Cinema Nostalgia (23)
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A Oeste Nada de Novo
Embora seja um belíssimo filme, A Oeste Nada de Novo, de Lewis Milestone, é uma daquelas obras sem sorte, um dos clássicos perdidos.
Talvez seja o filme mais escuro, quase negro, que jamais vi. Está repleto de sombras, chuva, noite. Os cinzentos são carregados. É um filme sem esperança, desolado e amargo. Devia ter sido um belo aviso, mas não passou de um grito inútil.
Nesse ano, 1930, Howard Hawks realizou um dos filmes da minha juventude (talvez mesmo da minha infância), A Patrulha da Alvorada. Já o escrevi noutra crónica, mas essas imagens ainda hoje perduram na minha memória como algo de inimitável, de extraordinariamente poderoso. Só vi esse filme uma vez. Não se tratava da glorificação da guerra, bem pelo contrário, ali se exibia toda a crueza e desperdício, mas a película de Hawks não perdia de vista certas emoções que ocupam a motivação dos guerreiros, a tranquila coragem, por exemplo, uma espécie de vertigem a que alguns chamam heroísmo, mas que também pode ser definido como inelutável destino.
A Oeste Nada de Novo era talvez mais cru e ganhou o óscar desse ano. Tratava-se de uma película radicalmente pacifista, que não fazia concessões à fantasia, pelo seu realismo bruto e simples, hoje tão interessante.
No entanto, apesar da consagração, o filme de Milestone estava destinado a uma certa maldição. Era um grito dado fora de tempo, claro; chegavam os anos de chumbo e o pacifismo não passava de uma ingenuidade.
Tem qualquer coisa de ingénuo, este filme. Começa com a espantosa ingenuidade dos rapazes que vão para a guerra salvar a pátria em perigo; nos primeiros combates, sentimos a incrível ingenuidade do treino militar, que não preparou os recrutas para a verdade do terreno. Morre-se no caos do combate, na confusão nocturna do campo de batalha.
A Oeste Nada de Novo impressionou-me pela sua autenticidade. Baseado num romance então muito popular de um escritor alemão, o filme americano mostrava a passagem pelo inferno da primeira guerra mundial de quatro soldados alemães. Este era, pois, um objecto estranho: um filme em que os heróis eram soldados inimigos, afinal exactamente como "nós".
O filme levou-me a ler o livro de Erich Maria Remarque com o mesmo título, sem dúvida uma das obras-primas da literatura do século XX. Este é um pequeno romance de grande pureza, reduzido ao essencial e sem fogo-de-artifício técnico. Assim despido, tem a força de um exército.
Vendo à distância, a versão de cinema não atinge as mesmas altitudes, pois não se resiste à tentação sentimental da época. Milestone era um técnico competente (um judeu russo, imigrante, chamado Milstein) e manteve-se o mais próximo possível da narrativa original, mas há passagens algo lamechas, com excessos ainda típicos do cinema mudo, que se extinguira poucos anos antes.
Estes defeitos não explicam a forma como o filme também se apagou. Quatro anos depois, Hitler estava no poder na Alemanha e, uma década depois, o mundo estava de novo em guerra. O actor principal, Lew Ayres (um curioso nome português), tentou ser um pacifista na segunda guerra e condenou a carreira, perdendo a sua oportunidade. Lew Ayres tem uma história interessantíssima, com altos e baixos que fazem deste, de facto, o seu único filme importante. Ayres foi casado com Ginger Rogers, que surge neste blogue, alguns posts mais abaixo.
Enfim, A Oeste Nada de Novo motivou um remake, em 1979, uma película sem qualquer interesse, que se limita a actualizar as imagens da versão de 1930.
Claro, é preciso ver a pobreza do segundo para se perceber a força do primeiro. Não existe a mesma consciência do peso das sombras e das trevas do inferno. A segunda versão é um banal filme de guerra, com personagens fardadas. O primeiro é um filme contra todas as guerras, um panfleto que ninguém soube ler.
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Há filmes que não se explicam e Barry Lyndon, de Stanley Kubrick, é certamente um desses filmes. Quando o vi, pela primeira vez, tinha uns 15 anos e foi como se tivesse descoberto um novo continente. Há qualquer elemento que transporta o viajante para um universo etéreo, pictórico, narrativo, não sei, mas que paira a grande altitude. Lembro-me de ter pensado: “Então, o cinema é isto”. Mas, se me perguntam a que me refiro, não saberei dizer.
Barry Lyndon é a história de um aventureiro irlandês do século XVIII. Baseia-se num romance escrito em 1844 pelo escritor vitoriano William Makepeace Thackeray, As Memórias de Barry Lyndon. Kubrick fez uma mudança crucial: no filme, não há memórias, pois o narrador omnisciente conta-nos uma história real, cujas peripécias são autênticas, ao contrário da versão literária, onde o que se conta pode muito bem ser fantasiado. O herói participa em duelos, em batalhas, em espionagem; vive a adrenalina do jogo, da traição, do amor, da guerra; Barry Lyndon deserta, engana, é enganado; seduz mulheres, dá o golpe do baú; é odiado; acaba na miséria.
Apesar da preocupação realista, que inclui inovações técnicas que permitiram filmar à luz das velas ou da exactidão dos detalhes (uniformes, tácticas militares, castelos), Kubrick consegue criar uma atmosfera separada da realidade. Por vezes, as imagens são como pinturas e a vida de Redmond Barry flui como num sonho.
Podia também estender-me sobre a qualidade dos actores: Marisa Berenson ficou, para mim, como o arquétipo da beleza feminina. O esplendor da música barroca e a subtileza da música irlandesa. Podia falar da beleza esplendorosa das imagens, da precisão das palavras, do ritmo lento da narrativa.
Este é um filme tão perfeito, que deve ser visto várias vezes.
Kubrick foi um dos grandes realizadores do cinema e, na minha opinião, este filme é a sua obra-prima. Gosto muito de Roubo no Hipódromo e, sobretudo, o Caminho da Glória (julgo que é este o título em português), mas Barry Lyndon consegue o que nos outros filmes não surge tão nítido: criar um universo totalmente separado e levar-nos ao seu interior, deslumbrados.
Para mim, este é o filme mais europeu que jamais foi feito, no sentido de constituir uma espécie de tratado sobre o cerne da nossa civilização. E a ironia é que foi realizado por um visionário americano.
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