domingo, novembro 30, 2008
No reino do absurdo
sexta-feira, novembro 28, 2008
O Grande Número... 2
Orgulhosamente Sá
Seja como for, o Bloco está de cabeça perdida e afastou-se de Sá Fernandes. Alegadamente, o seu cavalo de Tróia na autarquia é um animal selvagem e, como tal, precisava de ser abatido ou deixado em liberdade. A gota de água foi Sá Fernandes aparecer no Prós e Contras (RTP1) da passada semana no lado errado da questão moral e cívica – ou seja, ao lado dos maus, a favor do aumento da área dos terminais de contentores em Alcântara. Como pode alguém do Bloco ser “pró” quando a “alma mater” do Bloco é ser do “contra”? Eu acho que Sá Fernandes revela alguma personalidade em não responder apenas pelo partido que o elegeu. O que me incomoda são as respostas que ele agora dá em nome de uma suposta política camarária PS. Ao DN, Sá Fernandes diz: “2009 vai ser um ano de concretização de compromissos”. Para mim significa: “António Costa e a sua equipa desejam um Feliz Natal, próspero ano novo, e por favor votem na gente em 2009!”.
Não sei o que vai acontecer em 2009, mas sei o que não aconteceu em 2008. Não terminaram o túnel do Marquês. Não despoluíram a Avenida da Liberdade. Não reduziram o trânsito na Baixa. Não inauguraram um único parque de estacionamento subterrâneo. Não recuperaram uma piscina, cinema de bairro ou jardim municipal. Não cumpriram o plano original dos edifícios EPUL de Entrecampos serem apenas destinados a habitação. Não pararam de construir no Parque das Nações. Não se resolveu o Parque Mayer. Não terminaram a biblioteca de Aires Mateus no Vale de Sto António (obra parada). Não controlaram o avanço de patrocinadores privados pelos passeios públicos (como se vê pela TMN instalada no Marquês Pombal). E, pior que tudo, não retiraram o vice-presidente Marcos Perestrello de circulação. Ele é a vaidade laroca onde Sá Fernandes é o orgulho predestinado. Prefiro o orgulho de Sá, evidentemente, mas a natureza dos seus movimentos confunde-me. Ainda não percebi se ele é colaborador ou colaboracionista; se é homem de acção ou accionista; se é tiranete ou o “Tiradentes”; se Putin ou o Rasputin. O que sabemos: ele já não é do Bloco. Significa que agora já pode usar gravata?
In Jornal Metro
Um cacique é melhor do que um burocrata
Diante da falta de vontade do Engº Sócrates e dos seus acólitos em dizerem o que realmente pretendem, encomendaram um estudo – espero que tenha sido o partido apagar e não uma qualquer instância académica– a um grupo de universitários, convencidos de que a coisa pareceria “científica”. Como é evidente, os meus colegas não agiram enquanto sociólogos, mas enquanto políticos. Foi isso queA ndré Freire reconheceu, em entrevista ao DN, de 6 de Novembro último, na qual afirma ter-lhe o PS pedido para “não incluirmos círculos uninominais no estudo”. Depois de terem analisado 30 sistemas eleitorais, André Freire, ManuelMeirinho Martins e Diogo Moreira cozinharam uma coisa híbrida, segundo a qual, no momento devoto, seremos confrontados com dois boletins de voto: num, votaremos num partido (círculo nacional); no outro, num candidato(círculo local). Mas não poderei ter o “meu”deputado, visto que, emLisboa - cidade, onde resido, haverá oito, concedendo-me o PS apenas o favor de os poder ordenar, de acordo com a minha preferência.
A acusação mais frequente contra os círculos uninominais consiste em que gerariam uma rede de cacique por esse país fora. A afirmação não me impressiona, pela simples razão de que, pelo menos, um cacique tem de procurar resolver alguns dos meus problemas, ao passo que os actuais deputados-burocratas apenas se preocupam em agradar ao chefe. Ora, quanto mais poder têm os secretários-gerais, menos poder temos nós. É isto que os partidos desejam e que, através da nossa apatia, consentimos. Um dia, “eles” vão-se arrepender; e “nós” também. Pressinto que será tarde demais.
In Meia Hora
quinta-feira, novembro 27, 2008
A prostituição dos monumentos nacionais continua
quarta-feira, novembro 26, 2008
Numa quinta-feira de Novembro, em zonas de 'Prémio António Costa'
Foto 3 -12h51m
A uma dúzia de metros dali, carros, carrinhas e camionetas bloqueiam, e com dupla-fila!!, a saída do pátio-estacionamento do n.º 1 da Rua Frei Amador Arrais, devidamente assinalada com o dístico de proibição.
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Foto 4 - às 12h57m, e durante o resto do(s) dia(s)...
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Alguém sabe quantos destes carros, carrinhas e camionetas foram rebocados, bloqueados ou simplesmente multados em todo esse dia?
Concelhia do BE assume ruptura com Sá Fernandes
«O Bloco de Esquerda (BE) de Lisboa consumou hoje a ruptura com o seu vereador na Câmara de Lisboa, «terminando o entendimento» com José Sá Fernandes, acusando-o de incumprimento de compromissos eleitorais, mas ele promete «continuar a trabalhar (...)»
Nada que não fosse esperado, e que até peca por tardio. Há muito que o Zé passou a fazer parte de uma Lisboa deprimente, aliás desde que se desdisse em relação ao Parque da Bela Vista. Para muitos, trata-se da confirmação de oportunismo e de quem sempre assim procedeu. Para mim, trata-se de uma imensa desilusão. Para outros, será o seu «bispo».
