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30.12.10

2010 em revista, parte terceira: tudo o que cabe entre 'música' e 'badalhocas'

Porque cabe muita coisa entre música e badalhocas, deixo-vos com aquilo que estive mesmo mesmo mesmo quase a colocar no blog mas que não coloquei porque tinha que jogar computador/ver as Tardes da Júlia/não fazer nada... Aproveito para desejar um feliz 2011 a todos os meus clientes e amigos, não me olvidando de mencionar que o bacalhau hoje está com 15% de desconto e se encontra no corredor 9.



Seriado viral de 2010: Na casa D'Este Senhor



Veículo promocional para a cerveja Tagus, a série Na casa D'Este Senhor é um produto que poderia estar perfeitamente num canal por cabo. Valores de produção cuidados, um argumento surreal e um humor muito peculiar, capaz de arrancar gargalhadas de incredulidade a qualquer um. Seguimos ao longo dos episódios a vida na casa d'Este Senhor, anteriormente conhecido como Bondage nos tempos das Noites Marcianas. Coabitando consigo temos Adolfo o jardineiro, Sam The Kid o produtor musical, Maniche o gato e Tuxa a musa.

"Eu acho que a palavra musa vem do Latim. E a palavra foi constituída 'MUSA', pronto, porque, 'eles' exigem muito um M. Porque pronto, 'eles' têm... Usava-se muito há uns anos, 1920, 1925, musa. O M vem de Maria, o U vem de Umbelina, o S de Simone e o A vem por exemplo de Antónia, ou de António, e foi por isso que 'eles' definiram em latim, 'MUSA'."

Os episódios podem ser seguidos aqui. E, para os fãs mais acérrimos, aconselho vivamente o blog do Maniche, onde podemos ver também pérolas extra como o karaoke da Tuxa ou a história da Victoria Bacon, vocalista das Super Géreles. É bom demais.


Filme de 2010: How to Train Your Dragon



Este ano não vi muitos filmes de 2010, ainda ando a ver os bons de 2008 e a consumir todos os do Woody Allen, pelo que ainda não me actualizei devidamente com o que foi saindo. How To Train Your Dragon ganha por ter sido o único filme que vi no cinema este ano, e o meu primeiro em 3D. A história não é nova, um jovem tem problemas de aceitação na sociedade em que se insere, mas através da persistência consegue salvar o dia e provar aos outros que temos direito a sermos diferentes. Só que com Vikings e Dragões. No entanto, as cenas de voo, em 3D, estão fabulosas. É mesmo como se fossemos nós a conduzir o dragão pelos ares, tal a sensação de imersão que o efeito nos dá. Brilhante.

E sim, ainda não vi o Machette nem o Scott Pilgrim (a BD anda a sair traduzida em Português, já agora). Talvez lá para 2012.


Esquema para sacar dinheiro de 2010: Pulseiras Power Balance



De vez em quando lá surge um esquema para roubar dinheiro a quem se deixa iludir por marketings e modas. Lembro-me das pulseiras para o reumático que o meu tio usava era eu um catraio, lembro-me de ver toda a gente a andar com Crocs, a peça de calçado mais horrível alguma vez criada "porque assim o pé respira", e dentro de uns anos irei certamente recordar com carinho dos 30 euros que muitas pessoas que conheço deram para comprar uma pulseira, porque subitamente todos passámos a precisar de algo que nos equilibre, sem auxílio a um bocado de plástico com um adesivo colado estávamos o tempo a cair no chão, lembram-se?

O marketing é uma ferramenta do demónio, realmente. Criam-se necessidades virtuais nas cabeças das pessoas, e quando o embuste é descoberto já estão os responsáveis bem longe, a acender charutos com notas de 100€, banhando-se em banheiras de hidromassagem, na companhia de senhoras que não se fazem baratas. Os Espanhóis, sendo Espanhóis, ainda os multaram em 15 000€, mas o ser humano gosta mesmo de ser enganado, e daqui por uns tempos surgirá mais um artista a inventar uma nova necessidade nas mentes da carneirada. O Mundo é dos espertos.


Banda Desenhada de 2010: Axe Cop




Axe Cop é a colaboração de Ethan, um autor de banda desenhada de 29 anos, e Malachai, o seu irmão de 6 anos. Ethan desenha, Malachai escreve. Todos nós já tivemos 6 anos e certamente teremos uma vaga ideia de como a nossa imaginação corria livremente antes de nos serem impostos conceitos e preconceitos. É essa a essência de Axe Cop, a pureza da imaginação sem qualquer filtro. Obviamente, Axe Cop é só estupidez atrás de estupidez, e é isso que torna a série tão deliciosa. Estamos perante um polícia que enverga um machado mágico que utiliza para decapitar todos os maus, e uma paleta de personagens secundárias alucinante, incluíndo o seu parceiro Flute Cop que evolui naturalmente primeiro para dinossáurio, depois para abacate e finalmente para fantasma, Sockarang com as suas meias boomerang, Baby Man e a sua baby family, e o meu favorito, Vampire Man Baby Kid, que é meio vampiro adulto, meio vampiro bebé e meio vampiro criança no meio. Uma delícia!

A morada desta loucura é axecop.com. Se se vão meter nisto, recomendo que comecem pelo primeiro episódio (aqui), ou que adquiram sem leitura prévia o livro editado muito recentemente pela Dark Horse, contendo uma aventura de proporções tão gigantescas que nem sequer coube no site.


Vieira, o eterno candidato



Mais uma vez, a corrida de Vieira ao poder ficou adiada. Desta vez eram as presidenciais. Das 7500 assinaturas necessárias, foram entregues 7700, mas dessas somente 3300 estavam válidas. Ou seja, só 3300 assinaturas passaram pelas respectivas Juntas de Freguesia a fim de serem autenticadas. Muito pouco, para o apoio e carinho que os seus fãs dispensam ou dizem dispensar às aventuras políticas de Manuel João. A bem da verdade, não foi sentido desta vez um grande empenho da parte do Candidato em motivar os seus discípulos. Lembro-me da grande campanha de 2000, onde Vieira passeou pelo seu Portugal Alcatifado, fazendo comícios, participando em programas televisivos, mobilizando as massas. Desta vez também tivemos comícios, mas a uma escala mais pequena. Culpamos também os Portugueses de 2010 que são diferentes de 2000, quando agora basta fazer um "like" no Facebook para se "aderir" a uma causa. As pessoas desejam mudança mas nada fazem para a obter, não se mexem para nada, não querem saber. As coisas aparecem feitas, sempre foi assim, e agora que o comodismo está no auge, ainda mais será.

