domingo, dezembro 30, 2018

DAQUILO QUE NÃO SE ESQUECE...


Tem umas coisas na vida...
 
Bom ter tempo de andar calmamente pelas ruas de Copacabana e deixar o pensamento solto.
 
Sabe aquela esquina onde sempre ganhava um beijo de despedida?
Sabe aquele menino que passava em frente da sua janela todo dia no caminho pra escola e que criou calo no cotovelo de tanto esperar?
Sabe aquele banco da praça onde tantas vezes você desabafou e ouviu desabafos com suas melhores amigas?
Sabe aquele cantinho onde se fazia roda de violão?
Sabe aquela rua que você várias vezes subiu cantarolando e desceu chorando?
Sabe aquela rua deserta onde todos iam só pra se agarrar um tiquinho a mais?
Sabe aquele prédio verde que remete a festinha americana, a dança agarradinha e a ficantes casuais?
Sabe aquela praça que ainda tem jeito de Festa Junina?
Sabe aquela igreja...ahhhhh..aquela igreja!?
Sabe aquele sinal, onde não tem muito tempo, você foi pega num beijo, ouviu que teu beijo não mudou nada em 40 anos e ficou surpresa não com o beijo, mas com a lembrança que te fez sorrir e o coração disparar?

Acredito que faça parte de envelhecer a memória ficar tão detalhista exatamente no que foram os melhores momentos.
Que eu possa desencarnar aqui...nesse lugar...onde fui e sou tão feliz!

29/12/2018
 

segunda-feira, agosto 27, 2018

AMOR







Ela nunca poderia adivinhar...
Chegou cansada.
Tomou um banho prolongado.
Vestiu o pijama e fez um sanduíche.
Ligou o micro e definiu como seria sua noite de sexta.

Do MSN veio o convite.
A festa é hoje, é perto da sua casa, você vem?
Ela pensou, decidiu e foi.
Sem conhecer ninguém, ela foi.
Ele espera por ela.
Sorri. Ela sente um leve arrepio no corpo.
Coração acelerado.
Estranha essa reação.
Ela fala com um, fala com outro.
Ele a segue com o olhar.
Você não vai dançar comigo, não?
Ela abre os braços e vai.
Ele usa Azarro, ela gosta.
Fecha os olhos.
Quer uma bala?
Sim.
Beijo de bala ou bala de beijo.
Gosto de Halls.
Muitos, vários, intermináveis beijos.
Muitas, várias, intermináveis risadas.
A festa termina.
Chega o táxi.
Entram juntos.
Sentem que vem aí uma despedida.
Ele fala de repente.
Vamos comigo?
Ela sente que é inevitável.
Sim.
...
Ela abre os olhos e já se passaram exatamente nove anos.
E ele sempre esteve lá.
Não em sua vida
Mas dentro do seu coração

By Inez Sodré
27/08/2015

domingo, julho 29, 2018

FRAGILIDADES


Eu tinha uns dez anos quando meus tios voltaram da Europa e entre os tesouros que trouxeram estava um par de lindos palhacinhos de Murano.
Dois palmos e meio de altura e muito colorido nas roupas, nos sapatos, nos cabelos na cara sorridente de palhaço. Foram colocados em cima do móvel da sala, cada um de um lado do relógio.
Fiquei encantada, mas não podíamos nem chegar perto.
É frágil! Quebra à toa! Você é muito desastrada! Se fosse bailarina ia pisar no pé do maestro! E por aí vai...


A verdade é que hoje, cinquenta anos depois, os dois palhacinhos ainda estão lá em cima do móvel. Com alguns pedaços faltando, outros colados, mas estão lá!


Com toda essa história, eu indo a uma fábrica de cristais de Murano, alguém adivinha qual a primeira coisa que quis comprar?
Claro que comprei. Mas também compreendi o porque de tanto cuidado.
São muito, muito caros os Cristais de Murano. São artesanais, feitos com sopros no vidro incandescente, com cuidado e presteza no corte, com arte na mistura de textura, cores e materiais de acabamento.
São tão caros que vem com certificado de autenticidade. Porque os chineses já estão falsificando até os palhaços de Murano...rs


Não tive bala na agulha para comprar do mesmo tamanho e muito menos dois.
O meu tem um palmo de altura e parece que vai quebrar só de você tocar nele. Coloquei na cristaleira em nome de ser mesmo, como meu tio dizia, desastrada demais.


