quarta-feira, 6 de janeiro de 2021

O poder das palavras


O poder das palavras

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

A sociedade contemporânea tem dispensado pouca atenção aos perigos da verborragia. Tratam tudo como brincadeira, jogo de cena, midiatismo; mas, se esquecem de que as palavras têm poder para o Bem e para o Mal. E isso é muito sério. Muito grave. Ninguém fala por falar. Por trás das linhas há inúmeras entrelinhas que, muitas vezes, são mais danosas do que as linhas em si.

Temos assistido, mundo afora, os desastres causados pela verborragia desmedida e irresponsável. Mais do que a destruição de reputações e trabalhos, esse processo abala os alicerces civilizatórios e democráticos da humanidade. Relembram a tirania e o obscurantismo das más intenções, os quais já se repetiram por várias vezes ao longo da história.

Hoje foi, então, mais um dia triste. Violência não é exercício de cidadania. Depredação de patrimônio público ou privado não é demonstração de poder. Verborragia não é narrativa. O ser humano pode ser mais do que a barbárie que teima em habitá-lo. Como foi dotado de raciocínio lógico, de capacidade de pensamento, a força bruta já deveria ter sido abolida para dar vazão a dialogia equilibrada e producente.

Entretanto, sem que perceba, os autores da verborragia que incita o caos e a desordem desconstroem automaticamente a fundamentação argumentativa de seus próprios discursos convencionais. Lei e ordem, por exemplo, não combinam com o radicalismo. Vontades e narcisismos individuais ou minoritários não podem suplantar normas, códigos, doutrinas e leis, criadas para trazer equilíbrio coletivamente. Isso quer dizer que há uma tentativa de desorganização social a partir de arroubos e excessos, a fim de perturbar a dinâmica fundamental necessária a uma coexistência harmônica e pacífica.

Ora, em contextos democráticos não se mudam as regras do jogo em andamento. Essa é uma premissa básica, de conhecimento prévio de todos os participantes. Agir na contramão é revelar-se partidário da antidemocracia. É nivelar-se na prática e no discurso a uma minoria que, em pleno século XXI, ainda insiste em viver de reminiscências tenebrosas; mas, incapazes de retirar a ferrugem e devolver brilho ao poder. Por isso, a verborragia é só uma semente da discórdia. Só um viés de dúvida e segregação. Que causa prejuízos sem devolver nada de útil.

E pensando sob esse aspecto, quem precisa de algo assim, quando há um vírus dominando o planeta? Sim, porque na medida dos estragos sociais que têm ocorrido é ele quem está no poder, no controle de tudo. Até que se consiga por meios científicos, tecnológicos, farmacêuticos e médicos reverter a situação, temos problemas de sobra para resolver. Milhões de seres humanos para salvar. Portanto, a verborragia não cabe. É uma demonstração de insensatez explícita, gratuita. Não há ganhos. Há somente perdas.

Infelizmente, pessoas disposta a isso existem. Sempre existiram. Talvez, sempre existirão. O ser humano não é lá tão “boa gente” como se imagina. A questão é romper com esse movimento de alienação voluntária e olhar a vida com olhos de enxergar. Abstrair das peles de cordeiro, macias e felpudas, a rudeza da ira raivosa dos lobos. Ainda que estejamos de máscara, elas só cobrem o nariz e a boca, os olhos ficam de fora. E estes, caro (a) leitor (a), são o espelho da alma. Eles não sabem mentir. Então, se você os segue é porque coaduna da mesma essência, dos mesmos valores, dos mesmos princípios. Pense nisso!


Análise de Currículo...

Análise de Currículo...

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Para lançar sobre os ombros da própria população o ônus do desemprego, o país teria que ter a tranquilidade e a segurança de oferecer qualitativa e quantitativamente, em termos educacionais e preparatórios, as oportunidades aos seus cidadãos. Pena, não ser isso o que acontece.

Sob a ótica das análises mais elementares apuradas a partir de avaliações sistemáticas, como é o caso do PISA (Programa Internacional de Avaliação de Estudantes), um estudo comparativo internacional da educação básica realizado a cada três anos pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), ficam evidentes as precariedades e as fragilidades da educação brasileira. O Brasil não faz frente as metas estabelecidas, ficando sempre atrás das expectativas mais elementares.