Culpo-me a mim também, por não ter não só enviado a minha assinatura, como também não ter recolhido as de algumas dezenas de preguiçosos que, tendo um proponente que fizesse o trabalho todo por elas (ir à Junta, enviar as assinaturas pelo correio), teriam também contribuído. Vontade não me faltou, aliás como não tem faltado em tudo o que é Vieirista, mas faço parte da Política local e fui desaconselhado a envolver-me... Não é uma desculpa muito válida, mas neste caso, nenhuma é.


Pelo menos, no meio de tudo isto, ainda rendeu um livrinho parecido ao do Camarada Mao!



O Livro Rosé de Sua Santidade o Camarada Presidente Vieira, compilando frases, textos e teorias do Candidato, e que será certamente o equivalente à Bíblia para o Partido Muita Fixe que eventualmente será criado em torno de Vieira! Eu já tenho o meu para levar para os comícios!


Prémio Especial Zé Cabra para juventude promissora:



VAMES AGOURAAAAAA! É AGOURAAAAAAA!


Bill Murray fez 60 anos


Cinco filmes preferidos de Bill Murray:

1-Lost in Translation
2- The Life Aquatic With Steve Zissou
3- The Royal Tenenbaums
4- Ghostbusters
5- Groundhog Day

Parabéns Bill Murray e um feliz 2011 para ti também!

3.12.09

Banda Desenhada: Chew

Chew, a nova banda desenhada editada pela Image, vai neste momento no seu número 6. Todos os números anteriores esgotaram e voltaram a ser impressos mais que uma vez. O primeiro Paperback, Taster's Choice, contendo os primeiros 5 números da série, está a ter um sucesso avassalador. E totalmente merecido.



Tony Chu é um cibopata. Um cibopata é uma pessoa que consegue sentir a vida inteira de tudo o que ingere. Por exemplo, se comer um hamburger, Tony consegue sentir tanto a ervinha que a vaca comia no prado como a martelada fatal no matadouro bovino e o processo que a carne levou até chegar-lhe ao prato. É uma habilidade muito rara, visto que só se conhecem mais 2 pessoas assim. Para controlar a sua dor, Tony praticamente só consome beterraba, o único alimento que não lhe causa ressonância psíquica.

Tony é um detective da Divisão de Alimentos e Estupefacientes. O seu trabalho é descobrir e desmantelar redes de contrabando de carne de aves. Desde que a gripe das aves dizimou dois terços da humanidade, o consumo de frango e perú foi considerado proibido. No entanto, graças ao seu "talento", Tony é promovido para uma divisão especial de homicídios sem solução. Nada está a salvo. Para solucionar os seus casos, Chew passa a ter de comer desde plantas ornamentais a animais de estimação, chegando mesmo a alimentar-se de pedaços de vítimas de assassinatos para identificar os seus carrascos.



Chew merece toda a atenção que lhe é dedicada. Não é todos os dias que se assiste ao nascimento de um detective canibal apaixonado por uma crítica de culinária capaz de provocar o vómito com os seus escritos. O ritmo é frenético, a atmosfera é meio Noir, meio animação exagerada, e o argumento é coeso e sabe para onde a história deve seguir organicamente. É divertido, perturbador, gráfico e extremamente refrescante! A proposta mais original e recompensadora da banda desenhada americana da actualidade. Temos livro para seguir religiosamente, espera-se que por muitos e bons anos. Para paredes estomacais fortes.

Aproveitem e passem pelo site Newsarama, onde podem ler o primeiro número de Chew (clicando aqui) em exclusivo e sem custos.

13.8.09

Banda Desenhada: Preacher

Não é nada de novo, mas só recentemente dei uma chance ao universo do Preacher, de Garth Ennis e Steve Dillon.


E, devo dizer... Esta é a séria de banda desenhada mais kick-ass de todos os tempos! Mesmo! As melhores personagens, as histórias mais decadentes, as paisagens mais reles! Excelência!

Preacher conta a estória de um pastor evangélico bebedolas e fumador inveterado, que por razões que não interessam para agora (e que estragariam metade da piada de ler a obra), vê-se a braços com o poder da palavra divina. Ou seja, tudo o que Jesse Custer diz é lei. Imaginem o que acontece quando o pastor diz a alguém GO FUCK YOURSELF!

Junto a Custer está Tulip, a sua namorada, assassina contratada com predilecção por armas de fogo, e Cassidy, o vampiro mais gloriosamente decadente (que ataca pescoços como quem morde um pernil) da história da vampiragem, e por conseguinte o meu vampiro favorito. E este trio de gente feliz tem aventuras a rodos, em busca de Deus, que está de férias algures pela Terra. Pelo caminho vão encontrar gente tão divertida como o temível Saint of Killers, ou o vilão mais estúpido do Oeste Arseface, ou mesmo a assustadora avó de Custer e John Wayne himself, assim como um número avultado de personagens ricas em pormenor e decadência.

Preacher mistura em doses generosas humor negro, ultra-violência, temática Western e Religiosa, Vietnam e guerra de independência da Irlanda, depressão e repressão, e uma panóplia de tabus e taras sexuais de fazer corar a mente mais aberta. Inteligente, violento, polémico, nojento e divertido, Preacher é um must para qualquer fã da 9ª arte. Toda a obra encontra-se em 9 volumes nas lojas da especialidade.

13.4.09

Banda Desenhada: Bat-Manga!

Na década de 1960, a série Batman, com o insano Adam West no papel principal e Cesar Romero no papel do primeiro e único Joker com bigode, foi um sucesso planetário, contra todas as leis do bom senso. A bat-mania que se seguiu atingiu especialmente o Japão, de onde prontamente surgiu a adaptação ao formato manga, agora traduzida para Inglês e trazida para o Ocidente numa antologia de seu nome Bat-Manga!



Alegadamente, a manga de Batman era tão obscura que nem os responsáveis pela DC Comics sabiam da sua existência, tendo existido apenas durante um ano e nunca reeditada até agora. O que é compreensível. Bat-Manga! é uma mistura de estilos orientais e ocidentais de banda desenhada, uma técnica ainda por apurar nos anos 60. Os cenários Americanos têm resultados hilariantes quando adaptados à cultura Japonesa (e vice-versa). O lettering é muito básico, assim como a arte e o papel, embora de boa qualidade, imita claramente as folhas originais da manga, conhecidas por terem utilidade nula aquando numa situação de aperto no mato.

