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terça-feira, 12 de novembro de 2013

A mão esquerda de Cervantes

Autor: José Jorge Letria
Editora: Pergaminho
Classificação: ***

Estado febril. Conto a conto, José Jorge Letria faz desfilar absurdos e contratempos, o sobrenatural e o fantástico, a lembrar um parente diminuído, e mais ao seu tempo, das excelentes criações de Poe. Mas não é por isso que este "A Mão Esquerda de Cervantes" deixa de interessar à leitura. Aliás, atira-nos a cada estória para uma espécie de estado febril, no limite entre o sono e os curtos períodos de vigília em que todos pensamentos e pesadelos se assumem como evidentes e, por isso, assustadores.
 
São estórias de personagens mirabolantes como a de um rapaz, que à força de tanta televisão ter visto a sua mãe, vê a sua cabeça transformada num desses electrodomésticos apetrechada com vídeo gravador e antena parabólica, ou a de uma casa personificada que tudo devora, levando à loucura o seu hóspede incómodo e indesejável, ou ainda a de um homem, que não curando do ciúme e atenção requerida, morre por descuido à mão fustigadora da sua própria sombra. 14 contos muito próprios a pequenas pausas.
 
Em 1998, a Associação Portuguesa de Escritores atribui a honra do Grande Prémio do Conto de Camilo Castelo Branco a José Jorge Letria por esta obra.

domingo, 10 de novembro de 2013

O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá

Autor: Jorge Amado
Editora: Leya, Colecção Bis
Classificação: *****

Jorge Amado escreveu O Gato Malhado e a Andorinha Sinhá em 1948, para o seu filho João Jorge, quando este completou um ano de idade. O texto andou perdido, e só em 1978 conheceu a sua primeira edição, depois de ter sido recuperado pelo filho e levado a Carybé para ilustrar. Com ilustrações belíssimas, para um belíssimo texto, a história de amor d'O Gato Malhado e da Andorinha Sinhá continua a correr mundo fazendo as delícias de leitores de todas as idades.

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

O insusntentável peso da solidão

Autor: Katherine Mansfield
Editora: Coisas de Ler
Classificação: **

Com a subtileza de uma câmara de filmar, Katherine Mansfield, capta, com notável rigor, os momentos emocionalmente carregados em que a personagem se desvenda perante os olhos do leitor, frequentemente mais por omissão do que por afirmação, criando uma estrutura delicada e uma obra de arte onde estão presentes o lirismo e toda a beleza da poesia.

Esta obra deve ser vista à luz da época em que foi escrita (início do século XX) e a autora tenta, de certa forma, fazer uma crítica à sociedade, usando uma linguagem da linha modernista. No entanto, esta leitura não me seduziu, as histórias que conta deixaram a desejar.

quinta-feira, 3 de outubro de 2013

Histórias falsas

Autor: Gonçalo M. Tavares
Editora: Leya, Colecção Bis
Classificação: *****

"Descia Mercator umas pequenas escadas quando deparou com o filósofo, pobremente vestido, sentado no chão, contra a parede, a comer lentilhas. Arrogante, mais do que era seu costume, cheio de vaidade pela riqueza que ostentava, e pelo estômago farto, disse, para Diógenes: – Se tivesses aprendido a bajular o rei, não precisavas de comer lentilhas. E riu-se depois, troçando da pobreza evidenciada por Diógenes. O filósofo, no entanto, olhou-o ainda com maior arrogância e altivez. Já tivera à sua frente Alexandre, o Grande, quem era este, agora? Um simples homem rico? Diógenes respondeu. À letra: – E tu – disse o filósofo – se tivesses aprendido a comer lentilhas, não precisavas de bajular o rei."

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Contos fantásticos

Autor: Jack London
Editora: Antígona
Classificação: ****

O poder imaginativo de entreter e encantar de Jack London revela-se plenamente nesta antologia de quinze contos fantásticos. O coração começava a bater mais depressa e o calor do corpo, a aumentar. Era então que aparecia a vermelhidão, que se espalhava com a rapidez de um relâmpago pelo rosto e pelo corpo. A maioria das pessoas não reparava no aumento de calor e do ritmo cardíaco, e a primeira coisa de que se apercebia era a erupção cutânea. Em geral, esta vermelhidão era acompanhada por convulsões. No entanto, estas não duravam muito tempo nem eram muito graves.