A INÚTIL DECLARAÇÃO
Há uma coisa assustadora que se exige de nós: conhecermo-nos; por isso, fazemos por esquecê-la. Conhecermo-nos, e manter essa memória, pode ser mau ou bom, mas é sempre perigoso. Sei do que falo. A atonia da sociedade portuguesa, o explícito conúbio entre zonas seculares, antagónicas por essência, resultou na irremediável fatalidade de os dirigentes não estarem à altura das nossas urgências e necessidades. Repugnam-me os dez anos "cavaquistas", durante os quais tudo parecia moldado à semelhança do maioral. O que ocorreu nas redacções dos jornais, das rádios e das televisões, com a imposição de uma nova ordem que principiava pela substituição das chefias e a remoção de jornalistas qualificados, mas desafectos ou mesmo dissentes - é uma história sórdida, e esquecida por muitos. Assim como o encerramento político de importantes títulos da imprensa, em nome da "desestatização" e do "pluralismo". O autoritarismo, consequência do medo e da insegurança, cria os seus próprios medos e inseguranças. O documento de Belém não representa a instância de um protesto nem constitui o esclarecimento de coisa alguma. É a imagem de um homem. Daquele homem.
Baptista-Bastos
In Diário de Notícias
segunda-feira, novembro 24, 2008
Comentários
A meu ver, o actual PUALZE pouco ou nada difere das versões anteriores, ou seja, continua a partir de premissas erradas e a abusar de um cinismo inaceitável. Ou seja, ainda:
1. As tais de medidas preventivas do PUALZE nunca vigoraram nem vigoram, e quando vigorarem nada haverá já para prevenir (ex. Rosa Araújo, Duque de Loulé).
2. A CML continua a assentar todo o seu raciocínio urbanístico em premissas erradas, senão criminosas do ponto de vista estético: alinhamento de cérceas, prédios 'travestidos', harmonização volumétrica, etc.
3.A U.E. proíbe habitação em zonas tão poluídas como a Avenida e, portanto, a CML abdica de criar condições para a volta da habitação e tudo faz para que os serviços continuem e cresçam, mesmo.
4.A CML continua a ter um entendimento completamente errado em relação ao automóvel e não hesita em, com base em estudos caricatos (porque usando de metologias que apontam na necessidade de cobrir um défice de oferta de estacionamento a residentes na ordem dos 45.000 lugares (devem ter perguntado, porta a porta: 'quantas pessoas moram aqui? 4? então, 4 carros, 4 lugares de estacionamento), promover 5 parques de estacionamento subterrâneos no eixo do PUALZE [(2x 260 lugares subterrâneos defronte ao Cinema Tivoli e ao BBV/Armani/Barata Salgueiro +150 lugares Tv. Stª Marta + 150 no Lg. Oliveirinha (este caso é de uma clara parvoíce, pq aquela zona devia ser simplesmente fechada ao trânsito e estacionamento!!!) + 600 lugares sob o Mercado do Rato (pergunta-se: quem dos 600 carros vai trabalhar para a zona da Avenida? É um argumento completamente inverosímil) mediante protocolo com a Auto-Industrial (dá vontade de dizer à CML que, então, pegue nesse protocolo e use-o para compensar o Sr. Diogo Vaz Guedes do mono do Rato...]. Será tudo muito bonito em termos de construção civil, mas que se avizinha um aumento exponencial de entrada de carros no eixo da Avenida, lá isso ninguém duvide.
5. A Circular das Colinas deixa de estar explícita e passa a subliminar, e há que ser lida em 'diagonal', de nascente a poente... Em vez de pugnar por uma melhor utilização das vias já existentes e subjacentes a esse conceito de diagonal, corrigindo o Gestrude, por exemplo, e impedindo a circulação de autocarros poluentes desde o Marquês, nada.
6. A CML é de um cinismo insuportável ao falar da Rosa Araújo como sendo uma artéria cujo edificado é de grande valia para a cidade e que importa preservar. Talvez seja por isso que a CML autoriza e promove 7-9 empreendimentos/projectos como o que estão em curso nessa mesma artéria, que se caracterizam pela demolição de interiores de prédios centenários, ampliações e alterações profundas várias, esventramento de valiosos logradouros, etc., que decorrem de décadas de abandono e especulação imobiliárias, de promotores bem conhecidos e que com a actual prática da CML saltam da gaveta num ápice: nova sede do BES; vivenda de Ventura Terra/Fund. Medeiros e Almeida; 'Hotel dos Trindade', edifício gaveto Rosa Araújo/R.Mousinho da Silveira; edifício gaveto Rosa Araújo/R.Castilho e edifício de Biggaglia, mais ao cimo, junto à Rodrigo da Fonseca. Eu diria, mesmo, que este PREC ('Reabilitação') é do mais fino recorte alguma vez executado.
7. Mais cinismo quando se refere que há 'anarquia no estacionamento à superfície'. Se há anarquia (pelo que conheço da zona e conheço bem, não creio que seja assim, e além do mais já há estacionamento subterrâneo a mais na zona da Avenida), isso deve-se à CML e à Polícia. Por outro lado, a CML não aprende com o exemplo do parque de estacionamento dado ao Sporting na Mousinho da Silveira, ao tempo de João Soares. Além de ser uma operação altamente nebulosa, não serviu para nada (pois está sempre às moscas) mas apenas para esventrar e descaracterizar uma rua que era bonita e que tinha em toda a sua extensão magníficas olaias. Neste momento é um deserto confrangedor. E também nessa altura, a CML dizia mundos e fundos… e tudo está pior.
8. Finalmente, pela parte do património e da cultura (que acho ser um todo e não uma coisa marginal para acariciar em ano de eleições…), acho inconcebível que este PUALZE não tenha nenhuma referência, nem preocupação nem nada quanto ao estado deplorável que é ver uma Avenida da Liberdade com apenas o Tivoli e o São Jorge a funcionar, quando estão, com uma única esplanada aberta a essa hora, com lojas fechadas; em que coisas como a Cinemateca, o Palácio Foz e as Portas de Santo Antão funcionam como se esta zona fosse compartimentada. A Avenida tem que ter restaurantes com esplanada nos passeios laterais que se pretende agora pedestres. Mas a Avenida tem que ser ‘atacada’ juntamente com os Restauradores e com as Portas de Santo Antão. Ex. é ridículo o PUALZE mencionar o Pátio do Tronco, como sendo de reabilitação urgente, etc. e ignorar o Odéon, cuja fachada, aliás, é contígua ao Pátio do Tronco. Que outra cidade que não Lisboa se permitiria ter o Odéon no estado em que ele está e ignorá-lo num PUALZE?
Passatempo com prémio
domingo, novembro 23, 2008
XAU, ZÉ!
