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terça-feira, janeiro 29, 2013

Dedicado aos patrões que estão convencidos de que a precariedade laboral é uma excelente medida, tanto para a sua própria empresa como para a economia em geral:


Com meia dúzia de excepções, todas as empresas ficam a perder num país onde a precariedade aumenta. Isto, porque um cidadão que perde o poder de compra, deixa de ser um consumidor no verdadeiro sentido do termo. Não havendo consumo, não há compras. Não havendo compras, não há vendas. Não havendo vendas, não há lucros. Não havendo lucros, não há produção. Não havendo produção, aumenta o desemprego.

E se, inicialmente, a um patrão pode parecer favorável ter na sua empresa funcionários a quem paga pouco e a quem pode contratar e despedir à vontade, mais tarde ou mais cedo, dar-se-á conta de que os consumidores que lhe compravam os produtos vão paulatinamente desaparecendo – porque esses ex-consumidores estão agora no desemprego ou são os empregados precários de outras empresas que seguiram as mesmas políticas.

Em síntese, a precariedade laboral representa o fim dos consumidores e, portanto, a falência em catadupa das empresas e o desmoronar da economia.



E sob o ponto de vista do cidadão precário:

Excerto de um artigo de Daniel Oliveira – 25/01/2013 - Expresso Online

[…] Sabe-se que (em Portugal) o desemprego real - bem diferente do que as estatísticas revelam - estará acima dos 20%, correspondendo a 1,2 milhão de pessoas. Que há mais de 16 mil desempregados todos os meses. Que a taxa de desemprego entre os jovens está a aproximar-se perigosamente dos 40%. Se aos desempregados juntarmos os precários, temos 2,9 milhões de pessoas, a maioria da população ativa portuguesa. Ou seja, o trabalho com o mínimo de direitos é já um fenómeno minoritário.

A precariedade entrou no jargão político. Mas nem todos parecem compreender o que ela significa e os efeitos devastadores que tem na organização social de um país. Ser precário é não poder fazer projetos. É não ter qualquer capacidade de estruturar a vida e o futuro. É adiar a possibilidade de ter filhos ou de comprar uma casa. É não ter qualquer esperança de uma progressão profissional. É não ter qualquer direito quando se está doente, quando se engravida, quando se chega à idade da reforma. É a completa imprevisibilidade, o que torna insuportável a vida em sociedade e tem efeitos desastrosos na economia. É, muitas vezes, a impossibilidade de ter férias, horários decentes, direitos mínimos. É ter de comer e calar. De aceitar salários inaceitáveis, horários insuportáveis, condições de trabalho indignas.


A precariedade não se limita a degradar a dignidade do trabalho. Deixa aos pais a tarefa eterna de, volta não volta, sustentarem os seus filhos. Deixa os filhos dependentes dos seus pais. A precariedade (quando não corresponde a um excelente rendimento) não promove, ao contrário do que alguns pensam, a autonomia dos indivíduos. Porque a autonomia exige o mínimo de independência material e esta exige o mínimo de previsibilidade profissional. A precariedade é uma doença social que, por deixar tanta gente à deriva, acaba por corroer a vida de toda a comunidade, pondo mesmo em causa a sustentabilidade da democracia. E se a precariedade é tudo isto, em Portugal, onde os apoios sociais ao desemprego eram poucos e estão próximos de serem nenhuns, ela é uma autêntica catástrofe social.

Há quem tente vender a ideia de que o combate aos direitos laborais e a promoção da precariedade seriam uma forma eficaz de garantir o emprego. A ideia resume-se assim: garantindo maior rotatividade laboral e dando maior segurança ao empregador de que, a qualquer momento, pode "reestruturar", de forma barata, o seu quadro de pessoal, haverá mais empregos. Escuso-me a dar muitos argumentos. A realidade fala por si. À desregulação laboral e ao consequente aumento do número de precários não correspondeu, nem aqui nem em lado nenhum, uma redução do desemprego. Pelo contrário: os países com mais desemprego são, em regra, aqueles que têm mais precários.

Como só um cego pode continuar a defender uma teoria que os factos teimam em não confirmar, está chegada a altura de perceber que o efeito do aumento da precariedade não é esse. A única coisa que se conseguiu foi tornar a situação dos trabalhadores de tal forma frágil que ao mínimo abalo económico ficam completamente desprotegidos. E a sua desproteção tem efeitos imediatos na economia. Por outro lado, a precariedade - a legal e a ilegal -, teve um efeito direto, pela perda de poder negocial dos trabalhadores, nos salários. Os nosso jovens, quase todos precários, trabalham muito, ganham quase nada e não esperam muito do futuro. Por fim, a precariedade, reduzindo as obrigações do empregador, descapitaliza a segurança social. [...]

segunda-feira, abril 25, 2011

Para o presidente da CIP, António Saraiva, o milhão de precarizados e os mais de 600 mil desempregados existentes em Portugal ainda não são suficientes

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A "insuficiente" precariedade e os "luxuosos" salários de que goza a esmagadora maioria dos portugueses não pode, na opinião de certos reptéis, atrapalhar o Lucro.



