29 de novembro de 2014

Um dia em Paris

Não que um dia baste, pois desejo ver a torre não só de longe, nem só de perto, sentar e tomar café com doçuras de onde possa ficar contemplando e quem sabe me ocorra uma poesia. Parentese para que, comer faz parte de muitos dos meus planos mundo a fora, os doces e pratos famosinhos e prosaicos, muitos itens que um dia só, nem comendo de três em três horas eu conseguiria em muitos lugares. Na Itália e em Portugal por exemplo eu teria que passar um mês...risos.
Quero além do momento Torre Eiffel, andar por lá de noite e de dia, andar de bicicleta, ir nos pontos turísticos e nos locais que andam os locais, andarilhar, fotografar. Conhecer e consumir o glam e o cult do lugar. 
Tenho dito em momentos de crise e nuvens negras uma frase que li por ai e adorei: Ainda vou rir disso tudo em Paris. E eis que na programação da tv aberta, nos idos de uma madrugada sem sono e sem companhia, o filme da vez foi: Meia noite em Paris.
Amei é o que posso dizer em uma palavra e sorri daqui como se lá estivesse. O ator principal, ser o mesmo de Marley e Eu ajudou, sou fã dele e quando gosto de um ator ele pode até fazer papel de malvadão que acho o máximo. Na mesma linha, quando não gosto, pode ser um príncipe que não rola sentimento.
Recomendo o filme e inclui a meus desejos num só dia que pise na Cidade luz ou em muitos que venha a passar por lá: na chuva caminhar. Me identifiquei com o papel de escritor e com a certeza de não ser dessa época, década, de estar no filme ou no livro errado, mas: é onde estou, é o que temos para hoje, ce est la vie.

28 de novembro de 2014

Parabéns atrasado

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Atrasada não como o coelho de Alice, para nada, atrasada mesmo e avisada ontem em tempo, mas sem tempo, pela amiga Ana Paula, que era o aniversário de uma amiga em comum entre nós duas e  entre muitas das pessoas que seguem meu blog e muitas pessoas blogosfera afora e adentro. Até aqui em casa ela é conhecida, chamada pelo nome, íntima.
Vou pegar as palavras cheias de sentimentos e sentidos de Ana Jácomo, que seguem entre aspas, para dizer o tipo de pessoa que a aniversariante de ontem é, dessas raras, que “ao lado delas, a gente se sente no balanço de uma rede que dança gostoso numa tarde grande, sem relógio e sem agenda. Ao lado delas, a gente se sente comendo pipoca na praça. Lambuzando o queixo de sorvete. Melando os dedos com algodão doce da cor mais doce que tem pra escolher. O tempo é outro. E a vida fica com a cara que ela tem de verdade, mas que a gente desaprende de ver.”
Lugar comum na idade avançada, que não é o meu caso (cof cof) nem o da aniversariante, datas de aniversários e de compromissos passarem não por desleixo ou desamor, mas por diversos desalinhos. A tal da agenda de papel ainda é  usada por mim, mas sem anotar os aniversários sei lá por que (na verdade sei, preguiça de anotar tudo igual todo ano, se o fizesse de tanto passar a limpo já teria memorizado). Os aniversários de amigos e familiares (muitos sei de cabeça) e outros não e juntos estavam aos dos muitos amigos blogueiros que entraram para o clube,  em uma tabelinha que fiz no Word. E eis que o arquivo tomou a pouco tempo chá de sumiço. Agora é mandar mensagem, olhar em homenagens aqui e ali, perguntar a um e outro e refazer a lista de novo, que esse ano vai para agenda (primeira promessa para 2015) que preciso começar a procurar (amo o momento escolha da nova agenda, sempre com desejo que tenha uma capa linda, elástico, saquinho e uma página por dia, para muitas colagens e rabiscos). E não, não tenho Facebook para me avisar das datas de aniversários, além do que Tia tal, amigo tal e muitas tals pessoas que faço questão saber a data de aniversário também não tem.
Depois de todo esse blá blá blá, sendo esse o segundo post do dia, uma vez que o outro estava na programação, o parabéns atrasado vai para Chica. Sempre presente aqui, geralmente a primeira a comentar, presença no meu e-mail, na minha caixa de correio e em tudo que vejo que tenha joaninhas. Além, de ser pura inspiração seus poetares e as histórias e fotos em família, que faço questão de acompanhar e tenho especial carinho pela Oma, pelo Neno, o Gui e a Cuca, além do participativo e modelo fotográfico Seu Kiko.
Uma pessoinha miúda em tamanho e enorme em carinho, atenção, simpatia, interatividade e multitarefas. Quando crescer quero ser igual a ela. E para ela é essa pequena homenagem. Um dia em Poa ou por cá, espero a gente ainda vai se abraçar e vou postar, resenhar e me alegrar tridemais, porque ela, tenho certeza, ao vivo é tuuuuuuuudo de bom como é virtualmente.