É preciso reconhecer que há uma heterogeneidade marcante e preocupante não só entre os sistemas de ensino público e privado; mas, dentro deles próprios. Se não há um padrão a ser seguido, também, não há como alcançar os objetivos. São discrepâncias regionais, geográficas, sociais, que repercutem nas carências, nas inacessibilidades, enfim... o que ficou fartamente evidenciado em 2020, durante a Pandemia do COVID-19; sobretudo, no âmbito do ensino à distancia.

No entanto, talvez seja mais importante avaliarmos essa questão por um outro viés. É estranho pensar que o brasileiro “não esteja preparado para fazer nada”, porque o maior número de vagas de trabalho que contemplem as classes C, D e E, cerca de 84% da população, concentram-se em atividades operacionais, as quais demandam um nível de conhecimento básico.

Porque, enquanto uma indústria, por exemplo, trabalha com um número reduzido de cargos de primeiro e segundo escalão – diretores, coordenadores, supervisores e gerentes -, geralmente ocupados por indivíduos das classes A e B, os quais tiveram acesso a melhores sistemas de educação e de qualificação, quem ocupa todas as demais vagas são pessoas de nível operacional.  

Esse é o ponto, a grande engrenagem que move a economia do país é provida de uma formação educacional muito básica, quase sempre permeada por inconsistências deficitárias. Porém, dado o baixo crescimento econômico nos últimos anos, a geração de empregos sofreu diretamente o impacto na sua redução. O desaquecimento econômico do país se refletiu em produções cada vez menores. Se as demandas são baixas não há necessidade de manter grandes grupos de trabalhadores.

Assim, se foi ruim para a minoria dos mais qualificados, proporcionalmente, para os menos foi ainda pior, pois eles são maioria. O que levou milhares deles para os campos da informalidade que, por sua vez, é muito menos exigente no quesito educacional.

Toda essa realidade reafirma as fraturas que as desigualdades sociais promovem no país. Além de não se resolverem as arestas no campo da educação e do trabalho, estas contribuem para o próprio desencanto e abandono por parte dos alunos. 20,2% de jovens entre 14 e 29 anos não completaram a educação básica no país, por abandono ou mesmo jamais terem frequentado a escola, segundo dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) divulgados em julho de 2020.

A velha ideia de que a presença crescente do ensino privado traria benefícios para a educação, diante da realidade atual, também se esvai. Ao longo de décadas, ela mostrou-se insuficiente para resolver ou mitigar as disparidades. Inclusive, pelo fato de que, diante das legiões do desemprego, manter o ensino privado torna-se uma missão cada vez mais restrita aos beneficiários de regalias e privilégios.

Mas, mesmo se tivéssemos todo o contingente populacional de alunos matriculados em ambas as redes de ensino, e estas dispusessem de qualidade similar, o mercado em si não consegue mais absorver, no âmbito do trabalho formal tradicional, toda a mão de obra disponível.

Isso significa uma necessidade urgente de revisão de todos os paradigmas laborais e educacionais vigentes, a fim de se estabelecer uma nova rota capaz de atender ao desenvolvimento social brasileiro. Parado no tempo e no espaço, como se vê, o país se torna pouco competitivo no mercado global ao mesmo tempo em que engrossa as fileiras das demandas assistenciais do governo. Sem contar que, a ausência dessas mudanças fundamentais promove a elevação do custo de produção, tornando-o pouco atrativo se comparado ao restante do planeta.

O que o governo entende como uma despesa é, portanto, exatamente o que poderia lhe favorecer o crescimento econômico e lhe retirar do isolamento global que se permitiu mergulhar nos últimos anos.  O problema do Brasil não é carência de recursos, mas o excesso de equívocos e distorções da sua aplicação, ou seja, está no modelo de gestão, de governança a responsabilidade de “deixar de fazer nada” para fazer alguma coisa. Afinal, se o currículo do cidadão anda ruim, o do país não fica atrás.


terça-feira, 5 de janeiro de 2021

Entendeu ou preciso desenhar???


Entendeu ou preciso desenhar???

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Chega! Já deu! Passou da hora de demonstrar uma gota que seja de maturidade cidadã diante da crise que se arrasta. Por mais contornos de imprevisibilidade que resida na sua essência, não seria difícil imaginar que qualquer vento de cauda retiraria o país dos eixos. Afinal, muito antes do COVID-19, nada estava efetivamente em ordem para o enfrentamento de quaisquer desafios; nem finanças, nem empregos, nem saúde, ... nada.