António Saraiva
Presidente da Confederação da Indústria Portuguesa (CIP)


Diário Económico - 21.04.11

A CIP, Confederação da Indústria Portuguesa, defendeu ontem, num documento entregue à 'troika', que a retribuição dos trabalhadores possa ser reduzida "por acordo".

Este é um dos pontos da área laboral que a confederação levou ontem à reunião com o FMI, BCE e Comissão Europeia.

A entidade liderada por António Saraiva apoia ainda a eliminação dos critérios preferenciais hoje previstos para a extinção de postos de trabalho quando está em causa despedimento colectivo ou por extinção de posto.

Actualmente, a eliminação de postos idênticos deve obedecer a uma ordem de critérios (nomeadamente antiguidade no posto, na categoria ou na empresa). Ainda em termos de despedimento, a CIP pede a alteração constitucional do artigo que consagra a segurança no emprego e a proibição de despedimentos sem justa causa. E também pede que fique consagrado, no Código do Trabalho, que os comportamentos já enunciados na legislação constituam "automaticamente" justa causa de despedimento.



Comentário

Em 2008, um quinto da população activa portuguesa, cerca de um milhão de trabalhadores, tinha trabalho precário. A estes somam-se, pelo menos, mais de 100 mil trabalhadores em actividades clandestinas, sobretudo na construção civil, na restauração e em pequenas empresas. Desde então, estes números têm aumentado diariamente.

E de acordo com o INE, Portugal terminou o ano de 2010 com uma taxa de desemprego de 10,5%, representando 602.600 desempregados, sendo que, destes, 63.800 são licenciados.

Mas parece que para os reptéis que dirigem a grande indústria nacional (nas mãos da Grande Finança Internacional), a instabilidade, a incerteza e os salários miseráveis com que vive um número tão grande de portugueses, constituem um luxo que o Lucro não pode nem deve tolerar.

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quarta-feira, fevereiro 16, 2011

Um colunista idiota avalia uma ideia um bocado parva...

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Uma ideia um bocado parva...

E a canção dos Deolinda chegou ao Parlamento – como se a geração dos recibos verdes e a precariedade do emprego tivessem sido reveladas aos primeiros acordes de "Parva que sou".

A antiga ministra da Educação, Maria Lurdes Rodrigues, ainda tentou colocar alguma sensatez na discussão quando afirmou que a ideia de que "para ser escravo é preciso estudar" é um "desincentivo para os jovens". Óbvio. Mas, como em todos os modismos, o bom senso não é para aqui chamado. O sempre diligente e "bué de fixe" Bloco de Esquerda aproveitou a onda e acha que o país deve acabar com os estágios não remunerados. A ideia significa, no actual contexto, que um número significativo de jovens deixará de ter um primeiro contacto com a vida empresarial - já que, noutras circunstâncias, as empresas não aceitarão esses estágios. O mais grave, porém, desta ideia um bocado parva do Bloco de Esquerda é que a entrada no mercado de trabalho é um direito adquirido que não implica sacrifícios, esforço ou mérito. Ninguém defenderá a eternização dos estágios não remunerados mas a sua existência, circunscrita a um prazo determinado, é uma porta de entrada no mundo do trabalho que, de outra forma, simplesmente não existiria. Mas, como o país está um bocado parvo e desajustado da realidade, estas ideias, um bocado parvas, acontecem.



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Ninguém defenderá a eternização dos estágios não remunerados Miguel Coutinho? Tem a certeza disso quando é gritante a crescente disparidade entre as ofertas de emprego por um lado e candidatos a emprego por outro? Tudo isto num universo em que o emprego está inexoravelmente destinado a desaparecer? Ouça (e aprenda) o que tem para lhe dizer o jornalista e escritor Fernando Dacosta que já segue o assunto há um bom par de anos:


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Resposta de Fernando Dacosta

Publicado na revista Visão nº 625 de 24.02.05 (seis anos antes do artigo supra)


Prevê-se que em cada cinco crianças nascidas hoje, três jamais arranjarão emprego estável. Corrompida, a liberdade imergiu-as em novas (outras) desigualdades, indignidades, como as do crescente, insaciável «triângulo negro» da precarização, escravização, exclusão. Direitos penosamente conquistados (na saúde, na assistência, no trabalho, no ensino, no lazer, na cultura) estão a ser dissolvidos em cascatas de perfumado cinismo light. Os jovens que entram no mundo do emprego fazem-no a prazo, a contrato volátil, vendo-se, sem a mínima segurança, impedidos de construir uma vida própria, entre zappings de subtarefas e de pós-formações ludibriadoras.

