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terça-feira, 29 de setembro de 2009

Resenha do Livro Hominescências, Michel Serres

           Muito tempo atrás (cerca de seis anos, para ser preciso) escrevi para o site poppycorn (www.poppycorn.com.br) a resenha de um livro da Editora Bertrand, Hominescências, de Michel Serres.
           Outro dia deparei-me novamente com este texto e a mensagem do livro me pareceu cada vez mais atual. De uma leitura impressionante, unindo a análise da sociedade humana à síntese do futuro da espécie, lembro-me de ter lido o livro ávidamente.
            Seja para quem gosta de ler pura e simplesmente, para aqueles que dão um passo além e imaginam o futuro da humanidade, ou se preocupam com ele, resolvi publicar a mesma resenha aqui, como leitura recomendada.

                                           Hominescências
                                       (Resenha)









 
Hominescências é uma visão da história do homem em relação aos meios em que vive e sua interação com o mundo, sua cultura e sociedade, as forças que impulsionam às mudanças e aos comportamentos, à evolução e à plasticidade deste ser que aprendeu a dominar as espécies e controlar o mundo, criatura emergente e resultante de sua própria dominação no planeta. O caminho deste homem se escreveu e se escreve em sua própria intensidade e desejo de vida pelo conhecimento da morte.
“A expectativa da morte conduz ao ímpeto da vida” diz Serres. Dizendo cientificamente o que Paulo Coelho disse ter vivido experimentalmente em seu livro "O alquimista".
Dotado de vasto saber e imensa cultura, Michel Serres descortina perante nossos olhos uma análise global da situação humana nas várias dimensões da vida e das ciências: existência, espiritualidade, cultura, economia, política, biologia, genética, tecnologias. De forma transparente nos faz refletir sobre a vasta condição humana.
“Estamos no limiar de nossa civilização”. Após reconstruir a seu próprio corpo geneticamente, criando sua própria evolução, através das ciências e das técnicas, após recriar a vida no planeta, manipular a fauna, a flora e toda a paisagem, o homem agora precisa urgentemente reinventar-se com valores éticos e reconstruir todas suas culturas e filosofias. Assim nos faz enxergar Serres em seus insights desconcertantes, revelando sínteses da situação humana atual e passada, desenhando e projetando um futuro de escolhas que hoje recai sobre cada um de nós, ao pensarmos globalmente e agirmos localmente.
A intervenção humana causou a fragilidade das espécies, plantas e animais, hoje organismos geneticamente modificados, ontem seres modificados através de cruzamentos e seleções, que carregamos conosco domesticadas e das quais nos alimentamos, e quanto mais protegemos, mais frágeis se tornam.
A capacidade humana de observação aumentou-se fantasticamente ao incorporarmos aparelhos que imitam capacidades de outros seres vivos, como o radar, sonar, leitura térmica. Nossas faculdades aumentaram. “O saber disseminou-se. Para quê bibliotecas se temos a internet ? A coletividade invadiu o indivíduo. O novo humanismo se faz do poder que adquirimos de acesso ao global. A relação precede a existência”. Estas são máximas de Serres que nos faz grudar os olhos em Hominescências até a última página.
Embora fazendo desfilar diante nós a obscuridade humana refletida em poder e violência, molas mestras na estória e cultura da humanidade, somos invadidos em Hominescências pela reflexão que “TODA GUERRA OCORRE SOBRE A TERRA” e somos alertados de que a decadência evolutiva pretende nos identificar à sociedades de insetos, à morte do indivíduo e à supremacia da coletividade. Ao mesmo tempo, Hominescências nos leva a refletir sobre nossas escolhas e decisões que influenciarão nosso destino e o de nossa civilização.
Das cavernas aos laboratórios. Do homem primitivo à este ser atual, global, virtual e supremo que tomou para si muitos dos atributos divinos. “Escapamos da Lei da Selva, somos hoje exodarwianos!”. Uma nova perspectiva do homem e sua estória, suas ações e consequências, seu já vivido passado e as escolhas para um possível futuro, é parte do que nos espera ao ler Hominescências que traduz: “O homem como espécie só pode nascer do amor.”