Ainda trouxe de lá dois chames para a pulseira Pandora, um meu e outro da minha nora.
Além disso trouxe dois enfeites de Papai Noel para a primeira árvore de Natal da Julinha.
Foi quando comprei esses enfeites que fiz valer a fama.
A vendedora (italiana simpática oh!) Me mandou pegar o que eu queria levar. O primeiro coloquei em cima do balcão, o segundo tentei...
Esbarrei a mão no primeiro e paf...quebrou. Fiquei até pálida e a moça na mesma hora pegou o minúsculo enfeite, disse que eu não ficasse aborrecida (EU?), que os cristais eram assim frágeis mesmo, mas cautelosa foi ela mesma pegar outro para embalar.


A embalagem é uma obra de arte, caixa com palha, plástico bolha, jornal e embrulho.

Fiquei o resto do dia tensa...bem tensa....com meus tesouros em uma sacolinha.
Finalmente no hotel, tomei a decisão de comprar uma bolsa de mão para colocar tudo que fosse quebrável e levar comigo no avião. Foi nessa hora que decidi não trazer nenhum vinho...Vai, que...rs


Tanto cuidado valeu a pena!
Tenho hoje, na cristaleira, um palhacinho colorido, italiano, de cristal e de Murano.
E mais do que a paixão que "garrei" nele...sei porque comprei...para homenagear o meu amado tio Macahyba. 


Onde ele está, deve pensar assim: Muito lindo Maria Inez, mas cuidado pra não quebrar!!!

quinta-feira, julho 12, 2018

TAMANHO ÚNICO!



Se teve uma coisa que fiz na Itália foi andar de barco. Sem grandes navios. De barco mesmo. Barco com muita gente, barco somente com nosso grupo, lancha tranquila, lancha com emoção.
Fui a diversas ilhas. Desde as fantásticas que formam o arquipélado de “ Cinque Terre”, até algumas famosas como Portofino ( A pérola da Riviera) o destino dos ricos e famosos em suas férias de verão.
Mas foi em Isola Bella que aconteceram os fatos que vou narrar.

Cheguei na ilha um tanto enjoada por conta do barqueiro italiano que fez acrobacias com a lancha, o que além de me provocar medo me irritou profundamente. Ora, se eu quisesse emoção ia para Everest na Disney.
Ao desembarcar o guia nos levou até um museu que tinha um lindo jardim...por 30 euros. Perguntei a recepcionista que tipo de museu era, ela com a simpatia italiana disse:
_ Não sei...
Se ela não sabia, porque eu deveria saber.
Sai dali e fui gastar os 30 euros em outro lugar.

Sem ser o museu, a única atração de Isola Bella é uma mini Feirinha de Itaipava. E lá vou eu catar coisinhas pra comprar e passar o tempo.
Um imã de geladeira aqui, uma pashmina ali...até que dei de cara com a blusa.
Linda, com uma estampa bem moleca da Audrey Hepburn!
Parei no ato e me aproximei toda sorridente. Pequei na pontinha da blusa e olhei para a vendedora dizendo:
_ Quanto costa?
A garota me olhou de cima a baixo e balançou a cabeça negativamente. Perguntei novamente:
_Quanto costa?
Ela nem me respondeu, pegou grosseiramente a camisa da minha mão e apontou a etiqueta – taglia unica.
E completou com um olhar de desprezo:
_ non per te
Virei imediatamente e sai dali me sentindo a Mobi Dick em pessoa.
Um misto de tristeza e indignação. A blusa era grande! Tamanho único grande!

Continuei andando amuada e umas duas barracas a frente encontrei meu grupo, fomos tomar um café num bar de roqueiros e depois eles foram tirar fotos.
Eu estava inquieta. A blusa não me saia da cabeça. Muito menos a atitude da vendedora.
Parei para olhar umas bolsas e acabei falando em português. Uma surpresa quando uma italiana que passava traduziu para a vendedora o que eu perguntei.
Sorriu pra mim e disse que amava muito o Brasil. Que o seu sonho era morar aqui.
De repente seus olhos encheram de agua e ela falou que seu grande amor era brasileiro e que tinha morrido em um acidente.
Eu esbocei falar alguma coisa em italo-espanhol-libras.
Quando ela ligou o celular e me mostrou a tela.
Fiquei boquiaberta.
Seu amor era Ayrton Senna.
Falamos dele. De seu Instituto no Brasil. Da última corrida naquele 1º de março. De sua carreira. Do homem que era.
As duas bem emocionadas.
Depois ela me deu um abraço muito apertado e disse que sentia felicidade quando ouvia alguém falando português e se foi.