(Foto)
(publicado no Tomarpartido)
sábado, novembro 22, 2008
A falta de dinheiro nos bolsos dos compradores-tipo; o facto de ser obrigada a fechar aos domingos à tarde (tendo mais de 2000 m2 era tratada como uma loja de electrodomésticos); o ambiente pouco acolhedor, apesar de agradável (não, não é um paradoxo...).
sexta-feira, novembro 21, 2008
Mais contentores
Nesta coisa da triplicação do terminal de contentores de Alcântara, a coisa mais curiosa, caricata, mesmo, é que toda a gente reconhece (pró e contra) que aquela é apenas a solução mais baratinha e mais fácil e rápida de resolver o problema da APL. Ou seja, que daqui a 30 anos, se esta prorrogação for avante, os que ainda estiverem (e Deus queira que sejam muitos) e os que hão-de vir ('há-dem') terão o mesmo problema pela frente, só que agravado de três realidades inquestionáveis:
1. O esgotamento completo e de facto (que aliás será uma realidade bem antes) do TCA, entretanto triplicado.
2. A necessidade em construir de raiz noutro sítio (Lisnave?) um novo terminal de contentores.
3. O aumento exponencial dos custos de tal investimento que dos mil milhões previstos hoje, passarão a biliões nessa altura.
Seja como for: não há direito que se perca uma oportunidade como a presente para se fazer um investimento de fundo, com cabeça, tronco e membros, e se enxote para as gerações futuras esse encargo. Mais uma vez, é uma solução à portuguesa, 'provisória'. Quem paga?
A bolsa ou o desemprego
Desloquei-me até à frente do comboio, tentando ver se este tinha o número igual ao do bilhete, mas, nada tendo descoberto, decidi aguardar na plataforma, comreceio de ir parar a Torre de Moncorvo. Como a chuva se intensificasse, tentei detectar a minha carruagem, mas nenhuma ostentava o dístico de 1ª classe. Notei finalmente a existência de uma intitulada “Conforto”, um eufemismo para aquilo que buscava.
Uma vez lá dentro, tentei ler um romance, até perceber que a música ambiente impedia a concentração. Olhei o relógio pregado na parede da estação: um papel dizia estar “Fora de Serviço”. Eram 16h49 quando começaram a chegar outros passageiros. Nenhum trazia livros: apenas laptops, revistas e telemóveis. Do mal o menos: às 17h02 já eu atravessava a Lisboa solarenga, convivendo, mal, com os prédios que, ao longo das décadas, se foram construindo. De novo, parámos: era a Gare do Oriente. Olhei a estação desenhada por Santiago Calatrava, paredes-meias com couves galegas em quintais desordenados.
À minha frente, sentou-se uma rapariga de cabelo oxigenado, unhas escarlate escuro e chinelas de salto altíssimo. A certa altura, o seu telemóvel tocou. Ela respondeu: “Sabes, durante estes dias, estive a pensar e decidi candidatar-me a uma bolsa de doutoramento da FCT (Fundação da Ciência e Tecnologia).”Do outro lado, alguém rosnou, ao que, na sua voz esganiçada, ela retorquiu: “Bem sei,mas, que queres, não arranjei mais nada…”Quem não pode ou não sabe, vai para doutorando. Não admira que os estudantes estejam desmotivados e desesperados quem tem de os leccionar.
Maria Filomena Mónica
In Meia Hora
quinta-feira, novembro 20, 2008
Em 2009
Tal qual tem sido sempre e será (até quando?):
Eleições = campanhas eleitorais = obras públicas = construção civil = keynesianismo primário = financiamento partidos = cliques = eleições. Resto zero.
Foto
O Presidente
Em suma, espectáculo, asneira e fatalismo, eis o Portugal de hoje. Com raras excepções.
O actual Presidente da República, nas suas intervenções pretéritas como nas actuais, tem tido uma constância de pensamento e actuação muito rara entre nós: puxa o País para cima. Recentemente veio defender a manutenção do investimento público e do investimento privado rentáveis e sublinhou fortemente que as crises trazem oportunidades. Tal como, enquanto Primeiro-Ministro, nunca deixou de insistir que Portugal devia integrar o pelotão da frente no âmbito da União Europeia.
Goste-se ou não da figura do actual Presidente da República – e confesso já que sou parcial – é reconfortante ter na primeira figura do Estado um Homem com princípios, com valores, que não se demite de intervir, não perde um segundo com a pequena política e é absolutamente imune aos deslumbramentos do poder. Coisa rara nos dias que correm.
As intervenções sobre Educação, Forças Armadas e o Estatuto dos Açores provam que existe um Responsável pelo regular funcionamento das Instituições, que conhece e estuda os problemas do País, mas também alguém que para lá do espectáculo mediático puxa pelo País, sublinha os seus exemplos de excelência, aponta-os, não se resigna, tudo sem nunca pôr em causa a necessidade de Instituições fortes, o que só é mesmo permitido aos que são fortes. O nosso problema sistémico vem muito da pequenez que não suporta junto de si a excelência e, claro, a coisa repercute-se aos mais variados níveis. A falta de preparação, quando não a ignorância atrevida de muitas equipas decisórias, nos mais diversos níveis, chega a enjoar. Quando não se fala a mesma língua, por ignorância, ninguém se entende.
Ao menos temos um Presidente com substância e imune à espuma dos dias.
Paula Teixeira da Cruz
In Correio da Manhã
quarta-feira, novembro 19, 2008
SENTIMENTO DE ADMIRAÇÃO
Chegado por email:
«Notícias publicadas na imprensa nos últimos dias dão conta de que Joana Morais Varela foi suspensa das funções de Directora da Colóquio/Letras. Os signatários entendem que o sentimento de consternação — inevitável e mais do que isso apropriado e justo — não deve exceder o de admiração pelo original, profundo e inovador trabalho que Joana Morais Varela ali desenvolveu.
