A CGD E OS NOVOS “ACIDENTES” DO PS
O governo e
os governantes do PS parecem não medir as consequências políticas de algumas
das suas decisões e actos. Depois do “acidente” do caso das viagens ao euro
oferecidas pela Galp, vem a gora o governo pretender alterar para valores superiores
os vencimentos e o número de gestores da CGD.
Quando as
famílias portuguesas vêm sofrendo desde 2008 cortes nos seus rendimentos,
vivendo em grande sufoco, ainda que com algum alívio em 2016 com a reposição de
alguns cortes pelo governo de António Costa, torna-se manifestamente impopular
uma decisão deste quilate.
Tanto mais
que é injusta e injustificável, por vários motivos.
Primeiro, o
aumento dos vencimentos é absolutamente injustificável. Argumenta o ministério
que as pessoas seleccionadas possuem grande competência e como tal terão que
ser devidamente recompensadas ou então não se conseguiria gestores com igual
competência. Esta argumentação, repetida anos a fio, é uma grande falácia mas
tem sido usada ao longo dos últimos anos, sempre naturalmente por elementos do
mesmo “agregado” de gestores e políticos, ora no governo, ora nas empresas. Na
verdade, estas “sumidades” fazem parte de um certo grupo fechado de gestores,
de uma certa casta de gestores que se perpetua em altos cargos em grandes
empresas com ligações privilegiadas ao poder político. E, se analisarmos as
suas carreiras veremos que existem outros factores extra profissionais que as
impulsionaram e que nada têm a ver com as suas competências técnicas.
Este
fenómeno de proteccionismo, da existência de um grande grupo de “exploradores”
como o classifica Josef E. Stiglitz, dá pelo nome de Rent-seeking, isto é, “a obtenção de rendimentos
não como recompensa por se ter criado riqueza mas por açambarcamento de uma
fatia excessiva de riqueza que não se produziu”. E diz mais este
prémio Nobel, “sem rodeios, existem duas
formas de enriquecer: criando riqueza ou retirando-a dos outros. A segunda tem
a característica de subtrair à sociedade, uma vez que no processo de tomar
riqueza, há uma parte dela que é destruída. Um monopolista que cobra demais
pelo seu produto está a tirar dinheiro a quem está a comprá-lo e, ao mesmo
tempo, a destruir valor”.
E ainda, “Um grande grupo de “exploradores” de rendimentos é o dos advogados
de primeira categoria, que enriquecem ajudando outros a obter rendimentos
através de práticas que contornam a lei. Ajudam a redigir as leis onde se
introduzem lacunas jurídicas, de modo a permitir que os seus clientes fujam aos
impostos, e depois criam os acordos complexos para tirar vantagem destes vazios
na lei. Estes advogados são desmesuradamente recompensados por toda esta ajuda
prestada no sentido de fazer os mercados funcionarem não como deveriam, mas sim
como instrumentos que beneficiam apenas uma elite”.
É
precisamente por esta razão que Proença de Carvalho, Nogueira Leite, Aguiar
Branco ou Lobo Xavier entre outros, recebem avultadíssimos honorários de
dezenas de empresas em simultâneo. Não será seguramente por elevada competência
técnica que Jorge Coelho foi chamado para gestor da Mota Engil quando saiu do
governo ou que agora Paulo Portas optasse pelo mesmo caminho? Quem acredita
nisto?
Em segundo
lugar é perfeitamente incompreensível que se recrute para a CGD este tipo de
gestores oriundos de grandes empresas nacionais. Leonor Beleza da Fundação
Champalimaud, Emídio Pinheiro presidente do Banco de Fomento Angola, Pedro Norton,
ou ex-CEO do grupo Impresa ou de António Domingues do BPI por exemplo. Afinal,
o que se pretende com essa ligação profissional? Se é uma forma de cimentar ou ganhar
clientes e não se vislumbram outras razões, será uma forma enviesada e
distorcida de obter favorecimentos.
Deverão ser
as melhores práticas de gestão que deverão proporcionar à CGD as melhores
clientelas e não o uso de artimanhas enviesadas e em nada transparentes. Não é
esse tipo de gestão que os portugueses esperam da gestão de um banco público.