Ceifeiras !
Jamais!
Há um cante envolto em pranto, que lembra um tempo sem volta!
Mas que vai ganhando um outro encanto, pondo de lado a revolta!
Nossos pais sofreram tanto, nossos avós ainda mais!
Nós, nós fugimos a esse pranto, p’ra não ouvirmos seus ais
Homem que foi terra foi barro, em pleno campo criado
Comeu as sopas no tarro, levou aos ombros seu fardo!
Vamos olhar de outro jeito, o progresso em caminhada
Para aliviar o peito, desta gente amargurada!
Nossos campos ainda lá estão, as searas até o gado
Mas ceifeiras, essas não, foram escravas do passado!
Ainda o sobreiro dá sombra, e a cortiça que é riqueza
Arvore que a todos deslumbra, de raiz bem portuguesa...
Ainda há regatos correndo, e há ribeiras naturais
E a chuva que Deus vai mandando, p’ra dar vida aos cereais!
Ainda se ouvem cantar os rouxinóis na ribeira
Os pardais; a chilrear em alegre cavaqueira.
Ainda há lírios, alecrim, papoilas, planícies de trigais
Codornizes, perdizes rolas, mas as ceifeiras? Jamais…
Alegra-te meu amigo, olha a alvorada, outro dia
Anda vem cantar comigo as cantigas d’álegria
Saudades sim porque não, mas passado nunca mais
Pois marcou uma geração de dores misérias e ais
O mundo está em mudança, hoje a vida tem outro fado!
Nova canção! Outra dança!
Pois o passado é passado...
Rosa Dias
Biografia
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