E sendo a Pandemia uma crise de ordem mundial, se os mais preparados já arrancaram os cabelos da cabeça, o que diremos de nós pobres criaturas.  Embrulhados nas amarras globalizadas e globalizantes do mercado, um espirro deles é internação, na certa, por aqui. Portanto, caberia na lógica do bom senso, caminhar na mira do traçado que seguem os demais, a fim de se evitar o máximo de contratempos possíveis. Mas, não tem sido essa a realidade...

Desajustado dentro de uma espiral caótica de irresponsabilidade e ausência de planejamento estratégico, o país rodopia pelos ralos da Pandemia.  Reproduzindo o provérbio, dizem alguns que ele está “mais perdido do que cego em tiroteio”, porque além de não sair do lugar, nada parece dar certo. Assim, vai ficando cada vez mais isolado e distante de encontrar uma luz no fim do túnel. E “quem não escuta cuidado, escuta coitado”... Agora, ficam nessa histeria coletiva, encenando um “cabo de guerra”, como nos tempos da escola; o que não leva ninguém a lugar nenhum, mais uma vez.  

Esquecendo-se dos imbróglios que já se arrastavam anteriormente e olhando de maneira fixa para o início da Pandemia, há pouco mais de 9 meses que quem dá as cartas é o COVID-19. Ele está batendo de 7x1 na seleção do mundo, haja vista o terceiro lockdown imposto pelo Reino Unido, no dia de hoje; mesmo em franca vacinação, mesmo com todo planejamento traçado, mesmo com todos os recursos disponíveis. Porque o danado invisível é esperto que só! Está se transformando numa rapidez que está colocando a Ciência com a língua para fora, na tentativa de superá-lo.  

Ele é mais ele. Na sua linha de raciocínio tanto faz se a economia vai mal ou vai bem. Se milhões irão morrer. Ele quer se reproduzir, se manter vivo e ativo, só isso. Até faz lembrar alguns governos que se baseiam em olhar apenas para si e causam uma destruição enorme. Matam sonhos. Matam esperanças. Matam pessoas no contexto da sua dignidade humana. Enfim...

Quem não se lembra dessa fala no filme Matrix 1? “Eu gostaria de te contar uma revelação que eu tive durante o meu tempo aqui. Ela me ocorreu quando eu tentei classificar sua espécie e me dei conta de que vocês não são mamíferos. Todos os mamíferos do planeta instintivamente entram em equilíbrio com o meio ambiente. Mas os humanos não. Vocês vão para uma área e se multiplicam e se multiplicam, até que todos os recursos naturais sejam consumidos. A única forma de sobreviverem é indo para uma outra área. Há um organismo neste planeta que segue o mesmo padrão. Você sabe qual é? Um vírus. Os seres humanos são uma doença. Um câncer neste planeta. Vocês são uma praga. E nós somos a cura. ...” (Agente Smith – Matrix). Pois é...

Enquanto isso, o país se permitiu ao longo de todos esses meses estabelecer um “efeito sanfona” de flexibilização, cujo padrão absurdamente heterogêneo conseguiu garantir a viabilidade de disseminação viral. De modo que mais de 190 mil cidadãos brasileiros morreram até agora. Mais de 7 milhões foram contaminados. Inúmeros casos de reinfecção. Desdobramentos variados com quadros de sequelas graves. Sem contar uma economia patinando em um cenário global de incertezas e de demandas, acrescidas de uma das piores crises ambientais promovidas no país. Desmatamentos e incêndios devastaram hectares e hectares da Floresta Amazônica, do Pantanal e do Cerrado, impactando severamente a fauna, a flora e os recursos hídricos nessas regiões.  É pouco ou quer mais?

Nem diante desse cenário horroroso fez-se mover as peças do tabuleiro. Corrijo, a falta de soluções se expandiu e na contramão, eis que parte da sociedade decidiu trabalhar em desfavor do país, como se nada estivesse acontecendo aqui ou em qualquer lugar do planeta. Aglomerações. Muitas. Variadas. Fake News sobre as possíveis vacinas. Mobilizações contra as medidas de isolamento social. Guerra ao uso de máscaras. Quase que um surto paralelo de “Napoleões de Hospício”.

