quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

CRÓNICAS E FICÇÕES SOLTAS – ALCOUTIM – RECORDAÇÕES, XLII


Escreve

Daniel Teixeira




Alcaria Alta

TEARES E RETALHOS

A Ti Maria Antónia da Ladeira era chamada da «ladeira» porque vivia numa casa na ponta de um pequeno cerro que conjuntamente com os outros faziam o aglomerado de cerros maior onde estava «plantado» o Monte de Alcaria Alta.

Em teoria um conjunto de montes chama-se de serra, mas seria abusivo chamar serra ao monte onde estava situado o Monte de Alcaria Alta até porque a altitude não era significativa, embora isso tivesse lugar, a pouca altitude, só em termos gerais.
A altitude era enorme para quem tinha de subir e descer aqueles montes e mesmo andar dentro do Monte aos altos e baixos era bastante cansativo. Na altura de miúdo e jovem não reparava muito nisso, mas já depois de uns quantos anos ininterruptos de cidade fomos lá com um casal amigo, almoçámos na Portelinha (atrás da venda do Zé Artur) e subimos ao Castelo (casa da minha avó - já falecida na altura) para dormir a folga e dormimos todos quatro horas de enfiada, sem dar por isso.

Não fizemos no total mais de quinhentos metros e quando acordámos foi despedirmo-nos das pessoas, pegar no carro e arrancar. Acabámos por fazer uma outra paragem, ainda com cansaço, com um desvio para Cacela Velha, onde na altura se comia marisco (ostras incluídas) por bons preços, aliás na altura era quase de borla, comparativamente.
Fiz o reparo sobre a ladeira e a Ti Maria Antónia - da Ladeira - porque não havia, na altura, mais Maria Antónia nenhuma no Monte e estes acrescentos sobre as localizações das suas moradas tinham precisamente por objectivo fazer desde logo distinguir as pessoas.

Talvez a senhora Antonica Vilão fosse Maria também mas não havia razão para que esta «Ladeira» como alcunha complementar tivesse lugar porque a outra, a ser Maria, também, era a senhora Antonica e assim a conheci desde sempre. Um irmão dela era Antonico (mas não era Vilão) e um filho também se chamou Antonico (Vilão).
Já falei nestas crónicas sobre isto: Ti Mari Joaquina do Rossio, Ti Mari Joaquina da Praça, enfim, para evitar estar a utilizar os apelidos (Guerreiro, Pereira, etc.) havia esta forma simplificada de nomear as pessoas.

Claro que estas denominações serviam para conversas entre terceiros mas não serviam para ter com a própria pessoa. A Ti Maria Antónia da Ladeira, em presença era a Ti Maria Antónia, unicamente, nem se justificava que se acrescentasse «da Ladeira», por exemplo estando-se em presença da própria pessoa.

Agora me lembro que os homens tinham a honra de serem chamados por nome e apelido e nem me lembro de haver necessidade de acrescentar o que quer que fosse talvez porque - só pode ser - não havia coincidências de nomes e apelidos. O meu avô era o Ti Dionísio e havia no Além o Zé Dionísio que não era «Ti» porque na altura ainda era bastante novo (aqui bastante novo quer dizer 40/50 anos).

Pois bem e regressando à senhora, ela tinha um tear e isto de ter um tear implica que se seja tecelão, mais pelo facto dele ter de servir para alguma coisa pois ao que parece era uma máquina bastante cara, complicado de usar e muitos deles resultavam de heranças de mãe para filha.

Acho que no fundo todas as mulheres sabiam tecer mas havia as que tinham tear e as que não tinham. O maior trabalho era realmente armar os fios e as linhas e o resto, que não era pouco, era dar ao pedal e aquela coisa pesava mesmo e devia ser bastante custoso levar um dia inteiro de trabalho naquilo.

Manta de Lã
A passagem daquilo a que eu chamo «navette» (vai - vem) que é uma peça em madeira que vai e vem com o fio que cruza e percorre sucessivamente em largura a peça a tecer e assim vai até ao final da tecelagem do pano em comprimento era impulsionada da esquerda para a direita do pano por um misterioso carolo que resultava também do movimento da pedalada.
Ou seja, a pedalada não só fazia alternar cruzando em x sucessivos os fios para o tecido nos bastidores (lã, retalho ou o que fosse) mas também accionava uma engenhoca que dava a pancada no vai - vem e o levava até ao final (ponta direita).
Ora o meu problema aqui, e de notar que faço questão de não ir consultar nenhum canhenho ou a Net sobre esta coisa, é o de saber como vinha depois o vai - vem da direita para a esquerda do pano e explico porquê:
Eu apesar de não ser muito aconselhado a um homem (mesmo miúdo) estar a apreciar o trabalho das mulheres, gostava de ver a senhora a tecer e não ela em especial mas ela estava muito tempo no tear ao contrário das suas colegas que conhecia que o faziam esporadicamente. Aliás era à Ti Maria Antónia da Ladeira que se mandava fazer as nossas mantas, fossem elas de lã ou de retalho.

