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segunda-feira, maio 26, 2008

Escassez do petróleo ou excesso de lucros? Mercado ou oligopólio?

Por que não nacionalizar?

Se o mercado não consegue disciplinar os preços, os lucros nem o selvático prendar dos recursos empresariais com os vencimentos multimilionários dos executivos, então por que não nacionalizar os petróleos e tentar outros modelos? Quem proferiu este revolucionário comentário foi Maxine Waters, Democrata da Califórnia, durante o inquérito conduzido pelo Congresso, em Washington, às cinco maiores petrolíferas americanas. Face à escalada socialmente suicidária dos preços dos combustíveis, o órgão legislativo americano convocou os presidentes para saber que lucros tinham tido e que rendimentos é que pessoalmente cada um deles auferia. Os números revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos. Desde os 40 mil milhões de dólares de lucro da Exxon no ano passado, ao milhão de euros mensais do ordenado base do chefe Executivo da Conoco-Phillips, às cifras igualmente astronómicas da Chevron, da Shell e da BP América. Esta constatação do falhanço calamitoso do mecanismo comercial, quando encarada no caso português, ainda é mais gritante. Digam o que disserem, o que se está a passar aqui nada tem a ver com as leis de oferta e procura e tem tudo a ver com a ausência de mercado onde esses princípios pudessem funcionar.

Se na América há cinco grandes empresas que ainda forçam o mercado a ter preços diferentes, em Portugal há uma única que compra, refina, distribui e vende. É altura de fazer a pergunta de Maxine Waters, traduzindo-a para português corrente:

- Se o país nada ganhou com a privatização da Galp e se estamos a ser destruídos como nação pela desalmada política de preços que a única refinadora nacional pratica, porquê insistir neste modelo? Enunciemos a mesma pergunta noutros termos

- Quem é que tem vindo sistematicamente a ganhar nestes nove anos de privatização da Galp, que alienaram um bem que já foi exclusivamente público? Os espanhóis da Iberdrola, os italianos da ENI e os parceiros da Amorim Energia certamente que sim. O consumidor português garantidamente que não. Perdeu ontem, perde hoje e vai perder mais amanhã. Mas levemos a questão mais longe houve algum ganho de eficiência ou produtividade real que se reflectisse no bem-estar nacional com esta alienação da petrolífera? A resposta é angustiantemente negativa. A dívida pública ainda lá está, maior do que nunca, e o preço dos combustíveis em Portugal é, de facto, o pior da Europa. Nesta fase já não interessa questionar se o que estamos a pagar em excesso na bomba se deve ao que os executivos da Galp ganham, ou se compram mal o petróleo que refinam ou se estão a distribuir dividendos a prestamistas que exigem aos executivos o seu constante "quinhão de carne" à custa do que já falta em casa de muitos portugueses. Nesta fase, é um desígnio nacional exigir ao Governo que as centenas de milhões de lucros declarados pela Galp Energia entrem na formação de preços ao consumidor. Se o modelo falhou, por que não nacionalizar como sugeriu a congressista Waters? Aqui nacionalizar não seria uma atitude ideológica.

Seria, antes, um recurso de sobrevivência, porque é um absurdo viver nesta ilusão de que temos um mercado aberto com um único fornecedor. Se o Governo de Sócrates insiste agora num purismo incongruente para o Serviço Nacional Saúde, correndo com os existentes players privados e bloqueando a entrada de novos agentes, por que é que mantém este anacronismo bizarro na distribuição de um bem que é tão essencial como o pão ou a água? Como alguém já disse, o melhor negócio do Mundo é uma petrolífera bem gerida, o segundo melhor é uma petrolífera mal gerida. Na verdade, o negócio dos petróleos em Portugal, pelas cotações, continua a ser bom. Só que o país está exangue. Há fome em Portugal e vai haver mais. O negócio, esse, vai de vento em popa para o Conselho de Administração da Galp, para os accionistas, para Hugo Chávez e José Eduardo dos Santos. Mas para mais ninguém. A maioria de nós vive demasiado longe da fronteira espanhola para se poder ir lá abastecer.



Os números dos lucros revelados deixaram os senadores da Comissão de Energia e Comércio boquiabertos:


«Exxon bate recorde de lucros»:

«Nova Iorque (CNNMoney.com) – a Exxon Mobil fez história na Sexta-Feira reportando os maiores lucros trimestrais e anuais de sempre de uma companhia norte-americana, aumentados em grande parte pela subida dos preços do crude.»