Hominescências - O começo de uma outra humanidade
294 págs.
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de Michel Serres.
Editora Bertrand Brasil (bertrand@record.com.br)

sábado, 26 de setembro de 2009

Sobre robôs e outras criaturas

Escrevi este texto há bastante tempo, logo depois de assistir ao terceiro filme da trilogia Matrix. Como fã de ficção científica, eu esperava muito mais da história. Achei o primeiro filme genial e inovador, mas as continuações fizeram declinar a fantasia e o entusiasmo. Àqueles que discordarem do texto, fica a visão de apenas um fã decepcionado, e o caminho aberto para que também façam o seu relato e nos apresente sua visão do filme, da história e do mundo.
 
 
Matrix: A estória que não soube ser contada

 
Sim, também seguimos o coelho branco e engolimos a pílula da verdade.
Em clima de mistério regado a filosofia, religião e alta tecnologia, fomos transportados para um outro universo de ficção científica que nos fascinou tanto quanto o primeiro filme de Guerra nas Estrelas nos idos da década de 70. Basta conferir as bilheterias.
 
Mas, após tanto mistério e suspense, onde chegamos? Após tanta expectativa, onde nos encontramos?
 
Em breve retrospectiva ao leitor, fã e amante de ficção científica, vale lembrar que o mito da criatura construída pelo homem e que escapa ao seu poder nasceu com Mary Shelley em Frankestein. A partir daí surgiram adaptações como, por exemplo, em “O Médico e o Monstro” , ou as belíssimas estórias de Isaac Asimov sobre robôs, e em especial as sobre robôs-como-ameaça.
O homem sempre desejou recriar a si mesmo. O fato é que os robôs sempre nos fascinaram, e sempre estivemos dispostos a conhecer mais sobre eles e tentar criá-los à nossa imagem e semelhança. E nestas suas estórias, Asimov nos mostra que apesar de suas leis da robótica, a humanidade poderia ser destruída ou prejudicada por tais robôs.
Matrix beira este conceito. Ao final da trilogia descobrimos que estamos diante de uma civilização de máquinas-Frankestein, que se formaram dos primeiros robôs construídos pela humanidade e que se revoltaram contra ela. Tais máquinas supostamente inteligentes, controlam um super-ultra-hiper software que ilude as mentes de toda uma humanidade escravizada física e mentalmente, enquanto suga sua energia. Esta civilização de máquinas-Frankestein além de ter escravizado seu criador, ainda guerreia contra os poucos remanescentes do homem ainda livres, representando talvez, o desejo da criatura no extermínio de todo o livre-arbítrio de seu criador.
No terceiro filme da trilogia, qualquer ente pensante pergunta-se: - Então é isto? O ser humano derrotado pela sua criatura continua sendo usado como pilha pelas máquinas? O que sobra da humanidade é apenas uma horda de revolucionários punks mal orientados? Nada mais resta ao homem que contentar-se à escravidão mental, moral e física de um mundo mecanicista? O homem, escravo de sua mente? De sua criação?
Mas o fã de Ficção Científica, surpreso e indignado, responde: - A anomalia não é o dejá-vu, a pausa e recomeço na matrix para modificar algo, a anomalia são as duas seqüências Matrix Reloaded e Matrix Revolutions. O fim de Matrix é o enterro de uma estória que não soube ser contada. De um universo fascinante e extremamente criativo como Matrix fizeram apenas seqüências de estonteantes efeitos especiais e visuais, sem imaginar um mínimo de estória e roteiro coerentes.
Não se trata apenas de imaginar um roteiro com happy end a la Hollywood, mas sim, um estória minimamente inteligente e tão fascinante como o próprio universo de Matrix.
Agora, na contra-mão da moral da estória, que lamentavelmente informa como a máxima dos Borgs em Jornada nas estrelas: “Resistir é inúti!” , vale lembrar os autores recentes de Física como Fritjof Capra que nos faz abandonar o cartesianismo cego e nos impulsiona a ver o mundo não como uma imensa máquina, mas um mundo em interação dinâmica entre seus vários seres e coisas; a vida, como uma teia de interrelações pessoais e entre organismos vivos. Quando penso no fim de Matrix, ah, que saudade que dá dos ecologistas e biólogos, aqueles seres de alma verdinha, antigos Et´s agora já miscigenados aos terráqueos comuns, antigos profetas de nosso apocalipse planetário.
 
Mas cabe lembrar finalmente, a despeito do ridículo final do filme Matrix,
 
Que a Vida é muito mais que um Sonho;
Que a humanidade é muito mais que uma coleção de mamíferos Homo Sapiens;
Que o mundo é muito mais vasto e fascinante que uma régua de cálculo.