Mas, brincadeiras à parte, a situação é gravíssima. Método não é um princípio exclusivamente científico; mas, de vida. Não dá para fazer as coisas do fim para o começo. Senso lógico, senso crítico, senso prático são premissas fundamentais para se alcançar os objetivos, para solucionar as demandas. Se o país sem Pandemia já necessitava de método, com ela esse trato é fundamental. É preciso parar com esse “diz que me disse” infernal e assumir uma postura de país responsável e ativo. Com tantos sobressaltos e descompassos, o Brasil realmente “não consegue respirar”. E como sabemos... quem não respira morre. Então...



1 Matrix (The Matrix, 1999) -  https://www.youtube.com/watch?v=2KnZac176Hs 

segunda-feira, 4 de janeiro de 2021

DIA MUNDIAL DO BRAILLE




As perdas e suas reflexões...


As perdas e suas reflexões...

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Sempre tive em mente que as perdas humanas chegariam com a velhice. Me enganei feio! Observando o movimento que a Pandemia tem desenhado sobre a vida, me coloquei a pensar a respeito e percebi que muito antes do esperado já havia me despedido de muita gente. Entre próximos e distantes, queridos e não tão queridos assim, a lista já se faz bem significativa para alguém que nem chegou aos 50.

Então, fui arrebatada por milhares de lembranças. Momentos especiais e triviais do cotidiano, os quais essas pessoas fizeram parte comigo. Tempos bons, em que eu nem cogitava pensar na ausência doída delas. Tempos em que tudo parecia ser para sempre; apesar da Legião Urbana cantar “...Que o pra sempre / Sempre acaba...”1. Mas, por teimosia e implicância a gente faz vista grossa e tenta não dar muita importância.

E cada luz que ia se apagando ia deixando uma marca, um gosto de quero mais, uma insuficiência do tempo compartilhado. Será que demos o melhor de nós naqueles momentos? Será que fizemos tudo o que poderíamos fazer juntos? Será que não haveria mais risos e gargalhadas? Será que usufruímos de toda a felicidade do mundo? ...

Talvez as perguntas se auto respondam. Talvez silenciem. Mas, tudo foi como deveria ser. Não cabem conjecturas a respeito. No entanto, todas elas dão conta da dimensão de como lidamos com a vida. De como construímos nossas relações, nossos afetos, nossas histórias. O que é de suma importância para mensurar o grau de comprometimento que pudemos estabelecer, para construir um lado bom mais representativo.

Viver por viver é fácil. Mas, viver no sentido de uma existência produtiva e significante é uma escolha desafiadora. Você se lança sem redes de proteção. Às vezes dá certo, outras não. E, assim, vai computando as vitórias, as derrotas, as alegrias, as tristezas, os sucessos, as frustrações... moldando a estrutura que faz de você quem é, na companhia de tanta gente que, mesmo como coadjuvante nesse processo, jamais deixou de ser essencial.

Porque seres humanos precisam de seres humanos para existir, para sobreviver, para sonhar, para produzir, ... para tudo. Ainda que a individualidade aponte nossas particularidades e especificidades, não somos autossuficientes o bastante para viver a solitude de uma solidão. Por isso, ainda que em memória suas presenças permanecem força e acalento; na medida em que conseguem extrair do mais profundo de nossas almas a energia que sempre nos uniu.

De certo modo isso nos ajuda a traçar uma outra perspectiva para o desconforto causado pelo isolamento social durante esse momento pandêmico. Porque esse é só um distanciamento temporário e que não impede o estabelecimento de contato por outras formas. Afinal, as limitações corpóreas, como abraços e beijos, não resumem o afeto, a sensibilidade, a emoção. Ainda podemos sentir e perceber a presença, a companhia, a troca por meio de vídeos, de palavras, de músicas, ...

Essa ausência de agora tem outro significado. É respeito. É carinho. É amor. É cuidado. É solidariedade. Fundamentos que dignificam o nosso senso de humanidade e nos fazem transcender as fronteiras, os espaços geográficos, para sobreviver e resistir nos campos da subjetividade existencial.  Assim, já, já, estaremos juntos de novo. Quem sabe, valorizando mais esses encontros, essas parcerias, essas presenças.

