Memórias de muitos anos de reportagens. Reflexões sobre o presente. Saudades das redacções. Histórias.
Hakuna mkate kwa freaks.











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sexta-feira, julho 17, 2009

A discriminação pode ser uma questão geográfica


Sou daqueles que acham que discriminar dadores de sangue homossexuais é uma cretinice. O que está em causa são os chamados comportamentos de risco que propiciam a propagação de doenças como a SIDA, mas o simples facto de se ser homossexual não significa que se seja promíscuo. Conheço alguns casos de homossexuais fiéis ao parceiro e extremamente cuidadosos com questões de saúde. Conheço casos de heterossexuais, homens e mulheres, doidinhos por dar uma facadinha no matrimónio à primeira oportunidade. Conheço hetero que se drogam e gays que só bebem água mineral. E o contrário. É a vida e o comportamento humano. Por isso, acho que excluir os gays da capacidade de doar sangue é uma discriminação idiota. Façam-lhes os testes e se o sangue for bom, aceitem-no. Não sou gay e é o que normalmente acontece comigo, quando dou sangue. E nos últimos anos, o meu sangue tem sido sempre rejeitado, porque a malária me contaminou para todo o sempre e tenho um sangue impróprio para consumo de terceiros. Isto, quando o faço em Portugal. Mas a última vez que doei sangue foi em Luanda, em Abril passado. O enfermeiro de serviço no Hospital Maria Pia aceitou como boa a minha palavra ao dizer-lhe que não ia às putas. Tirou-me a litrada e misturou-a anonimamente com outras que esperavam ocasião de virem a ser precisas. Ainda o avisei da malária, mas ele encolheu os ombros. Quem é que não tem malária em Angola?

quarta-feira, março 18, 2009

Falibilidade papal


Para combater as doenças sexualmente transmissíveis, a ICAR faz a apologia da abstinência sexual, mas nem todos podemos ser padres (mesmo esses…) e se seguíssemos à risca essa recomendação, a espécie humana entraria rapidamente em vias de extinção. A ICAR condena o uso do preservativo e, de um modo geral, de qualquer método de controlo de natalidade. Mas, ao tentar influenciar o abandono do preservativo, a ICAR comete um acto lesivo da protecção da vida. Tanto mais grave, quando esse apelo é dirigido a povos africanos, as principais vítimas da pandemia da SIDA precisamente devido à manutenção de comportamentos de risco, entre os quais, as relações sexuais desprotegidas.
Curiosamente, alguns cardeais e bispos e muitos padres e missionários católicos não têm rebuço em desobedecer ao Papa. Eles sabem, em consciência, que este tipo de apelo apenas contribui para a expansão das doenças. Infelizmente, há milhões de pessoas, em todo o Mundo, que seguem à risca os ditames da ICAR. Em países como, por exemplo, as Filipinas, Timor-Leste ou Brasil, onde as populações são predominantemente católicas e crentes na infalibilidade das palavras papais, condenar o uso do preservativo pode ser, mesmo, uma condenação à morte. Em África, 25 milhões de mortos exigem outra ética menos dogmática.

sexta-feira, fevereiro 09, 2007

Há malucos para tudo (2ªparte)

O Presidente da Gambia insiste na farsa que iniciou há dias.













Depois de ter anunciado ao Mundo que sabia como curar a SIDA, Yahya Jammeh fez agora saber que resultados laboratoriais confirmam o sucesso do seu tratamento. Há coisas fantásticas, não há?
Foi o Pululu quem me voltou a chamar a atenção para isto, ao enviar-me um link para uma notícia da agência noticiosa angolana.















Li, então, que um tal “Souléymane Mboup, da Universidade Cheikh Anta Diop, de Dakar”, confirmou que o primeiro grupo de pacientes do Presidente gambiano apresenta “ausência de plasma viral ou a sua presença em muito fracas quantidades”, pelo que o tratamento à base de ervas medicinais “parece eficaz”.
Pois parece, mas não é. Ou então a comunidade científica internacional não passaria de um bando de idiotas.
O Presidente Jammeh pode ser curandeiro à vontade, que ninguém lhe leva a mal, mas não precisava de brincar com coisas tão sérias. Até pode enganar alguns desgraçados que se agarram a qualquer hipótese de cura, mas que pensará ele do modo como o Mundo o vê?














sexta-feira, fevereiro 02, 2007

Há malucos para tudo

O Presidente da Gâmbia, Yahya Jammeh, diz que consegue curar a SIDA, em 3 dias.
O Ministro da Saúde confirma as afirmações do Presidente, garante que os doentes que estão a ser tratados pelo Presidente com ervas medicinais estão a melhorar.
A capacidade de curar a SIDA foi anunciada pelo próprio Jammeh, perante o corpo diplomático destacado em Banjul.
Que se saiba, nenhum dos embaixadores presentes ousou duvidar, em voz alta, das afirmações do Presidente.


