Gosto de ler livros assim: meticulosos, descritivos, verdadeiros. Livros que me levam a ver, realmente, lugares que nunca visitei e a conhecer pessoas com quem nunca estive. O livro que vos mostro aqui é um desses… é um livro de viagens do autor através de quatro países muçulmanos: Indonésia, Irão, Paquistão e Malásia. Muçulmanos mas não árabes. Uma viagem onde descobrimos pessoas concretas, com problemas verdadeiros e sonhos comuns. Sendo que são todos muçulmanos. Ao conhecermos estas pessoas, aprendemos o que eles pensam sobre a vida e, claro, sobre a religião.
Beyond Belief não será a obra prima de Naipaul… mas é um livro muito interessante. Não sei se está traduzido em português.
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O
Pedro Rosa Mendes já me tinha falado naquela viagem de comboio. Julgo que a fez em lua de mel… tinha-me falado com entusiasmo no comboio pachorrento que atravessava as montanhas, desde Quetta até Rawalpindi. 48 horas sem catering… a comida cozinhada em pequenas fogueiras acesas no chão das carruagens… as longas paragens nos apeadeiros no meio de nenhures, os túneis, o serpentear à beira dos precipícios, as seis rezas por dia… tudo isso fez-me apanhar esse comboio também. O Pedro chamou-lhe "o comboio de deus" e eu cheguei a pensar que iria fazer uma reportagem nesse comboio. Mas não fiz. Não me apeteceu.
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Fiz boa parte da viagem sentado na borda da carruagem, com as pernas para fora. Foi ali que o tipo me encontrou. Wolf Boewig, franco-alemão, repórter fotográfico. No palavra-puxa-palavra descobrimos que tínhamos um amigo comum. Precisamente o Pedro Rosa Mendes, com quem o Wolf fez vários trabalhos de reportagem, de resto.
Foi nesses longos dois dias que falamos de Naipaul. Eu já tinha lido um outro livro dele,
A Curva do Rio, um retrato fabuloso da história recente pós-colonial do Uganda. Umas semanas depois de ter regressado do
Paquistão, Wolf enviou-me pelo correio o
Beyond Belief, com a desculpa de que tinha dois livros e, portanto, dispensava-me um deles. Dentro do livro, uma fotografia tirada num campo de refugiados birmaneses na Tailândia.
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A foto está na parede da sala, o livro na estante. Nunca mais vi o Wolf, mas jamais esquecerei tanta capacidade de partilhar.
2 comentários:
Naipul é um excelente escritor. Viajar de comboio é das melhores formas de viajar, lembro com saudade a linha do Tua e a do Alentejo, pena que no nosso país o comboio esteja arredado dos planos dos inteligentes que governam.
Caro Carlos Narciso
Ao ler esta sua crónica fez-me lembrar que tenho há anos o livro A bend in the river na estante meio lido. Fiquei com vontade de acabar de lê-lo.
Boa noite para si :)
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