«Caros Amigos,
Venho partilhar mais esta maravilha do desrespeito pela pessoa deficiente. Na Rua da Prata, em pleno coração da cidade de Lisboa, que se quer moderna e integradora, na esquina com a Rua de S. Julião, estão a ocorrer, em cada um dos passeios, obras em imóveis, levadas a cabo, penso eu, por privados. O cuidado foi tanto ou tão pouco que eu, que me desloco exclusivamente por cadeira de rodas motorizada, não consigo transitar naquela rua.
Nas primeiras vezes, procurei atravessar a rua para o outro passeio, sem êxito, e, com sorte, as obras até são em frente a uma esquadra de polícia e um dos seus elementos dessa força foi suficientemente simpático para afastar o trânsito enquanto circulava pelo meio da rua. Mais tarde, como bom Português, resignei-me à inelutabilidade destas situações e à impossibilidade de alterar este estado de coisas e acabei por encontrar circuitos paralelos por outras ruas, mesmo quando o meu destino é a própria rua da Prata!
Mas, desculpem o desabafo, porque tem de ser assim? Porque não nos resta senão a inamovibilidade destes egoísmos de privados e a ausência de Poder Público, cuja preocupação primeira deveria a de regular estes abusos?
Também os Poderes Públicos dão, nesta matéria e nesta mesma zona, péssima imagem e falta de sensibilidade às especificidades e necessidades de todos. Com as obras da Câmara, assisto impávido à colocação (temporária?) de paragens de autocarros da Carris em locais sem passeios que me obrigam descer em rampas a pique, devido à ausência de lancil de apoio, e ir procurar paragens em locais que já não sejam objeto de obras, para poder subir para dentro dos autocarros.
Sem cuidados mínimos nestas áreas, não há política de promoção de mobilidade que valha, por muito que constem de preâmbulos de leis e decretos-lei ou em programas de ação!
O Munícipe de Lisboa,
João Miguel Simões»