quinta-feira, 31 de julho de 2008

O Espírito da Coisa - 4

Páscoa
tinta-da-China e colagens sobre papel
100X70cm
2004
Este desenho é fruto de uma experiência técnica. A impossibilidade de encontrar tinta branca com opacidade suficiente para corrigir superfícies cobertas a preto levou-me a utilizar papel branco. Depois de colado, o papel era de novo pintado a preto, continuando a forma anterior. Deste modo, a superfície ganha uma textura estranha e irregular e o desenho evolui de forma algo selvagem e um tanto caótica. Assim explicado torna-se um bocado confuso mas o resultado foi bastante satisfatório e defini uma técnica de desenho que nunca havia utilizado antes.
Desde este desenho passei a utilizar a colagem com alguma insistência apesar de nunca ter produzido outro trabalho com estas características de forma tão assumida e acentuada.
A foto padece dos mesmos sintomas problemáticos que a anterior apesar de ter algumas correcções de brilho e contraste executadas com o Photoshop.

O Espírito da Coisa - 3

Conversa de Cavadores de Enxada
acrílico, tinta-da-China e colagens sobre papel
100X70cm
2004
Este trabalho já esteve exposto na galeria Zé dos Bois numa colectiva aqui há uns anitos, não me recordo bem quando (em 2004 presumivelmente). É uma das minhas primeiras experiências com tão grande misturada de materiais e técnicas. A narrativa até a mim escapa. A leitura desta obra é tão aberta que nem me atrevo a explicá-la. Há ali coisas tão abstrusas que o melhor mesmo é ser o leitor a decidir sobre o seu possível significado. Aliás é assim que deve ser sempre e em cada uma das situações. Afinal de contas, nesta exposição, ando (andaremos) à procura do Espírito da Coisa, seja lá isso o que for.
A imagem é meio estranha pois o trabalho está encaixilhado e tem um vidro a protegê-lo das agruras do tempo o que torna demasiado difícil conseguir uma foto decente. Principalmente para um fotógrafo tão descuidado e desconhecedor como eu.

quarta-feira, 30 de julho de 2008

O Espírito da Coisa - 2

Peacemakers
acrílico e tinta-da-China sobre papel
100X70cm
concluído em Junho de 2004
Pintura realizada nos espaços de aula da escola onde sou professor. Ao longo de alguns meses fui avançando na execução deste trabalho perante alguns dos meus alunos. Por vezes sentavam-se a observar o que eu fazia, trocando ideias e tentando compreender os motivos que me levavam a construir esta imagem.
Em termos iconográficos e iconológicos é bem mais simples que o Tríptico da Salvação. Os "Fazedores de Paz" usam as armas para debaterem as suas ideias. No centro da composição, a remeter para os frisos gregos na forma como alinha as personagens num primeiro plano fechado que apenas tem contraponto numa ruína arquitectónica ao fundo, há uma personagem com um funil na cabeça, símbolo do tolinho da aldeia em alguma pintura medieval (ver Bosch). Essa personagem segura na mão esquerda uma pomba (símbolo da paz) enquanto que, com a mão direita, aponta o céu, invocando a bondade divina. Tem um nariz desmesurado pois, mesmo que inadevertidamente, as suas palavras escondem demasiadas "inverdades".
Tem uma corrente que lhe prende o pescoço à mão de uma personagem inquietante, no canto esquerdo da composição. Essa personagem é o mentor do processo de paz. Veste um fraque e bebe uma bebida fina, num copo muito especial. A sua fisionomia não inspira mais confiança que a das restantes personagens.
No centro, em baixo, há uma outra pomba da paz, esta em mau estado, junto a um cão raivoso. Os inimigos, de ambos os lados, têm um aspecto demoníaco e parecem pouco interessados naquilo que o tolinho da aldeia (global) lhes propõe.

terça-feira, 29 de julho de 2008

O Espírito da Coisa - 1

Tríptico da Salvação
acrílico sobre papel
3 vezes 50X109cm
concluído em Janeiro de 2005
Este painel foi o trabalho mais demorado que me lembro de alguma vez ter executado. Terei trabalhado nele ao longo de, aproximadamente, um ano. Talvez mais. Tem uma iconologia complexa que não vou estar aqui a esmiuçar. A iconografia é mais simples e entendível. Desde a Salvação pela intervenção política e militar, passando pela Salvação conseguida através do sacrifício até à Salvação pela Fé no poder divino, cada uma das 3 partes do painel tem referências mais ou menos directas a personagens fascinantes da História da Arte. Compete ao espectador descobrir essas relações ou se, por hipótese, se estiver a cagar nessa cena faz ele muito bem, que a pintura é para fruir e não carece de grandes explicações para poder ser adquirida por quem a observa.
Ofereci este conjunto de pinturas ao meu irmão e actualmente está exposta na sala de casa dele. Pedi-lha emprestada para O Espírito da Coisa e ele acedeu (que remédio!). É uma peça importante no conjunto do meu trabalho com exploração da cor (acho que nunca pintei nada tão cor-de-laranja como aquele pedaço do painel à vossa direita).

