Uma Introdução

Uma Introdução

Porque criar um blog sobre as coisas que eu presenciei e ouvi durante minha carreira como professora de Educação Básica?

Nunca achei que alguém se interessasse por coisas que para mim são comuns, o cotidiano de uma professorinha.

Mas um amigo (Joseph), pensa diferente. Ele achou que minhas histórias poderiam ser interessantes. E me incentivou a escrever um Blog.

Talvez ele tenha razão. Afinal, uma pessoa que está em sala de aula a mais ou menos 20 anos deve ter algumas histórias para contar. E posso dizer que minha vida de professora (e esse blog é só sobre isso) não foi nada calma. Monotonia nunca fez parte da minha vida profissional. Criança é um bichinho que inventa...

As histórias que vou contar aqui são variadas. Algumas aconteceram comigo, outras com amig@s e alun@s. Para preservar a identidade das pessoas que foram protagonistas das histórias, vou trocar não apenas os nomes, mas outras características (idade/sexo/lugar onde o fato ocorreu). Resumindo, vou contar as histórias, mas sem revelar dados que possam identificar as pessoas envolvidas. Conto o milagre, mas não digo o santo.

Convido vcs a lerem um pouco dessas minhas 'aventuras' como professora. Trabalhei (e trabalho) em escolas de bairros bem pobres, onde faltava quase tudo. Menos a boa vontade de colegas e diretores para fazer a coisa dar certo. Pelo menos na maioria das vezes.

Feliz Natal!!

Esse ano, na escola de ensino fundamental que trabalho, as professoras resolveram fazer uma Cantata de natal. Foi lindo. Meus anjinhos cantaram direitinho, contando a história de Jesus.

Quem sabe a história de alguém que nasceu por amor, trazendo o amor como presente para todos possa nos ajudar a refletir sobre a necessidade de vermos os outros, de abrandarmos nosso coração.

Fiquei feliz com essa atividade. Quem sabe não conseguimos montar um coralzinho?

Feliz Natal para todos...

Criança tem cada uma...

Quem nunca lecionou para alunos de 10, 11 anos (geralmente 5ª série) não sabe o que está perdendo. Eles são MUITO engraçados. O difícil é controlar o riso pq eles saem com cada ideia...

Eu estava na sala de uma dessas 5ª de alunos de 10, 11 anos. Eles estavam fazendo um exercício e eu esperando que me trouxessem o caderno para ver como estavam se saindo e tirar as possíveis dúvidas. Aí chega um dos meus 'anjinhos' mais criativos e diz: "Professora, já sei como descobrir quem está roubando nossas coisas durante o recreio."
Um parêntese: durante o recreio as portas das salas ficavam abertas e estavam acontecendo pequenos roubos de lápis, borracha e canetas, coisa que não sabíamos como resolver. Pedimos aos alunos que vigiassem suas salas, para evitar o roubo. Aí vem meu aluninho com uma ideia 'fenomenal': segundo ele deveríamos "fazer um buraco na porta da sala de aula, colocar umas folhas por cima e esperar para ver que caía no buraco (só podia ser o ladrão)."
Me deu uma vontade de rir... O rostinho dele dizia que ele acreditava piamente que a ideia dele seria exequível, e pior, que funcionaria. Pensava ter descoberto a roda. Como dizer a ele que a ideia (que para ele era maravilhosa) não tinha a mínima chance de ser executada muito menos de funcionar? Só me lembrava de alguns desenhos animados que usavam esse estratagema para pegar alguém. Na hora pensei que a criaturinha estava vendo desenhos animados demais.
Mas não podia deixar o anjinho pensando que a coisa podia acontecer, aí falei com muito jeito que seria difícil furar o chão que era de granito, e mesmo que conseguíssemos, todos na escola veriam, já que o buraco teria que ser feito durante a aula (ou durante o recreio). A carinha dele ficou tão triste. Mas para alegrá-lo disse que a ideia era boa, só que mesmo boas ideias nem sempre podem ser executadas em todos os lugares. Parece que se conformou...Saiu sorrindo e brincando.
Só uma criança para ter esse 'pensamento mágico'. Olhando para minhas crianças, para as que ainda sonham como esse, vejo a infância como deveria ser para todos: sem responsabilidades e feliz!!

Joguei pedra na cruz...

Tem dias que tenho quase certeza que joguei pedra na cruz. Quarta feira foi um desses dias.

Saí com os alunos para a caminhada contra a AIDS, até aí tudo normal. Fui com um colega e 27 alunos e alunas. Poucos, já fui para essa caminhada com mais de 40.

A caminhada foi divertida, http://twitpic.com/3bzmy0 .

Terminamos a caminhada e fomos para o ônibus. Entramos e fizemos a 'chamada'. Aí começou o calvário: faltavam 3 alunas.

Na hora comunicamos o fato aos representantes das Secretarias de Educação e da Saúde.

Ficamos esperando mais de meia hora. Nesse ínterim, o motorista do ônibus ameaçou sair, os alunos começaram uma briga com alunos de outras escolas, jogaram pedras no ônibus...

E eu ligando para a escola para tentar descobrir o número de telefone da casa de uma das meninas para saber se elas tinham chegado.

Não descobrimos nenhum número, então resolvemos ir para a escola e de lá eu iria para a casa de uma das meninas tentar descobrir se as 'criaturas' já estavam em casa.

Fizemos isso. Chegando na escola saí com um aluno enquanto meu colega ficava na direção da escola, resolvendo outro 'abacaxi'.

Chegando na casa da menina, ela estava toda tranquila. Quando perguntei pq ela havia voltado mais cedo, ela só disse que 'lá tava muito parado'. Disse a ela que por causa dessa atitude irresponsável, o pessoas da secretaria da educação e da secretaria da saúde estava até aquele momento no ponto de encontro dos ônibus, esperando ela. Liguei para eles e avisei. Foi um alívio geral.
A mãe da menina chega e pergunta o que aconteceu. Expliquei e a mãe me apoiou. Disse que se ela pediu para ir à caminhada com a escola deveria voltar com a escola.

A menina não entendeu pq o 'estresse'. afinal ela é 'grande'. Expliquei que ela pode até ser mais alta que eu, mas perante a lei, ela ainda é menor de idade. Por isso precisamos do consentimento da mãe para que ela possa sair para qq atividade extra escolar.

Volto para a escola para ajudar meu colega com outro abacaxi, esse bem mais sério. Mas fazer o que? Tem dias que a gente nem deveria sair de casa, que dirá acompanhada com alunos e alunas, que parecem ter o juízo nos pés...