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quarta-feira, setembro 15, 2010

Onde está a manteiga?

" Dia desses, deparei com um curioso texto sobre as diferenças entre os cérebros masculino e feminino. Um artigo intitulado Por que os homens não passam roupa” explica que as diferenças comportamentais entre homens e mulheres devem-se menos ao condicionamento social, como a psicologia defendeu durante muito tempo, e muito mais a distinções biológicas identificadas por modernas pesquisas científicas e pelo mapeamento computadorizado do cérebro humano.
A tese inclui um histórico da formação de áreas diferenciadas na chamada massa cinzenta: o homem pré-histórico saía da caverna para buscar o alimento da família, por isso especializou-se em enxergar longe, em concentrar-se na caça (até para não ser caçado) e em encontrar o caminho de volta. Já a mulher desenvolveu habilidades para proteger a casa, para fazer várias coisas ao mesmo tempo e para se comunicar bem com as outras mulheres da tribo. Daí, por exemplo e simplificadamente, a razão pela qual os homens são melhores para se localizar no trânsito e as mulheres são muito melhores no uso das palavras, especialmente da linguagem oral.
Antes que me joguem pedras, esclareço que a tese não é minha e que, logicamente, admite todas as exceções possíveis. Tem homem que passa roupa, sim. Tem mulher que pilota avião e chega ao seu destino sem dificuldades. A pesquisa, obviamente, se refere às características predominantes nos dois gêneros.
Mas o que mais me impressionou na matéria é a parte que explica por que os homens não encontram as coisas dentro de casa. Essa me bateu forte: abro a porta da geladeira e não acho o pote de manteiga. Peço ajuda para minha mulher, ela vem e pega o pote na minha frente. Diz a pesquisa que nossos ancestrais masculinos desenvolveram a visão de longa distância para localizar e identificar a caça, mas aprenderam a concentrar-se unicamente nela. Já as damas das cavernas apuraram a visão periférica e hoje suas descendentes são capazes de enxergar uma multiplicidade de coisas ao mesmo tempo, além de distingui-las com muito mais facilidade e exatidão do que os olhares masculinos.
Claro que sempre vai haver dúvidas de um e outro lado. Se um homem tentar explicar para a mulher que não pode ajudá-la em casa porque seu cérebro não está programado para as repetitivas tarefas domésticas, corre o risco de levar o ferro de passar na moleira. Também será inútil para uma mulher justificar que se perdeu no trânsito porque o cérebro paleolítico de suas ancestrais só aprendeu a conhecer o interior da caverna.
Mas, embora sejamos de Marte e elas de Vênus, com diálogo e tolerância a gente se entende aqui na Terra."
Nilson Souza:jornalista
Fonte:ZH

sábado, agosto 14, 2010

Por que se rouba tanto?

"Meu sobrinho que estuda em Sydney (e lava pratos num restaurante para se manter) contou aos colegas de serviço que seu pai teve o carro roubado aqui em Porto Alegre (um carro tão antigo, que nem imposto paga mais). Os australianos fizeram cara de espanto:
– Como assim? Roubam carros lá?
E como roubam! Roubam carros, carteiras, celulares, tampas de bueiros, qualquer coisa que tenha algum valor, por mínimo que seja. Pior do que isso: assaltam casas, bancos, shopping centers. Pior ainda: agridem para roubar, matam para roubar, às vezes matam até depois de roubar. Que país é esse? – devem pensar os australianos e todos os que moram num lugar civilizado, em que é possível deixar uma bicicleta escorada na calçada e voltar para pegá-la no fim do dia.
Confesso que não tenho resposta para esta pergunta. Não entendo por que se rouba tanto em nosso país. Certamente não é por necessidade. O país acaba de registrar uma histórica mobilidade social, com cerca de 27 milhões de pessoas ascendendo para a classe média, segundo reportagem recente da revista Exame. Significa que todas essas pessoas passaram a ter rendimentos suficientes para equipar suas casas com geladeiras, televisores e computadores. Moro num bairro habitado predominantemente por pessoas desta classe. Não passa semana sem que algum morador da vizinhança tenha sua casa arrombada e seus bens furtados por ladrões que não mais se intimidam diante de cachorros, cadeados e alarmes.
O que fazer? Ir para a Austrália lavar pratos?
Ainda acredito que um dia construiremos a nossa própria Austrália por aqui mesmo, mas essa roubalheira toda – que começa por cima, com governantes desonestos, políticos que fazem turismo com dinheiro público e instituições incompetentes para puni-los – me dá um certo desânimo.
Até parece que temos uma cultura da ladroagem. Há sempre alguém querendo apropriar-se do que não é seu. Todos correm riscos, os que têm muito, os que têm o suficiente e mesmo os que têm muito pouco. Rouba-se carro velho. Rouba-se placa de sinalização. Rouba-se qualquer coisa. E os presídios estão tão abarrotados, que a Justiça tem optado por libertar os presos.
Outro dia, num artigo irônico publicado neste jornal, um professor exigiu o direito de ser tratado como bandido – sob o argumento de que os marginais desfrutam de mais regalias do que os cidadãos honestos e ainda têm a vantagem de não precisar se trancar em casa. O único consolo que nos resta parece ser mesmo a ironia.
Se algum australiano lesse o texto, teria todo o direito de dizer:
– Como assim?"
Nilson Souza:jornalista
Fonte:ZH