Não tive coragem de perguntar se ela teve mesmo algo com ele ou se era só um amor platônico de fã.
Mas aquela mulher linda mudou meu dia.

Mudou tanto que voltei na barraca da blusa.
Não disse nada. Peguei a blusa. Peguei os 15 euros, preço que estava escrito na etiqueta e disse:
_ Embrulha, vou levar!
_ Não entendeu minha filha? Embrulha...é minha!
E sai toda feliz. Quando cheguei no hotel a primeira coisa que fiz foi vestir.
E deu! Ficou justa...vai ficar melhor se eu emagrecer uns dois quilos...mas deu...e se eu quiser usar assim, agarradinha no corpo, problema meu.
Nenhuma italiana antipática vai dizer o que eu posso ou não posso usar!

Conclusão: O que não faz uma história de amor na vida de uma brasileira!

quarta-feira, julho 04, 2018

OS PÁSSAROS


A noite (que por lá ainda é dia) estava linda em Veneza. Um calor com brisa.
O pessoal dispersou, cada qual com seu interesse. Meu grupo resolveu procurar um restaurante para jantar antes que a música começasse nos cafés da Piazza San Marcos.
Como eu já disse, não gostei da culinária italiana. Sendo assim, fui passear.


De lojinha em lojinha...fascinada pelos vidros de Murano, seduzida pelas bolsas de Firenze, apaixonada pelas máscaras do carnaval veneziano...o tempo passou. Me dei conta que precisava comer alguma coisa ou ao invés de dançar ia era desmaiar nos braços do italiano.
Parei em um bar típico e isso significa não ter mesa, não ter talher e ter o tratamento ríspido no atendimento. Mas o piadina compensava tudo isso!

Piadina é um sanduíche bem recheado do tamanho de uma baguete, mas feito de uma massa crocante da finura de um crepe e enrolado feito um rocambole...entendeu?
A menina enfiou meu lanche reforçado em um saco e lá fui eu toda feliz pelas vielas procurando um lugar para ficar.


Piadina em uma mão, coca zero na outra vislumbrei um lugar vazio. Era uma escada na frente de um pequeno castelo e entre duas estátuas de leão.

Estava exausta e faminta. Sentei, abri a latinha, coloquei o canudo e descansei a lata do meu lado esquerdo. Tirei o sanduíche do saquinho e o cheiro inundou minha vontade.

Abri a boca para a primeira mordida e...


Pense na música mais sinistra do filme Pássaros de Hitchcock...com aquele silencio que antecede a cena de terror.
Tudo ficou paralisado e eu só ouvi o barulho ensurdecedor de asas batendo...duas, quatro, seis, vinte gaivotas voando em cima de mim!
Levantei e em um segundo arrancaram meu sanduíche e me empurraram para trás. Ainda pude ver o meu piadina sendo arrastado e trucidado por bicos mais velozes do que qualquer mix do mundo.


Acho que não consigo descrever o grito que dei...foi como um longo agudo da primeira soprano do Teatro La Fenice. Espantei os pássaros, atrai todos os olhares e ouvi todas as risadas.

Naquele exato momento descobri porque que em um lugar tão cheio existia uma escadaria vazia convidando uma turista a sentar para lanchar.


Tremia inteira, vermelha de vergonha e indignação com o roubo. Sai dali correndo entrando na primeira viela que apareceu.

Foi aí que esbarrei com ele e ouvi:


_ Che cosa è sucesso, amore mio?


The End.

segunda-feira, junho 18, 2018

ACONTECEU EM VENEZA...



Chovia demais naquela manhã em Veneza.
A chuva deu uma desanimada, mas mesmo assim o nosso grupo de brasileiros partiu feliz para um dia de visita guiada e se a sorte ajudasse, de passeio de gôndola.
No caminho, todos nós compramos capas coloridas de plástico e de 1 euro rsrs
Ao chegar no barco já estávamos molhados e ao descer em Veneza, encharcados dos pés a cabeça.
O que fazer em Veneza, por uma hora e meia com o nosso tempo livre?
Passear debaixo das marquises da galeria que rodeia a Piazza de San Marco. Digo passear, porque comprar, nem pensar. São lojas caríssimas!
Para vocês terem uma ideia, em uma delas vi uma máscara linda e quis perguntar o preço. Como italiano é bem simpático, a loja fecha as portas para que ninguém entre somente para se proteger da chuva. Fiz sinal, a italiana abre a porta e não me deixa abrir a boca...diz “educadamente”:
Aqui, tudo 100 euros! (Em espanhol)
E fecha a porta.
Até agora não sei o que me segurou pra não abrir o porta nota de viagem, onde eu levava todos os euros colados em mim como uma segunda pele, e esfregar algumas notinhas de 100 euros na cara magricela dela rsrsrs