A Pandemia promoveu uma pausa. Estamos tendo tempo suficiente para pensar a respeito, para ressignificar as ausências até aqui, para extrair das reflexões preciosas lições, para olhar para a vida a partir de outras nuances. Porque, “Nenhum homem é uma ilha, isolado em si mesmo; todos são parte do continente, uma parte de um todo. Se um torrão de terra for levado pelas águas até o mar, a Europa ficará diminuída como se fosse um promontório, como se fosse o solar de teus amigos ou o teu próprio; a morte de qualquer homem me diminui, porque sou parte do gênero humano. E por isso não pergunte por quem os sinos dobram; eles dobram por vós” (John Donne – Meditações VII).

 

sábado, 2 de janeiro de 2021

Enquanto tudo parece dominado pela infâmia caótica...


Enquanto tudo parece dominado pela infâmia caótica...

 

 

Por Alessandra Leles Rocha

 

 

Há alguns anos isso seria totalmente impensado; mas, com o COVID-19 houve uma desglamourização da Medicina. A velha ideia que trazia a profissão ao pedestal do endeusamento ruiu, diante do desrespeito aviltante que toma conta da sociedade brasileira. Seja no serviço público ou privado, esses profissionais vêm sendo lançados as arenas da Pandemia, submetidos a exaustão de seus esforços e conhecimentos, conjuntamente com os demais membros dos corpos de saúde nacionais.

Isso significa que os horrores trazidos por essa recém-descoberta patológica se abateram democraticamente sobre todos. E a perda desses profissionais transforma os desafios em algo ainda mais difícil de superar, pois a complexidade logística impossibilita a sua reposição. Não se formam médicos e equipes intensivistas da noite para o dia; sobretudo, para atuar em condições tão extremas como as atuais.

A ideia romantizada do médico de família, do profissional elegante e disponível em seu consultório bem montado, trabalhando com o melhor da tecnologia disponível no mercado, ficou no passado. A realidade trouxe para a cena de guerra todos aqueles que estejam disponíveis e aptos a arregaçar as mangas. Mas, mesmo assim, a carência de profissionais ainda persiste, porque o ritmo frenético dos trabalhos e da contaminação pelo vírus compromete a manutenção plena das equipes; visto que, muitos precisam ser compulsoriamente afastados.

Enquanto isso, a mesma sociedade que reverenciava e aplaudia esses profissionais agora não se constrange em mantê-los trabalhando nessas condições. Aliás, é acintoso e curioso seu negacionismo para com a Ciência. Afinal de contas, ao mesmo tempo em que desqualificam e desconsideram às normas de prevenção à doença, sentem-se amplamente seguros pela existência desses profissionais, os quais no uso de seus conhecimentos, possam cuidá-los e assisti-los caso fiquem doentes. Tratam, portanto, as equipes de saúde como reles empregados à sua disposição.

Ao contrário do que possam pensar, mais do que qualquer glamour, o que retiram desses profissionais, a partir dessas atitudes e comportamentos, é algo muito maior e emblemático. Retiram-lhes o respeito humano e profissional, a dignidade, a sabedoria acumulada em longas e extenuantes jornadas de aprendizado e aprimoramento. O que promove uma frustração em massa e um questionamento profundo por parte desses profissionais, se vale mesmo a pena continuar esse sacrifício.

Ora, por trás de cada máscara, de cada avental, há um ser humano. Um ser que tem família, que tem amigos, que tem amores, que tem sonhos, que tem necessidades, enfim... Pessoas que escolheram servir aos outros na medida do acolhimento, do tratamento, do alívio das dores do corpo e da alma, ultrapassando, muitas vezes, os próprios limites. Dedicação absoluta por horas e horas a fio, numa corrida contra o tempo, contra as adversidades conjunturais, contra a teimosia insistente da morte.

Na vida, para o Bem ou para o Mal, as consequências são inevitáveis. Enquanto tudo parece dominado pela infâmia caótica, antes do que se possa imaginar o verdadeiro caos estará erguido. Porque pelo menos 33 países já identificaram variante mais contagiosa do COVID-19, incluindo o Brasil; o que significa, que a doença se espalha avassaladoramente.