segunda-feira, novembro 09, 2009

Milagres

Os dias estão cada vez mais curtos, esta é a sensação que temos.Parece que o tempo voa.
O que estamos fazendo do nosso tempo?
Estamos conseguindo viver como merecemos, estamos achando tempo para amar, sorrir, para os nossos amigos e nossa família?
Ou um presente numa data especial, substitui atenção e afeto?
O que seria data especial?
Para mim cada dia é único e não volta.A vida é uma só.
Tenho como lema:"devemos amar as pessoas como se não houvesse o amanhã".
Por isso, achei muito interessante este texto e compartilho nesta segunda-feira para ele ser refletido.
Desejo uma semana produtiva para todos.
Um grande abraço, de urso de preferência.
Mariana Moura

"Meu calendário de mesa tem uma frase de Albert Einstein, ou atribuída a ele, pois hoje ninguém mais pode ter certeza de autenticidade alguma.
De qualquer maneira, é um jogo de palavras tão bem-feito, que deve ter sido mesmo elaborado por uma mente brilhante. Diz: “Existem apenas duas maneiras de ver a vida. Uma é pensar que não existem milagres e a outra é que tudo é um milagre”.
Gostei da citação e resolvi mostrá-la a um colega de trabalho. Ele olhou distraído para a cartolina que eu tinha nas mãos e exclamou assustado:
Meu Deus, já é novembro!
Também me espantei. Nem tinha percebido que o ano já está quase dobrando a esquina. A gente olha os dias e não vê o mês.
Pensei: pode ser mesmo que tudo seja um milagre, mas passa depressa demais. Novembro sempre me causa desconforto, pois precede aquela reta final do ano em que as pessoas ficam ensandecidas, querem ir a todas as festas, querem comprar tudo o que veem, sentem-se obrigadas a dar presentes, correm mais no trânsito, estressam-se demasiadamente.
Final de ano é tempo de bipolaridade, de euforia e depressão. Sei que tudo é relativo – como diria o autor da frase –, há quem ame a agitação, mas costumo ficar desnorteado com tanto compromisso e tanta pressão.
Se eu pudesse fabricar o meu próprio milagre de fim de ano, reeditaria uma cena de um dos filmes da série Super-Homem, aquela em que o herói voador faz o planeta girar ao contrário para o tempo retroceder. Nem precisaria voltar muito. Eu nem usaria meus superpoderes para recuperar as alegrias da infância ou as aventuras da juventude.
Bastaria retornar alguns dias neste calendário de papel, talvez até o início da primavera, só para que as pessoas reduzissem o ritmo de seus passos e a marcha de seus corações.
Temos pressa de quê?
Se não existem milagres, é bom que façamos as coisas devagar e bem-feitas, já que a construção do mundo depende da nossa inteligência e da nossa capacidade de realizar. Se tudo é fruto de um prodígio acima da nossa compreensão, de um sopro no barro ou de uma explosão galáctica, mais razão ainda para curtir com gosto e prazer a parte que nos toca.
Como não posso parar o planeta, nem fazer a vida recuar, faço o que está ao alcance de minhas mãos e retrocedo duas folhas do calendário. Encontro em setembro uma frase de Santo Agostinho – ou atribuída a ele, sempre é bom frisar – que talvez seja a resposta para esta angustiada reflexão: “Não há lugar para a sabedoria onde não há paciência”.
Tudo bem. Só não me obriguem a correr também."
Texto do jornalista Nilson Souza
Fonte:ZH 07/11