Esta notícia está a ser divulgada pela BBC. Se quiserem ouvir tudo, sintonizem sábado o BBC Service’s Weekend Network Africa. Pode ser que alguém tenha a coragem de dizer que estes tipos estão loucos. Afirmar coisas destas é de uma irresponsabilidade tremenda, porque se uns se calam por medo, outros acreditarão piamente nas palavras do Presidente Jammeh. Não é assim que se promove a educação necessária para implementar comportamentos sexuais que contribuam para a luta contra a SIDA.

sexta-feira, janeiro 05, 2007

Trinta

Resumo de uma notícia da Lusa, que talvez apareça um dia destes nos jornais: nas três províncias centrais de Moçambique, Tete, Sofala e Manica, quase não há médicos nem enfermeiros e a taxa de infecção de SIDA é de 30%.
Trinta.
Em Manica, por exemplo, há um médico para 32.379 habitantes.
A notícia foi feita a propósito da recente graduação de 75 técnicos de saúde que vão, agora, tentar minorar os problemas da população.
Isto fez-me lembrar as duas últimas viagens que fiz a Moçambique, em 1999 e 2002, em serviço de reportagem para a SIC. Em 1999 fui, com o Carlos Santos, até ao Chimoio (povoação já perto da fronteira com o Zimbabwe), ouvir o medo dos médicos e dos enfermeiros, também eles contaminados, e perceber como esse medo os inibia de trabalhar. O medo e a falta de meios. A Sida devastava livremente aquela gente e, hoje, o resultado está à vista: 30% da população está doente.
Trinta.

terça-feira, julho 18, 2006

Mandela

Nelson Mandela faz hoje 88 anos. Nunca conheci pessoalmente este “mais velho”, mas tive o privilégio de ter assistido ao vivo a uma palestra dele e, assim, ter recebido uma lição de cidadania, de respeito pelos outros e de genuíno interesse pelo bem-estar da Humanidade.Foi em Durban, precisamente em Julho de 2000, no último dia da XIII Conferência Internacional sobre Sida. Mandela foi ali, para dizer ao Mundo quanto o envergonhava a “postura negocial” das multinacionais farmacêuticas que não estavam dispostas a libertar as patentes de fabrico dos medicamentos essenciais para a luta contra a pandemia e, talvez mais ainda, quanto o envergonhava a actuação do governo sul-africano e do seu líder, afinal de contas o homem que lhe sucedeu na chefia do estado, Thabo Mbeki.
Mbeki ainda hoje recusa-se a deixar que a pandemia, na África do Sul, seja tratada com medicamentos anti-retrovirais e parece acreditar que se trata de uma doença curável e provocada por interesses financeiros das multinacionais farmacêuticas. Ele parece acreditar nessa cabala e, com isso, tem deixado morrer milhares de homens, mulheres e crianças contaminados pelo vírus.
Por isso, ver e ouvir Mandela, ali, nestas circunstâncias, foi um momento tão precioso. Não só pelas palavras de solidariedade, não só pela compreensão e humanidade reveladas, mas pela coragem política de ter dito que tanto as multinacionais como Mbeki estavam enganados e que era preciso que o Mundo tudo fizesse para os convencer. E que ele iria ajudar…

sexta-feira, março 03, 2006

Contágios

Um dia disseram-me para não apertar a mão a ninguém. «Por precaução, nunca se sabe!... O vírus Marburg é mortal. É melhor usares alcoól para desinfectar.» Naquela tarde, quando cheguei ao Museu, o David esperava-me no pátio. Estendeu-me as duas mãos, uma sobre a outra em posição perpendicular (sem se tocarem no espaço reservado à minha mão que ele nem repara diferente); o seu gesto habitual de respeito aprendido na tradição. Não tive coragem de pensar no vírus. Deixei-me cumprimentar, como habitualmente, pelo meu amigo de há muito tempo. Não limpei as mãos com álcool.Sobre os Tucokwe , ele sabe (quase) tudo. Sobre o vírus, apenas sabemos que mata, assim escreveu Pwo e, como já aconteceu antes, as suas palavras levaram-me no tempo. Aterrei numa Casa Amarela, ali para os lados do Campo Grande. Moravam lá pessoas escorraçadas, gente que ninguém queria. Nem a família, nem amigos, ninguém. Estavam infectados. Tinham SIDA. Na época, só pensar na palavra matava… fui lá pedir autorização para fazer uma reportagem. Eles deixaram. Também já não tinham nada a perder…
Levei dois dias, dentro daquela casa. No primeiro, apenas andei por ali, conversei com eles, habituei-os à minha presença. Quase não filmámos…
No segundo dia, foram eles quem me testaram. Convidaram-me para almoçar. Olhei para a enfermeira e ela abanou a cabeça, para que aceitasse. As minhas paranóias foram levadas ao limite… comi da comida deles, nos pratos deles, com os talheres deles. Quando veio o café, notei um dedinho no rebordo da chávena. Quando terminei, levantei-me e fui fumar para a rua. Vomitei tudo.

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Jornalista; Licenciado em Relações Internacionais; Mestrando em Novos Média

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