O problema não tem no sistema vigente, o que poucos ousam admitir, solução visível. Enquanto isso há quem, para se confundir (confundir), culpabilize por ele a baixa taxa de natalidade e, lestamente, se proponha incentivá-la – incentivá-la para aumentar o número de crianças abandonadas?, para disparar a percentagem de jovens sem ocupação?, para renovar de carne fresca e farta os canhões, as camas, os catecismos, os esclavagismos? Prevê-se, com efeito, que em cada cinco crianças nascidas hoje em Portugal, três jamais arranjarão emprego estável.

A queda, por exemplo, de descontos para a Previdência (que tanta ondulação provoca) não advém da falta de trabalhadores com vontade de fazê-los – aos descontos; advém, sim, da falta de trabalho para serem feitos. Há já mais de 600 mil desempregados «seniores» e de 80 mil jovens à procura do primeiro emprego (40 mil licenciados), sem que ninguém, ao que se observa, se dinamize com isso. Nesta fase, as teses «coelheiras» só iriam agravar, não resolver, os problemas demográficos existentes.

Subir a idade da reforma para os 70 anos (aos 50 um trabalhador começa a ser tratado pelos superiores e colegas como um estorvo), aumentar os horários laborais (a produção tornou-se não insuficiente mas excessiva para o mercado), congelar os salários líquidos (enquanto a inflação os baixa) como defendem certos especialistas (que preservam, no entanto, para si retribuições e reformas milionárias) apenas desarticulará o mecanismo social que a humanidade vem, penosamente, construindo no sentido de tornar a existência mais digna e solidária.

As velhas gerações , a sair de cena, agarram-se às influências que julgam, julgavam, manter, merecer. Disfarçando desesperos, socalcam sem resultados patéticas vias sacras de cunhas, súplicas, empenhos, hipotecas, tráficos. As crispações que não sentiram quando, décadas atrás, iniciaram as suas carreiras (eram de outro tipo as, então, sofridas) experimentam-nas agora em relação à insegurança inquietante dos filhos e netos. Ingénuas, acreditaram que bastava, como no seu tempo, um curso superior para se ficar protegido, promovido. Fizeram os seus tirá-lo sem reparar que as universidades se transformaram de clubes VIP em fábricas massificadoras, cada vez mais vazias de elitismos internos e poderes externos.

Só os filhos-família de famílias dominantes (na direita, no centro e na esquerda, na economia, na política e nos lobbies) dispõem de privilégios garantidos, defendidos.
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sexta-feira, novembro 26, 2010

Centenas de milhares de jovens "flexibilizados" veriam com agrado a morte à paulada de Ferraz da Costa

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Ferraz da Costa – um anão canalha com pretensões esclavagistas

Pedro Ferraz da Costa, presidente do Fórum para a Competitividade, defende mais flexibilização para jovens e desempregados, apesar de estes serem já dos mais penalizados pela precariedade na União Europeia, a par de uma política de congelamento salarial para os restantes trabalhadores.


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Diário de Notícias - 26-11-2010

Os trabalhadores portugueses mais jovens são dos mais penalizados na UE pela precariedade, revela o estudo da Comissão Europeia.

Apesar disso, um grupo de gestores e empresários [o Fórum para a Competitividade presidido por Pedro Ferraz da Costa] insiste em "flexibilizar" os contratos a propor aos jovens à procura do primeiro emprego.

Em Portugal, os empregados com idades entre os 15 e os 24 anos abrangidos pelos chamados "contratos temporários" valem 53,5% do total de indivíduos nessa faixa etária, o quinto valor mais alto entre os 27 países da UE. Eslovénia e Polónia lideram.

Os investigadores da Comissão alertam que [...] esses vínculos "temporários podem ser simplesmente um factor de produção mais barato face ao emprego permanente" […]. O problema é que há países, como Espanha, Portugal, Eslovénia ou Eslováquia, onde os vínculos temporários estão a aprisionar os mais jovens, impedindo-os de progredirem para contratos sem termos e níveis salariais mais bem remunerados.

A taxa de desemprego jovem atingiu um recorde de 23,4%, quase 99 mil no terceiro trimestre. Esta realidade adversa não desmobiliza os gestores do Fórum para a Competitividade que ontem pediram contratos ainda mais flexíveis para os jovens à procura do primeiro emprego ou que trabalhem no sector exportador: querem contratos flexíveis com duração de quatro anos e com isenção total ou parcial nos descontos dos empregadores para a Segurança Social.



Comentário

É absolutamente intolerável que seja negada a toda uma geração jovem a possibilidade de ter um tecto próprio, uma família sua, um propósito, um significado, uma vida. Em contrapartida, só se observa sofrimento, desesperança e, inevitalmente, um número crescente de mortes prematuras.

Tudo isto para atulhar, ainda mais, o cú aos agiotas nacionais e internacionais da Banca e respectivos acólitos na política e nos grupos económicos.

Estes assassinos de colarinho dourado, esta escória no sentido mais abjecto do termo, não merecem qualquer tipo de misericórdia.
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