Cardápio com tradutor por favor

Momento desejo de macarrons

No cardápio de muitos restaurantes, plaquinhas e declamação dos garçons, ando precisando de tradução. Não! Não estou viajando por fora do Brasil e não estou indo em restaurantes estrangeiros. É que andam por aqui (e por todo canto imagino) falando outra língua, na verdade é um tal de dialeto com as palavras: proteína, carboidrato, oleoginosas e toda uma nova nomenclatura dada a carnes, massas e comestíveis em geral. Entendo que calça boca de sino já foi pantalona e hoje é flare, que modinhas são isso mesmo, mas é precisos se falar todas as línguas, afinal vivemos num mundo globalizado. Põe lá proteína e para quem não é da modinha, dos regimes, academias e afins, para crianças, idosos e para mim, põe o nome tradicional da tal.
A parte porém, de última dessa nova mania é a mania que as pessoas tem de se meter na vida do alheio e também a de fixar num assunto tipo chiclete. Sair para almoçar em grupo hoje é ter que ouvir recitas, recomendações, descrições sobre o que  se pôs no prato e sobre o que pomos. Eu que como de tudo, adoro uma caloria, sou tolerante e amante de glúten e nunca me interessei por exemplo em saber o que era a carninha torrada e suculenta que vende no tabuleiro da baiana, chamada: passarinha, me reservo ao direito de comer sem querer saber. Fui informada ainda assim que a tal passarinha é o baço do boi, com uma cara pausada após a informação, que imaginava eu não riria mais consumir a iguaria. Só que não né! Em nada mudou minha vida saber essa informação. 
Gosto de curiosidades, acho importante comermos coisas saudáveis, creio que somos o que comemos e que muita gente tem uma relação complicada com a comida. Eu gosto de folhas, saladas, grãos, pão, leite, carnes, verduras, enlatados. Gosto de experimentar sabores, gosto das memórias e prazeres de coisas que gosto e posso, graças aos Deuses da saúde e do meu cuidado com ela, sem excessos e não tendo quilinhos a mais. Me benzendo após essa declaração, como recomendação amiga, de uma criatura que por vezes sai comigo para escolha de figurinos e que disse certa vez: - Não abre o bocão e diz que veste 36 ou precisa de uma peça PP, dá raiva nas pessoas, boas e más, pensa que você precisa tá bem protegida contra as pragas. Passei a dizer baixinho....risos.