De esclarecer que o retalho, talvez julgado um tecido pobre, agora recuperado em termos de prestígio pelo advento do turismo, era obtido durante o ano através do recorte de bocados de tecido que sobravam dos afazeres da minha mãe que era costureira também e teve como aprendizes as minhas primas quase todas.

Eu mesmo aprendi a fazer uma série de coisas que me desenrascaram e desenrascam bastante, tal como cozer botões, zippers, fazer bainhas, etc. Tudo à mão, no meu caso, nunca consegui acertar com o pedalar da máquina de costura...

As mantas ficavam giras porque à partida os novelos dos retalhos eram desde logo divididos por tonalidades e embora houvesse uma forte tendência para o abstraccionismo no conjunto talvez estivesse aí também uma parte da sua beleza.
Pois bem e voltando à navette (vai - vem) eu lembro-me que a Ti Maria Antónia da Ladeira aproveitava a minha presença por ali para me pedir para lhe passar o tal vai -vem da direita para a esquerda. Nunca procurei saber mais sobre isto mas acho que quando eu não estava presente ela tinha de se levantar do banco e ir ela mesma fazer esse trabalho.

Ora, se assim fosse, ela não só tinha o esforço de dar a pedalada (os bastidores eram enormes e logo deviam ser pesados) como ainda tinha de fazer quilómetros por dia para ir jogar o fio (na navette) da direita para esquerda.

Todas as histórias têm um final feliz e esta também vai ter (mesmo que eu esteja enganado quanto á parte da navette) : o marido dela, trabalhador nas suas propriedades no campo, era como todo o pessoal do Monte...pouco gastador ou gastando o estritamente indispensável e vendendo as suas alfarrobas, amêndoas, azeitonas, etc.
Alguém um dia, um parente salvo erro, que trabalhava num Banco disse-lhe que era melhor ele guardar o dinheiro no Banco, que ter o dinheiro em casa não era grande coisa, apesar dos tempos serem ainda bem diferentes, etc.

Ao que parece ele foi buscar o dinheiro que tinha em vários locais (buracos nas paredes como era uso) e o tal bancário ia caindo para o lado.

Os números aventados foram de diversa ordem, isto lá para os anos 60's, mas ficou assente por alguém que viu o talão do depósito que eram setecentos e cinquenta contos mais ou menos.

terça-feira, 15 de janeiro de 2013

D. CATARINA D `EÇA, NETA DOS 1ºs CONDES DE ALCOUTIM

Pórtico da Igreja dos Loios, Évora

Neta dos 1ºs Condes de Alcoutim visto ser filha de D. Afonso de Noronha, 4º filho do casal, que foi o 5º Vice-rei da Índia e que casou com D. Maria d `Eça.

Devia ter nascido por volta de 1550 e foi dama da rainha D. Catarina, mulher de D. João III.

Foi a última filha do casal.

Quando o pai governava Ceuta em nome de seu irmão, D. Pedro de Meneses, 2º Conde de Alcoutim e consequentemente seu tio, que serviu com grande préstimo, conseguindo gloriosas acções de armas, foi chamado por D. Afonso V ao Reino em finais de 1547.

Ordenou-lhe este que deixasse sua mulher, D. Maria d`Eça, a governar aquela Praça, em sua substituição, tal o conceito em que a tinha.

D. Catarina veio a casar com D. Rodrigo de Melo, que por morte de seu irmão passou a ser o filho mais velho do 2º Marquês de Ferreira, o que veio levantar algumas questões sucessórias entre ele e o sobrinho, filho do seu irmão mais velho que tinha falecido.

D. Rodrigo de Melo acompanhou D. Sebastião na desastrosa batalha de Alcácer-Quibir onde se bateu com ardor.

Veio a morrer de uma bala que lhe entrou pela boca a 4 de Agosto de 1578.