O que tem então Bat-Manga! de especial, poderá passar-vos pela cabeça? Simples. Bat-Manga! combina a loucura de Batman dos anos 60 com um estilo de banda desenhada conhecido por conter tentáculos violadores em 95% dos livros. Demente! E gigantesco, também! A antologia conta com 384 páginas plenas das aventuras mais clinicamente instáveis do nosso cavaleiro das trevas favorito! Batman contra Godzilla! Batman contra Go-Go, o mágico do circo! Batman contra o robot dos Power Rangers!



E o melhor disto tudo é que as histórias são mesmo divertidas e agradáveis! Mesmo que não o comprem, se passarem pelo Bat-Manga! numa livraria, desfolhem-no. E deixem-se envolver pela insanidade. Porque há mais, muito mais, dentro deste canhenho do que a imagem apresentada abaixo...

11.3.09

Banda Desenhada: The Umbrella Academy

Gerard Way é uma personagem irritante. Vocalista da banda emo My Chemical Romance, Way é, juntamente com o ouriço alemão dos Tokyo Hotel e do actor oportunista Jared Leto (porquê, rapaz? Até entraste no American Psycho e tudo... Porquê arruinares a carreira a brincar aos rockstars?), um dos principais responsáveis pela moda das meninas vestidas como góticas e permanentemente deprimidas por serem "emocionais", mas que depois vão para os concertos destes artistas aos gritinhos como se dos Backstreet Boys ou do Tony Carreira se tratassem. Mas, enquanto que Leto e o Sonic germânico arderão no inferno do esquecimento, com vidas vazias mas uma conta bancária bem choruda, Gerard Way possui um importante factor de redenção: contra todas as espectativas, a sua banda desenhada, The Umbrella Academy, é uma das melhores da década. Sem exagero.


Há muito tempo atrás, por todo o mundo, exactamente às 21:38, quarenta e três crianças especiais nasceram de mães insuspeitas das suas próprias gravidezes. Enquanto que a maior parte morre instantaneamente, pelo menos 7 dessas crianças sobrevivem, para serem adoptadas por um extra-terrestre mascarado de filantropo. Este pai adoptivo, frio e calculista, treina as crianças para salvarem o mundo. A história começa muitos tempo depois, após o final desta equipa intitulada The Umbrella Academy, irmãos desavindos reunidos à volta da campa de um pai que nunca os amou. Os irmãos entretanto adultos demonstram personalidades muito próprias. Número um, o homem forte com corpo de gorila, está perdidamente apaixonado pela irmã número três, que possui o interessante poder de contar uma mentira que automáticamente passa a ser verdade. Número dois odeia toda a sua família e tem o poder de suster a respiração indefinidamente. Número quatro comunica com os mortos. Número cinco consegue viajar no tempo, e é o mais adulto do grupo, apesar de ter ficado permanentemente com o corpo de uma criança de 5 anos. Número sete não possui qualquer poder especial. Mas é a personagem mais importante da Umbrella Academy.

O argumento, brilhantemente ilustrado pelo Brasileiro Gabriel Bá, é inventivo e surreal, e as surpresas e reviravoltas sucedem-se a um ritmo que nos agarra por completo. O primeiro Trade Paper Back, Apocalypse Suite, está disponível numa das 5 (ou 6) lojas de banda desenhada ainda existentes e persistentes em Portugal. O segundo volume, Dallas, está para sair entretanto. Way, mereces a minha admiração pelo respeito e gozo com que escreves banda desenhada. És o maior entre os ouriços e os actorezecos!

27.5.07

Banda Desenhada: The Walking Dead

Rick Grimes é um polícia de província, casado e com um filho. Vivendo uma vida calma e recatada, Grimes é alvejado por um criminoso no único dia em que teve de disparar um tiro contra alguém. Algumas semanas mais tarde, Grimes acorda no hospital. Ao seu redor não existem outros pacientes. Não há enfermeiras nem médicos nos corredores. As crianças não brincam na rua. A sua família desaparecera. A casa do seu vizinho está ocupada por duas pessoas estranhas empunhando caçadeiras. E, por todo o lado, o cheiro a putrefacção emana. Rick Grimes perdera tudo na vida menos a própria vida, que está prestes a ser roubada por uma horda de mortos-vivos. Começa assim a melhor série de banda desenhada relacionada com zombies de sempre, The Walking Dead.







O autor é Robert Kirkman, grande fã de filmes de zombies, especialmente dos realizados pelo grande George A. Romero. Kirkman pega no universo zombie criado por Romero e expande-o, levando a que esta série seja uma homenagem a filmes como Night of the Living Dead e Dawn of the Dead (já aqui analisado há quase dois anos atrás), mas podendo também ser encarada como um relato de acontecimentos paralelos no mesmo enquadramento destes filmes. Kirkman, frustrado com o carácter definitivo dos finais da maioria dos filmes de zombies, criou The Walking Dead como um relato alargado do Apocalipse, no qual as suas personagens têm tempo para crescer e mover-se dentro do possível, sem a pressão dos créditos finais. Kirkman demonstrou interesse em que The Walking Dead durasse para sempre, mas como tudo acaba um dia, contenta-se por esticar a série até ao limite do aceitável. Por enquanto a qualidade da mesma está neste momento ao mesmo nível do seu início: Altíssima. O argumento é rico em voltas e reviravoltas, e a arte, a preto e branco, reduz algum impacto visual mais grotesco dando profundidade às personagens. Tal como uma novela, em The Walking Dead existe um equilíbrio de um acontecimento bom por cada 15 acontecimentos maus, que levam o leitor a pensar que mais poderá acontecer aquele bando de desgraçados.









Apesar de este ser um livro de zombies, o ponto fulcral de The Walking Dead não são os mortos. A atenção da série está quase exclusivamente virada para os vivos, com especial ênfase para as suas reacções face à catástrofe com que se viram obrigados a lidar e as suas estratégias de sobrevivência. É claro que por aqui se encontram sangue, tripas e corpos em decomposição, mas o mais importante da série é mesmo a evolução de cada personagem quando confrontados com a falta de comida e combustível, a neve do inverno, a procura de um local seguro para poderem viver, a gravidez, o nascimento e a perda de entres queridos. São os diferentes traços de personalidade que separam as pessoas dos mortos-vivos. Há de tudo, desde o polícia bom ao polícia mau, o casal americano xenófobo, o senhor de idade com as suas "sobrinhas", adolescentes suicidas, campónios que guardam zombies no celeiro enquanto a cura para a sua condição clínica não chega, assassinos... Pessoas boas, pessoas más, pessoas que fazem falta quando são devoradas num mundo onde claramente são uma espécie em vias de extinção.