Depois de umas três voltas completas, alguém disse:
Vamos entrar em uma cafeteria qualquer e aproveitamos pra ir ao banheiro! Lembrem-se, para o xixi é preciso beber alguma coisa.
Entramos na primeira que vimos. As duas mais apertadas entraram para ir ao banheiro e eu fiquei com as bolsas. Levantei a capa e sentei.
O garçom olhou feio. Fiz cara de egípcia.
Nisso entraram os jovens...arrancando e sacudindo as capas. O Yan pegou a dele e colocou em cima da cadeira e o Lorenzo largou a dele em cima da mesa de mármore na maior sem cerimônia. Uma algazarra e todo mundo olhando.
Senti que o garçom teria um treco. Olhei para ele e ele andou na minha direção balançando o cardápio.
Peguei na intenção de pedir um cappuccino. Pensem na cara de uma pessoa que olha o preço, faz a conversão, e descobre que seriam 85 reais um café!
Levantei imediatamente dizendo:
- Vocês dois, fiquem aqui! Eu vou lá para fora antes que esse homem me bata....um cappuccino 85 reais, mas nem que fosse com espuma de ouro! Um lugar todo velho, deve ter até mofo e ainda vai me dar alergia! Virei nos calcanhares e sai.
Os garotos ainda olharam o cardápio, mas saíram rapidinho também e uns minutos depois surge o povo.
- Ué...não pediram nada?
Sussurrei no ouvido da Mara e sai de perto, não tão rápido que não ouvisse:
- Vamos embora, já fizemos xixi mesmo! E na cara de pau devolveram o cardápio para o homem de cara amarrada que ficou no meio da porta no caso de algum de nós fosse querer voltar.
Saímos dando risada e fomos encontrar a guia.
Depois de algumas outras explicações ela para no meio da galeria aponta e diz no nosso fone de ouvido:
- Agora, vamos passar em um dos orgulhos da história de Veneza. O mais antigo café em funcionamento no mundo. O Caffè Florian. Datado da época do renascimento, foi inaugurado em 1749. Em suas poltronas de veludo e no seu interior suntuoso se reuniam dramaturgos, políticos, artistas e músicos. Tudo se mantém como na sua inauguração, após apenas duas restaurações,pois é patrimônio mundial.
Quem quiser após a visita guiada pode vir tomar um café aqui.
Podem imaginar como é tomar café na poltrona onde Mozart compôs algumas de suas sinfonias indo depois com o papel ao piano para dar os acordes iniciais, como é estar no ambiente que Goethe, o mais famoso escritor alemão, rascunhou alguns parágrafos de Fausto, ou ainda onde Casanova frequentava porque era um dos poucos cafés que permitiam a presença de mulheres e onde ele conquistou as mais belas da corte.
A essa altura dos fatos, eu já estava praticamente desmaiada. O povo ria de chorar e eu só conseguia pensar:
Molhamos a cadeira de Mozart! Fizemos o maior zumzumzum dentro do ambiente renascentista e ainda fizeram xixi no banheiro onde provavelmente as mulheres falavam da beleza de Casanova! Ah! Chamei o lugar de velho e cheio de mofo! Que insensibilidade....
Olhando bem a foto que tirei, acho que tinha até o espírito de um deles, lá sentado!
Mas que o cappuccino era caro...isso era!

quinta-feira, junho 14, 2018

SUPERSTIÇÃO OU CAPTAÇÃO DE TURISMO?



Depois dizem que nós, brasileiros, somos supersticiosos. Mas, eu digo:
Italianos são hiper supersticiosos...ou não rsrsrs!
Escrevendo depois de ter passado só 16 dias por lá, consigo lembrar de cara de seis vezes que ouvi a palavra superstição.