segunda-feira, 4 de junho de 2012

Cal

Autor: José Luís Peixoto
Editora: Bertrand
Classificação: ****

CAL reúne textos de natureza diversa (3 poemas, 17 contos, 1 peça de teatro), ancorados num espaço rural e na vivência e memória dos mais velhos. Aqui, a experiência da duração, da continuidade, funde-se com o sonho e com a loucura, num tempo fora do tempo. Como um «fio puríssimo de luz», uma «ausência presente» atravessa os gestos e as emoções destas figuras. Em cumplicidade com a morte, a vida torna-se mais límpida, talvez mais pura. A luz, como «treva visível» - força redentora das suas personagens -, é certamente um dos fios condutores de CAL.
Parte dos textos incluídos neste livro tiveram uma publicação limitada na imprensa escrita. Os poemas «Olhe os seus netos. Eles hão-de querer que o avô», «As mulheres de 80 anos sentam-se em todas as cadeiras» e «A gente corremos pelas ruas da vila» são aqui publicados pela primeira vez. A peça “À Manhã” foi estreada no Teatro São Luiz, em Lisboa, em Janeiro de 2006 e reposta em 2007, com encenação de Natália Luíza e Miguel Seabra.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Short Movies

Autor: Gonçalo M. Tavares
Editora: Editorial Caminho
Classificação: ****

Gonçalo M. Tavares já nos habituou ao seu olhar sobre o mundo e os homens: atento, inteligente, perspicaz, crítico... Em Short movies esse olhar é circunscrito, intencionalmente dirigido a cenas específicas de um quotidiano tantas vezes mais absurdo do que seria de crer. E esse olhar tem ainda outra particularidade: conduz-nos com exactidão pelos mesmos caminhos que o autor percorreu. Neste livro, Gonçalo M. Tavares permite-nos partilhar a sua forma de alcançar esse seu tão exclusivo olhar. Um privilégio literário e humano para qualquer leitor.

sábado, 19 de maio de 2012

Os amantes e outros contos

Autor: David Mourão-Ferreira
Editora: Editorial Presença
Classificação: ****

Um livro fascinante onde amor e morte perturbantemente se cruzam, intimamente se confundem; e onde a denúncia da violência ou de arreigados tabus serve de pano de fundo aos mais livres voos da imaginação. Uma linguagem de extrema sugestão poética e simultaneamente muito precisa e despojada, de um como que incandescente rigor. Um clima onírico e ao mesmo tempo uma realidade historicamente referenciada. Um livro já hoje "clássico" na fronteira do fantástico e do real, do mágico e do quotidiano.

sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Contos do Gin-Tonic

Autor: Mário-Henrique Leiria
Editora: Editorial Estampa
Classificação: *****

Incluindo prosa e verso, Contos do Gin-Tonic, datado de 1973, colige textos onde o nonsense, a narrativa insólita e o escárnio produzem um humor que tem como alvo o absurdo real. A maioria dos contos é de dimensão muito reduzida, desde uns microcontos de poucas linhas até duas ou três páginas, raramente mais, estando todos eles recheados de surrealismo, subversão e humor sarcástico, sendo também evidente a marca do contexto político da época.

Apresentação do autor na primeira edição, só por si um bom motivo para ler estes contos:
“Mário-Henrique Leiria nasceu em Lisboa em 1923. Frequentou a Escola de Belas Artes, donde saiu apressadamente. Entre 1949 e 1951 participou nas actividades da movimentação surrealista em Portugal. Depois começou a andar de um lado para o outro. Teve vários empregos, marinha mercante, caixeiro de praça, operário metalúrgico, construção civil (não, não era arquitecto, carregava tijolo), etc., pelas terras onde andou: a Europa cristã e ocidental, o Mediterrâneo norte-africano, o Oriente Médio e até, dizem, os países socialistas. Não ia aos Balcãs porque tinha medo, todos lhe diziam que lá os bigodes eram enormes e as bombas estoiravam até no bolso. Um dia teve de passar por lá. Os bigodes eram realmente grandes, mas toda a gente sabia rir. Tirou o casaco e bebeu que se fartou. Em 1958 meteram-se-lhe ideias na cabeça e foi até Inglaterra, para aprender coisas. Não aprendeu e voltou. Entre 1959 e 1961 foi casado e não fez mais nada. Em 1961 foi para a América Latina donde voltou nove anos depois. Por lá conseguiu ser, entre outras actividades menos respeitáveis, planejador de stands para exposições, encenador de teatro e até director literário de uma editora. Fizera progressos. Agora está chateado, vive em Carcavelos e custa-lhe muito a andar.”