O meio literário aqui no famigerado Rio Grande (a saber, possivelmente o único lugar do planeta onde comemora-se uma guerra que foi perdida) é uma lástima. A podridão que ronda as letras são mais putrefatas do que os porões do Distrito Federal. É uma panelinha insuportável, com gananciosos protegendo gananciosos, deixando bem intencionados a verem navios.
A imprensa em geral só piora o que já é péssimo. Cito como exemplo a RBS, uma gigantesca e poderosa medusa, com tentáculos em todas as áreas, que conduz a informação em um ritmo de agiotagem e perpetua um círculo vicioso e horrendo, onde seus asseclas entrevistam-se e promovem-se (uns aos outros, para deixar claro) à exaustão, como se nada mais houvesse de interessante na área cultural além de seus domínios, deixando toda a produção artística de um estado inteiro em segundo plano. Existe o falatório, inclusive, de que foram ganhos prêmios importantes por funcionários do grupo, em concursos que empresas do conglomerado eram patrocinadoras. Não creio, seria um escárnio muito grande. Não raro encontrar, também, pessoas ligadas a mega-anunciantes como colunistas, bloguistas, sei lá mais o que, com destaque mais que relevante. Crime? Claro que não. Moralmente correto? Claro que não. Enriquecedor para a cultura em geral? Melhor nem responder.
É pouco? Pois tem mais: não bastasse nossa (dos gaúchos) soberba, que expõe o ridículo do que chamamos 'tradição' e - chega a causar-me náuseas - dos tais ideais farroupilhas (referências àquela guerra em que fomos derrotados - iniciada por estancieiros reclamando do preço dos impostos sobre o charque e terminada com uma traição que condenou à morte os guerreiros negros, escravos que lutavam em troca da promessa de liberdade); não bastasse também a já referida imprensa, viciada e corrompida em último grau e a panelinha do meio literário, ainda temos o que certamente é o pior governo que este estado já elegeu. Beiramos a um descompasso oligofrênico com atitudes arrogantes da governadora e um troca-troca de políticos e cargos de fazer inveja a um Bradesco da vida, convivendo com acusações de corrupção que povoam as páginas sujas da imprensa, quase que mensalmente, além do sucateamento absoluto da área cultural. Eu presenciei, por exemplo, a secretária de cultura do estado levar pessoas para ovacioná-la na abertura da feira do livro (2008). É aceitável algo assim? Quando vi um grupo de jovens, todos sentados juntos aplaudindo efusivamente a representante do governo, ousei perguntar com quem haviam ido. A resposta foi direta: com a secretária. Eram estagiários.
Pouco? Pois ainda tem mais. Muito mais. Estamos doentes, somos biltres e nos vemos deuses. Somos como nossa mandatária, arrogantes; somos megalômanos, exibidos e racistas. Somos gananciosos e não temos vergonha, afinal, nos vemos deuses. Nos intitulamos os mais politizados (é piada? Só pode ser), os mais bonitos, os melhores, os mais machos, enfim... e somos verdadeiramente um bando de preconceituosos com sérios problemas de autoafirmação.
Tenho mais leitores em Recife, uma cidade que fui uma única vez de férias e não conheço ninguém, do que em Porto Alegre, onde moro há trinta anos, trabalho, estudo e tenho dezenas de amigos. Sinto orgulho disso. Provavelmente depois desse texto, terei mais leitores em qualquer lugar do que aqui, mas, creiam, sentirei orgulho também.
Não quero compactuar com o que considero errado. Não pertenço a essa corja. Não quero essa gente. O resultado de tudo isso? Desânimo. Vontade nem de escrever lista para as compras.
Um único senão: como em tudo mais, claro que a generalização é covarde e errada. Mas creio que ficou explícito que falo do que chamamos de "formadores de opinião", dos poderosos, dos donos da mídia, dos patrões do cabresto cibernético, e não do povo, suado e trabalhador, que em sua maioria, nem acesso à cultura possui. Se bem que... Deixa assim.
Desculpem os leitores (principalmente meus amigos portugueses e africanos) pelo assunto tão local e com um foco tão miúdo, mas, encarem isso como um desabafo, uma carta de rompimento. Relevem também, por favor, meu "azedume".
A frase do título, infelizmente, não é minha. Mas vou adotá-la.
17 comentários:
Escrever é osmótico.
Concordo e acredito que precisamos fazer alguma coisa para, ao menos, tentar mudar, um pouco que seja, esse panorama.
Abraços,
Realmente um desabafo. A panelinha dos poderosos, "bonitinhos" e endinheirados, não menos ordinários. Muitos de talento questionável. Gente asquerosa, auto-insuflável e um governo burro, nada inovador, mas Beto, no frigir dos ovos, infelizes, podes ter certeza!
Abraço!
Infelizmente tenho que concordar com quase tudo... Mas, quanto ao regionalismo, acredito que tenha muito a oferecer...
iNFELIZMEN]]]]]]
Concordo, amigão, mas a parte mais triste disso tudo é que em outros lugares não é nada diferente não.
Solução?
Rir.
E focar em quem não faz parte das generalidades.
Beijo meu!
Beto,
você já conhecesse duas pessoas em Recife, Marino Abreu e Marília Dantas, da ALUGUe-books.
Por sinal eu, Marino, li seu livro e adorei. E agora sou leitor assíduo de seu blog, gosto do seu jeito de escrever.
Sempre que quiser voltar a minha cidade, Recife, poderá vim, as portas estarão sempre abertas.
Se precisar de um guia para conhecer a cidade, pode contar comigo.
Digo que gostei...
Bjs
Carpe Diem!!
Eu até discordo na área da política, pois tivemos governos piores, mas, no restante, concordo com tudo. E as panelinhas não são somente na literatura. A "elite" , antes os estancieiros, hj esses que aí estão, vão com uma gana desesperada, como se famintos fossem. Ganância, nada mais.
Desculpa, não assinei.
Onofre.
Achei que isso fosse coisa de Caxias, do interior. Que pena...
A frase do título parece coisa do filme de Robert Zemeckis "Back to the Future". Será que vivemos num mundo que é uma imensa ficção, um pouco louca, um pouco científica e quase nada de uma nem de outra?
Deitar a porcaria para fora de nós só pode fazer bem à alma.
Se não fazes parte do círculo de fogo, estas quase perdido. Mas só não vale desistir. Bj
Duras, mas belas e verdadeiras palavras!
Jussára
Duras, mas belas e verdadeiras palavras!
Jussára
betão, esse seu post vale ouro.
e garoto, eu realmente não sei o que fazer para te dar um up, então, acho que vou ficar aqui no meu cantinho, matando gente no papel saca.
sorte, luz e sangue, sempre.
Nem sei se existe e onde é, lugar diferente do que li por aqui. Microcosmos em caos.
Beijos, Beto.
Beto, tu não está sozinho não. Concordo com absolutamente tudo o que disseste. O tradicionalismo é sim senhor um movimento megalomaníaco, alienante por excelência, com atitudes que beiram a uma espécie de imperialismo cultural, e sem falar que adora andar de braços dados com a direita para conseguir verbas públicas (além da afinidade ideológica, é claro). Quanto à RBS, é sim senhor um espelho da concentração perniciosa de poder midiático tão comum em nosso país e seus nefastos efeitos disto decorrentes. Já o governo da Yeda: restam dez mêses para acabar (ufa). Felizmente passa rápido.
Então Beto, aguenta firme na trincheira e fique certo que nem todos comungam com a arogância de nossos pares e como tudo o que aí está.
Abração.
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