terça-feira, 17 de fevereiro de 2009

John Updike, um poema de Tiago Nené

JOHN UPDIKE

.

Morreu sem um critério rigoroso.

Não se poderá dizer que tenha sido a lei da vida

ou a lei da morte

ou uma derradeira e infinita

composição da urgência.

Hoje morreu-lhe o corpo, morreu porque assim

disseram os médicos, porque assim

disse o seu pulso frágil como o equilíbrio

da terra, e porque agora é o tempo que o respira.

Hoje morreu-lhe o corpo, repito em voz alta.

E isso é tudo o que,

da perspectiva da nossa memória incompleta,

precisamos de saber.

.

.

Tiago Nené

(in Instalação, obra a ser lançada em 2009)

quinta-feira, 13 de novembro de 2008

dois poemas de barack obama escritos em 1981

Poemas de Barack Obama em português na Casa dos Poetas traduzidos por mim.

terça-feira, 24 de junho de 2008

O fato novo do imperador


Tenho 31 anos e estou cansado.
Todos os sítios me vão parecendo, finalmente,
igualmente maus.
Todas as pessoas, incluindo as que gostam de mim,
insuportáveis.
Não encontro sentido nem para o que faço
nem para as coisas que deixo por fazer.
Olho para os outros
com a absoluta certeza de quem vê
não semelhantes,
serenos, resignados, envilecidos extraterrestres.
Olho para mim
e sinto-me como se não tivesse outros com quem partilhar.
Para onde quer que eu olhe,
a insuportável mentira que faz ninho, germina, destila
este tempo, este país, este modo de viver
a que chamam
progressista, tolerante, solidário, democrático,
avançado, europeu, e melhor e melhor
que todos os existidos,
que todos os possíveis.
Este modo de viver
onde falta tudo o que foi nomeado.
Que desfez a classe trabalhadora sem uma única bala,
que encarcerou as consciências sem uma única grade,
que me afasta sem um único cassetete,
que me exclui sem um ferro candente,
sem sequer uma estrela amarela na lapela.

Este tempo
de fatos novos,
de Imperadores.




antonio orihuela

poesia espanhola anos 90
trad. joaquim manuel magalhães
relógio d´água
2000

quinta-feira, 20 de março de 2008

quase

Às vezes é
preciso sair
ir embora
abandonar locais
onde há muito
chegámos
locais
onde sabemos
em tempos ter
sido felizes
E é então
que perguntamos
qual o sentido
de chegarmos
para podermos
partir
qual o sentido
de partimos
para podermos
chegar
a nós mesmos
E a resposta
tarda sempre

quarta-feira, 5 de março de 2008

Saudade


com saudade
te sinto
como um trago
de absinto
e tomo-te
ardor
com o rosto
resignado em lágrimas

Vera Carvalho

Foto de Sara Sá

Também em http://petalasminhas.blogspot.com

sábado, 23 de fevereiro de 2008

Última vez

Despedimo-nos… despedimo-nos…
Deixamos para trás um rasto de destruição
No meio daquela multidão um silêncio
Devastou os corações apinhados de dor,
De sofrimento, de sentimento de extravio
Corações ensanguentados, cheios de dor de culpa
Por ser nada mais que uns simples mortais
Impossibilitados de agir contra as forças naturais.
Quantos de nós partiram jornada dando-se completo
Graças às promessas vazias, vãs de melhores
Proscénios para recitar a existência,
Mas… compõe….
Mera fantasia, em fortalezas quiméricas.
Resta-nos mãos sujas consciência penosa
Cabisbaixo e a revolta de um dia ter partido
De um porto em paz e atracar noutro levando
Ventos apoquentados de conflito.



Leonardo

terça-feira, 12 de fevereiro de 2008


Despedimo-nos… despedimo-nos…

Deixamos para trás um rasto de destruição

No meio daquela multidão um silêncio

Devastou os corações apinhados de dor,

De sofrimento, de sentimento de extravio

Corações ensanguentados, cheios de dor de culpa

Por ser nada mais que uns simples mortais

Impossibilitados de agir contra as forças naturais.

Quantos de nós partiram jornada dando-se completo

Graças às promessas vazias, vãs de melhores

Proscénios para recitar a existência,

Mas… compõe….

Mera fantasia, em fortalezas quiméricas.

Resta-nos mãos sujas consciência penosa

Cabisbaixo e a revolta de um dia ter partido

De um porto em paz e atracar noutro levando

Ventos apoquentados de conflito.



Leonardo

terça-feira, 5 de fevereiro de 2008

Com uma pequena lágrima perdi-te para sempre...
Dói tanto ver-te e não poder ter-te de novo!

Olha para trás! Por favor!
Eu estou aqui...

Ai! Não vês que sofro? Vê-me!

Amo-te!
Esta palavra está tão magoada...
Dizer amor faz doer o coração.

Estou aqui, meu querido.
Volta desse lugar que te acolhe,
que te prende para sempre.

Ai! que sofrimento!
que angústia é viver sem ti para me abraçares...

Choro por ti, que não mais voltarás...

Saudades, meu docinho.
Amo-te!
onde quer que estejas lembra-te:
Eu estou aqui.

Liliana Martins

sábado, 19 de janeiro de 2008

Inconsciente?

Falo com o pensamento
Digo coisas sem sentido
Foi estupidez minha
Quase te ter perdido

O destino porém dirá
O que se vai passar
Embora não aguente mais
A angústia de te amar

Sim, é angústia o que sinto
Sentimentos baralhados
Quando não temos resposta
Amamos sem ser amados

Não te deito as culpas
O inconsciente fui eu
Consigo sobreviver
Mas meu coração morreu

Se pensas no que sentes
O amor é enforcado
Quando amas a pensarAcabas mutilado.