27 de novembro de 2014

Das afirmações

Temos que ouvir cada coisa, sempre digo essa expressão e exclamei ela ao ouvir uma personalidade que admiro, sempre leio suas colocações, textos, já vi vídeos de explanações suas sobre temas sociais e humanos, dizer que nunca o passado é melhor que o presente. Esse nunca matou tudo, eu na hora cochichei comigo mesma. Bem podia ela dizer isso se antecedesse a premissa do eu acho, eu penso, eu defendo, ou trocasse o nunca por geralmente, enfim! Eu acho que o passado pode ser melhor que o presente, que saudosismo, nostalgia, reminiscências são saudáveis quando são aceitas como raízes, como que porque não ser o melhor que tivemos e que viremos a ter, ou algo sem igual.
Se rebobinar faz bem para alguém, vale rebobinar, passear no passado, se alimentar dele, acho que não vale é ficar preso, viver totalmente fora do tempo presente. Penso é que tem que ter um pouco de tudo, tem que ter olhos no futuro, olhadelas no passado, pés e asas no presente, ser à moda antiga e das modernices. Nada com medida ou receita igual para todos mundo, porque cada cabeça é um mundo e coração é terra que ninguém passeia reza o dito. Cada um a seu modo, na sua velocidade, com seus gostos, dentro de suas necessidades.
Afirmações genéricas, rótulos, verdades incontestáveis é de última, proferir sendo um formador de opinião, educador, estudioso ou profissional dos comportamentos, sintomas e patologias humanas é irresponsável, arbitrário. E tenho dito! E tenhamos nossas opiniões formadas e quiçá reformuladas.

24 de novembro de 2014


São quatro pares de sapatos que moram nessa caixa. Minha mãe guarda um de cada filho, dos tempos dos primeiros passos. Eu, provavelmente gosto de sapatos vermelhos por continuidade ou não.
Os dois sapatinhos de ponta cabeça nessa foto, que dizem não pode, tipo faz mal, que nem bolsa no chão, segundo várias recomendações, por vários motivos descabidos, são de meus e de meu irmão. Revirei eles pois estávamos no quarto de nossa mãe num momento remexer nas coisas e reparei nos solados.
Os dos meus, sujinhos gastos, com a região do dedão mais gasta que o restante desde os primeiros passos até hoje e os dele branquinhos, limpos, quase sem uso tipo pneu novo. Pensei no ato: coitado do pobre, carregado o tempo todo, ninguém pousava ele no chão. Tudo na vida tem uma explicação e eu cá com meus botões pensei não queria ser ele pássaro preso, não gosta dos tais mimos, por isso hoje não para quieto, não tem pouso certo.
Olhinho de canto para o piso da casa de minha mãe, de madeira, que denuncia ao rangir qualquer ir ou vir. Imagens e histórias por mais valorização, memórias, narrativas. Por passos, caminhos e também colinhos.

21 de novembro de 2014

De por ai para cá

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Recortei dia desses comentários meus em postagens alheias para trazer vez em quando para cá, na íntegra ou com correções, edições, bordas e recheios a mais, para desenrolar e cronicalizar histórias paralelas e perpendiculares. Hoje trouxe o primeiro da série (sempre quis dizer isso). 
Anteontem, por coincidência, ocorreu de eu publicar aqui o que havia comentado dias antes em um post do blog vizinho de onde veio o comentário fruto da publicação de hoje. Um emaranhado contato para dizer que adoro essas histórias, esses alinhavos, retalhos, remendos, essas interligações, por acasos ou não.
Pular elástico e minha infância são sinônimos, objetos diretos, companheiros inseparáveis e como modéstia não vem no pacote ser ariana, eu arrasava. Do tornozelo ao pescoço, não tinha pra ninguém e quando não havia quem segurasse o elástico para mim, eu, como milhares de garotas, colocava duas cadeiras de costas uma para outra, na distância ideal, passava o elástico e cantarolava: "Ono um, ono dois, ono três, zig zag, zig zag" ou "Seu marido morreu e deixou você carregada de filhos, foi um, foi dois (e eu acabava com a pobre da mulher enchendo ela de filhos). 
Os elásticos lá em casa, pedíamos geralmente, com beicinho e cara de netas adoráveis a minha vô que pegava uma peça retangular na sua máquina de costura, cortava um pedaço e amarrava na ponta, em tamanhos menores fazia o mesmo para amarrarmos os cabelos e irmos para escola nos achando. 
Quando o tempo era de vacas magras, remendávamos os elásticos folengados retirados dos cós das roupas já alaçadas, que ganhariam um elástico novo. Lá em casa as roupa passavam entre irmãs e também vinham de primas, assim como iam para os pobrinhos depois.
Se hoje tivesse por aqui meninas brincando eu me convidaria, desconsideraria minhas 38 primaveras. Para fechar com a estima toda trabalhada no dourado, me ocorreu que minha professora de yoga queria saber como eu tinha tanta elasticidade, tão óbvio, tão sinônima a resposta e só descobri escrevendo esse post: pular elástico, elasticidade, tudo a ver.
Então, bora essa vidinha parada rever Fase bebês, adolescentes e em qualquer idade, praticar a elasticidade, o movimento faz bem de imediato, a curto, médio e longo prazo. Hoje é sexta-feira dia de esticar no sentido boêmio e na vibe do corpo são, mente sã, fica a dica de no final de semana se mexer e a cabeça espairecer.