«A Exxon, a muito publicitada maior empresa comercial de petróleo do mundo, informou que os resultados líquidos do quarto trimestre de 2007 aumentaram 14%, para 11,66 mil milhões de dólares, ou 2,13 dólares por acção. A companhia ganhou 10,25 mil milhões de dólares, ou 1,76 dólares por acção no período de um ano (2007).»

«O lucro ultrapassou o prévio recorde trimestral da Exxon de 10,7 mil milhões de dólares, alcançado no quarto trimestre de 2005, que foi também o maior de sempre de uma empresa americana.»

«"A Exxon pode distribuir alguns valores espantosos e este é um desses casos," afirmou Jason Gammel, analista sénior da Macquarie Securities de Nova Iorque.»

«A Exxon alcançou também um recorde anual de lucros ganhando 40,61 mil milhões de dólares no ano passado – ou cerca de 1300 dólares por segundo em 2007. Isto excedeu o anterior recorde de 39,5 mil milhões de dólares em 2006.»



Comentário:

Obviamente que a sugestão de Mário Crespo de nacionalizar a Galp é ingénua. Há muito que esta empresa está no bolso de uma das quatros irmãs: Conoco-Phillips, Chevron, Shell ou BP América, através das subsidiárias Iberdrola, ENI e Amorim Energia.

Se, de facto, se nacionalizasse a Galp, esta não veria nem mais uma gota de crude. É assim que funciona o «mercado» por causa do qual se invadiu o Iraque.
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domingo, fevereiro 10, 2008

Bin Laden, a Exxon e o petróleo a 100 dólares o barril

Bin Laden quis barril de petróleo a 100 dólares

Em finais de 2004, o Jerusalem Center for Public Affairs divulgava o conteúdo de uma cassete de Osama bin Laden, onde este terrorista dava claras intenções de golpear as economias ocidentais fazendo disparar os preços do petróleo:


Jerusalem Center for Public Affairs: «A 15 de Dezembro de 2004, numa gravação áudio, Osama bin Laden afirmou "os preços do petróleo deviam estar pelo menos a 100 dólares o barril," e apelou aos militantes do Golfo Pérsico para que fizessem um esforço para evitar que o Ocidente recebesse petróleo árabe, atacando instalações petrolíferas em toda a região. Esta foi a primeira vez que a liderança da Al-Qaeda divulgou abertamente a sua estratégia de atingir a economia ocidental desorganizando os abastecimentos de petróleo e fazendo os preços dispararem. No dia seguinte, no NYMEX (bolsa de petróleo de Nova Iorque), o crude subiu 5% para 46.28 dólares o barril.»


TRÊS ANOS DEPOIS

A 2 de Janeiro de 2008, a BBC noticiou a realização do «sonho de Osama bin Laden»: o barril de petróleo, tal como o líder terrorista previra três anos antes, chegara finalmente aos 100 dólares o barril:



Mas, como diz o ditado: «não há mal que bem não traga». Paradoxalmente, o terrorismo de Osama bin Laden trouxe lucros descomunais às quatro grandes irmãs do petróleo - Exxon, Chevron, BP e Shell. Vejamos, em particular, o caso da Exxon:


«Exxon bate recorde de lucros»:

«Nova Iorque (CNNMoney.com) – a Exxon Mobil fez história na Sexta-Feira reportando os maiores lucros trimestrais e anuais de sempre de uma companhia norte-americana, aumentados em grande parte pela subida dos preços do crude.»

«A Exxon, a muito publicitada maior empresa comercial de petróleo do mundo, informou que os resultados líquidos do quarto trimestre de 2007 aumentaram 14%, para 11,66 mil milhões de dólares, ou 2,13 dólares por acção. A companhia ganhou 10,25 mil milhões de dólares, ou 1,76 dólares por acção no período de um ano (2007).»

«O lucro ultrapassou o prévio recorde trimestral da Exxon de 10,7 mil milhões de dólares, alcançado no quarto trimestre de 2005, que foi também o maior de sempre de uma empresa americana.»

«"A Exxon pode distribuir alguns valores espantosos e este é um desses casos," afirmou Jason Gammel, analista sénior da Macquarie Securities de Nova Iorque.»

«A Exxon alcançou também um recorde anual de lucros ganhando 40,61 mil milhões de dólares no ano passado – ou cerca de 1300 dólares por segundo em 2007. Isto excedeu o anterior recorde de 39,5 mil milhões de dólares em 2006.»



Comentário:

Se bem que o terrorismo global, e sobretudo a partir dos funestos atentados de Setembro de 2001, se tenha revelado em muitos aspectos uma tragédia para o Ocidente, certos nichos económicos, mormente as indústrias americanas do armamento e do petróleo, dificilmente terão razões de queixa: