Sempre houve a tendência, ao longo do tempo, para aproximar a sensibilidade da poesia. Quando a poesia anda muito próxima de uma experiência vivencial, de uma impressão tingida emocionalmente, logo tal aproximação se faz. O mesmo acontece quando a poesia se aproxima de uma expressão que se encontra marcada pela ambiguidade. É bem conhecida a circunstância de algumas línguas da Ásia Oriental serem imanentemente ambíguas. A ambiguidade que é própria da poesia acaba por incorporar a ambiguidade que existe já na língua que a exprime.
Vem isto a própósito de uma sensibilidade muito especial. Manuel Silva-Terra publicou uma ampla recolha de haiku com o título As cigarras vão morrer. A exiguidade verbal desta forma da poesia japonesa - apresenta-se como uma sequência de três breves versos - não compromete a sua irradiação a partir de uma implícita asociação de imagens. Daí a sua plenitude. (...)
(Fernando Guimarães, JL, 24 de Setembro de 2008)