No primeiro dia, em Roma, fui a Fontana di Trevi e entrei de cabeça na crença de que se jogar uma moeda na fonte você volta a cidade e ainda arruma um namorado italiano. Fechei até os olhos, virei de costas e pedi baixinho. Quero metade da minha moeda de 01 euro de volta...retornar a esse lugar eu quero, mas um romano só se for educadinho rsrsrs
Depois desse dia foram incontáveis as histórias de crenças e convicções.

Por exemplo, em Milão é preciso dar uma volta em um touro pintado no chão de uma galeria de lojas caras para se ganhar muito dinheiro. E muita gente faz isso! Eu só descobri o que era aquela dança indígena quando já estava longe de Milão e uma amiga me perguntou no Facebook:
Deu a volta no touro?

Em Veneza a crença é baseada em uma história triste. Na entrada da Piazza San Marco existem dois grandes pilares e quem é veneziano não passa entre os dois. Dão a volta e passam por fora. Isso se deve a que entre os pilares era montada a guilhotina e a forca com que sacrificavam os condenados. Se você pensar que para pegar a lancha para entrar e sair de Veneza você passa sempre por ali, olha só que pesado isso...

Já em Florença a história tem a ver com um porco do mato...rsrs
Todos tem que passar a mão no focinho da estátua do bicho se quiserem ser bem sucedidos nos negócios que envolvem dinheiro. Isso se explica porque nessa praça os banqueiros da época feudal e depois quando surgiu o mercantilismo se reuniam para fazer negócios com seus produtos.
Por via das dúvidas esfreguei com vontade o nariz achatado.
E por conta dessa história, me vem na cabeça uma outra engraçada. Nesse dia, em Florença, eu e um casal amigo almoçamos no Mercado Central e depois queríamos comprar bolsa em uma feira que fica nessa praça. Mas, nos perdemos e cadê que conseguíamos.
Parei junto de uma senhora e disse no melhor italiano com libras:
Per favore, a piazza de....de...de...e esfreguei o nariz de cima pra baixo. Ela riu e me mostrou o caminho. Mas é tudo bem parecido nas ruas de lá e mais adiante foi a vez do Orlando parar em uma banca de jornal e esfregar o nariz igual ao que fazem na estátua...e lá fomos nós e não é que de nariz em nariz chegamos no local certo...rsrsrs

Em Verona, quem não sabe da crença imortalizada no filme “Cartas para Julieta”? Dessa vez não fiz porque todo mundo faz.
Tomada por uma emoção imensa em estar no cenário da mais linda história de amor de todos os tempos, eu fiz porque foi mais forte do que qualquer racionalidade que possa haver. Me afastei dos outros, parei ali na passagem onde ficam os muros, pedi baixinho que um dia alguém me ame do mesmo modo que eu ame esse alguém. Procurei um papelzinho branco no fundo da bolsa e escrevi meu nome, colando no muro com o que tinha...um band-aid. Vai que dá certo e na próxima vida isso acontece?! 

E finalmente a superstição mais sem noção que vi. Em frente à casa em que morou Julieta, embaixo do seu balcão tão lindo, existe uma estátua dela em bronze. Não é que algum bobão (homem, é claro) inventou que quem passasse a mão nos seios de Julieta teria sorte no amor. Pode ser mais sem pé e sem cabeça? Romeu e Julieta protagonizaram a mais linda e triste história entre dois seres que se amam. Erotizaram Julieta...e a turistada toda tirando foto com a mão no peito do símbolo máximo do amor pode isso?!

Por certo, essas superstições tem uma forte tendência de servirem para agradar turistas secos por fotos e novidades, mas no fundo, quem seria capaz de duvidar completamente, de tudo?!
E aproveitando que estamos na Europa, lembremos de um dito espanhol:
Yo no creo en brujas, pero que las hay, las hay!

sexta-feira, junho 08, 2018

BANHO...QUEM DISSE QUE FOI FÁCIL?!