Editado pela Image, The Walking Dead continua a sair regularmente para o mercado. Os TPB 1 até ao 6 estão disponíveis nas lojas de banda desenhada importada (os meus vieram da Ghoul Gear), e seguramente, mais ainda estarão a caminho. Leiam-nos com cautela e em doses pequenas se forem capazes: The Walking Dead é demasiado viciante para a saúde das nossas carteiras.

24.4.07

Banda Desenhada: Completely Pip & Norton

Dave Cooper é um reputado artista, conhecido pelos seus quadros anti-eróticos de mulheres obesas com grandes dentes. Gavin McInnes é um indivíduo que deveria estar preso e considerado inimigo nº1 da moral e bons costumes. Em vez disso, fundou a Vice Magazine, uma revista gratuita dedicada às artes independentes, tendo publicado interessantes guias para a vida moderna como Bukkake On My Face: Welcome to the Ancient Tradition of the Japanese Facial e The Vice Guide to Eating Pussy . Dave Cooper providencia a arte para o argumento (?) de Gavin McInnes, neste extravagante Completely Pip and Norton, volume 1 (uma colecção no total de um volume).







Completely Pip And Norton inclui uma recolha de tiras humorísticas de qualidade variável originalmente impressas na infame Vice Magazine, e três histórias completas. Na primeira, a dupla tenta inventar esquemas com o intuito de angariar fundos para a obtensão de um brinquedo de seu nome Rondo's Spinning Buddha With Flaming Zycrobe Action And Patented Spin-O-Rama Rotation, esquemas esses que passam pela abertura de um restaurante para cães e pela venda de limonada.







Na segunda história, Pip decide calçar as peúgas de Norton, e como consequência da elevada toxicidade do chulé humano, perde toda a carne do rosto. Um cientista megalómano, Dr. Vlad, persegue os dois amigos para lhes roubar as meias, itens fundamentais para o domínio planetário. Na derradeira história, Pip, um eterno apaixonado por Barbra Streisand, logo após ser libertado da prisão por alegadamente se recusar a alistar-se para combater na guerra contra Portugal, assassina uma velhota e esconde-a debaixo da almofada da amada para conquistar o seu afecto.



Tanto o estilo artístico e humorístico como as características de Pip e Norton são claramente inspirados em Ren & Stimpy, apesar de Ren ser um gato e Stimpy um Chihuahua, enquanto que Norton é um humano flutuante e Pip é uma... coisa. Porém, Dave e Gavin levam a experiência até ao limite do aceitável, utilizando toda uma paleta de cores berrantes totalmente diferentes de quadradinho para quadradinho, alterando o lettering dos diálogos frequentemente, incluindo vinhetas totalmente escritas em Coreano, usar e abusar dos fluidos corporais... Ler Completely Pip And Norton é uma experiência perturbadora e surreal (no sentido Acid Trip da coisa), como se estivéssemos a ler um desenho animado. Nunca pensei que piadas escatológicas pudessem vir em tantas cores e feitios. Uma leitura divertida, para mentes pouco impressionáveis e estômagos fortes.



Mulheres obesas com dentaduras avantajadas em www.davegraphics.com

Insanidade em
http://www.viceland.com

16.3.07

Banda Desenhada: Lost Girls

Um regresso a Alan Moore, desta feita com um bonito relato sobre amor real e pornografia ilustrada.

Em 1991, Alan Moore iniciou mais um projecto rodeado de controvérsia. Inicialmente aliciado pela revista Taboo, o escritor aliou-se à pintora Melinda Gebbie, com o intuito de criar uma banda desenhada pornográfica. Moore, com era seu hábito, escreveu prontamente o argumento completo. Gebbie não se adaptou a desenhar sobre uma história já completamente definida, preferindo criar à medida que as personagens se desenvolviam, e não pintar sobre o trabalho dos outros. O génio criador de Moore encontrara finalmente quem lhe fizesse frente. Subjugado, não teve outro remédio senão jogar pelas regras de Gebbie. O projecto arrasta-se então por longos e penosos anos de pesquisa sobre histórias infantis e posições sexuais, com aulas práticas à mistura.

15 anos depois, Alan Moore e Melinda Gebbie estavam casados.

16 anos depois, é finalmente editado Lost Girls.



No início da primeira guerra mundial, três mulheres encontram-se por acaso num hotel Austríaco. Dorothy Gale, uma jovem adulta, a trintona Wendy Darling e a idosa Alice Fairchild. Face a monotonia do lugar, as três senhoras iniciam uma troca de relatos aventurosos sobre as suas experiências sexuais prévias. Dorothy conta da sua desvirginação às mãos de três fazendeiros, aquando da passagem de um furacão pelo seu Kansas natal. Wendy relembra as suas aventuras com um pequeno sem-abrigo de seu nome Peter Pan, líder de um gang de inadaptados chamados Lost Boys. Alice, a mais experiente do grupo, seduz as suas companheiras com as suas façanhas bisexuais aos 14 anos, num longínquo país de maravilhas.

Bem para além da perversão (cuidada e completa com referências às obras originais) submetida a estas personagens do imaginário popular, está o trabalho artístico de Lost Girls. Cada relato é ilustrado com um conjunto de paletes de cores e estilo de vinheta diferentes. Os paineis de Alice, bem coloridos, são em forma de espelho oval. Os de Wendy são escuros, altos, reprimidos e vitorianos. Os de Dorothy são amplos e em tons de pastel. A atenção ao detalhe peca apenas por ser algumas vezes demasiado gráfica.

Censurado em diversos países pelo seu conteúdo chocante e provocador, Lost Girls foi no entanto justamente louvado pela crítica especializada. Este esforço conjunto do casal Moore/Gebbie poderá ser mais facilmente encontrado em Portugal do que no próprio Reino Unido, onde a obra foi vetada pelas autoridades responsáveis pela moral e bons costumes. Recorram às encomendas em lojas de banda desenhada de importação, sem problemas de consciência.

24.2.07

Banda Desenhada: Big Guy and Rusty the Boy Robot

Estamos em Tokyo, cidade onde tudo acontece. Cientistas criam acidentalmente um Dinossauro falante de dimensões colossais que rapidamente espalha o caos na cidade, rebentando com tudo e todos, e criando com a sua saliva um exército de répteis apreciadores de carne humana. Cabe a Rusty e Big Guy, a maior dupla robótica de todos os tempos, parar esta ameaça para que a "suposta" capital Japonesa sobreviva para futuros ataques.



