O
poder das palavras
Por
Alessandra Leles Rocha
A sociedade contemporânea
tem dispensado pouca atenção aos perigos da verborragia. Tratam tudo como
brincadeira, jogo de cena, midiatismo; mas, se esquecem de que as palavras têm
poder para o Bem e para o Mal. E isso é muito sério. Muito grave. Ninguém fala
por falar. Por trás das linhas há inúmeras entrelinhas que, muitas vezes, são
mais danosas do que as linhas em si.
Temos assistido,
mundo afora, os desastres causados pela verborragia desmedida e irresponsável. Mais
do que a destruição de reputações e trabalhos, esse processo abala os alicerces
civilizatórios e democráticos da humanidade. Relembram a tirania e o
obscurantismo das más intenções, os quais já se repetiram por várias vezes ao
longo da história.
Hoje foi,
então, mais um dia triste. Violência não é exercício de cidadania. Depredação
de patrimônio público ou privado não é demonstração de poder. Verborragia não é
narrativa. O ser humano pode ser mais do que a barbárie que teima em habitá-lo.
Como foi dotado de raciocínio lógico, de capacidade de pensamento, a força
bruta já deveria ter sido abolida para dar vazão a dialogia equilibrada e
producente.
Entretanto, sem
que perceba, os autores da verborragia que incita o caos e a desordem desconstroem
automaticamente a fundamentação argumentativa de seus próprios discursos
convencionais. Lei e ordem, por exemplo, não combinam com o radicalismo. Vontades
e narcisismos individuais ou minoritários não podem suplantar normas, códigos,
doutrinas e leis, criadas para trazer equilíbrio coletivamente. Isso quer dizer
que há uma tentativa de desorganização social a partir de arroubos e excessos, a
fim de perturbar a dinâmica fundamental necessária a uma coexistência harmônica
e pacífica.
Ora, em contextos
democráticos não se mudam as regras do jogo em andamento. Essa é uma premissa básica,
de conhecimento prévio de todos os participantes. Agir na contramão é
revelar-se partidário da antidemocracia. É nivelar-se na prática e no discurso
a uma minoria que, em pleno século XXI, ainda insiste em viver de reminiscências
tenebrosas; mas, incapazes de retirar a ferrugem e devolver brilho ao poder.
Por isso, a verborragia é só uma semente da discórdia. Só um viés de dúvida e
segregação. Que causa prejuízos sem devolver nada de útil.
E pensando sob
esse aspecto, quem precisa de algo assim, quando há um vírus dominando o
planeta? Sim, porque na medida dos estragos sociais que têm ocorrido é ele quem
está no poder, no controle de tudo. Até que se consiga por meios científicos, tecnológicos,
farmacêuticos e médicos reverter a situação, temos problemas de sobra para
resolver. Milhões de seres humanos para salvar. Portanto, a verborragia não
cabe. É uma demonstração de insensatez explícita, gratuita. Não há ganhos. Há somente
perdas.
Infelizmente,
pessoas disposta a isso existem. Sempre existiram. Talvez, sempre existirão. O
ser humano não é lá tão “boa gente” como se imagina. A questão é romper com
esse movimento de alienação voluntária e olhar a vida com olhos de enxergar. Abstrair
das peles de cordeiro, macias e felpudas, a rudeza da ira raivosa dos lobos. Ainda
que estejamos de máscara, elas só cobrem o nariz e a boca, os olhos ficam de
fora. E estes, caro (a) leitor (a), são o espelho da alma. Eles não sabem
mentir. Então, se você os segue é porque coaduna da mesma essência, dos mesmos
valores, dos mesmos princípios. Pense nisso!