20 de novembro de 2014

Para passar

Todo mundo com as palmas das mãos juntas, como que rezando, que vou passar minhas mãos assim por entre cada par de mãos. Entre um dos pares, que tem que disfarçar, vou deixar um anel. Quantas vezes brinquei disso e de lagarta pintada beliscando as mãos alheias e depois segurando em pontas de orelhas. Porque a velhinha pintou a lagarta? De que cor? Não sei! Também não sei a origem dessas brincadeiras e não me pus a procurar. Sei que muito da nossa cultura popular, brincadeiras, danças, cantigas, muito do nosso vocabulário, da culinária é de origem africana e indígena também.
Querer bem além da cor, viver, para ver não ser preciso um dia para celebrar a consciência negra, mais sim a cultura negra, as raízes negras, personalidades e pessoas simples que fizeram e fazem a diferença e que sejam homenageadas e valorizadas no cotidiano, misturadas a tudo e todos.
Que a consciência seja multi-racial, multi-étnica, que a essência seja o respeito e a mistura excelência. Que passemos de mãos em mãos, de geração em geração, de coração para coração, circular com um anel, os valores que não tem cor, dígitos, localização geográfica, religião. Axé odô!

19 de novembro de 2014

Só 10% será verdade

Fiz curso de Letras Vernáculas e nunca ouvi falar em Manoel de Barros. Não! Eu não ficava conversando, nem me perdia com o bater de asas de uma borboleta. Sempre fui muito ativa e também muito atenta. Nada sobre ele, nem uma linha de seus escritos. Muitas pessoas nunca tinham ouvido falar dele até ontem, mas precisamente até o dia que ele se foi. E ele não fazia questão de ser falado, mas de ser lido, não por volume ou extensão, mas de coração.
Ele não fazia questão de ser visto, mas sentido e para ser melhor conhecido, foi reprisado na GNT o documentário sobre sua vida e obra, que recomendei certa vez aqui, clica para ler e clica lá para ver:  Só dez por cento é mentira.
Soube que seus livros serão relançados por nova editora, de maneira bem comercial na segunda metade de 2015. Ele não fez parecerias muitas vezes oferecidas, quase sempre monetariamente intencionadas. Mas! Eu, em particular e intransferível, tenho um projeto na gaveta que muito tem dele e pensei com pesar, agora arrumarei quem faça gosto em participar.
Lembro que fui numa das maiores livrarias aqui de Salvador ano passado e nem no sistema havia seu nome. Na outra um título na prateleira e outros poucos no sistema, sem nenhum conhecimento do atendente sobre de quem se tratava. Não era comercial, #fato e nessa vai ir do 8 ao 80.
Não era conhecido, divulgado e acho que isso era exatamente o que ele queria, era o que ele era e que hão de reconfigurar, a um ponto talvez de só dez porcento ser verdade. Primeiro passo ao preço no ócio que ele afirmava que comprou, manteve, poetou e preservou foi no mesmo dia em que ele voou para além das nuvens, notícias comerciais além das homenagens e toda uma descrição material de sua pessoa e obra imateriais, fervilharem nos meios de comunicação.
Seus escritos valiam para quem tocavam, para quem os descobria por acaso, como tesouro escondido, por indicação ou por quem por refino buscava algo além das prateleiras dos mais vendidos. Pensar que mais pessoas terão acesso, dessas a quem irá tocar e fazer germinar é coisa boa de se pensar e se alegrar por isso. Mas também chegará por atacado, será rotulado, lido por obrigação, por modinha e afins. Educadores e deseducadores, com e sem noções vão querer traduzir, explicar, sistematizar e com isso o encantamento desencantar. Sobre os poetas para não usar uma de suas muitas desexplicações, Rita Apoena explica: “O mágico nunca conta os seus segredos. O poeta nunca explica uma entrelinha.”
Eu cá com meus exemplares de antes da fama e o endereço que recebi para lhe mandar uma cartinha, desenhos, recortes, que nunca mandei porque tudo era tão pouco, penso que agora ele tá on line e não ter mandado nada também é uma história, é um fazedor de imaginares, um desperdício guardado com alargador de horizontes.

17 de novembro de 2014

Conto de uma margem e um marcador

Contam-se muitas histórias com muitas palavras, frases, linhas, pontos e contrapontos. E esse conto é sobre uma parte de todo conto, história, crônica, poema ou qualquer outro estilo de escrita: as margens. Seja no papel ou nos equipamentos digitais elas estão presentes. Tem quem faça rabiscos nelas na escrita manual e devem elas se sentir nessas ocasiões, parentas bem próximas das entrelinhas, que são margeadas de palavras.
Certa vez uma margem larga e soberana da página de um livro que vivia na extremidade do miolo acompanhada de um marcador de páginas, começou a amarelar, não de medo, mas pelo avanço da idade. E o marcador que ali ficou tanto tempo, marcando aquela parte do livro onde o último leitor o repousou por gosto, para alguma recordação ou por ser onde parou a leitura, se pôs a refletir sobre a utilidade da vizinha.
Não houvesse as margens, as letras amarelar-se-iam de súbito e tão logo comprometeriam a leitura, a medida que os livros envelhecessem. Tão livres, puras, tão reveladoras dos miolos são as margens! Como molduras de retratos, divagou o marcador. 
A margem de um conto parece expressão de renegação, tanto quanto tantas outras expressões e palavras que subjugam o valor contido e além do que é visível ou formal. Como a areia está a margem do mar e nem por isso é menos importante, vista, querida, põe-se o poeta marcador, para sua amiga margem recitar. 
E na amarelidão, como no esbranquiçamento dos cabelos, como parceiros e admiradores um do outro, puseram-se os dois a namorar, torcendo não mais para alguém abrir o livro em asas e pôr o marcador a andar, mas para ali juntinhos na estante ficarem, margem e marcador, como amantes e um para o outro, importantes.
Dos meus escritos, para uma segunda poética, romântica, literária e uma semana de leituras, reflexões, bem quereres, paz e bem.

14 de novembro de 2014

Ar, voltar, amar

"A reta é uma curva que não sonha"
Fez a curva o poeta encantado e encantador
A imagem meu irmão mandou para mim por e-mail
A frase uma de muitas das suas pérolas
Idas, finitudes e infinitos sentimentos
Infinitas presenças
Tomei um ar para voltar
Por Manoel Barros tanto amar
Seus escritos e as entrelinhas
As iluminuras
Seu sorriso alumiado
E até sua ranzinzice
O gostar de escrever com lápis
Candura por papéis, cadernos
Os amarradinhos que fazia nos blocos
A simplicidade
O olhar fontano
Caracol que virou borboleta
E passarinho sempre será

12 de novembro de 2014

Ao meu padrinho

Ilustração de Maria Lamar
Segunda-feira a minha noite ficou sem rima, cinza, fria, triste e o dia amanheceu do mesmo jeito na terça-feira, me senti sem pernas, sem chão, sem cores e cercada de dor. Aqui no blog estava agendada uma viagem ao mundo de Alice e hoje como não havia nada na programação, ainda com muito pesar resolvi dividir esse momento pessoal como forma de homenagem.
Levado pela violência, numa fração de segundos, se foi um dos melhores abraços que eu ganhava e dava desde pequena, falei do dono grande, sempre perfumado e aconchegante desses braços que tanto me abraçaram e me deram colo, várias vezes por aqui, tantas que nem eu mesma lembrava de todas. Só na busca com a palavra: padrinho, apareceu uma lista, seguem alguns links para leitura: aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
Amo as minhas fotos de batismo ao lado dele e da minha madrinha. Ainda em fase de colinho minha mãe conta que ele é que ficava comigo nas missas dos eventos festivos do calendário religioso ou familiar. Ficava conversando, andando de lá pra cá, me enchendo de dengo, de elogios como fez a vida toda. Eu peralta elevava o volume da voz e ele dizia baixinho no meu ouvido: - Não pode falar alto aqui! Já sabendo o que eu faria, nada menos que falar bem alto: - Porque não posso falar alto? Ele saia para o lado de fora rindo e minha mãe brigando com nós dois. Sabia também o que sempre eu fazia a cada vez que resolvia ir dormir na casa dele que cheirava a pão fresco com manteiga e minha tia Amparo sempre tinha um pano de pratos nos ombros, nascidas no mesmo dia, eu e ela. A casa antiga, com escadas de madeira que rangiam está em minhas lembranças, o terraço nas lembranças e em fotos. Hoje (a um bom tempo já) no lugar é um Shopping center grande aqui da cidade, mas para mim é um lugar familiar e era a padaria da família, que se mudou para perto. Eu ia, jurava que daquela vez dormiria lá, mas ele sempre tinha que me trazer de volta.
O maior fã dos meus maus feitos, se divertia e sempre advertia aos garotos a minha volta, que na escola eu quebrava capas, elásticos e classificadores inteiros batendo na cabeça dos meninos que ousassem me perturbar, entenda-se por perturbar por exemplo, tocar em um fio que fosse de meu cabelo.
Nossa única discórdia era pelo time de futebol, não há ser humano perfeito e o defeito dele era ser torcedor do Bahia e esse não era um assunto proibido ou polêmico, era sempre motivo de risos e pertubações. Detesto o Bahia e lá entre as estrelas do mês de agosto que ficaram para sempre sem o mesmo brilho para mim, Dindo que amo e sempre vou amar você sabe que pensei em vestir a camisa do Bahia como última homenagem enquanto processava que era verdade tudo que aconteceu e que eu iria te ver pela última vez. Prova da porra (usando nosso linguajar) de meu imenso amor por você, mas ai pensei melhor e achei que você ia ficar decepcionado comigo, minha teimosia sempre foi sua alegria e é de você alegre, amigo, carinhoso, disponível, doce como os açucarados sonhos da Piedade, grande no tamanho e no coração que vou lembrar sempre e ser teimosa mesmo e brigona mesmo, sempre fui e agora com meu dindão no camarote celestial olhando por mim, com poderes de anjo, ninguém me segura. Vamos sentir muito sua falta! Muito! Muito! Muito!

10 de novembro de 2014

Únicos e múltiplos

Imagem da web

"Você não é a mesma de antes 
Você era muito mais muitais
Você perdeu sua muitesa" 
Chapeleiro Maluco para Alice
Trouxe essa pérola de tirar o chapéu, do Instagram de uma amiga que fez um boneco do Chapeleiro, por quem estamos apaixonadas e resolvi emendar numa história que ouvi a atriz Denise Fraga contar, que vou subscrever comigo em primeira pessoa e a meu modo e é segundo ela uma reflexão que uma pessoa lhe ensinou.
Sou Tina e Tina com Ana, com Júlia, com Paulo, com Amara, com Pedrinho. No meu caso, de não ser adepta do uso de máscaras, sou a mesma com qualquer pessoa, mas ainda assim sou outra pessoa com cada uma pessoa que me relaciono pois com cada uma delas até o mesmo assunto ou ir ao mesmo lugar por exemplo, é diferente.
E essa nossa mistura com cada pessoa faz o nosso individual se renovar, se adornar, por vezes se amargurar e assim a cada dia somos os mesmos e novos e isso é fantástico se administrarmos as nossas muitezas. Achou isso muito louco? Vou pedir ao Chapeleiro para falar o que ele acha e eu acho igualzinho: "Chapeleiro, você me acha louca? Chapeleiro: Louca, louquinha! Mas vou te contar um segredo: as melhores pessoas são".
Uma semana única e múltipla a todos, de loucuras puras, identidade, honestidade, com mão no queixo e viagem nos pensamentos e sonhos, mãos as obras, boas ações, valores individuais e coletivos.
Como tem algum borogodó nesse Chapeleiro e magia nessa história que amo, amanhã ela vai tá aqui mais uma de muitas vezes, como vão estar minhas histórias e minhas crenças, dentre muitas, em um mundo melhor e que os bons são maioria.

