Continua a receita da austeridade
Querem forçar os pobres portugueses a acreditar que não pode haver baixa de impostos sobre o trabalho (sobre o capital haverá uma baixa, o IRC desce de 23% para 21%) porque não haverá receita capaz de substituir qualquer perda de receita. No fundo o que o “establishment”, isto é “a estrutura do poder financeiro, económico, político e mediático”, nos pretende convencer é que não há alternativa à austeridade, não existe outro caminho alternativo mesmo quando se constata hoje, que as medidas de austeridade impostas redundaram num retundo falhanço. Não diminuiu a dívida pública como era suposto, não diminuiu o défice como era suposto, não diminuiu o desemprego como era suposto, não houve crescimento do PIB como era suposto. Um rotundo falhanço portanto.
Onde está afinal o tal “milagre económico” anunciado há meses pelo ministro da economia Pires de Lima?
Na verdade, ainda que alguns líderes europeus e o próprio presidente do BCE perante esta realidade se vejam forçados a reconhecer um tal falhanço, encontram-se contudo incapazes de reconhecer como errados os princípios em que se fundamentam as políticas de austeridade e que se resumem a – redução de salários, pensões (quer por aumento do horário de trabalho, mais precariedade no emprego, flexibilidade das leis laborais ou redução directa pura e simples, de salários e pensões) e cortes sociais – as chamadas “reformas estruturais”. Pelo contrário continuam a insistir na necessidade do aprofundamento destas “reformas”.
Cegos em seu credo neoliberal, não compreendem que estão mergulhados num círculo vicioso do qual são incapazes de sair. Os cortes e a redução de salários provocam a redução da Procura e assim, inevitavelmente, um menor crescimento económico, mais desemprego, menores receitas dos impostos e mais despesas do estado. E por mais benefícios que concedam às empresas (menores salários, despedimentos mais fáceis e menos impostos), nunca conseguirão um consistente e sustentável crescimento económico. O maior e mais eficaz estímulo ao crescimento económico será seguramente o aumento significativo do rendimento das famílias isto é um aumento dos salários. Precisamente o oposto às políticas que vêem sendo aplicadas.
Só um governo que rompa com a “austeridade” e que reverta pensões e salários dos cortes que sofreram, poderá inverter o ciclo em que mergulhamos e criar condições para sairmos deste círculo vicioso infernal dos cortes que provocam menos receita que por sua vez exige mais cortes e assim por diante, e colocar a economia a crescer sustentadamente.