Big Guy and Rusty, the Boy Robot, um livro de Geof Darrow e Frank Miller é uma visão ocidental do mundo super-heróico Japonês, com todos os clichés. À invasão de Tokyo por um ser em tudo semelhante a Godzilla, respondem prontamente os governos Japonês e Americano com um pequeno andróide inspirado no clássico Astroboy e um típico robot gigantesco capaz de carregar duas bombas de neutrões debaixo dos braços.

A arte detalhada ao mais ínfimo pormenor de Darrow encontra na escrita violenta de Miller o casamento perfeito. A história, essa, assente simplesmente em destruição, destruição, destruição. E violência. E algum gore. E muito divertimento sem malícia. O ritmo da acção perde-se um pouco no estilo da arte, demasiado complicada para uma estória que se quer rápida e brutal. No entanto, longe de ser uma falha, este pormenor permite-nos sorver mais praseirosamente cada membro dilacerado, cada digestão reptiliana, cada explosão. Um pouco como fast-food e "slow food". Tudo bem que a fast-food alimenta e até poderá saber bem, mas não sabe sempre melhor uma boa refeição completa com sopa/prato/sobremesa/café?




Big Guy and Rusty the Boy Robot, editado pela Dark Horse, em dois volumes ou TPB. Para encomendar e recomendar.

13.2.07

Banda Desenhada: Battle Pope

(Eu sei que vou para o Inferno por isto. No dia em que a minha alma for pesada, tenho a certeza que o São Pedro vai dizer "Hum... Tu escreveste isto assim assim... Desculpa lá, pá, não temos vagas aqui no nosso clubinho!". Mas isto é bom demais para não partilhar. Paciência, logo penso nisso quando o mafarrico me estiver a fritar no seu wok...)



Battle Pope narra a vida de um possível Santo Padre, treinado desde tenra idade pelo Papa anterior e pelo próprio Bruce Lee para se tornar no líder da igreja católica. No entanto, Battle Pope perde-se nos prazeres da carne e nos vícios da bebida, vivendo uma existência amoral, bem longe dos ideais que supostamente deveria defender. Inevitavelmente, o dia do juízo final chega à terra, e de entre um punhado de escolhidos para entrar no reino dos Céus, Battle Pope encontra-se na lista dos 668848300 condenados (número aproximado) a uma eternidade de dor e sofrimento. A raça humana entra numa sangrenta batalha contra os demónios de Belzebú pelo domínio da terra. Eventualmente, um tratado de paz é assinado entre os senhores do mundo e o Mafarrico, encerrando-se os portões do Inferno. Porém, um punhado de demónios procura ainda causar o caos no nosso planeta. Nosso Senhor não tem outra opção senão recorrer ao seu filho Jesus H. Christ e a Battle Pope para manter a paz na terra, dando-lhes a missão de resgatar o guardião do planeta azul, Saint Michael, entretanto raptado pelas forças do mal.



Uma Banda Desenhada que não se quer levar a sério, Battle Pope pega na fé de milhões e atira-a ao chão violentamente, espezinhando-a e varrendo-a de seguida para debaixo do tapete. E fá-lo com uma grande pinta. Um Papa que fuma charuto, pragueja como uma carroceiro e ainda tem uma fivela no cinto com a inscrição Pope para que não haja dúvidas quanto à sua identidade é de uma heresia muito cool. Todos os chavões associados ao Catolicismo estão nesta série, devidamente destorcidos. A título de exemplo, no número 3, Jesus é crucificado pelos demónios. Quando Battle Pope lhe pergunta se está em agonia, Jesus responde "Não é tão mau como parece, chavalo, é como tomar um duche quente, dói como o caraças ao princípio, mas depois um gajo habitua-se...".

Para os interessados, Battle Pope é editado pela Funk-O-Tron, e pode ser encomendado nas lojas da especialidade, podendo eventualmente ser encontrado à venda no nosso país com muita, muita sorte. O primeiro número encontra-se disponível online (a cores, pela primeira vez) e é completamente grátis! Clicai aqui, hereges sacripantas!

27.12.06

Banda Desenhada: Watchmen

É difícil escrever sobre Alan Moore. Difícil porque é praticamente impossível saber-se por onde se começar, tal a imensidão da sua obra. A sublime revitalização de Swamp Thing e Miracleman, e a criação de Hellblazer, From Hell, V For Vendetta e League of Extraordinary Gentlemen, só para citar as obras que foram adaptadas (sem autorização) ao cinema falam por si. Difícil porque um indivíduo que consegue ser ao mesmo tempo vegetariano, anarquista, mago e adorador do Deus-Serpente Glycon é demasiado fascinante para ser traduzido em metáforas e simbolismos. Difícil por ser genial. Adopte-se a saída mais fácil e deixe-se que a obra fale pelo mestre.



Watchmen, de 1986, é o mais importante trabalho mainstream de Alan Moore. Nos anos 80, a DC havia adquirido os direitos de uma editora obscura de banda desenhada de seu nome Charlton. A editora contacta Moore e Dave Gibbons para dar vida aos heróis dessa defunta companhia, trazendo-os para o universo DC. Moore opta por fazer algo visto na altura como revolucionário: com base nas personagens da Charlton, cria um novo rol de heróis e um universo à parte e, inteligentemente, elabora um livro de banda desenhada com princípio, meio e fim, destruindo qualquer hipótese de sequela ou posterior aproveitamento das personagens e mitologia por parte da DC.



Watchmen é encarado como uma tese sobre o possível impacto da existência de super-heróis no mundo real. No entanto, salvo uma excepção, nenhum destes super-heróis possui poderes especiais, limitando-se a serem pessoas mascaradas. A condição humana destes heróis é amplamente explorada. São os medos, aspirações, desejos, fobias e crenças pessoais que dão profundidade às personagens, não a sua capacidade de combate ao crime. Cada capítulo é relatado por uma personagem diferente, alterando-se a percepção de eventos dependendo do ponto de vista, de forma não linear, plena de simbolismo. Watchmen significa ao mesmo tempo "Relojoeiros" e "Observadores". Tudo neste livro é tão vasto e ao mesmo tempo preciso. Nada acontece por acaso.

Watchmen é um exercício de escrita. Exemplo maior no capítulo 5, em que a primeira página reflecte a última, a segunda reflecte a antepenúltima, e por aí em diante. Por ter criado uma banda desenhada de super-heróis adulta e densa, Alan Moore acumulou variadíssimos prémios, sendo Watchmen a única banda desenhada a ter sido distinguida com o Hugo Award, prémio reservado às melhores obras de ficção científica.

