente de seu
marido, Pandora liberou todos os males que até hoje afligem a humanidade, como
os desentendimentos, as guerras e as doenças. Ela ainda tentou fechar a caixa,
mas só conseguiu prender a esperança.”⁴.
A precipitação levou o tal Epimeteu a se
apaixonar por Pandora. Ele “via sempre depois”. Mas havia sido avisado por seu
irmão (Prometeu) de que algo ruim poderia acontecer caso ele se encantasse pela
bela dona. Prometeu “via sempre antes”. No fim das contas, Epimeteu não seguiu
os conselhos do irmão, deu uma cantada na moçoila (ou caiu na cantada dela), a
caixa foi aberta e o mundo foi contaminado por tudo o que não presta.
Ironicamente, a única coisa que ficou presa na caixa foi a esperança. Ou, pelo
menos, se pensa assim. Mas vai saber o que restou lá dentro ainda, não é?
É uma história dramática, com um enredo
que somente os gregos poderiam compor, mas é uma parábola fantástica e que cabe
como uma luva aqui, em minhas divagações.
Prometeu (aquele que via antes), antecedeu
que algo estava errado. Ainda era um pequeno problema. Epimeteu (aquele que via
depois), nem deu ouvidos ao irmão. Passou por cima de tudo, e o que era apenas
uma desconfiança em seu princípio, ou um indício de um problema ainda pequeno
(bastaria não abrir a caixa para que o problema se resolvesse), virou uma
catástrofe que afligiu todo o mundo.
A grande questão aqui vem de um dito
popular bem conhecido: a curiosidade matou o gato.
Mesmo sabendo que algo muito ruim poderia
acontecer, a caixa foi aberta. O que os moveu? A bestialidade que
esculpe o caráter humano? A curiosidade em desvendar o desconhecido? A
necessidade premente em desobedecer? Ou por que simplesmente resolveram passar
por cima de tudo e acharam que poderiam resolver tudo depois?
Não sei se eu abriria a caixa, mas garanto
que minha curiosidade seria tanta, a ponto de me tirar dos eixos.
Onde está o fim?
O fim está no começo. Uma pergunta gera
uma resposta, que gera outra pergunta para outra resposta e, assim, desenhamos
o símbolo do infinito. Nunca termina, pois sequer sabemos se um dia começou.
Quando você responder a última pergunta, o fim terá sido modificado, e isso
provocado pelas reações de seus atos e de tantos outros que questionam até
mesmo seus próprios questionamentos.
No fim das contas, tudo parece ser uma
questão de ação e reação. Se ordenadas, são destino. Se caóticas, cabem dentro da
teoria do caos. Entre elas um muro de dúvidas.
O que sei é que para evitar um problema
maior, preciso cuidar do acúmulo dos problemas menores. E isso é difícil, pois
vê-los nem sempre é tarefa facilitada para o ser humano. Talvez isso aconteça por algo que carregamos em nós,
a tal megalomania. Ou por desatenção, falta de zelo para conosco, insanidade,
falta de responsabilidade... ou outra coisa qualquer.
Mas isso tudo, a causa de
não ver os problemas menores, é justamente UM PROBLEMA MENOR. Depois penso
nisso. Não acho que gerará algo maior.
Será que não?
Marcio Rutes
não copie sem autorização, mesmo dando os devidos créditos.
SEJA EDUCADO (A). SOLICITE AUTORIZAÇÃO.
notas:
¹ e ² - A Teoria do Caos.
³ - Tudo é Matrix
⁴ - Caixa de Pandora