8 de novembro de 2014

Denúncia



Que decepção com o ser humano te conhecer 
Esse é meu sentinento e recado 
Por denúncia anônima fui parar nesse perfil oficial e fake
Não só foram publicadados textos meus 
Nos comentários apropriação
Agradecimento aos elogios
Autorização para que sejam compartilhados os textos 
Está até pensando em publicar um livro 
Eu vou ficar esperando a exclusão de todos os meus textos e comentários do perfil
Contando com a repercussão dessa denúncia
Com que as pessoas que leram os textos saibam da farsa
E com todo prazer passem a ler meus textos aqui
Registro por fim minha gratidão a quem denunciou

7 de novembro de 2014

Eu gosto do absurdo divino das imagens
Manoel de Barros
Descascada, despintada
E esses lindos azulejos, não são a original numeração
Casa de meus pais
Fotografei dia deses e achei numa faxina de fotos
Sempre minha
Não sei se sempre nossa
Sei será sempre parte de mim
Imagens, histórias, memórias
Cotidianas, absurdas, divinas
Uma sexta de divindades
De belas, simbólicas e queridas imagens

4 de novembro de 2014

Dos refinos

Não saiba a sua mão direita o que fez a esquerda diz a sabedoria popular e é um refinamento praticar, por isso resolvi não contar na ocasião (dia das crianças) da ação que fiz junto com meu marido, colegas de trabalho e amigos nossos, fonte de fotos que não coloquei para ilustrar o post, por não ter pedido licença as pessoas fotografadas, que não é porque estão na rua que podem ser exibidas por ai, como não podem e não devem as com endereço fixo, anônimas ou populares. Respeitar e zelar pelo direito da imagem dos outros e nossas, da palavra e da privacidade anda meio em falta no mercado.
O que fez nossas mãos veio para cá por causa de um projeto sobre a invisibilidade dos moradores de rua que vi na tv (clica aqui para ver) e daí resolvi dividir alguns sentimentos e histórias dessa vivência de distribuição de brinquedos arrecadados e comprados por nós e outras histórias minhas e de pessoas que vi e vejo na rua. Não para exibir, para contagiar.
Uma moça grávida de uma das fotos, que pousou sorridente, esperou paciente, cheia de modos, simpatia e educação pela doação em meio a uma muvuca, uma outra com uma criança no colo em outro local, antes de me passar ela, que pedi para carregar para tirar uma foto, me avisou: Ele fez xixi nesse short, tá seco, mas tá de xixi! Pensei que ela podia não ter dito nada, que ao carregar e colocar no colo muitas delas eu sabia e percebia não estarem limpas, mas isso fazia parte quando pensei em ir dar aquelas coisas e me propus e propus ao grupo de antemão distribuirmos além dos objetos, sorrisos, gestos de carinho, papos e assim foi e quando estendi os braços e disse que não tinha problema, o sorriso dela foi largo. um olhar de gratidão mais pelo gesto que pelo brinquedo, recompensador.
Muitos moradores de rua atendi no portão na casa de meus pais e não levava comida só, tagarela que sempre fui e ainda sou, sempre conversei, dei apelidos a alguns na coxia, tipo identidade para falar deles, porque eles faziam parte do nosso dia a dia. Muitos ainda andarilham por lá e me cumprimentam nas ruas e acho isso o máximo. Lembro de vários, tinha um que gritava e batia palmas ao invés de tocar, tinha uma que colocava o dedo na campainha e só tirava quando alguém aparecia, uns que não falavam nada com nada, os que não falavam e não falávamos e rolava