Pensando bem, além do frio no inverno rigoroso da Europa, depois dessa breve passagem por alguns hotéis em cidades da Itália eu compreendo, um pouco mais, a resistência que eles tem em tomar banhos diários.
Eles não tem chuveiro! Nem uma ducha Corona um banho de alegria num mundo de água quente, nem um Lorenzetti preso na parede...embora os nomes pareçam italianos.
Estive em 7 hotéis. Em cinco havia banheira e em cima da banheira, uma ducha manual.
Digo que para ligar a dita cuja é preciso que não tenha nada que não possa molhar num raio de 10 metros. A coisa tem vida própria foge da mão, serpenteia em todas as direções, tem um magnetismo (creio que um imã) que a gruda na parede e você precisa de força para desgrudar e começar tudo novamente.
Equilíbrio, agilidade e rapidez de raciocínio são competências que é preciso desenvolver para tomar banho nos hotéis da Itália.
Cortina de plástico, blindex, parede de alvenaria...pra quê? Alguns tem uma pequenina divisória em vidro que vai até um terço da banheira. A graça é você molhar tudo. Aliás com uma piaçava e um sabão em pó, a gente pode aproveitar pra fazer a faxina do banheiro depois do banho...rsrs
Para não fugir a verdade, já me hospedei em hotel do Ibis, aqui no Brasil, com essa mesma ducha manual em box, com o diferencial que tem estrutura para prender como um chuveiro. Nos hotéis de Roma e de La Spezia tinha essa estrutura um pouco mais alta, porém se você prendia a ducha tinha que colar na parede para se molhar...ou seja....sem condições.
Fico pensando se nas casas também é dessa forma. Imagina dar banho em crianças? Imagina um namoro debaixo da duchinha com vida própria...
Em relação as banheiras só tive uma marcante experiência.
No dia que fui ao San Siro ver o jogo do Milan cheguei exausta e muito tarde e resolvi...vou tomar banho de banheira! Eu não ia conseguir secar tudo depois e deixar molhado era tombo certo, ao levantar da cama e entrar lá na manhã seguinte para escovar os dentes ainda dormindo.
Bem, se é pra tomar banho de banheira que seja no estilo!
O hotel, quase sempre, oferece aos hóspedes um sabão para banho deixado na prateleira e fui seca nele. Aí vem a “brasileirice”, esvaziei o tubinho inteiro e liguei a água de forma abundante que era para não demorar. Imagine uma água fervente...lá é assim...se não é fria, é fervente.
Toda sorridente, prendi os cabelos com uma toalha, tirei a roupa e fui ficar de molho no meu banho de estrela global.
Tudo ia bem, até que o sabão se transformou em espuma...mais espuma...muito mais espuma...espuma que inclusive voava. Voava pelo banheiro, pelo quarto e se eu abrisse a janela ia encantar Milão...rsrs
Fui ficando sufocada e quem disse que eu conseguia levantar? Tudo escorregava e eu ria. A toalha do cabelo caiu dentro da banheira, levantei a tampinha do ralo e muito rapidamente esvaziou. Ali estava eu...toda ensaboada, exausta e brigando novamente com a duchinha. Agora, ao escrever estou dando gargalhadas, mas na hora....sabe a cordinha de pedir socorro, quase puxei!
Contei essa história só pra dizer:
-Se eu fosse de lá talvez nem tomasse os meus dois banhos por dia...
-Preciso voltar, porque depois de dezesseis dias, quando eu estava até acostumando com la duche, vim embora!
Obs: A foto é para que entendam do que estou falando rs
Ah! Todos os hotéis em que fiquei eram 4 estrelas...mas isso é uma outra história!

quarta-feira, junho 06, 2018

FAZER XIXI ANDANDO PELA ITÁLIA...




Vamos falar sobre xixi? Ou melhor vamos falar sobre fazer xixi?
Mas não é fazer xixi em qualquer lugar...é fazer xixi andando pela Itália! (risos)

A verdade é que por lá em todo lugar tem banheiro...desde que se pague.
Existe uma convenção, praticamente um tratado sobre como se comportar nesse caso.
Quer fazer xixi, faça assim:
_ Por favor, uma água. (fale em qualquer idioma ou dialeto...português com sotaque da Mooca - quem fala assim, acha que o italiano entende rsrs, espanhol - eles acham que no Brasil esse é o idioma, em inglês, em libras – esse todo mundo entende.)

_ Normal ou Frizantte?
_ Frizantte. Banho?
Pronto. Você gastou de 1,50 a 3,00 euros e o banheiro é grátis.
 Também funciona com café. Mas, nesse caso, seu xixi pode custar até 5 euros, ou seja, no barato, 20,00 reais.
E se quanto mais xixi você faz, mas líquido você bebe, a vontade é interminável!
Minha experiência nos banheiros foi marcante, no máximo antropológica e no mínimo hilária.