Entretanto, tinha falecido D. Catarina d `Eça. que foi buscar o nome à mãe e não ao pai, em 1573 segundo o epitáfio sepulcral que se encontra na Igreja de S. João Evangelista (Lóios) em Évora, local construído para receber os Melo.

Da ligação nasceu D. Francisco de Melo que morreu criança.

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História Genealógica da Casa Real Portuguesa, António Caetano de Sousa, Edição QuidNovi/Público – Academia Portuguesa da História, 2007.

Brasões da Sala de Sintra, Anselmo Braamcamp Freire, IN-CN, 1996.

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

PARA, EM E DE... ALCOUTIM

(PUBLICADO EM “POVO ALGARVIO”, Nº 2027, TAVIRA, 21 de ABRIL DE 1973)




Escreve

Álvaro Pais




... ... ... ...

De novo na estrada. Uma guinada a leste. Vamos em direcção a Alcoutim, a «vila pequenina», como estamos, acostumados a ouvir chamar-lhe ternamente, em apreciadas colunas deste jornal. Pequenina, mas muito asseada e de uma paz e sossego encantadores, ao menos por já raros neste barulhento mundo em que vivemos. À porta do café três rapazes conversavam pacatamente. Junto do rio, dois guardas vigiavam pachorrentamente. Mas qualquer coisa no ambiente nos sorria, nos acenava, nos acarinhava.
Sei das aspirações de Alcoutim e acho-as justíssimas. Mas que, quando as satisfizerem, não lhe tirem este cunho de graciosidade e precioso arcaísmo, que a distingue entre tantas! Façam-lhe as “armadilhas” do turismo à volta, mas não a abafem, não a desvirtuem, como têm feito a outras terras, não lhe tirem o encanto insubstituível que a reveste.

Dão nas vistas os capiteis das colunas, que separam as três naves, um pouco desproporcionadas, mas interessantes, embora de estilo pouco definido, e uma pia de água benta envolvente e tetralobulada.

A visita tinha de ser rápida e não dava tempo a verificar a exactidão dos apontamentos que outrora tirara, donde constava um baixo relevo no baptistério, colorido e muito aceitável, representando o Baptismo de Jesus, e cercado por uma orla onde se lia a a enigmática legenda: “1663 – Capitulum Sacrosantae Lateranensis Ecclesiae”.Que poderia ter o Cabido da Igreja de Latrão com Alcoutim?

Também anotara duas imagens antigas com interesse – uma Santa Catarina e uma Nossa Senhora com o Menino, a primeira do século XVII e a segunda do XVI. Existirão?

No altar da nave do Evangelho, havia uma telas, muito estragadas – Cristo crucificado, S. Miguel Purgatório e mais três pequenas com imagens de santas mas cobrindo pinturas em tábua muito melhores, Alberto Sousa e eu anotámos que “tudo isto, a não ser aproveitado na reconstrução, devia ir para um museu”. O que lhe teria acontecido?

Havia na igreja mais três painéis de pintura não boa – um Nascimento, uma “Entrega do Escapulário do Carmo” e uma “Visitação”. Todas estas peças, mesmo que não tenham grande valor artístico, têm-no iconográfico e histórico e nunca se devem destruir nem alienar.

É claro que também não pude rever os paramentos e peças de ourivesaria que anotara: uma casulo francesa, do século XVI, com sebastos de veludo, panos laterais de seda lavrada e guarnições de brocatel; e outra casulo verde, também do século XVI, em damasco com sebastos de brocatel; uma custódia de prata dourada, do século XVII, em dois corpos sobrepostos, havendo no superior uma estatueta de N. Senhora da Conceição; dois cálices de prata branca, um liso, outro cinzelado, do século XVII: e um cofre para a guarda da Eucaristia, de prata e madre-pérola.

Os retábulos da capela-mor e da colateral esquerda pareceram-me restaurados, por sinal com desvirtuamento das suas características, principalmente o segundo, que classificáramos como do século XVI ou princípios do XVII, apondo esta observação: “ se não for aproveitado no restauro, deve ser destinado a um museu”.

À saída da paroquial, ainda fui mostrar à minha gente a lápide da Misericórdia a indicar a altura da cheia de 1876 e apontar-lhe, de longe, a pitoresca e algo sumptuosa capela de Nossa Senhora da Conceição, donde se goza razoável panorama do rio, pueblo fronteiriço  de S. Lucar e cerros circunvizinhos.