Hoje a única sobrevivente do conjunto de revistas de que a Fundação Gulbenkian foi proprietária, a Colóquio/Letras transformou-se no mais importante órgão de difusão, estudo e crítica da literatura em língua portuguesa, presente e actuante em todos os centros de cultura portuguesa no mundo. Mantendo-se fiel ao modelo original da revista e ao espírito de colóquio entre ideias e correntes diferentes, avessa a polémicas e alheia a interesses imediatos e particulares, a Colóquio/Letras tem sido um modelo de publicação imaginativa, livre e rigorosa. De edição irrepreensível, elevada qualidade ensaística e literária e notável apuro gráfico, a Colóquio/Letras conseguiu a proeza de se ter constituído em objecto cobiçado e precioso sem perder a dignidade e a elevação intelectual. É irrecusável que essa transformação por que a revista passou se deve à visão, à tenacidade e à dedicação de Joana Morais Varela.
O sentimento de admiração é raro. Mais raras ainda as ocasiões para o manifestar em público e com entusiasmo. Os signatários não querem perder esta.
Lisboa, 11 de Novembro de 2008
Abel Barros Baptista, Alcir Pécora (São Paulo), Alexandre Pomar, Almeida Faria, Amélia Pais, Américo António Lindeza Diogo, Ana Catarina Gualberto, Ana Catarina Rocha, Ana Cristina Leonardo, Ana Luísa Amaral, Ana Matos Pires, Ana Patrício, Ana Pegado, Ana Pires, Ana Sofia Couto, André Benjamim, Antonio Sáez Delgado, Augusto M. Seabra, Baptista-Bastos, Carina Infante do Carmo, Carla Maia de Almeida, Carlos Bessa, Carlos Câmara Leme, Carlos Eduardo Gouveia, Carlos Gil, Carlos Manuel Ferreira da Cunha, Carlos Severino, Catarina Sousa Carvalho, Clara Rowland, Cláudia Madaleno, Cristina Moreno (Brasil), Cristina Nobre, Daniel Ferreira, Diná Félix, Duarte Pestana, Edgard Pereira (Belo Horizonte), Eduardo Pitta, Eduardo Sterzi (São Paulo), F. Almeida Ribeiro (Estugarda), Fernanda França Garrido, Fernanda Leitão (Toronto), Fernando Cabral Martins, Fernando J. B. Martinho, Fernando Matos Oliveira, Fernando Venâncio (Amsterdam), Filipe Canas da Silva, Francisco Fortunato, Francisco Guimarães Cunha Leão, Francisco José Viegas, Gil de Carvalho, Guilherme Pires, Gustavo Rubim, Heitor Araújo, Hélder Marques, Helder Moura Pereira, Helena F. Monteiro, Helena Roseta, Helena Vasconcelos, Helga Moreira, Henrique Segurado, Horácio Torres Peixoto, Isabel Alves, Isabel Margarida Pereira, Isabel Zuzarte Guedes, Jaime José Morais, Jaime Loff, J. L. Saldanha Sanches, Joana Capucho, Joana Matos Frias, Joana Villaverde, João Carlos Alvim, João Filipe Bugalho, João Gonçalves, João Marques, João Paulo Sousa, João Rasteiro, João Reis Ribeiro, João Tigeleiro, Joaquim Carlos da Rocha Santos, Joaquim M. Margarido, Jorge Fernandes da Silveira (Rio de Janeiro), José António Almeida, José Carlos Alvarez, José Carlos Pereira, José Luis Pinto, José Manuel da Silva Mendes, José Miranda Justo, Juan Manuel Bonet (Madrid), Laura Castro Caldas, Laura Mateus Fonseca, Levi Condinho, Liberto Cruz, Luisa Jacobetty, Luís Amaro, Luís Barata, Luís Broegas Amaro, Luís Gomes, Luis Manuel Gaspar, Luís Mourão, Luis Novaes Tito, Luís Soares, Mafalda Ivo Cruz, Mafalda Lima, Manuela Vaz, Manuel António Pina, Manuel Margarido, Mariana Pinto dos Santos, Maria Andresen, Maria Antónia Oliveira, Maria da Conceição Caleiro, Maria João M. Pires, Maria Jorge, Maria José Catarino, Maria de Lourdes Sampaio, Maria Nobre Franco, Mário Guerra Cabral, Mário Lisboa Duarte, Marta Viegas, Miguel Falcão, Nelson de Matos, Nuno Vidal, Osvaldo Castro, Osvaldo Manuel Silvestre, Paula Cabeçadas, Paulo Cintra Gomes, Paulo Ferreira, Paulo Franchetti (Campinas), Paulo Pena, Paulo Simões Mendes, Pedro Eufrásia, Pedro Garcia, Pedro Mexia, Pedro Miguel Gon, Pedro Serpa, Pedro Serra (Salamanca), Rafael Mota Miranda (Florianópolis), Reis Morais, Rita Basílio, Roberto Vecchi (Bologna), Rosa Maria Martelo, Rosa Oliveira, Rui Caeiro, Rui Fonseca, Rui Guerra, Rui Manuel Amaral, Sally Baker (USA), Sandra Silva, Sara A. Costa, Sara Afonso Ferreira, Sara Figueiredo Costa, Sarah Adamopoulos, Simão Rubim, Tânia Raposo, Tiago Sousa Garcia, Tomás Vasques, Torquato da Luz, Vasco Rosa, Veronica Stigger (São Paulo), Vincenzo Russo, Vítor Manuel Coelho da Silva, Vitor Silva Tavares.
Quer assinar também? Basta clicar aqui, escrever o que lhe apetecer, ou simplesmente a palavra assino.
posted by Amigos da Colóquio»
terça-feira, novembro 18, 2008
Belezas de Lisboa
segunda-feira, novembro 17, 2008
A loucura invadiu o Ministério da Educação
A Direcção-Geral dos Recursos Humanos acaba de enviar aos professores-avaliadores, isto é, aos docentes escolhidos para determinar o mérito dos colegas, um opúsculo tendo como título “As Dinâmicas Organizacionais da Escola”, no qual os primeiros são convidados a “reconhecer a importância dos processos de auto-análise (sic) no desempenho das funções de liderança”. Como folheto, vem um questionário, com 56 perguntas, supostamente destinado a ajudar os professores-avaliadores no freudiano exercício de se questionarema si próprios, a fim de descobrirem “o seu estilo de liderança”, através de – gesto típico da mentalidade que subjaz aos actos daquele departamento – respostas susceptíveis apenas de dois sinais, “verdadeiro” e “falso”.