segunda-feira, 28 de julho de 2008

O Espírito da Coisa

A partir de hoje e durante uns dias irei colocar no Carapau imagens referentes à minha próxima exposição a realizar no Contagiarte, Espaço de Sensibilização, Formação e Dinâmica Culturais, Rua Álvares Cabral, 372, Porto, Portugal, União Europeia, Planeta Terra. A inauguração está prevista para o próximo dia 9 de Setembro.

Esta imagem é uma espécie de cartaz que produzi no Adobe Photoshop (benza-o Deus) a partir de uma foto tirada à minha mão sobre a tela que dá o título à exposição.

sábado, 26 de julho de 2008

Guarda-livros

Guarda-livros
acrílico, tinta-da-China e colagem sobre papel
dois mil e qualquer coisa
tamanho A3

quinta-feira, 24 de julho de 2008

O Último Crente


O Último Crente
ou
Herói da Classe Operária
acrílico sobre papel
50X65cm
iniciado em 2002 e retocado recentemente
(Work in progress, como diz o outro)
trabalho incluído em O Espírito da Coisa

terça-feira, 22 de julho de 2008

A Sociedade das Flores (2)


A Sociedade das Flores foi um projecto que abortou. Um espectáculo teatral que não passou de uma incipiente fase de ensaios. Tentámos ressuscitar um cadáver esquisito e o resultado foi um nado-morto. Nada de mais nem de menos. Apenas aquilo, exactamente. Aqui fica um excerto, um monólogo que ainda foi dito e ensaiado uma mão-cheia de vezes pelo André Louro. Apeteceu-me colocar isto no Carapau Staline. Outros textos virão, lá mais para a frente. Não é por nada, mas escrevi estas linhas e não passaram completamente para o "outro lado". Que passem agora.


Cena – Guarda-chuva cor-de-rosa

- Aconteceu e nunca mais me esqueci.
Não tenho bem a certeza de que as coisas se tenham passado exactamente assim mas é assim que as recordo.
Na verdade sei apenas que aconteceu.
Estava um homem deitado ao comprido no passeio, como um cobertor.
Não tinha sangue nem havia sinais de violência. Parecia apenas adormecido, esquecido do mundo.
Os transeuntes passavam pelo homem como se ele não existisse, como se não estivesse ali. Desviavam-se com gestos imperceptíveis, delicadamente.
Havia qualquer coisa de belo em tudo aquilo, a leveza dos gestos das pessoas, a posição do corpo estendido... fiz como os outros, desviei-me, mas os meus olhos prenderam-se àquele vulto amarrotado.
Ao passar por ele torci o pescoço. Não queria perder aquela imagem.
Foi então que um cão se destacou do espaço em volta, como se se tivesse materializado ali, naquele preciso momento. Um rafeiro amarelo e sujo que começou a farejar o homem.
Ninguém olhava, apenas eu parecia assistir ao pequeno espectáculo.
O cão lançou um olhar na minha direcção e rosnou.
De súbito o corpo mole teve um espasmo, contorceu-se e levantou-se de um salto.
O cão ganiu e fugiu, volatilizou-se.
O homem era enorme.
O cabelo comprido e a barba davam-lhe o aspecto de um Cristo medieval, daqueles Cristos juízes, ameaçadores, com um livro numa mão e a outra erguida numa bênção assustadora. Os olhos encovados, bordados com fundas rugas pareciam buracos sem vida. Por um momento tive a sensação de que todo o frenesim da rua havia parado.
Dos olhos do homem jorrou uma luz intensa, brilhavam como faróis e os pés descolaram ligeiramente do chão.
Levitava!
Senti a minha boca abrir-se num esgar de espanto.
Levantou o braço direito, esticou-o em direcção ao céu e subiu em grande velocidade, puxado por um cabo invisível, como um super-herói de banda desenhada.
Vuuuut!!! Desapareceu para lá do topo dos prédios, para lá das nuvens, foi-se embora voando como um míssil.
E começou a chover.
Uma mulher abriu um guarda-chuva cor-de-rosa e tudo na rua recomeçou a funcionar normalmente.
Afastei-me dali com o coração apertado e uma tremenda vontade de chorar.
Foi o que fiz.
Chorei durante 24 horas seguidas e, desde esse dia, nunca mais fui capaz de chorar.

