Brasil desvendado...
Fiz aniversário dias atrás e ao buscar um texto para um post por aqui, acabei me esbarrando num de Mário Andrade (já passei um pouco dos 40, mas a poesia é perfeita).
QUARENTA ANOS
A vida é pra mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar... Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei.
Foi meu pecado... Horrendo
Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!...
Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
(Mário de Andrade, in A Costela do Grão Cão, 1933)
Mudei completamente o foco do post e resolvi falar dele, um grande desvendador do Brasil.
Mário foi escritor-chave do modernismo brasileiro, mas deixou marcas em outros campos da cultura nacional, como na pesquisa de costumes, música e danças popularesEclético. O adjetivo se aplica perfeitamente a Mário de Andrade (1893–1945). Mais conhecido pela verve de escritor, Mário cravou para sempre suas marcas na literatura com a publicação de Macunaíma – O Herói sem Nenhum Caráter, em 1928, tido como o mais importante livro do modernismo brasileiro.
Mário foi autor também de outros importantes títulos, como Paulicéia Desvairada (1922) e Amar, Verbo Intransitivo (1927). O que pouca gente sabe é que suas paixões também se estendiam pelos campos da música, da cultura popular e da fotografia. E, se pelas letras ele se consagrou, foi pela música, como professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, que garantiu seu ganha-pão por quase toda a vida.
Abaixo a única música composta por Mário (única em sua carreira toda e diga-se de passagem, em boa companhia):
Viola quebrada (Ary Kerney / M. Andrade/ Villa-Lobos)
Quando da brisa no açoite a flor da noite se acurvou
Fui encontra coma a Maróca meu amor
Eu senti n'alma um golpe duro
Quando ao muro já no escuro
Meu olhar andou buscando a cara dela e não achou
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Meu coração me deixou
Minha Maróca resolveu prá gosto seu me abandonar
Porque o fadista nunca sabe trabalhar
Isto é besteira pois da flor
Que brilha e cheira a noite inteira
Vem depois a fruta que dá gosto de saborear
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Meu coração me deixou
Por causa dela sou um rapaz muito capaz de trabalhar
E todos os dias todas as noites capinar
Eu sei carpir porque minh'alma está arada e loteada
Capinada com as foiçadas desta luz do seu olhar
QUARENTA ANOS
A vida é pra mim, está se vendo,
Uma felicidade sem repouso;
Eu nem sei mais se gozo, pois que o gozo
Só pode ser medido em se sofrendo.
Bem sei que tudo é engano, mas sabendo
Disso, persisto em me enganar... Eu ouso
Dizer que a vida foi o bem precioso
Que eu adorei.
Foi meu pecado... Horrendo
Seria, agora que a velhice avança,
Que me sinto completo e além da sorte,
Me agarrar a esta vida fementida.
Vou fazer do meu fim minha esperança,
Oh sono, vem!...
Que eu quero amar a morte
Com o mesmo engano com que amei a vida.
(Mário de Andrade, in A Costela do Grão Cão, 1933)
Mudei completamente o foco do post e resolvi falar dele, um grande desvendador do Brasil.
Mário foi escritor-chave do modernismo brasileiro, mas deixou marcas em outros campos da cultura nacional, como na pesquisa de costumes, música e danças popularesEclético. O adjetivo se aplica perfeitamente a Mário de Andrade (1893–1945). Mais conhecido pela verve de escritor, Mário cravou para sempre suas marcas na literatura com a publicação de Macunaíma – O Herói sem Nenhum Caráter, em 1928, tido como o mais importante livro do modernismo brasileiro.
Mário foi autor também de outros importantes títulos, como Paulicéia Desvairada (1922) e Amar, Verbo Intransitivo (1927). O que pouca gente sabe é que suas paixões também se estendiam pelos campos da música, da cultura popular e da fotografia. E, se pelas letras ele se consagrou, foi pela música, como professor do Conservatório Dramático e Musical de São Paulo, que garantiu seu ganha-pão por quase toda a vida.
Abaixo a única música composta por Mário (única em sua carreira toda e diga-se de passagem, em boa companhia):
Viola quebrada (Ary Kerney / M. Andrade/ Villa-Lobos)
Quando da brisa no açoite a flor da noite se acurvou
Fui encontra coma a Maróca meu amor
Eu senti n'alma um golpe duro
Quando ao muro já no escuro
Meu olhar andou buscando a cara dela e não achou
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Meu coração me deixou
Minha Maróca resolveu prá gosto seu me abandonar
Porque o fadista nunca sabe trabalhar
Isto é besteira pois da flor
Que brilha e cheira a noite inteira
Vem depois a fruta que dá gosto de saborear
Minha viola gemeu
Meu coração estremeceu
Minha viola quebrou
Meu coração me deixou
Por causa dela sou um rapaz muito capaz de trabalhar
E todos os dias todas as noites capinar
Eu sei carpir porque minh'alma está arada e loteada
Capinada com as foiçadas desta luz do seu olhar
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