Mais uma vez, os docentes são tratados como autómatos e a escola reduzida a uma realidade mecânica. Não contente com os anteriores disparates (ver as grelhas de avaliação a serem utilizadas), a Direcção-Geral pretende que os professores-avaliadores respondam a perguntas reveladoras da sua atitude quanto a vários temas: um dos quesitos incide sobre a sua predisposição para vestir roupas “vistosas, boémias ou que chamassem a atenção de qualquer forma”.
Um tempo houve, o do Estado Novo, em que as professoras eram impedidas de se maquilhar. Dada a natureza do regime, isto fazia sentido. Mas, em democracia, que legitimidade tem o Ministério para indagar coisas que são do foro da vida privada? No clima em que se vive, já não sei em que acreditar. Tudo, mesmo as coisas mais surrealistas, se tornaram verosímeis.
Maria Filomena Mónica
In Meia-Hora
«O vale de Alcântara e o interesse público»
In Público (16/11/2008)
José Sá Fernandes
«Devia ter havido concurso público para a concessão do porto, após 2015, mas temos tempo para discutir sem medalhas nem louvores antecipados
1. Traços históricos
Durante mais de 120 anos, foram sucessivamente executados diversos projectos de grande dimensão na zona, sem contudo ter havido qualquer articulação com o sistema ecológico do vale de Alcântara. No último século, ao sabor de cada iniciativa, foi-se escalavrando o sítio e desenvolvendo bairros isolados (Serafina, Liberdade, Cabrinha e Loureiro), desde as linhas de comboio de Cascais e de Sintra (ambas do fim do séc. XIX), passando pelo Caneiro de Alcântara (1943-67), Avenida de Ceuta (anos 60), a Ponte sobre o Tejo (anos 60), extensão do cais (anos 80), Eixo Norte-Sul (anos 90), até ao recente alargamento da ETAR de Alcântara. E o erro, independentemente da valia de cada uma das obras por si, foi sempre o de não se perceber que ao mesmo tempo tinha que se fazer cidade e respeitar a natureza do local, daí as inundações, o caos urbanístico, o trânsito, o afastamento da cidade do rio.
2. As novas obras
Fazer a ligação ferroviária da Linha de Cascais à Linha de Cintura seria, em termos de ambiente e de mobilidade dos cidadãos da Área Metropolitana de Lisboa, um avanço extraordinário, que deve ser ponderado, qualquer que seja o destino do cais de Alcântara. Proporcionar ligações no mesmo transporte entre Cascais e a Expo significará certamente melhor conforto, mais rapidez, melhor mobilidade, mas, sobretudo, menos trânsito na cidade. Pela dimensão e impacto da obra, o seu projecto tem que ser profundamente estudado, mas quanto a isso o LNEC já está a trabalhar, tendo caracterizado toda a zona, como nunca foi feito antes, conhecendo-se agora os terrenos e comportamento das águas.
Quanto ao projecto de alargamento do cais de Alcântara e respectivo aumento de capacidade, sou defensor que continue a existir um porto forte e competitivo em Lisboa e que haja a possibilidade de cargas e descargas de contentores. Para isso existem dois sítios: Alcântara e Santa Apolónia. Ora, porque não há outros nesta margem do Tejo, julgo, salvo melhor opinião, que ambos devem continuar. Mas deve exigir-se ordenamento, limite de altura e eficácia no escoamento. São exigências da própria cidade, não podendo continuar a existir enormes paredes de contentores, como hoje acontece.
Aqui, diga-se que a hipótese de demolição de imediato de duas construções existentes no porto, à frente do cais do Espanhol, merece desde já aplauso, considerando-se que é um ganho que não se deve desperdiçar.
É evidente que qualquer daquelas obras, a poder ser feita, aliás como qualquer outra, como as que estabelecerão o desenho urbano em Alcântara, têm de ser analisadas em conjunto. E por isso mesmo tem de se exigir desde já, ao Governo, que o LNEC faça esse acompanhamento. Até porque, face ao trabalho que agora está a desenvolver, é a única entidade que poderá prever os impactos em cadeia das sucessivas intervenções.
No âmbito destes projectos, há ainda dois aspectos fundamentais a ter em conta: a sua viabilidade económica e a sua discussão com os cidadãos, mas também isto está assegurado no âmbito do processo de avaliação de impacto ambiental em curso.
3. A vereação do Ambiente
Entretanto, após diversas reuniões com as entidades e empresas envolvidas nos referidos projectos - Refer, APL, Liscont, concessionários das Docas e LNEC - conseguiu-se um entendimento que há anos se ambicionava para Lisboa: a necessidade de um estudo articulado e integrado do sistema ecológico do vale de Alcântara.
Aconteceu, pois, um passo de gigante na maneira de pensar e projectar a zona: garantiu-se que pelo menos desde Campolide até ao cais de Alcântara seja estudado um corredor verde contínuo que cosa os locais, que tenha escala humana e que respeite a estrutura hidrológica existente, aqui através da formação de bacias de retenção e de uma linha de água paralela ao caneiro para apanhamento de águas pluviais, isto de acordo com o conceito continuum naturale defendido pelos mestres Francisco Caldeira Cabral e Gonçalo Ribeiro Telles. Não se trata apenas de emendar os erros do passado, mas sobretudo de preservar esta estrutura ecológica fundamental.
No âmbito das referidas reuniões, garantiu-se também que esse corredor possa terminar num amplo largo de utilização pública, junto da gare marítima de Alcântara, e abriu--se a porta para que uma praça seja feita atrás da mesma, colada ao rio Tejo, sítio hoje em parte ocupado por contentores. Permite-se assim que o corredor pretendido termine num espaço, também ele, para as pessoas e das pessoas.
Ponto que também ficou assente, aliás, como não podia deixar de ser, é que não se mexia na zona, enquanto a avaliação de impacto ambiental conjunta não estivesse concluída. Importava, pois, analisar a questão na sua real dimensão, envolvendo todo o vale de Alcântara, e não reduzir o assunto a um problema de avaliações estratégicas sobre transportes, como pretende a sra. vereadora Helena Roseta.