A mulher apaga-se bruscamente.

segunda-feira, 21 de julho de 2008

O Espírito da Coisa

O Espírito da Coisa
Acrílico sobre tela
60X90cm
Julho 2008

quarta-feira, 16 de julho de 2008

segunda-feira, 14 de julho de 2008

Que se f*** a taça!


E se o mundo não for absolutamente real e a realidade nem verdade chegar a ser? Se andarmos a pairar num limbo mal amanhado por um vendedor de sonhos de 4ª categoria há-de ser o bom e o bonito! Estamos nós preocupados (ou não) com a porra da ética mais a puta da estética e,vai na volta, lá no fim, feitas as contas, estivemos sempre a consumir um produto de merda, sem certificado de garantia nem prazo de validade. Que se foda a taça!!!

domingo, 13 de julho de 2008

A Sociedade das Flores (1)

esboço de figurino para o Homem


A Sociedade das Flores foi um projecto que abortou. Um espectáculo teatral que não passou de uma incipiente fase de ensaios. Tentámos ressuscitar um cadáver esquisito e o resultado foi um nado-morto. Nada de mais nem de menos. Apenas aquilo, exactamente. Aqui fica um excerto, um monólogo que ainda foi dito e ensaiado uma mão-cheia de vezes pelo André Louro. Apeteceu-me colocar isto no Carapau Staline. Outros textos virão, lá mais para a frente. Não é por nada, mas escrevi estas linhas e não passaram completamente para o "outro lado". Que passem agora.



Homem-que-é-fogo arde!

Não fumes,
não bebas,
não comas demasiado.
Olha o colesterol!
Não circules sem o cinto de segurança,
não deixes a porta do prédio aberta,
não ponhas o cãozinho a cagar no passeio.
Vives em comunidade… és um ser civilizado!
Respeita o teu vizinho,
respeita-te a ti mesmo,
recicla o teu lixo.

De onde vêm tantas regras,
Que espécie de deus dita tais mandamentos?
É o “senso comum” mas o “senso comum” nada tem de divino!
Longe disso.
Quero fumar, beber, quero comer como um alarve, quero rebentar no excesso e no prazer de o fazer!
Quero sentar-me à mesa do banquete com deuses macabros por companhia.
Alegre e devassa companhia!

Todo o ser vivo não é mais que um moribundo.
A vida é feita para entreter a morte e a morte é mais que certa!

Quero cagar ao lado do meu cão, ali mesmo defronte à porta do meu prédio, perante o olhar inquieto do vizinho do rés-do-chão-frente a procurar na tremura de um gesto o telemóvel para chamar a polícia, os bombeiros, o 112, a protecção civil, a puta que o há-de parir… quero fazer tudo o que me passar pela cabeça e ter ainda tempo para imaginar coisas impossíveis de fazer… e fazê-las!

Ah, como me sufocam a gravata e o fato da Massimo Dutti!
Os sapatos de pele de crocodilo arruínam-me os calos e o after-shave, meu deus, o after-shave leva-me à loucura, provoca-me náuseas, faz de mim um animal enjaulado numa nuvem de agradável odor, faz de mim uma coisa que eu não sou.

É urgente economizar, é necessário abrir uma conta bancária, ter um ecrã plano e uma esposa esbelta e bem vestida para exibir nas festas da empresa.
Quero ser invejado não quero sentir inveja!

Quero?

Quero!!!

Quero ter esta inveja ao contrário que é parecer aquilo que não posso ser.
Caraças, quero… quero… eu quero…

(ouvindo uma voz, responde)
Sim, está quase pronto, é só um minuto, concerteza, desculpe, estava distraído, é para já, só um minuto, um minutinho apenas… estou quase, quase!

quarta-feira, 9 de julho de 2008

Donnie Darko

Donnie Darko tem um filho!!!
desenho, colagem e etc.
tamanho A3

terça-feira, 8 de julho de 2008

Oh, meu Deus!

O mundo está a desfazer-se em merda!

Purple

Reflectindo sobre o destino a dar ao andamento do trabalho.
Um gajo muda de cor!