Sendo esta uma BD altamente cinematográfica, e no entanto impossível de ser filmada, a adaptação de Watchmen ao cinema está na calha, devendo estrear em 2007. Moore está mais uma vez contra esta adaptação. Desta vez, os fãs também. Há obras que deveriam ser intocáveis. Enquanto que o universo de Watchmen não fica perpetuamente arruinado por Hollywood, releiam ou descubram a obra, em formato TPB (versão inglesa), nas lojas da especialidade.

Opto por não relevar nada da trama de Watchmen. Não é humanamente possível fazê-lo.

9.11.06

Banda Desenhada: Superman Vs Muhammad Ali

Possuo um ódio de morte pelo Super-Homem. Poderia justificar esse meu ódio recorrendo ao velho ensinamento que meu pai me transmitiu um dia (homem que veste cuecas vermelhas por cima das calças nunca poderá ser super), mas não o vou fazer. O meu ódio é muito mais profundo e justificável. Citando directamente o genérico da série de animação subordinada à personagem, Superman, um ser perfeito, inquebrável e invencível, luta pela verdade, justiça e o "American Way". Ora, tendo em conta os eventos do passado mais recente envolvendo a política externa dos Estados Unidos, juntar "American Way" às palavras justiça e verdade não cola. A primeira aparição de Superman, aliás, foi na forma de um vilão superpoderoso com pretensões à conquista mundial. Que positivo para nós que Superman tenha sido posteriormente convertido à causa americana...

Posto isto, adoro quando o grande herói Americano de Krypton leva uma bela sova. Especialmente quando essa sova é aplicada pelo autodenominado "maior lutador de todos os tempos", o grande, o inimitável, o artista anteriormente conhecido por Cassius Clay, Muhammad Ali!



Superman vs Muhammad Ali é apenas um dos muitos livros de banda desenhada nos quais celebridades de carne e osso se unem a personagens da 9ª arte, um género muito em voga nos anos 70. E se a ideia de se juntar o maior pugilista de todos os tempos ao maior canastrão desenhado de todos os tempos vos parece ridícula (porque é), o certo é que este livro vendeu como ginjas nos idos de 1978.

A história começa com uma invasão extra-terrestre. Os aliens, sedentos de sangue, propõem à humanidade que eleja o seu melhor lutador para defrontar o campeão inter-galáctico num combate de boxe. Se o campeão terrestre vencer, os invasores partirão em paz. Caso contrário, espera-nos milénios de escravidão, dor e sofrimento.

Dois lutadores assumem a responsabilidade. Superman (que devia ter sido desclassificado logo à partida por não ser terrestre) e Muhammad Ali. Ambos têm de lutar para se decidir qual será o representante do planeta azul na maior batalha de todo o cosmos (segundo os entendidos).

Superman vs Muhammad Ali é um livro de banda desenhada datado, que reflecte o mundo nos anos 70. Muitos dos extra-terrestres são claramente inspirados no Star Wars, que havia estreado poucos meses antes, Muhammad Ali havia perdido o título de campeão mas continuava a ser o maior, Sony Bono ainda tinha a cabeça em cima dos ombros (se olharem bem para capa, poderão ver a sua cabeça sobre o ombro do Batman) e Superman, apesar de canastrão, era simpático e divertido, à imagem dos heróis de BD mainstream da época. A arte deste livro, hoje em dia muito retro, ganha pontos especialmente por isso mesmo, e este livro é constitui bonita uma curiosidade para todos os amantes de banda desenhada.

E, caso estejam interessados no resultado do combate...



Superman levou tautau! Muhammad salva a terra! Obrigado, salvador Ali! Na verdade o Superhomem que leva tautau do senhor Ali era um impostor e o verdadeiro Superhomem disfarça-se de Clark Kent para poder fugir ao combate e salva assim o mundo, o que não deixa de ser uma cobardia da parte do "homem de aço"...





Comprovem a canastriçe machista de Superman em Superdickery.com.

20.10.06

Banda Desenhada: The Tick

Pergunta-me um amigo há uns tempos, no meio de uma conversa ultra-geek sobre banda-desenhada:

- Se pudesses ser um super-herói, quem serias?

Ao que eu respondi, alto e com convicção:

- The Tick!



- The Tick? O que é isso?

- The Tick era um super-herói que atingiu notoriedade nos anos 90, na altura do boom dos comics norte-americanos. The Tick, que em português significa "o carraça", funcionava como uma paródia a todo esse frenesim de livros de banda desenhada, ao mesmo tempo que prestava homenagem aos grandes ícones da BD, satirizando-os. A personagem ganhou algum culto em seu redor quando as suas aventuras foram transpostas para a uma série de animação e, mais recentemente, para uma outra série com personagens de carne e osso.

- Mas em que é que assentava esse comic?

- Basicamente, The Tick era um tipo vestido com um fato azul de carraça que combatia o crime, juntamente com Arthur, um contabilista envergando um traje de traça. No entanto, combater o crime revelava-se uma tarefa bastante difícil, uma vez que o mundo já se encontrava completamente lotado de super-heróis, que lutavam entre si pela captura dos vilões. Entre eles, existia por exemplo o The Caped Wonder (uma paródia ao Super-Homem, que perdia os poderes se lhe partissem os óculos), The Visible Man (um homem invisível, só que ao contrário), Wonder Maid (a Criada-Maravilha, baseada na Mulher-Maravilha) e The Running Guy (mais rápidos que dez homens rápidos).

A verdadeira força deste livro baseava-se na toada completamente surrealista e disparatada das desventuras deste personagem. Um dos poderes de The Tick era algo chamado "Drama Power", que lhe permitia ganhar um incremento de força à medida que as situações por ele vividas ficavam mais dramáticas. Os seus dentes eram à prova de bala e o herói tornava-se completamente invulnerável à noite, além de possuir um disfarce completamente original que lhe permitia passar despercebido entre a multidão.



- E isso encontra-se por aí?

- Dificilmente. A série original foi publicada originalmente em 1988, e é praticamente impossível de encontrar hoje em dia. No entanto, volta e meia surgem no mercado de importação algumas mini-séries, como por exemplo, a excelente The Tick: Days of Drama, editado pela New England Comics. A primeira temporada da série de animação saiu também recentemente em DVD.

- Hum, tudo isto me parece muito estúpido...

- Ah sim? Então e que Super-herói é que gostavas de ser?

- O Homem-Aranha.