Propriedade da Câmara Municipal; já existia em 1712 e deve ter sido restaurada logo após a Restauração de Portugal, quando D. João IV difundiu largamente o culto da Padroeira de Portugal, pois certamente é mais antiga, como o afirma o seu pórtico de arco ogival e ornamentos retintamente manuelinos. Lá dentro tem um interessante retábulo de talha dourada e pintada, do século XVII, encimado pelo escudo português coroado, aos lados do qual se vêem a palma e o ramo de cedro – alusões aos passos bíblicos adaptados à Virgem; “exaltada com a palma em Cades e como o cedro no Líbano”.

Nestas evocações chegáramos àqueles três banquinhos frente ao rio, tão acolhedores e onde se deve estar tão bem em noites calmas de verão, quando uns sinos se fizeram ouvir. Instintivamente voltámos os olhos para a torre, mas logo percebemos que o som... vinha de Espanha. Curioso! Estávamos em Portugal, ouvindo tocar os sinos em Espanha! Mas – mais curioso ainda – Começámos a ouvir uma voz que dizia: “En nombre del Padre y del Hijo... “ Um alto-falante transmitia a missa de San Lucar, inundando de religiosidade todo o “pueblo”, os campos, o rio, e a povoação portuguesa fronteiriça. Nós, em Portugal, ouvimos missa em Espanha!

Achei curioso, prático, perfeitamente actualista, “aggiornante” e – vamos lá! – triunfalista (encaixem os “anti”!. Seria muito difícil suprimir, o triunfalismo se é preciso ganhar uma causa! De contrário, virá o “derrotismo”.

Impunha-se a partida, tanto mais se aproximava a hora do almoço, programado para “piquenique”. Este realizou-se bucolicamente junto à ribeira da Foupana e... foi coroado em glória pela garrafa de champanhe com o prior de Cachopo, fidalga e fraternalmente, celebrou a nossa passagem pelo seu “vaticano”, depois de se ter apreciado a obra de persistência e dedicação que representa aquela igreja. Mas isso fica para outra vez!

sábado, 12 de janeiro de 2013

OUTRO JOGO EM ALCOUTIM – AS RIFAS



Escreve

Gaspar Santos





Detentor de bens cuja posse era dispensável, e, para fazer algum dinheiro com vista a cobrir outras necessidades mais urgentes, o alcoutenejo muitas vezes rifava alguma coisa. A rifa consistia em atribuir um valor ao produto a rifar, muito maior do que aquele pelo qual os interessados o comprariam. Isto é, um valor superior ao do mercado e dividi-lo em 100 ou 200 bilhetes e vender cada um deles identificado por um número. Vendidos todos os números, que iam sendo registados numa folha de papel, seria feito um sorteio que, se sério, era por extracção de uma pedra numerada do saco de um loto.

No início da minha adolescência saiu-me um enorme galo no bilhete 9 duma dessas rifas. Da minha sorte tive grande satisfação, nessa data e que durou muitos anos, até que intempestivamente vim a saber que houvera batota.

A vizinha Elisa mãe do Castro Fernandes tinha nesse tempo muitas bocas a quem pôr à mesa. Quando as dificuldades económicas eram maiores, pegava num galo da capoeira ou num borrego e rifava-o para realizar algum dinheiro. O exemplar a rifar acompanhava vivo a venda dos bilhetes ao colo da dona. Devo acrescentar que esta prática não era exclusivo dela, pois muitas outras pessoas assim faziam uma vez por outra.

Numa dessas vezes eu comprei-lhe o nº 9. Saiu-me o galo. Depois meus pais decidiram que o galo era muito grande só para nós e, por isso, ele o levaria para comer com os amigos na “Sacristia” (!!) que é como quem diz, com os homens da fábrica de foices e outros daquela “confraria”.

 Essa foi a desculpa para mim. Depois levou-me um prato do guisado para eu provar e não ficar só com água na boca.

Esta recordação viveu comigo vários anos até que já fora de Alcoutim, em Lisboa, calhou em conversa com esta família falarmos disto.

Qual não foi o meu espanto quando ela me contou a verdadeira versão, até com alguma alegria por desiludir a minha satisfação. Ei-la:

Quando faltavam ainda muitos bilhetes, digamos um terço do total, ela fez venda das rifas ao tesoureiro da Fazenda Pública Vitoriano Ferreira a quem mostrou a lista dos concorrentes. Ao que ele disse: compro todos os números que faltam se sair no 9 ao Gaspar.
E foi assim que minha ilusão se apagou. Mas se esse pormenor se apagou, não caiu no esquecimento o facto na sua totalidade.