Dénis Carmo

domingo, 13 de janeiro de 2008

Já ninguém diz bom dia com desejo...
Já ninguém sente saudade.

Tudo corre...
Todos correm.

Abraçar e beijar com vontade,
Sorrir com o teu beijo...

Tudo corre...
... morrem.

Liliana

domingo, 6 de janeiro de 2008

Conta de sumir e de submultiplicar

Deus
eus
eu
e
eu
deu
deus

Mário Lisboa Duarte
in O Micróbio Megalómano

Cansaço Porquê?

Não, não grites cansaço!

Não é cansaço...
É uma desilusão,
que te penetra a alma,
que te consome a calma.

É um mar sem água,
o sol frio, o gelo escaldante...
Sensações inúteis, violentas por nada!

É andar sentindo que rastejas,
É sorrir e sentir os lábios a rasgar,
uma gargalhada seca de uma avultada
massa de ar que te sai dos pulmões,
que faz eco, que irrita o ouvido...

É um peso nos teus ombros.
Sentir o mundo todo em cima,
existir, não viver...

É o mundo que existe,
é tudo o que ele contém!

É qualquer coisa como uma angústia,
é querer gritar sem voz,
é uma coisa que está por dizer...
É por sofrer com tudo
ou por sofrer como...

Como quê?...
Se soubesses, não estarias cansado.

Sensação abstracta em ti, vida concreta!
Pensamentos absortos em coisa nenhuma!...

Afinal é: cansado do tempo morto que acarreta.




Liliana

quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

No Outono

Dás-me a mão.
Eu seguro...
Cai a chuva,
O vento enfurece-se,
Morrem os pássaros,
O sol desaparece,
Afogam-se as flores...

Tu não estás...
Nunca estiveste!
Eu fiquei.

Prendeste-me…
Nessa gaiola fiquei.

Sei que não era isso.
Perdi.
Soltei-me e aqui estou.

Liliana

Testamento para o Dia Claro


Quando do fundo da noite vier o eco da última palavra submissa
E a patina do tempo cobrir a moldura do herói derradeiro,


Quando o fumo do último ovo de cianeto
Se dissipar na atmosfera de gases rarefeitos
E a chama da vela da esperança
Se acender em sol na madrugada do novo dia


Quando só restar na franja da memória
Lapidada pelo buril dos tempos ácidos
A estria da amargura inconseqüente
E a palavra da boca dos profetas
Não ricochetear no muro do concreto
Da negrura sem fundo de um poço submerso


Sejais vós ao menos infância renovada da minha vida
A colher uma a uma as pétalas dispersas
Da grinalda dos sonhos interditos.


(poeta de Cabo Verde: Arnaldo França)

domingo, 16 de dezembro de 2007

Diz-me baixinho, muito baixinho...
Diz-me com essas palavras lindas
que querem fugir do teu para o meu coração...

Vem, amor! Dá-me a mão e o teu coração!

Letras juntas, palavras soltas
Notas musicais, sons compostos com os ais
Do meu coração...Expressões musicais!
Ah! Estou a ouvi-las!
Tu compões a música do meu momento.

(Ai, infelizes os surdos que não a ouvem!)

Mas, porque dizes tudo isso
Dizendo nada ao mesmo tempo?
Adormeces no meu coração,
Que chora, chora, chora...

(Dói tanto, tanto, tanto...)

Olho para ti, não estás.
Olhas para mim, não estou.
Olhamos para nós e tudo se desfaz.

O vento canta: alguém amou!

terça-feira, 20 de novembro de 2007

MARGEM INSINUANTE

As formas de sentir emitem luz
Os sonhos sem mar, soltam-se
Um rosto sem opinião dissimula-se
Versos que passeiam denunciam…
A demora entre as linhas, absorve-me
Pingos de beleza largada, queimam
Esta história sem história petrificada
Até ao anoitecer sem silêncio nem lugar.

O lume é espesso, engrossa
Semeia na dor o adormecer…
A mentira simétrica do monte, suplica!
Num reflexo pungente, macerado
Com os estilhaços da circunstância
Esta margem insinuante…
Na dualidade de ausências estilhaçadas.

Apenas o traço deixado… absorve,
Impróprio pela surpresa da curiosidade,
Desde o tempo da coroa,
À centelha do efeito, sem reserva!
Na audição de todas as gotas,
Sobrepostas na consciência…
Vomitam o desejo plácido do choro
Desses que falam e não colhem.

Vila Franca de Xira, 20 de Novembro de 2007 – 20:48h
Jorge Ferro Rosa
in Caderno da Alma

A Brasileira do Chiado

Levo-te a passear pelo Chiado
Querendo, acima de tudo
Que te sintas como em casa
Mas mais coberta, dadas as circunstâncias

(Faz frio faz)

Vamos comer castanhas
E conversar com o homem inerte
Tu, fazes de conta que é o Mário de Andrade
Mas mais coberto
Eu, faço de conta que é o Pessoa
Mas menos desperto, dadas as circunstâncias

Mário Lisboa Duarte
Margem d'Arte

domingo, 18 de novembro de 2007

Vento

As palavras
cintilam
na floresta do sono
e o seu rumor
de corças perseguidas
ágil e esquivo
como o vento
fala de amor
e solidão:
quem vos ferir
não fere em vão,
palavras.

[este poema de Carlos de Oliveira tem ecoado em mim nos últimos dias]