Portugal precisa, não de pseudo reformas - de “reformas” com propósitos de diminuir os custos das funções sociais do Estado, mas de uma profunda mudança estrutural.
Quando Passos Coelho e seu séquito de analistas falam na gordura do Estado, não se referem à multidão dos órgãos parasitários do Estado que desgraçam a nossa economia. Não, eles referem-se à amplitude das funções sociais do Estado e que a seu ver terão que ser diminuídas e restringidas o mais possível. Portugal necessita na verdade de se desfazer da gordura do Estado, mas da gordura parasitária; não de mais cortes sociais.
Portugal só poderá sair do atoleiro em que se encontra quando encontrar forças capazes para realizar uma profunda e ampla mudança estrutural. Eliminando o Estado corrupto institucional que os governantes foram instituindo e com grande aceleração nestes últimos 15 anos; eliminando, pura e simplesmente, todos os órgãos parasitários da administração, empresas municipais, governadores civis, representantes da República nas regiões autónomas, autoridades, agencias, comissões, fundações, etc, etc; alterando as políticas até aqui dirigidas exclusivamente em benefício das grandes empresas, do capital financeiro, das oligarquias financeiras; controlando os preços dos serviços estratégicos que se encontram sob o domínio de cartéis e monopólios, nas auto estradas, nas energias, nas telecomunicações; reduzindo os benefícios fiscais oferecidos a troco de nada às grandes empresas instaladas no país.
Uma efectiva mudança estrutural do Estado, uma alteração de políticas e de filosofia - rejeitando as práticas neoliberais, que nos arrastaram para esta miséria e que a todo o tempo os dois partidos do bloco central se esforçam por perpetuar - para uma verdadeira política de democracia social.
Ora, nem Ferreira Leite nem Passos Coelho, nem Sócrates nem Cavaco Silva entendem a necessidade de uma profunda mudança estrutural no nosso Estado e na nossa administração. A necessidade da eliminação deste Estado corrupto institucional (deverão até negar a sua existência e a sua responsabilidade pelos gastos parasitários da ordem de pelo menos 10% do PIB). A necessidade de uma mudança, combatendo a sofreguidão de ganância das oligarquias financeiras e invertendo a política económica, até aqui de apoio incondicional a estas oligarquias com desprezo pelo apoio às pequenas e médias empresas.
Mas, nem o PS nem o PSD, que instituíram este “Estado” em seu benefício clientelar, serão capazes de provocar as rupturas e as mudanças indispensáveis a um novo rumo para Portugal. Que o arraste para crescimentos económicos convergentes com os países da UE. Nem com Passos Coelho ou Ferreira Leite, nem com Sócrates ou Mário Soares. Porque todos eles comungam de uma mesma doutrina – o neoliberalismo, quer ele se encontre travestido de social-democracia ou de socialismo.
Só uma nova formação política e uma nova doutrina poderão realizar a profunda mudança estrutural do Estado que Portugal exige.
Marcadores: democracia social, neoliberalismo, reformas