comunicação. Tinha um senhorzinho miúdo e franzino que dormia num papelão embaixo do muro de um dos hospitais que ficam na rua que meus pais moram. De dia ele dobrava o papelão, ajeitava num canto caprichosamente, se penteava, mudava de roupa quando em vez, camisa arrumada para dentro da calça ou bermuda, cinto, sapatos. Todos os dias ele varria a calçada, cumprimentava as pessoas, passava lá pra tomar seu café, simpático e sorridente. Algumas vezes levei o café in loco, ia para o mercado ou na barraca  e pensava que nada me custava tão miúda gentileza. Ele lia noticias nos jornais que largavam por ai e as vezes davam a ele e conversava sobre assuntos diversos. O que fazia ali na rua não perguntei nunca, fosse hoje eu perguntava. Sumiu um dia e nunca mais o vimos. E assim tratei todos os pedintes do portão, exceto os abusados e violentos, coloca eles em seus lugares, ou seja longe dali, com toda minha brabeza diretamente proporcional a minha doçura.
Tratei e trato as pessoas de rua com suas diferenças e até gostos. Porque quem precisa também tem gostos que as vezes não custa serem atendidos. Tinha um senhor que não queria pão nunca, era só café, nem adiantava insistir e as vezes ele pedia mais açúcar e lá ia eu pegar, já que ajoelhei, rezava. Sou também da idéia e prática de dar um pacote de bolachas recheadas, chocolate e supérfluos a mendigos, porque não? Novidade para eles, doçura para vida amarga que levam. Até os que não são pedintes gostam e cabe darmos uma doçura um dia ou muitos. Tem uma senhorinha franzina e bem pobrinha que vende prendedores de cabelo sentada em um banquinho debaixo do sol a anos, perto do ponto de um ponto de ônibus, a quem levei outro dia um iogurte bem geladinho, sem discurso, explicação ou perguntação, dei, sorri e ela retribui o sorriso e disse o que diz sempre que compro prendedores por precisão ou não: Deus lhe pague. Ele paga eu creio, pois creio na máxima de que quem dá aos pobres empresta a Deus, creio que gestos assim mudam o mundo e se não mudarem mudam o dia de uma pessoa.
Dar quando batem a nossa porta é opcional, água, aprendi que não dar é pecado e ir dar algo a quem está na rua é diferente, aprendi nas aulas de religião do colégio, com professor Josemar. Você costuma doar? Cumprimentar as pessoas que moram na rua, por quem você passa as vezes diariamente, com um olhar que seja?

1 de novembro de 2014

Nove que é onze

Ilustração de André da Loba
Clica aqui para ver lá no Felicidário outras ilustrações

Tem uma para cada dia do ano
Com meu gostar de café
E a história de ter tudo a ver novembro ser o nome do mês nove e não ser
Porque o primeiro calendário da história começava em março 
E novembro, era o nono mês
Ai, na antiga Roma mudaram o início do ano para Janeiro
Em homenagem a Jano, Deus dos portões
Esse tal de Janos para quem não sabe, já que puxei essa proza
Tem duas faces em sentidos apostos 
Para os antigos romano, símbolo de transição
Olha uma estampa legal para uma camisa
Para decoração do ano novo, para sair do lugar comum
Enfim, Jano, com seu que de passado e futuro e de mudanças
Foi o responsável pelo começo do ano ser mudado
E a ele dado o nome de janeiro em sua homenagem
Alguém ai aceita um café?
Quer emendar algum assunto?
depois vale dar uma volta de onze por ai
Por aqui uma onze é uma paleta, que aprendi ser uma lapada em Maceió
A boa, conhecida e saudável caminhada