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quinta-feira, 19 de julho de 2007

O POLVO (10ª Parte)



Continuação





"(...) -Está bem, está bem. Vais ver o que te vai acontecer! E aconteceu mesmo: esse árbitro, que tinha subido ao primeiro escalão no ano anterior, acabou por ser novamente despromovido. Reginaldo não perdeu a oportunidade para lançar o aviso sobre os outros: -Estão a ver o que acontece a quem nos tenta foder e não quer colaborar connosco? Abram os olhos, comigo é que ganham dinheiro!
GC já tinha vários apoios associativos e alguns conselheiros na mão, e caso o presidente do CA não se deixasse influenciar, este já sabia que tinha os dias contados. Poucos foram os que conseguiram gerir com independência o sector. GC estava consciente da força que tinha e das alianças que possuía. Arrastava atrás de si uma grande força popular, argumentando com bandeiras políticas regionais; mas os que o seguiam de perto iam-se afastando, logo que verificavam que aquela bandeira servia apenas para encobrir os seus negócios e não perder o poder popular tão útil em situações menos favoráveis. GC era capaz de tudo para ganhar. Para ele, não existiam barreiras nem personalidades. Habituou-se a esmagar quem se lhe atravessasse no caminho. Duas semanas antes de um jogo entre gigantes (Porto-Benfica) e onde se iria discutir o título, teve um encontro com o presidente do Conselho de Arbitragem, naquela altura um homem isento e honesto, mas com a consciência de que tinha de ter uma certa flexibilidade em algumas situações. A nomeação do árbitro para esse jogo era extremamente importante, e o assunto foi discutido entre os dois: -Que árbitro é que lhe agradava para fazer o seu jogo? GC não respondeu. Pensou um pouco, pegou num papel e escreveu o nome de um árbitro de Setúbal (Carlos Valentão), entregando o papel ao presidente do CA. Este analisou-o e concordou com a situação, até porque o árbitro tinha qualidade e não era daqueles que normalmente negociavam nos bastidores. O clube rival acabou por saber quem era o árbitro e também quem o tinha escolhido. O responsável pelo futebol desse clube, homem muito traquejado e capaz de fazer frente a GC, colocou um plano em marcha. Desconfiado de que GC já tinha o árbitro controlado, contactou com um dos seus fiscais de linha e negociou com ele o resultadodo encontro. Tudo se passou nos arredores da capital no campo de um clube de escalão inferior, onde esse fiscal de linha treinava habitualmente com outros árbitros. Só que, no dia em que o responsável do clube da capital se foi encontrar com o tal fiscal de linha, o encontro foi presenciado por alguém que também tratava da sua forma física. Este, desconfiado, no dia seguinte ligou para Galo da Costa. -Queria falar com o Senhor Galo da Costa. -Da parte de quem? - responderam do lado de lá da linha. -Diga-lhe por favor que fala Maciel Feijoada. Bzzz, click... -Olá, está bom? Então o que é que manda? - perguntou GC do lado de lá do fio. -GC, ontem vi o Gaspar Raminhos a falar com um dos fiscais de linha do árbitro que vos vai apitar no domingo. Ponha-se a pau. -Ah, sim! Esse gajo está fodido comigo! Vou já tratar do assunto. Depois de desligar o telefone, GC, lívido de raiva, ordenou que lhe fizessem uma chamada para o presidente do CA. Logo que este lhe surgiu do lado de lá do fio, entrou a matar: -Tem de me mudar o árbitro do nosso jogo! -Então não foi você que o escolheu? -Pois escolhi, mas soube agora que o Gaspar Raminhos já contactou com um dos seus fiscais de linha. -Isso pode não querer dizer nada, e a faltarem três dias para o jogo não vou substituir o árbitro. Isso seria um escândalo. -Mas tem de ser, senão eu vou fazer um barulho dos diabos. -Faça aquilo que quiser, desde que seja você a assumir essa responsabilidade. Pode até dizer aos jornais que sabe desse encontro. A responsabilidade é sua. Sentindo a inflexibilidade do presidente do CA, ligou de imediato a Ariano Pinto, o homem que o socorria nos momentos de maior aflição, mas nem este conseguiu demover o presidente do CA da sua atitude. Galo da Costa colocou então em movimento uma outra estratégia e, através dos meios de comunicação social, criticou aquela nomeação, levando, como era seu hábito, o assunto ao rubro. O certo é que no dia do jogo confirmaram-se as suspeitas, e o tal juiz de linha que fora visto a ser contactado pelo dirigente do clube adversário não se portou nada bem, prejudicando o clube de GC. Para agravar, um habitual suplente (Cessar Brito) da equipa adversária até bisou, dando a vitória e o título à sua equipa. Pela primeira vez, o assalariado de GC que treinava a equipa (Artosco Jorge) deixou o verniz estalar, chorando baba e ranho na cara do dito juíz de linha. À saída, os árbitros setubalenses levaram uma grande sova, e o chefe de equipa, coitado, sem saber de nada, até levou porrada da mulher de Reginaldo Teles. -Mas, meus amigos, eu não tenho nada a ver com isto, como vocês sabem -desabafava o apitador, enquanto colocava pomada na zona atingida. O que é que eu fiz para merecer isto? Como é que vou explicar à minha mulher estas arranhadelas nas costas? - E, mesmo sendo um homem valente, começou a choramingar... Galo da Costa teve durante toda essa semana de provar o sabor amargo de que, afinal não conseguia controlar