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27/12/2009

Eléctrico 28 tem Pessoa como parceiro de viagem

Os passageiros do eléctrico 28, em Lisboa, são, pontualmente, surpreendidos por um grupo de jovens que recita poesia de Fernando Pessoa. O "Circuito Pessoano" é interpretado por alunos de uma escola profissional.

O circuito do Eléctrico 28 é um dos mais emblemáticos cartões de visita que Lisboa oferece aos turistas. Todo o estrangeiro que passa por Lisboa tem que viajar pelo menos uma vez naquele eléctrico amarelo que percorre uma boa parte da zona histórica da cidade. E ultimamente têm sido surpreendidos com poesia em movimento: grupos de alunos do 12º ano da Escola Profissional Almirante Reis têm subido a bordo do eléctrico para recitar poesia de Fernando Pessoa.

A iniciativa visa celebrar o 74º aniversário da morte do poeta e pretende "dar a conhecer poemas do ortónimo e de heterónimos de Fernando Pessoa, permitindo a interacção entre diferentes públicos, partilhando sensações e emoções".

A reacção dos passageiros é, regra geral, muito positiva. "As pessoas reagem com entusiasmo e admiração", confessa, ao JN, Ana Sofia David, professora de Português e uma das responsáveis pelo projecto. "Acontece uma coisa fantástica: se o eléctrico vai com muito barulho, as pessoas começam a falar mais baixo ou calam- -se", descreveu. "Os turistas", prosseguiu "ficam encantados, tiram fotografias e recebem alguns folhetos com poemas do Fernando Pessoa em inglês".

As próprias alunas, com idades que oscilam entre os 17 e os 18 anos, não disfarçam o entusiasmo pela sua participação. "Tudo o que seja sair da sala de aula e vir cá para fora acaba por ter impacto", concorda a professora, frisando que "a poesia quer-se assim nas ruas" e que a juventude "tem que perceber que a poesia está em todo o lado".

Apesar de admitir que alguns dos alunos da escola "não têm muitos hábitos de leitura de poesia", Ana Sofia David tem esperança que iniciativas destas possam ajudar a mudar o cenário: "Acabámos por conquistá-los assim".

Numa das últimas viagens, que o JN acompanhou, Dalila Oliveira, estudante, de 17 anos, foi particularmente brilhante ao ler "O Nevoeiro", perante o sorriso dos portugueses e de um casal de turistas asiáticos com olhar de espanto enquanto filmavam.

O próprio trajecto do eléctrico 28 desenha-se por uma série de lugares associados à vida e obra do poeta. O grupo entra junto à Voz do Operário, não muito longe da nova Galeria Fernando Pessoa no Campo de Santa Clara. Minutos depois passa perto do emblemático café Martinho da Arcada. Segue para o Chiado, passa pela estátua à frente da Brasileira, pelo Casa Fernando Pessoa, em Campo de Ourique, e, por fim, termina a sua marcha junto ao Cemitério dos Prazeres, onde Fernando Pessoa foi sepultado a 2 de Dezembro de 1935.

In JN

09/01/2008

Câmara pondera museu no Martinho da Arcada

In Diário de Notícias (9/1/2008)
LEONOR FIGUEIREDO*

«A vereadora da Cultura da Câmara Municipal de Lisboa, Rosália Vargas, que representou o presidente da autarquia no 226.º aniversário do café Martinho da Arcada, revelou ao DN: "Embora não haja compromisso formal, temos abertura para poder discutir a forma de ali se fazer um museu pessoano."

A autarca confirmava assim a disponibilidade camarária para tornar aquele local, actualmente um grande chamariz para turistas, mais ligado à história de Fernando Pessoa. Isto porque na segunda-feira se comemorou mais um aniversário do café e, tal como em cerimónias anteriores, foi novamente lançado o desafio, tendo Rosália Vargas declarado, na altura, "não é ideia que se abandone". (...)»

Museu no Martinho? Bom, ali nem seque a feijoada já é boa, quanto mais as honrarias de estar em guias turísticos, etc. Só mesmo por força da memória de Pessoa.

Mais valia a CML pugnar pela defesa das casas onde Pessoa viveu, a começar pelo prédio da Tomás Ribeiro, recentemente vandalizado nos seus azulejos, e, pasme-se, com autorização de demolição passada pela CML, não esta, diga-se, mas a que já passou. Nos «entretantos» a CML andou em «brain storming» sobre o que fazer com o prédio, até que deixou que a especulação estendesse os seus cordelinhos. Agora? Talvez ... mas seria preciso toda uma postura totalmente diferente, o que não parece ser o que se passa. A ver vamos.