- Então e qual é a diferença entre um homem com poderes de aranha e um com poderes de carraça?

- ...







Na verdade, a conversa decorreu mais ou menos assim:

- Se fosses um super-heróis, quem serias?
- The Tick. Um gajo vestido de carraça tem o seu charme com as meninas. E tu?
- O Homem-Aranha.
-Que falta de originalidade! Bora beber minis...

20.9.06

Banda Desenhada: O Amor é um Inferno

Acredito que todas as pessoas entre os 18 e os 40 anos saberão quem é Matt Groening. Fundador da Bongo Comics, criador da série de animação mais famosa e duradoura de todos os tempos (Os Simpsons), e de uma outra não tão apreciada como deveria ter sido (Futurama), Groening possui também uma consistente carreira de cartoonista, graças às tiras de Life In Hell.

A primeira edição de Life In Hell surgiu em 1977, quando Matt Groening trabalhava numa loja de discos. Os exemplares eram fotocopiados e distribuídos gratuitamente. Eventualmente, as tiras tornaram-se um fenómeno de sucesso Underground, e começaram a ser publicadas em jornais, aumentando a sua popularidade. Ouso afirmar que sem Life In Hell não teríamos hoje Simpsons e dificilmente sonharíamos com a possível existência de Family Guy ou South Park.

As tiras de Life In Hell têm sido compiladas por temas ao longo dos anos em bonitas antologias prontas para serem devoradas por toda a petizada além-fronteiras. Por cá, a primeira compilação (Love is Hell, ou em português, O Amor É Um Inferno, editada originalmente em 1986!!!) chegou recentemente às bancas, devidamente traduzida para a língua de Camões.



O Amor É Um inferno é um olhar amargo, duro e insensível sobre o sentimento mais nobre. Não há aqui salvação possível: gays, heteros, homens, mulheres, todos levam por tabela. Os diferentes tipos de relacionamento, a grande questão do casamento, as separações, os 22 passos do desgosto de amor, os prós e contras da procriação, os 9 tipos de namorado e namorada, o amor analisado e dissecado através de cartoons bem-humorados de coelhinhos, tudo num brilhante preto e branco.

Inteligente, divertido, e assustadoramente real, este é um livro que nos consegue provar por A + B que o amor é, na realidade, um inferno, e nem vale a pena voltar a metermo-nos nele. Mas somos todos fracos e voltamos a fazer os mesmos erros uma e outra vez, não é verdade?

22.8.06

Banda Desenhada: X-Statix

Peter Milligan é um argumentista de filmes e banda desenhada conhecido pela sua longa colaboração com a DC e pelo surrealismo que imprime às suas obras. Mike Allred é um artista gráfico especializado em banda desenhada. Tendo trabalhado com a Slave Labor e a Darkhorse, o traço de Allred remete-nos para os livros de BD dos anos 50, tendo sido o responsável pela criação do muy amado Madman.

Em 2001, Allred e Milligan receberam uma proposta de trabalho da Marvel, que procurava reciclar os X-Men e seus sucedâneos. À dupla calhou os supostos futuros mutantes, a X-Force, que depois de destruída e reconstruída, passou a ser designada por X-Statix.



O conceito: Os X-Statix eram um grupo de mutantes mais preocupados com os seus direitos de imagem e merchandising do que em salvar o mundo. O grupo era financiado por um multi-milionário que posteriormente vendia os direitos televisivos das suas aventuras num misto de Big Brother com Idolos, pelo que o grupo dividia as suas actividades entre trabalho de mercenário e aparições em festas e eventos. Este comic, arrojado e inovador, trouxe bastantes amargos de boca aos fãs do trabalho habitual da Marvel. No grupo existiam várias personagens homosexuais, e a violência gráfica era algo nunca antes visto na auto-intitulada "Casa das Ideias". Decapitações, desmembramentos, muito sangue vermelhinho e um elenco em permanente rotação. Quando uma personagem começava a tornar-se demasiado popular, morria e era prontamente substituída por outra, o que impedia a identificação do leitor com a série.

Parodiando a cultura Pop e o próprio universo onde se inseriam, Allred e Milligan criaram um grupo de heróis com alguns dos poderes mais ridículos de sempre. Tínhamos Zeitgeist, com o poder de vomitar ácido, Gin Genie, que provocava tremores de terra depois de ingerir bebidas alcoólicas, Phat, um sósia gay de Eminem com o poder de engordar, El Guapo, um rapaz possuidor de um skate com consciência própria, Dead Girl, que tinha o poder de... Er... Estar morta... Entre tantos outros.

A dada altura, chegou-se mesmo a ponderar a inclusão da própria princesa do povo, nada mais nada menos que a Princesa Diana, equipada com a sua super-empatia! Foi nesta altura que a Marvel decidiu acabar com a brincadeira, censurando a ideia e substituindo a princesa por outra personagem mais ou menos semelhante. Allred e Milligan consideraram a intrusão ofensiva, e os X-Statix seriam cancelados após 26 números de subversão e desrespeito pelas regras da decência e da moral!



É por todas estas razões e também pela belíssima arte de Mike Allred que aconselho os X-Statix. Se gostam de um bom livro de super-heróis carregado de humor e malícia, procurem-no enquanto está fresco, pois este material tornar-se-á lendário, visto que a tendência da Marvel é a produção em série de livros iguais com títulos diferentes.

10.7.06

Banda Desenhada: Dym-Witted Darryl

Se Ran-Tan-Plan é o cão mais estúpido que a sua própria sombra, Dim-Witted Darryl é o mamífero mais idiota à face da terra!



De Michael Bresnahan e publicado pela Slave Labor Graphics (acho que já deu para perceber que compro tudo com o logotipo da SLG na capa), Dim-Witted Darryl narra as aventuras de um "miúdo" de 28 anos que estuda no 4º ano e que continua a ser amamentado pela mãe e a usar fraldas. Darryl é só um bocadinho lento e as suas aventuras giram em torno dos problemas levantados pela sua estupidez, relembrando-nos da nossa inocência infantil.



O pai de Darryl nutre pela sua cria um ódio profundo, chegando mesmo a vendê-lo por 50 cêntimos e ainda oferecendo um cão de loiça como bónus. Os seus compradores acabam por mandá-lo para o caixote do lixo ao se aperceberem da sua estupidez crónica.

Dim-Witted Darryl encontra-se com alguma dificuldade em lojas de comics. Este livro em especial não teve o sucesso merecido e como tal para o encontrar só mesmo tropeçando nele por mero acaso. Não está especialmente bem escrito e a arte nem é nada do outro mundo, mas é um livro inocente, e a sua beleza reside aí. Um regresso doentio à infância.

