Se o caos era o objectivo, missão
cumprida!
Numa noite em que o plano era
juntar 20 bandas (com actuações cronometradas de 15 minutos), com 20
ilustradores e 20 DJs, algumas bandas foram prejudicadas pelas anteriores,
outras pelas seguintes, mas houve de tudo para toda a gente: momentos de riso
desbragado, outros de tragédia agonizante, por vezes na mesma actuação.
Mas num evento que se queria
diverso e montra para projectos a despontar, o objectivo da organização foi
mais que superado e o público respondeu à chamada em número e entusiasmo dignos
de nota no Plano B.
A noite abriu pelas 23h com os
Ana Paris. Stoner-rock a fazer lembrar os Kyuss nos tempos áureos. Bom
baterista, riffs bem rasgados com o pedal de distorção a fazer fumo, um
vocalista com uma voz bem rouca. Apresentaram uma música nova que não funcionou
e estragou o que poderia ser uma actuação imaculada.
Os Little Friend apresentaram-se
no seu característico registo acústico, sem grande personalidade e com
problemas técnicos durante a actuação que não facilitaram muito a tarefa de
criar qualquer tipo de empatia com o esparso público presente, o que já por si
seria complicado porque as melodias não eram grande coisa.
Instrumentais a fazer lembrar
Trail of Death, com uns assomos de math-rock pelo meio. Um som monolítico que
surpreendeu quem ainda não os conhecia.
Uma banda que devia estar a dar
muito que falar, porque já existe desde 2010.
Os ATLAST surgiram com uma
sonoridade muito original (que inclui um violino oportuno e melodioso), músicas
bem tocadas e um bom trabalho nas harmonias de voz, prejudicados por alguns
problemas técnicos. Uma banda promissora a manter debaixo de olho. Do estúdio
saírá com certeza um disco a ter em conta no futuro.
Os Eskizofrénicos trouxeram o
punk ao festival. Com os elementos vestidos "à metaleiro" e um
vocalista em nítido overacting, chegando ao nível do cómico por vezes com as
letras pseudo-anti-conformismo, apresentaram, no entanto, um som sólido e bem
oleado. Têm álbum novo a ser lançado por estes dias no Hard Club e fizeram
questão de o divulgar, algo que (estranhamente) nenhuma outra banda se lembrou
de fazer.
Seguiu-se Miraldo, a primeira boa
surpresa da noite. Ignorando o facto de ter que tocar após os
"pesados" Eskizofrénicos, Miraldo "defendeu-se" muito bem e a actuação só pecou por demasiado curta. Com uma guitarra bem tocada e uma
excelente voz, presenteou-nos com uma bela cover de Feist. Um artista a
acompanhar de perto com um álbum já lançado, que infelizmente não trouxe
consigo. Caso contrário tinha aqui clientela.
Os Lululemon têm um som muito
interessante. Instrumental, com 2 guitarras, prejudicados por alguns problemas
técnicos. Rock rasgado com alguns momentos mais introspectivos. Têm um álbum
editado em 2012 e um single lançado recentemente. Uma carreira promissora
aguarda-os com toda a certeza.
The Shine: o momento mais
esperado da noite, foi a maior enchente. Bastou uma beatbox e um MC para fazer
a festa perante um público entusiasta. Artista carismático com um som
internacional e actual, que veio trazer um cheirinho a cosmopolitismo a uma
noite até ali bastante morna. Uma promessa cumprida que vai rebentar por esse
Mundo.
HellCharge são puro hardcore, sem
espinhas. Óptimo para quem é fã do registo, infernal para quem não vai muito a
esta praia. C.R.U.D deixou os incautos, em
que se inclui este vosso escriba, de boca aberta. Grindcore agressivo, com
máquina de ritmos a substituir a bateria. Vocalista completamente alucinado
(auto-denominado Muad'dib, segundo o Facebook da banda ), que provaria mais
tarde ser multifacetado.
E entretanto já passava da
1h30...
HHY & Spaced Out trouxeram ao
Plano B o dubstep e uma espécie de emulação da electrónica de Skrillex (é um
elogio). Um som bem progressivo e actual com tudo para dar certo.
Malcriada é um rock progressivo a
fazer lembrar Explosions in the Sky mas com mais umas balas de poder na câmara.
Duas guitarras, um baixo e um grande baterista é quanto basta para fazer bom
rock and roll.
O projecto Stôr traz de volta ao
palco o vocalista de C.R.U.D, que troca a t-shirt preta por uma camisinha à
betinho e o grindcore pelo spoken word, acompanhado por um PC num registo
electro-clash. O tipo tem muita graça, o texto que "recitou" muito
cómico e irónico. Para terminar em beleza, entra o instrumental do "A.D.I.D.A.S." dos Korn, devidamente acompanhado pela tradução portuguesa literal do clássico.
De ir às lágrimas, minha gente. Não sei se de riso, se de lamento...
Coelho Radioactivo é um projecto
de João Sousa com alguns anos, que infelizmente ainda não teve o devido
reconhecimento. Nos discos, alguns EPs e um álbum disponíveis no bandcamp do
artista, encontramos belas ideias e um talento em bruto. Nesta noite
apresenta-se a solo, com a sua guitarra eléctrica, com pedal delay e distorção,
nem sempre usados da melhor maneira, tornando a actuação um pouco desigual.
Muito potencial, boas letras e melodias. Com uma boa produção e promoção bem
feita, podemos ter aqui um artista para o futuro.
Dog é outro projecto do baixista
dos Torto, desta feita (infelizmente) acompanhado por um péssimo vocalista. A
base melódica muito sólida, como seria de esperar, a parte vocal foi
terrível... Os Swinging Rabbits trouxeram
consigo um soul-funk requentado, interessante mas sem grande chama e com um
vocalista bastante medíocre.
O Homem Fino foi o
desastre total da noite. Acompanhado pelo baterista de CRUD num registo mais
rock, teve uma actuação simplesmente penosa: péssima voz, guitarra desafinada
do início ao fim...E não estamos a falar de ironia ou de uma performance que pretendia
ser auto-crítica das poses do rock e afins. Foi mesmo mau de mais para ser
verdade.
Os Fat Freddy, banda histórica,
surge com novo registo, apostando no spoken word, teclas e guiatarra, à
semelhança de Pop Dell' Arte mas um pouco melhor. Uma daquelas bandas que
simplesmente recusa desistir daquilo que mais gosta de fazer.
Olhamos para o relógio e batiam
as 4 badaladas...
Faltavam ainda duas bandas, os
míticos Holocausto Canibal e os Claiana.
Que nos desculpem os seus membros
mas infelizmente tínhamos chegado ao limite das nossas forças e dando voz ao
corpo desgastado por horas seguidas de música, debandamos de regresso a casa
com bandas para descobrir e histórias para partilhar...
Até para o ano!
Paulo Silva
Fotografias por Raquel Lemos
(galeria completa em facebook.com/bandcom)
Fotografias por Raquel Lemos
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