4. Última nota
Estas actuações inserem-se no âmbito de duas vitórias conseguidas por este executivo: o acordo para que vastos territórios da frente ribeirinha, actualmente sob a jurisdição da APL, passem para a gestão da CML e a aprovação das medidas cautelares do Plano Verde.
Defendo que devia ter havido concurso público para a concessão do porto, em Alcântara, após 2015, mas uma coisa é certa, temos tempo para todos discutirmos as matérias atrás referidas, sem medalhas nem louvores antecipados, mas apenas com o intuito de prosseguir o interesse público.
Vereador do Ambiente, Plano Verde e Espaços Verdes na CML»
Ainda estou na dúvida sobre quem assina este texto: se um homónimo do vereador eleito pelo BE, se um heterónimo do 'ministo jamé'; já do título tenho a certeza que devia ter sido antes: foi você que pediu um prato de lentilhas?
sábado, novembro 15, 2008
Castelo de S. Jorge e História
Carta do cruzado R. com base nas traduções referenciadas na lista de fontes. Com a pregação da segunda cruzada por São Bernardo de Claraval, em 1146 na basílica de Vézelay, com intenção de enviar um grande exército para defesa dos territórios francos na Palestina atacados pelos turcos seljúcidas, uma parte das forças de cruzados, que do Nordeste da Europa se dirigiam por mar para o Médio Oriente, foram aliciados a ajudarem o mais recente rei da Cristandade, D. Afonso Henriques, a combater os infiéis.
Podia fazer um frio de rachar calhaus, uma ventania de fim do mundo e do céu desabarem milhares de litros de água, que o Luzinhas não arredava pé do meio do passeio, o olhar parado fixo nas figuras alusivas feitas de lâmpadas. Às vezes, lá vinha um lojista puxá-lo para o abrigo de um toldo, mas era como se ele nem sentisse a tormenta. Só tinha mesmo olhos para as luzes.
Quando calhava alguém parar a seu lado a apreciar as iluminações, era como se o Luzinhas tivesse encontrado uma alma gémea. Tocava levemente no ombro da pessoa, levantava o braço, apontava para o ar e balbuciava: "O anjinho..." , "O presépio...", "O Menino Jesus...".
(...)
O Luzinhas era um tontinho inofensivo e "poético", daqueles que uma certa literatura piegas e um certo jornalismo ronceiro, hoje desaparecidos, gostavam muito de mungir para puxarem a lágrima fácil ao leitor. E veio-me à cabeça não por sentimentalismo de calendário ou por nostalgia pronta-a-sentir, mas porque agora as iluminações de Natal em Lisboa são acendidas cada vez mais cedo e são cada vez mais abundantes, por causa dos grandes centros comerciais, mas perderam quase por completo os motivos decorativos próprios da quadra. Tornaram-se friamente "laicas" e neutras.
Sobretudo as iluminações camarárias, onde já não se vêem presépios, anjos a tocar trombeta, estrelas de Belém, o Menino Jesus nas palhinhas ou os Reis Magos, mas sim figuras estilizadas e motivos abstractos, sem qualquer relação directa ou associação com a festa que se vive.
Isto não tem nada a ver com o ser-se religioso ou não, ou com o ainda ter ilusões sobre uma quadra que há muito se tornou num pretexto para o consumismo galopante. Tem, isso sim, a ver com tradições antigas, simpáticas e pertinentes, que se vão perdendo sem que ninguém faça nada para as recordar e manter.
Se o Luzinhas fosse vivo hoje, coitado, andava aflito a olhar para as iluminações de Natal, à procura de uma personagem, de uma imagem familiar em que pudesse fixar os olhos."
Eurico de Barros no DN: O LUZINHAS E AS ILUMINAÇÕES
01 DE NOVEMBRO DE 1908
(publicado no Tomar Partido)
sexta-feira, novembro 14, 2008
Novamente, à atenção dos lisboetas
Já o tinha feito aqui há dias, e voltarei ao assunto semanalmente até que a ameaça seja estancada definitivamente. Então, 'é assim':
Parece que a CML, sob a batuta bifurcada dos vereadores M.Salgado e Sá Fernandes, quer deitar abaixo não só o outrora magnífico edifício do Restaurante Panorâmico de Monsanto (como se sabe, obra contemporânea ao projecto de Keil do Amaral, decorado por Querubim Lapa, entre muitos outros, e respeitável enquanto local privilegiado de restauração e miradouro, até que o explorador foi à falência, e depois não houve vontade da CML em reabilitar aquilo enquanto tal - chegando mesmo, com PSL, a destruir, esventrar e ampliar partes significativas do edifício para lá instalar os serviços da CML/Alcântara, deixando tudo de pantanas...) como abater uma área envolvente de 6-7ha de pinheiro manso. Motivo?
Instalar ali 3 corporações de bombeiros, a despejar de outros tantos quartéis: Av. D. Carlos I, Praça da Alegria e Largo Barão Quintela. Parece parvoíce, mas não é...
À atenção dos lisboetas.
Invasão dos camaleões
Porque nos invadem agora tantos homens-camaleão? Talvez porque os camaleões sejam hábeis em trocar de cor conforme o ambiente e este está mau. É bom não esquecer que usam a língua rápida e alongada (parece que o fazem desde sempre e que até há registos fósseis de camaleões desde o Terciário). A pele dos camaleões apresenta queratina e portanto é resistente... Oh, como resistem a tudo. Aliás, os camaleões mudam de pele tal como as serpentes e também são bastante agressivos com os outros membros da sua espécie, mas é claro que a agressividade ‘humano-camaleónica’ é por vezes sofisticada e até pode parecer doce.
O encéfalo do camaleão recebe sempre duas imagens separadas que tem de associar. Elucidativo.
E, todavia, há fãs destes camaleões, que não lhes conseguem ver a crueldade ou o calculismo ou mesmo que a ética e os ideais nunca contaram para eles. Há mesmo quem tenha camaleões políticos como referências de estimação... gostos.
Não vos faz lembrar nada? No resto da natureza como na vida humana, o mundo está cheio de camaleões políticos a tentar descolorir a pele como se da matança da memória dos seus iguais pudessem ressurgir imaculados. Mas surgir imaculado é algo que só os corações simples conseguem e os camaleões estão longe disso.