15.6.06

Banda Desenhada: Everything Can Be Beaten

Everything Can Be Beaten é um livro de Chancre Scolex (Jhonen Vasquez), com arte de Crab Scrambly (Brad Canby). Como uma boa parte do que é editado pela Slave Labor Graphics, este é mais um conto de fadas subversivo.

Era uma vez um menino mascarado chamado IT que passa toda a sua existência num quarto minúsculo esmagando gatinhos recém-nascidos que ali chegam através de um ventilador.



Um dia, IT repara a existência de uma porta no seu quarto. Ao atravessá-la, descobre um mundo inteiro de coisas bonitas à sua espera. Habituado a uma vida inteira de destruição, IT faz a única coisa que aprendeu na vida: Matar! Depois de destruir tudo e todos, IT resolve descansar um pouco, apenas para descobrir que tudo voltou a crescer e florescer. IT recomeça então a matança, mas até quando?



Everything Can Be Beaten é divertido e imaginativo ao mesmo tempo. As páginas deste livro estão agrafadas umas às outras, e todas as letras "e" estão escritas ao contrário, o que dificulta um pouco a leitura, contribuindo para um aumento da concentação de quem o lê, acabando por mergulhar mais profundamente no texto. Um livro para crianças grandes, com a sua moral estampada em letras bem grandes na capa.

Difícil de encontrar, especialmente pelo facto dos seus autores assinarem sob pseudónimo. Ainda assim, vale bem a pena procurá-lo.


15.5.06

Banda Desenhada: Nextwave

Às vezes sabe bem ler Banda Desenhada simples, cheia de destruição, explosões e pancadaria. E quando a mesma é feita com qualidade, humor e enredos ultra-simplificados, melhor ainda. Hoje há aqui NextWave!



A trama: Temos uma equipa de Super Heróis intitulada NextWave, que trabalha para uma corporação chamada H.A.T.E. (Highest Anti-Terrorism Effort), corporação essa que procura desmantelar uma outra corporação de seu nome Beyond Corporation©. Cedo, a equipa descobre que afinal ambas as corporações são afiliadas e tornam-se rebeldes, procurando desactivar as Armas Invulgares de Destruição Massiva que ameaçam o mundo. E pronto, é tudo o que temos de saber, explicado em duas páginas. Depois disto, temos acção, acção, acção!

A equipa de NextWave é constituída por heróis da Marvel habitualmente pouco usados. A saber:

Monica Rambeu



Anteriormente conhecida por Capitã Marvel. Tem a capacidade de voar e manipular energia.

Tabitha Smith



Quem lia BD nos anos 80/90 poderá lembrar-se dela nos Novos Mutantes e X-Force, onde era conhecida por Dinamite. Tem o poder mutante de rebentar com coisas.

Aaron Stack



Antigamente era o Homem-Máquina. Agora também é um homem-máquina, mas dá-se pelo nome próprio. O seu poder é ser homem-máquina.

Elsa Bloodstone



Tem como particularidade o facto de ser Britânica. E também é Super-Forte.

Para esta série foi também criado um herói completamente novo, de seu nome The Captain.



Um Capitão genérico na onda de todos os capitães da Marvel, tem os poderes que forem necessários para a história progredir. Anteriormente conhecido como Captain ☠☠☠☠, mudou o nome para The Captain depois de levar uma coça do Capitão América por ter um nome demasiado ofensivo.

Do outro lado da barricada temos o antigo patrão desta Task Force, Dirk Anger, um Nick Fury gasto e patético que não gosta de mulheres mas que também não é gay. A melhor personagem da série!





As histórias de NextWave são curtas e rápidas. A equipa junta-se em torno de um monstro bem ao estilo Power Rangers, rebenta com ele e segue viagem. Porém, a arte bem leve e o humor em torno das personagens transformam esta obra num must have para coleccionadores. Já saiu o número 5, e creio que esta série só irá durar até ao 12º volume, portanto ainda vão bem a tempo de a apanhar. Como diz a publicidade a esta série, "se gostam de qualquer coisa, vão adorar NextWave"!

Como curiosidade, esta é a única BD a ter a sua própria música de genérico. Confiram aqui.

17.4.06

Banda Desenhada: The Goon

Gangsters sisudos, Zombies imortais, macacos, gorilas e outros que tais. The Goon.



The Goon, a obra maior de Eric Powell, é um dos mais refrescantes comics da Dark Horse, tendo coleccionado já imensos prémios, incluindo Melhor Narrativa Ilustrada no International Horror Guild Awards de 2004.

Colorido e ultra-ritmado, The Goon narra a história de um suposto capanga dum Gangster chamado Labrazio, numa cidade plena de zombies, vampiros, lobisomens e outros seres sobrenaturais. Um monstro musculado, de aspecto simiesco, cego de um olho e desfigurado, The Goon mal sabe falar e aparenta possuir o QI de um recém-nascido. Não será bem o tipo de herói a que nos habituaram as grandes casas de banda desenhada, e esse é o trunfo principal da série (mas não será o único). Do lado contrário da barricada temos o Feiticeiro Sem Nome, que insiste e criar hordas de mortos vivos para aterrorizar a cidade, o que garante emprego constante ao nosso anti-herói.

A estética e o sentimento transmitido por este comic são de film-noir com cedências à vida moderna. The Goon e o seu parceiro Franky rebentam cabeças de mortos vivos com tacos de basebol e vendem protecção a taberneiros e vendedores de gelados tal como nos loucos anos 30 (o meu avô conta-me que um zombie roubou-lhe todas as couves da sua horta em mil-nove e trinta e cinco), mas no entanto não abdicam de encomendar pizza às Sextas nem de retalhar um gigantesco pirata-choco com uma motoserra, por exemplo.

O exagero e a estranheza das personagens elevam The Goon ao estatuto de meu comic preferido do momento. Um anão com uma bola de bowling presa na mão não é bem o vilão que inspira medo, mas sim compaixão (credo, tanta aliteração). O humor é negro e non-sense, mas estranhamente, tudo faz sentido na obra de Powell.

Para os curiosos, existe o primeiro TPB à venda por aí, intitulado The Goon Rough Stuff (comprei o meu na Ghoul Gear, Travessa da Trindade 30, Faro.) A Shop Suey Comics volta e meia oferece um comic do The Goon por compra, portanto se forem clientes, peçam-no na vossa próxima visita.