O lance é você aproveitar quando for comer e fazer xixi, mesmo sem vontade rs
Isso só não deu certo em Ferrara. Almoçamos em uma Osteria e Enoteca datada de 1435. Comida maravilhosa, um vinho sensacional e a famosa pergunta pelo “banho”.
Lá fui eu. Subsolo e escadaria por um túnel de pedra. Entro no banheiro e surpresa...o vaso era um buraco no chão. Como assim? Mulher usar um banheiro que é um buraco. E entre a decisão de tirar a roupa toda e tentar acertar no alvo, preferi prender o xixi até pagar os euros pedidos e entrar na civilização.


Entre todos os xixis...o que ficou marcado foi no Coliseu. Já pensou fazer xixi no Coliseu? E, como continuei com os fones no ouvido e ligados na guia, fiz um xixi cultural, repleto de história e só conseguia pensar....caramba estou fazendo xixi no Coliseu! 

Também existem, em quase todos os lugares, os banheiros públicos, onde só o xixi, sem a água ou o café, custa 0,5 a 1 euro.
Em uma das ilhas de Cinque Terre, acho que foi em Portovenere, o banheiro era subterrâneo e no final da escada tinha um cartaz dizendo:
Contribuição – 0,5 euros
Se não tiver de um sorriso e considere pago.


Alguns banheiros públicos são bem limpos. Em todos existem papel e sabonete para lavar as mãos. Em nenhum existe toalha de papel e secar as mãos é só naquele ventinho que alguns aqui tem.
Existem pias normais, daquelas que você abre a torneira. Existem as que você passa a mão e água cai. Até aí nada demais. Mas vocês já lavaram as mãos em uma pia pianista, onde para sair a água você aperta um pedal e controla a intensidade. Pois é, eu fiquei com o sabonete nas mãos, rodando feito um peão até perceber o tal pedal. E finalmente, existe a pia inteligente, onde você mexe as mãos vem o sabão, desloca pra um lado vem a água, desloca pro outro vem o ar secante....e você que não sabe fica meio que numa dança de mãos com todos ao lado rindo (em italiano, é claro!)

E um conselho. Nunca, nunca mesmo, puxe a cordinha ao lado do vaso. Você não estará dando a descarga. Estará pedindo socorro. E corre o risco de entrarem vários funcionários do local pra ver se caiu, teve um AVC ou infarto e descobrirem que só puxou por brasileirice mesmo!

DE IGREJAS, PODER E INTERPRETAÇÕES



Percorrer a Itália é encontrar inúmeras igrejas.

Para terem uma ideia...Em uma aldeia encravada entre a montanha e o mar, moram 18 habitantes e lá existem 5 igrejas.


Existem, também, os templos pagãos de antes de Cristo, em ruínas e preservados sem modificações. Em Roma tem vários. Nenhum me disse nada em termo de vibração.


Nesses 16 dias entrei e sai de igrejas, catedrais, basílicas, batistérios e ouvi histórias e mais histórias.
Os romanos, os galícios, os mesopotâmios e suas brigas, conquistas e feitos. Sempre com um único objetivo, o poder.
Exatamente aí, entra a Igreja. Era na Igreja que os reis, as dinastias, os ducados mostravam a sua força. Cada qual queria a construção mais majestosa e imponente. Só da família Médici de Florença, saíram 4 papas. Eram as fortunas que pagavam a obra e depois colocavam lá o seu representante. Era sinal de poder. E quantas atrocidades foram cometidas em nome da manutenção desse poder.


Fui a Igreja onde está o corpo de Santo Antônio, onde a cabeça do evangelista Lucas está guardada, fui a uma que dizem ter o corpo de Pedro e por aí vai. Todas cobertas de ouro. Todas do mais fino mármore. Todas com vitrais enormes. Todas trabalhadas por grandes artistas da época. Todas se afirmando cristãs.


Mas foi somente em Assis, que senti Cristo presente.


Uma igreja como as outras. Tem lojinha para que os fiéis levem suas lembranças. Tem um museu de relíquias com as roupas de Francisco, com a taça com a qual ele celebrava as missas. Com suas sandálias surradas. Com cartas escritas por ele.
Mas, principalmente, nessa igreja, tem a humildade palpável e vibrante ensinada por Cristo e seguida por São Francisco. Não tem ouro, nem grandes esculturas. Tem detalhes e entalhes em madeira e seu teto é pintado com as telas renascentistas da época.
Assis é um lugar de uma energia tamanha que só indo, não tem como explicar.