Também há quem se recuse terminantemente a ser camaleão e há bastos exemplos disso. Agora que a Gebalis tem sido notícia quase diária, não posso deixar de lembrar um vereador – só – denunciando ilegalidades e a receber como resposta a exigência da sua demissão e a tentativa de enxovalho público, mesmo de quem o antecedeu e nada fez (é ver bem as actas da CML de Janeiro a Maio de 2007). Ainda bem que gosto mais de actos do que de palavras.
Voltaremos ao tempo em que as pessoas se não deixam enganar pelos camaleões e pela sua opressão mediatizada?
Valha-nos que o ‘Camaleão’ também é uma personagem de banda desenhada, o vilão que costuma bater-se com o ‘Homem-Aranha’... mas perde.
Paula Teixeira da Cruz
In Correio da Manhã
quinta-feira, novembro 13, 2008
Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada
No próximo Domingo, dia 16 de Novembro, celebra-se o Dia Mundial em Memória das Vítimas da Estrada.
À atenção dos 'entendidos'
Observatório de Segurança de Estradas critica posição das autarquias na avaliação de condições das passadeiras
Os municípios violam os critérios técnicos de segurança das passadeiras, afirmou esta quarta-feira um responsável do Observatório de Segurança de Estradas e Cidades (OSEC), apelando à responsabilização criminal de autarcas e técnicos para «acabar com a impunidade», noticia a agência Lusa.
«É prática corrente o não cumprimento dos critérios técnicos de segurança. Por exemplo, a velocidade de tráfego acima dos 50 quilómetros por hora não é compatível com atravessamentos pedonais. Isto é da responsabilidade dos municípios», salientou Francisco Salpico, à margem do colóquio internacional «O peão e a cidade».
O engenheiro civil e membro do conselho executivo do OSEC sublinhou que «é a estrada que induz à prática de determinadas velocidades e ao comportamento dos condutores» e lamentou que, em Portugal, nenhuma autarquia avalie a velocidade do tráfego.
«O poder político culpa os condutores e os peões quando a culpa é do próprio poder político que mantém as estradas perigosas», criticou.
Critérios técnicos não são respeitados
Francisco Salpico considera que deveriam ser concretizadas medidas simples para manter a velocidade de tráfego abaixo dos 50 quilómetros por hora.
«O que influi não é a sinalização. É a largura e a quantidade de vias e a proximidade dos obstáculos», exemplificou.
Outro critério que não é cumprido diz respeito ao atrito do pavimento na proximidade das passadeiras que deveria ser de 0.8, para garantir uma travagem segura, mas raramente ultrapassa os 0.4.
O desrespeito pelo chamado «triângulo de visibilidade», que permite ao condutor ver o peão com antecedência, é outro factor que contribui para os acidentes, segundo o especialista.
«Se os autarcas e os técnicos camarários começarem a ser responsabilizados por violarem os critérios técnicos de segurança, isto muda rapidamente», acredita Francisco Salpico.
O engenheiro salientou que «quando há atropelamentos esta questão nunca é levantada pelos advogados, nem pelos juízes e procuradores, mas isto é crime».
O responsável do OSEC acrescentou que estes critérios são «factos técnicos facilmente medidos no local» e que se fossem levados a tribunal facilmente seriam apuradas as responsabilidades.
Francisco Salpico lamentou que Portugal esteja «na idade da pedra» em matéria de segurança e frisou que «a maioria dos municípios não têm engenheiros com formação para lidar com estes assuntos».
No colóquio desta quarta-feira, investigadores oriundos de vários países foram unânimes em considerar que os peões são excluídos e encarados como um problema pelos decisores políticos, porque o planeamento é feito em função dos automóveis.
Os especialistas alertaram para a necessidade de abandonar a dependência dos carros e valorizar o andar a pé como um meio de locomoção eficaz e flexível, que deve ser adoptado em larga escala.
quarta-feira, novembro 12, 2008
Câmara Municipal de Lisboa
Vereadores chumbam projecto arquitectónico do Largo do Rato
12.11.2008 - 19h20 PÚBLICO
Os vereadores da Câmara Municipal de Lisboa chumbaram pela segunda vez o projecto arquitectónico do Largo do Rato.
Da primeira vez foram só as autorizações finais, mas desta vez o projecto veio acompanhado com um parecer jurídico camarário, que dizia que um chumbo poderia trazer custos à Câmara de Lisboa. Mesmo assim os vereadores decidiram chumbar o projecto, sem se saber ainda quais vão ser as consequências da votação.
A 30 de Julho, a Câmara já tinha inviabilizado o projecto de grandes dimensões para o Largo do Rato, junto ao Chafariz, entre a rua Alexandre Herculano e a rua do Salitre. Na altura, o edifício desenhado pelos arquitectos Frederico Valsassina e Manuel Aires Mateus foi apelidado de "excrescência urbana" e "ditadura da arquitectura”.
Depois de uma nova apresentação da ideia já em Setembro, continuaram a vir críticas de vereadores, como Helena Roseta, que acusou o projecto de conter infracções a nível do urbanismo. Com o chumbo de hoje, não se sabe qual vai ser o futuro do edifício que seria composto por apartamentos T0 e T1 e teria um desenho abstracto, com a distribuição irregular de pedra e vidro, para melhor se relacionar com as habitações à volta.
5' em dia, supostamente, por Lisboa
Parece que os links não querem funcionar: consultar Observatório da Baixa, s.f.f.
Texto editado [obrigado, anónimo(a)]
CAPRICHO E SOBERBA
Baptista-Bastos
In Diário de Notícias
terça-feira, novembro 11, 2008
segunda-feira, novembro 10, 2008
Estão a roubar-nos o Tejo!
domingo, novembro 09, 2008
Peão esquecido é o elo mais fraco da vida do Largo do Rato
09.11.2008, Inês Boaventura -PUBLICO
Estudo sobre fluxos pedonais concluiu que o largo só se torna "realmente humano" em ocasiões específicas como manifestações
O Largo do Rato, em Lisboa, é "um lugar hostil e perigoso para o peão", onde todos aqueles que não circulam em veículos motorizados foram afastados da parte central do largo e confinados às "zonas marginais" da praça e ao espaço privado dos pequenos comércios, que "tem vindo a tornar-se o único espaço de convivência possível".
