A receita para o crescimento económico do país não é nem nunca será, uma receita baseada em políticas de agravamento de impostos, de redução salarial ou de cortes sociais.
Os “fazedores de opinião” do sistema, os “politólogos, economistas e jornalistas de serviço” não se cansam de afirmar na comunicação social de que os portugueses “vivem acima das suas possibilidades” e portanto torna-se necessário e inevitável a adopção de tais políticas.
E, porque tais medidas atingem sobretudo os 20% de pobres e 65% da população que vive do seu ordenado (em média o mais baixo da zona euro) ou do seu pequeno negócio, serão estes, 85% da população que, na cabeça daqueles senhores, “vivem acima das suas possibilidades” e assim, os culpados directos do défice público e do agravamento da crise económica e financeira do país. Claro que quem assim fala integra os restantes 15% da população, felizardos que nunca terão vivido tão bem como agora. Pertencem a esta casta de privilegiados, os gestores públicos nomeados politicamente para cargos de direcção nos múltiplos órgãos em que se converteu a Administração Pública, os governantes e seu séquito de assessores, os gestores privados dos grandes grupos económicos e financeiros e poucos mais.
O raciocínio desta gente é simples. Encontrando-se as contas públicas em permanente défice em cada ano orçamental, tal significa que o Estado não tem receita capaz e, como tal, estará a distribuir mais do que tem, pelo que só haverá uma solução, o aumento de impostos, a redução salarial e os cortes sociais. Não se questiona sobre os gastos supérfluos dos órgãos parasitários da Administração Pública, criados sobretudo desde há quinze anos e responsáveis pelo brutal agravamento das contas públicas da ordem dos 10% do PIB. Num verdadeiro saqueio institucional, forjado pelo “sistema corrupto institucional” que tão sabiamente a nossa classe política soube erguer e que se tornou num fardo demasiado pesado sobre os ombros de 85% da população portuguesa. Só e apenas quando, os portugueses romperem com este sistema corrupto institucional em que vivemos, com uma nova reformulação da Administração Pública, será possível um desenvolvimento económico sustentável e convergente, sem aumento de impostos nem cortes sociais. Pelo contrário, será possível não só uma diminuição de impostos como ampliar os serviços e os apoios, tão limitados agora, prestados pelo Estado.
Portugal não está condenado a viver com défices crónicos ou com dívidas públicas incontroláveis. Os portugueses terão que alcançar forças capazes para derrubar o sistema político corrupto institucional em que vivemos através de uma nova formação política. Seria absurdo pensar que os responsáveis pela instituição do “sistema” se encontrem interessados em eliminar a fonte dos seus privilégios. Do PS ou do PSD só poderemos esperar a mesma receita de sempre. O PS, fingindo defender o “estado social”, reforça o aumento de impostos enquanto o PSD, prometendo não os aumentar, avança com novos cortes nos serviços prestados pelo Estado, erguendo a Educação e a Saúde como alvos privilegiados. Ambos esforçados na manutenção do sistema de privilégios que forjaram.
Para o cidadão, que venha o diabo e escolha. De uma coisa poderá estar certo. Com qualquer um destes partidos no governo, o saque ao produto do seu trabalho agravar-se-á sempre. E quando, como agora ouvimos aos “fazedores de opinião” e economistas do sistema, de que o Estado está gordo, a “gordura” a que se referem nada tem a ver com os múltiplos órgãos do Estado parasitários de que falámos. Afirmam que o Estado está “gordo” simplesmente porque o Estado, presta serviços sociais alargados sobretudo na Saúde, com Serviço nacional de Saúde, na Educação, com ensino gratuito e universal até ao 12ºano de escolaridade e com alguns outros apoios sociais. O PSD, de forma aberta e declarada deseja restringir o papel social do Estado, o PS por seu lado, prossegue o mesmo rumo, só que de forma disfarçada, usando uma massiva e mistificadora retórica discursiva. Ambos contudo, são fiéis ao cardápio neoliberal, a esta “modernidade” que ambicionam para o povo português. Retirar ao Estado todas as funções sociais e reduzi-lo ao que chamam de “estado mínimo”.
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