É um cantinho da Itália pra lá de lindo, em uma colina de onde se enxerga uma vastidão de verde, flores, plantações.
Além da Igreja, existe a escola para Franciscanos e também é aí que está a Igreja (que não consegui visitar porque a distância não cabia no meu tempo) de Santa Clara.


Em Assis, tive a bênção de um Franciscano, em italiano (que inexplicavelmente entendi) e com água benta no final. Bênção pra mim, para a minha família que conectei em pensamento e nas lembranças que trouxe de lá.


Em Assis eu tive vontade de fugir do ônibus para onde eu teria que voltar em 2 horas, me esconder, ficar lá dois ou três dias. 


É claro que a Duomo de Milão, ou a Catedral de Florença me impactaram. Como tudo que é grandioso.
Mas Assis me emocionou. Chorei muito e sai de lá com minha fé renovada.


Quem sabe foi essa emoção que me impediu de ir ao Vaticano. Museu do Vaticano. Capela Sistina. O luxo não cabia mais nem nos meus olhos e nem no meu coração.


Ah...o que eu queria mesmo era ficar um pouco mais em Assis.

sexta-feira, junho 01, 2018

LENDAS E VERDADES SOBRE A ITÁLIA (sob a minha ótica e de acordo com minhas experiências)




Sim é verdade que eles fazem a melhor pizza que eu já provei.

Não é verdade que fazem a pizza do avesso como os paulistas. A pizza é do jeitinho que deve ser...massa grossa com bordas crocantes e não duras, molho, queijo e recheio por cima do queijo...a pizza italiana é de comer rezando.

Sim é verdade que o sorvete italiano é divino, saboroso e tem o gosto do que se propõe, não derrete facilmente e a bola é farta...rs

Sim é verdade que os vinhos são excelentes, com uma distinção para os brancos e espumantes. Isso me lembra que a água frizzante (com gás) são inigualáveis!

Não é verdade que a comida é boa. É pouca, mal temperada, com um acentuado gosto de pesto ou tomate dependendo do que você pedir. Acompanhamento só batata ou legumes totalmente sem graça. A carne é esquisita para nós, ou seja, carne de caça...comi javali, cervo, porco do mato e outros que nem quis saber o que era...rs
A pasta, nossa massa, não é tão dura como dizem e algumas são saborosas, mas quando você começa a gostar...acabou!
Tirando as ilhas onde os restaurantes preparam frutos do mar pescados na hora e no mar rs...passei perrengue para me alimentar em todos os lugares que fui. Vai daí que comia pizza, panini e gellato quase todo dia.


Sim é verdade que a Europa não é lugar para comprar muito. É tudo bem caro, mas algumas coisas são irresistíveis. Bolsas, roupas de linho, sabonetes artezanais, maquiagem, cristais de Murano, foram provas em que fracassei e comprei mesmo. 😂

Sim é verdade que os italianos são os homens mais lindos do mundo, até a primeira grosseria. Aí cabe um parêntese. Minha experiência foi quase totalmente de homens que prestam serviço onde deveriam ser gentis e educados. Garçons, recepcionistas de hotelaria, vendedores em lojas e feiras, guias e acompanhantes. Quase todos bem bonitos, porém, com raras exceções, falta uma gentileza no olhar, no sorrir, no falar e falta educação no tratar. No meu caso, foi uma decepção. Vocês lembram que comecei a postar que o melhor da Itália eram os italianos...no primeiro, no terceiro dia e depois parei...pois é.

Sim é verdade que se vestem super bem. Homens e mulheres parecem, quase sempre, saídos de uma vitrine de loja. São cheirosos e chiques até para caminhar.
Sim é verdade que são sedutores. Te olham dentro dos olhos, te chamam de amore mio, Te acompanham mesmo de longe com tchaus e mini beijinhos. Mas uma amiga me contou (rs) que não beijam bem. 😯

Sim é verdade que a Itália é história viva, é cultura a céu aberto, é bem cuidada, tem grande preocupação com idosos, deficientes e animais.

Não é verdade que podemos andar despreocupados de bolsas e celulares. Em todo lugar que cheguei me avisaram para ficar de olho e me prevenir dos furtos.

Sim é verdade que a Itália é linda, romântica, sensual, alimento da fé e alegria da alma.

Sim eu voltaria....hoje, na próxima semana, ano que vem, sempre. Mas, dificilmente, me apaixonaria por um italiano como sempre sonhei. Também não moraria lá...a não ser que fosse em Firenze ou em San Gimignano 😊

Segue a vida!