Estas são algumas das conclusões da pesquisa desenvolvida entre Setembro de 2006 e Setembro de 2007 pelo investigador francês Aymeric Böle-Richard, no âmbito de um doutoramento em antropologia social. O trabalho, que procura dar conta daquilo que significa ser peão numa praça de Lisboa definida como "um exemplo paradigmático da recente motorização da sociedade portuguesa", deu origem ao livro Pedonalidade no Largo do Rato: Micropoderes, que será lançado na quarta-feira, numa edição da ACA-M (Associação de Cidadãos Auto-Mobilizados), paralelamente à realização do colóquio O Peão e a Cidade, no Goethe-Institut de Portugal, em Lisboa.
Para Böle-Richard, o objecto da sua pesquisa pode ser encarado "como um símbolo da situação rodoviária geral de Lisboa e, portanto, de um processo de alienação e delapidação da cidadania pedonal e do espaço dito 'público', em benefício de uma sociedade motorizada desigual e cada vez mais constrangedora".
Itinerários impostos
O investigador defende que a "intensidade maciça do trânsito rodoviário" e o "agenciamento impositivo da mobilidade pedonal", em que as guardas metálicas, os pilaretes e as passadeiras "impõem determinados itinerários ao peão", foram os responsáveis pelo "processo centrípeto de afastamento do cidadão peão da parte central do largo". O resultado, diz, é "a agonia lenta e dolorosa de um espaço que devia ficar um lugar público, isto é, de encontros, de diálogo e de vivência".
Böle-Richard fala mesmo numa "inversão dos papéis entre espaço privado e espaço dito público", já que o Largo do Rato passou de espaço de "convivência" a espaço de "atravessamento", fazendo com que os estabelecimentos comerciais nas suas margens se tenham tornado "o único espaço de convivência possível, concentrando as sociabilidades mais 'tradicionais' de rua". Actualmente, afirma, "para conviver, torna-se necessário entrar num café, numa loja, ou seja, em lugares privados que implicam o dispêndio de dinheiro, esquecendo a premência de utilizar o espaço público do Rato, dando-o desta forma, à partida, como perdido para o automóvel".
Manifestação/metamorfose
Apesar desta realidade e de o largo se transformar num "local desertificado" aos fins-de-semana, "altura em que os tais espaços comerciais estão encerrados", Böle-Richard sublinha que "de vez em quando ainda pode observar-se formas espontâneas de encontro e de ocupação cidadã do espaço público". Como exemplo, o antropólogo aponta "a manifestação dos sindicatos do 2 de Março de 2007", em que "durante cerca de uma hora e meia o largo metamorfoseou-se num espaço realmente humano".
Mas Böle-Richard aponta ainda outros factores que contribuem para a hostilidade do Largo do Rato: "Poluição hedionda devido a emissões de CO2 e monóxido de carbono por parte do trânsito rodoviário; ausência de fonte pública de água; escassez de vegetação - o largo contabiliza apenas 18 pequenas árvores situadas em locais pouco frequentados pelos peões". Em suma, diz o investigador, "o peão parece ter sido esquecido, enquanto elemento participante da vida do largo".
Na sua pesquisa, o antropólogo procurou ainda observar as "relações de força" que se estabelecem entre os condutores e peões, tendo notado que os últimos "geram estratégias temporárias espontâneas de resistência relativamente ao poder impositivo do trânsito e da própria organização infra-estrutural do referido largo". Isto acontece, por exemplo, quando o peão abandona o passeio e caminha pela estrada ou, como coloca Böle-Richard, quando este, "para retomar posse do espaço cívico que jamais devia ter deixado de ser seu, a rua, se atreve a abandonar as estruturas autoritárias que lhe estão destinadas".
Para esta atitude dos peões contribuem, segundo o antropólogo, a ocupação dos passeios com estacionamentos abusivos, com lixo, obras e outros obstáculos, bem como o facto de alguns passeios serem demasiados estreitos para permitirem, por exemplo, a passagem de um carrinho de bebé ou de uma cadeira de rodas.
Gosto pelo risco
Outro problema apontado por Böle-Richard é o dos "semáforos pedonais com tempos de verde curtíssimos", que "incentivam" o peão a atravessar com o vermelho.
Apesar disto, o investigador reconhece que algumas das "afrontas" dos peões ao Código da Estrada e à "sua própria segurança" se devem à "falta de civismo". "Seja para atalhar uma trajectória ou para ganhar tempo, os peões revelam um gosto bastante pronunciado pelos comportamentos e percursos arriscados", diz Böle-Richard, notando que estes comportamentos "caracterizam todas as faixas etárias e camadas da população".
18 É o número de árvores no Largo do Rato, onde não há fonte de água e abundam as emissões de monóxido de carbono
O medo de atravessar a estrada
O Largo do Rato é ou não um ponto negro na sinistralidade rodoviária da cidade?
O Largo do Rato só não é considerado um ponto negro na sinistralidade rodoviária em Lisboa - conceito que o antropólogo Aymeric Böle-Richard diz ser "contestável, segundo o ponto de vista do cidadão peão" - porque "o seu índice anual de mortalidade e de feridos graves registados no local não ultrapassa o limite daquilo que é politicamente aceitável".
Mas a realidade é outra, sublinha Böle-Richard no seu estudo, quando constatou que nesta praça de Lisboa o peão "tem medo de atravessar a estrada, que também pensa duas vezes antes de sair de casa, que reduz propositadamente as suas deslocações no local e, pior ainda, porque abandona progressivamente o espaço cívico para se refugiar dentro de zonas comerciais, nos jardins dos arredores ou até em condomínios".
Nesse sentido, uma das conclusões do trabalho do antropólogo é que "entre a situação real do Largo do Rato e o discurso oficial existe um abismo". Böle-Richard acredita que isto acontece porque o último se baseia numa análise "apenas em termos de fluxos motorizados", que não tem em conta "a realidade vivida pelos seus utentes".