todas as situações. Sentiu que tinha de refinar os seus métodos e mandou chamar Reginaldo Teles para discutirem os dois o problema. Reginaldo Teles entrou envergonhado no gabinete do presidente. Não sabia o que dizer. Ele que julgava que tinha o mundo da arbitragem na mão, que tinha inclusive aconselhado o seu presidente a escolher aquele árbitro, e que acabou por ser traído. Galo da Costa quando viu o seu «vice» entrar no seu gabinete, de cabeça baixa, disse num tom apaziguador: -Não vale a pena estarmos agora a bater mais no ceguinho. Temos é de tomar medidas para que uma coisa destas não volte a acontecer. -Ó presidente, sabe que não controlamos os árbitros todos. -Sei muito bem disso, mas a partir de agora, para estes jogos mais importantes, temos de fazer com que sejam nomeados árbitros da nossa inteira confiança e que alinhem no escândalo, se for necessário. O mais importante é ganharmos. Reginaldo ficou mais animado com as palavras do presidente e lançou um alerta: -Isto até é mau para o nosso negócio. Os outros árbitros começam a perder-nos o respeito, e nós acabamos por perder não só o controlo da situação com também aquele dinheirinho que entra todas as semanas. -O povo é de memória curta, e com mais umas vitórias esquece o que aconteceu no domingo. Galo da Costa e Reginaldo Teles gastavam dinheiro à grande e à francesa. A paixão de GC pela Mariana era cada vez mais forte, e isso trouxe-lhe custos exagerados, porque ela sempre se revelou uma mulher de gostos caros e tinha de garantir o futuro da filha de ambos, amealhando alguns cobres. E Reginaldo estava cada vez mais viciado no jogo. Em cada cidade que parava não resistia a uma visita ao casino local. O vício pelo jogo era tremendo. Até parecia castigo de Deus. Tinha entrado nos casinos para lavar dinheiro para os seus negócios pouco claros e acabou por ficar agarrado à roleta. Reginaldo sonhava com Las Vegas, e não havia quem o convencesse que não muito longe ficam os precipícios do Grand Canyon... -Mas no meu caso não vai ser assim. O dinheirinho que entra todas as semanas há-de dar para estas coisas e muito mais.
O futebol é um grande negócio e, agora, que temos a arbitragem na mão, não nos faltará dinheiro - dizia Reginaldo a George Gomes, na tentativa de o convencer a não o aborrecer mais com aquelas conversas de que ele andava a arriscar dinheiro de mais no jogo. - Quem não arrisca, não petisca! - gostava de repetir Reginaldo, especialmente quando desperdiçava umas milenas no preto para ver sair o vermelho, ainda para mais o vermelho... -Olha, essa merda do jogo ainda há-de ser a tua desgraça. Faz mas é como eu. Vou investindo nuns apartamentos. Pelo menos fico com o futuro garantido - dizia-lhe George Gomes. -Não te preocupes com isso. O negócio vai melhorar. O presidente tem aí um projecto em vista que vai mudar isto tudo - respondia Reginaldo. Tornava-se muito arriscado tentar servir vários clubes ao mesmo tempo. As pessoas já falavam muito nessas histórias e qualquer dia rebentava um escândalo medonho. GC reuniu-se com Reginaldo, e ambos discutiram a nova forma de ganhar dinheiro com a arbitragem, mas com a situação completamente controlada ou, pelo menos, mais controlada. O futebol continuava a ser a guarida dos homens endinheirados à procura de promoção social. Ter muito dinheiro não bastava. Eles gostavam de ser conhecidos, e nada melhor que o futebol para promover socialmente os novos ricos. Reginaldo Teles sabia melhor que ninguém quais eram os empresários que manifestavam grande disponibilidade financeira. A maior parte deles eram seus clientes e deixavam no seu bar muitas centenas de contos através das suas raparigas contratadas. Era só arranjar uma forma de lhe aliviar um pouco mais a bolsa, e o futebol era o melhor meio para isso. O desporto-rei servia de capa para o mais variado tipo de situações. Era só saber aproveitá-lo. Servia para lavar dinheiro e principalmente para fazer esquecer certos preconceitos sociais. O exemplo de Reginaldo era o que mais evidenciava essa situação. Chegou ao Porto para servir na tasca do tio, foi um dos mais conhecidos chulos da cidade, continuava a viver à custa da exploração de carne branca, e as famílias mais conceituadas esqueciam-se disso tudo para o apoiar até à vice-presidência de um dos clubes mais prestigiados da Europa. A sua mulher, que palmilhou noites seguidas na Rua de Santos Pousada, era agora uma senhora bem colocada e apaparicada por todos aqueles que rodeavam o clube, não obstante continuar a ser a dona de um bordel. O futebol é um fenómeno social, e era necessário saber retirar o devido proveito desse facto (...)”.

Continua...


Nota: Qualquer semelhança com a realidade é pura coincidência.

2 comentários:

Anónimo disse...

O Polvo está no norte, mas esse clubezeco de bairro que tem por o padrinho Orelhas, quantos campeonatos não tem à custa dos árbitros. bichas cor de rosa.

arrebumbas disse...

Oh meu "amigo" anónimo, vocês, ANDRADES, estão a ser desmascarados por tudo e por todos. Já estou como dizia o outro: "... o fóculporto compra os títulos no supermercado."
Quanto às bichas cor-de-rosa... Tens razão, eram bichas e bichas para comprar as camisolas do GLORIOSO SPORT LISBOA E BENFICA tanto que esgotaram o stock existente!

Benfica Sempre, mesmo depois da morte!