Já vi a morte de perto e sei o que estou dizendo nessas palavras. O senso de humanidade reside em uma manifestação de via dupla. Não acredito em obrigação. Acredito em bom senso, em escolha, em vontade de fazer; especialmente, pelo outro como gostaria que fizessem por mim. Empatia? Sim; empatia fraterna, solidária, genuinamente humanitária. Porque somente assim é possível alcançar o resultado de ter mais um tijolinho na construção do que se imagina um mundo mais belo, mais justo, melhor.


sexta-feira, 1 de janeiro de 2021

#FELIZ2021


2021, nós, o mundo, na Era de Aquário

 

 

Por Alessandra L. Rocha

 

 

O desfolhar do calendário, talvez, não seja tão significativo para a grande maioria das pessoas. Mas, além dele, o importante é compreender que o mundo já transita pela força energética dos céus através da Era de Aquário, a era do Ser. Movidos por algo totalmente subjetivo e imaterial, que é a energia proveniente dos astros, os seres humanos estão em franca transformação de suas identidades, valores e consciência sem que tenham o controle a respeito desse processo. Afinal, se a Lua sempre interferiu nas marés, nos nascimentos, na vida, não dá para desacreditar na influência que emana de todos os demais astros da nossa galáxia.

Assim, entre eles e nós, surgiu o grande desafio do COVID-19, cujas circunstâncias impostas mostraram como todas as respostas e os conhecimentos estavam ultrapassados, demandando reformulações de rota, de sentido, de compreensão. Tarefa difícil e complexa, especialmente, porque a humanidade tem estado cada vez mais heterogênea para se mover simultaneamente, quando o assunto é mudar.

Portanto, o que parece óbvio para muitos não é para outros. Paciência não é apenas palavra de ordem, mas um exercício existencial. Até que a consciência atinja um patamar de equilíbrio será preciso conviver com as arestas, com os ajustes. Afinal, tudo passa. Enquanto na imensidão azul trabalham os astros, por aqui a vida realiza o seu contínuo processual. E assim as pessoas, conscientemente ou não, se adaptam na busca pela sobrevivência.

Sei que muitos pensam nas metamorfoses humanas apenas a partir de alterações biológicas visíveis; mas, o que de fato traduz a evolução humana sobre a Terra está no seu consciente e inconsciente, nas suas ações, nos seus comportamentos, nas suas expressões ideológicas. O que significa que as resistências estão com seu tempo contado. Velhos hábitos, finalmente, morrerão. Ao mostrarem-se ineficientes, insuficientes, prejudiciais, não haverá outro caminho senão alterar os padrões vigentes.

Aliás, o COVID-19 veio deixar tudo isso bem claro. O desconhecimento sobre ele lançou luz sobre o desconhecimento do ser humano sobre si mesmo. A trajetória da raça humana até aqui foi, portanto, marcada por uma ilusória e arrogante sabedoria que ela acreditava dispor. Tudo muito frágil. Muito limitado para garantir êxito. Para comemorar vitória. Como se cada passo devesse, então, ser marcado a partir de agora por um alerta de precaução contra a euforia, o imediatismo, o idealismo.

De modo que isso reverbera nas escolhas e nas consequências cotidianas. As pessoas tenderão a compreender melhor os resultados disso. Serão aprendizados mais práticos do que teóricos. Mais duros, certamente. No entanto, mais duradouros e eficazes. O que leva a um ganho exponencial para a construção de um espírito mais coletivo e menos individualista. Uma empatia fundamentada nas profundezas da experiência pessoal, fazendo desconstruir as desconfianças e desqualificações propostas pelos discursos e narrativas alheias.

E a vida, meus caros, continua a girar na sua costumeira frequência. Trazendo flores. Trazendo espinhos. Dias de sol. Dias de chuva. ... Então, na medida em que ela dá os seus rodopios o tabuleiro tem que se mexer, tem que se posicionar. O imobilismo, a ideia de ficar em cima do muro vendo a banda a passar, não cabe mais. A bem da verdade, nunca coube. O que havia era uma insistente afronta em contestar as obviedades.

Segundo o escritor Mia Couto, “A viagem não começa quando se percorrem distâncias, mas quando se atravessam as nossas fronteiras interiores. A viagem acontece quando acordamos fora do corpo, longe do último lugar onde podemos ter casa”. Agora todas as necessidades apontam para outra direção. Quem sabe, isso não signifique uma viagem rumo à materialização das palavras de Lulu Santos, na canção Tempos modernos1 , hein? Desapego. Consciência. Empatia. Diversidade. Tolerância. Amor. ... elementos estruturantes na dinâmica dessa nova Era. Sim, porque depois das lições de Como uma onda 2, que tem espelhado os últimos giros do relógio e seus acontecimentos, esse seria um grande resultado para 2021 e todos os demais anos que se seguirão. #PENSE NISSO #FELIZ2021