(Foto de BlueShell) - Portugal
“Amigo
disfarçado, inimigo dobrado.”
Dulce
conhecia esse pedaço de sabedoria popular mas nunca, nunca em sua vida lhe dera
o real significado…nunca sentira, no corpo e na alma, essa dor provocada por alguém
cuja amizade é apenas simulada!
Enquanto
caminhava só se lembrava dos momentos de dor intensa provocada por esse homem:
sedutor, provocador, bajulador, mentiroso…cuja máscara caíra perante ela mas que continuava a
ter os seus “lacaios” – os que, como ele, se alimentavam da boa-fé, da integridade que
caracteriza os justos!
Não
tinha medo dele. Nem respeito. E a sua natureza pedia vingança. Um querer agir
que parecia estalar-lhe no peito…
Não
tinha medo dele…tinha medo de si mesma, do que poderia fazer se o visse à sua
frente. Sim, sentia raiva…e horror desse sentimento. E nojo de ter privado
durante mais de 20 anos com uma criatura que era, em tudo, o estereótipo da
ignomínia!
Caminhava
sem sentir o vento fustigar-lhe o rosto e a alma! Caminhava sem sentir o
cansaço…sem ver o que a rodeava. Sentia que era urgente chegar. Precisava
chegar antes de mudar de ideias e voltar atrás. Sentia, sim, que tinha pressa. Porque
voltar atrás era tornar-se igual a ele, pior que ele…era descer ao patamar da
agressão…do ódio cego. Não, não o faria nunca! Mas precisava chegar depressa!
Por isso rompeu caminho por entre tojos e silvas que lhe feriam os tornozelos…mas
precisava chegar. Não sentia dor, nem sentia o sangue que, quente, fazia como
que sulcos nas suas pernas.
Desfigurada
pelo cansaço e pelas cicatrizes de tempos de luta…chegou!
Ali,
no alto, sentia agora uma Paz…uma libertação de tudo o que deixara e que a
conduziria à perdição. Não sentia o frio…sentia o calor de uns braços que não
eram deste mundo. Ajoelhou.
E
assim esteve, longo tempo, numa oração que ninguém pôde ouvir!
Depois,
lentamente, ergueu o rosto macerado e balbuciou:
“A ti
levanto os meus olhos, ó tu que habitas nos céus.
Assim como os olhos dos servos atentam para as
mãos dos seus senhores, e os olhos da serva para as mãos de sua senhora, assim
os nossos olhos atentam para o SENHOR nosso Deus, até que tenha piedade de nós.
Tem piedade de nós, ó SENHOR, tem piedade de
nós, pois estamos assaz fartos de desprezo.
A nossa
alma está extremamente farta da zombaria daqueles que estão à sua vontade e do
desprezo dos soberbos.”
(Salmos 123:1-4)
Unto thee lift I up mine eyes,
O thou that dwellest in the heavens.
Behold, as the eyes of servants
look unto the hand of their masters, and as the eyes of a maiden unto the hand
of her mistress; so our eyes wait upon the LORD our God, until that he have
mercy upon us.
Have mercy upon us, O LORD,
have mercy upon us: for we are exceedingly filled with contempt.
Our soul is exceedingly filled
with the scorning of those that are at ease, and with the contempt of the
proud.
"Venham
sobre mim também as tuas misericórdias, ó SENHOR, e a tua salvação segundo a
tua palavra.
Assim terei
que responder ao que me afronta, pois confio na tua palavra."
Salmos 119:41-42
Let thy mercies come also unto me,
O LORD, even thy salvation, according to thy word.
So shall I have wherewith to answer
him that reproacheth me: for I trust in thy word.
E , prostrada,
deixou que o Tempo levasse consigo a dor
…e adormeceu em Paz….