Ao divulgar esta recordação serve também para lembrar a vizinha Elisa Fernandes, uma mulher solidária, com garra, que criou muitos filhos com dificuldades mas sérios, honestos e trabalhadores de quem fui e sou amigo. Lamento que esta nossa vizinha e amiga tivesse uma morte trágica por atropelamento em Lisboa.

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

FORQUILHA DE MADEIRA

Este utensílio agrícola indispensável nas antigas eiras, com a mecanização da debulha verificada no concelho de Alcoutim em meados do século passado, praticamente, deixou de existir.Hoje, poucos haverá pendurados e sem qualquer uso num palheiro desactivado ou em qualquer outra arrecadação, olhados por quem os conheceu na sua utilização, faz recordar tempos passados.

A forquilha de madeira (também a havia em ferro como já aqui apresentámos), era constituída por uma haste a chamada cabo que se liga a um pedaço de madeira de cerca de dois palmos de comprido a que se chama coração e no qual se fixam pelo menos três dentes, igualmente de madeira. A variação do número de dentes tem a ver com vários factores, principalmente, com o tamanho do coração.

Na sua feitura eram utilizadas madeiras resistentes, como o azinho no cabo e no coração e o zambujo para os dentes incrustados na peça do meio através de orifícios feitos com um trado, ferramenta muito utilizada nestas zonas.

Era trabalho destinado ao abegão, mas havia quem se ajeitasse a fazê-los para o seu serviço.

Utilizava-se na debulha dos cereais, nas eiras, para espalhar o material, o que também se fazia com o forcado depois remexia-se a palha com o fim de a separar do trigo.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

D. JOÃO IV


Outro dos volumes que em boa hora foi lançado por Temas e Debates em Reis de Portugal, desta vez dedicado a D. João IV, o Rei Restaurador e 1º da 4ª Dinastia.

O trabalho, além de referir directamente a pág. 131 os Condes de Alcoutim, desenvolve como é natural, os Meneses da Casa de Vila Real que foram sacrificados no Rossio em Lisboa em 1641, por alegadamente terem entrado na conspiração contra D. João IV.

No formato de 17X25 cm e 384 páginas, comporta vários quadros, entre os quais a Lista dos Fidalgos Aclamadores de 1 de Dezembro de 1640 e Títulos Nobiliárquicos da Rede dos Aclamadores ou seus descendentes, 1641 – 1707.

Uma extensa Cronologia dos principais acontecimentos e as Genealogias da Casa de Bragança e a Família Real Portuguesa, séculos XV, XVI e XVII.

Além da Bibliografia apresenta-nos o indispensável índice remissivo.

São autoras do trabalho Leonor Freire Costa, doutorada em História Económica e Social e Mafalda Soares da Cunha, doutorada em História Moderna, isto entre os vários títulos que possuem.

sábado, 5 de janeiro de 2013

COMENTÁRIO DE DANIEL TEIXEIRA



Daniel Teixeira





Não porque seja «da praxe» acrescentar comentário ao comentário mas este texto do José Varzeano para além de se enquadrar num processo que tem seguido com outros colaboradores do Blogue Alcoutim Livre (coisa que eu gostaria de poder fazer também aqui no Raizonline) tem para mim um significado especial.

De um lado trata-se de falar na minha colaboração escrita sobre o Concelho de Alcoutim, que é uma coisa que me toca muito, em vários sentidos, mas é também o anotar de que mesmo sendo a minha alma pequena, vale sempre a pena.

Pequena (a minha alma aqui) porque inicialmente tive a convicção de que escrever sobre este Concelho era, em certa medida, trabalho perdido porque sempre achei que em Alcoutim não há mesmo nada já que se possa fazer para o fazer reviver e essa morte que anunciava eu não a queria lembrar nem aceitar e queria sobretudo não pensar nela.

Manta de Lã feita em Alcaria Alta
Mas isto acontece um pouco com quase tudo, ter esta sensação de que não vale a pena: neste jornal temos uma larga participação de pessoas que lutam por causas que pelo menos aparentemente são causas perdidas desde há muito.

O passado deixou de contar como lição para o presente e para o futuro e há dificuldade por vezes em fazer entender que nunca se pretendeu um regresso ao passado, apenas se tem querido que esse passado não seja esquecido.

Ora quem fala do passado? Só pode ser quem o viveu (os cotas) e digo infelizmente porque esse passado não se transmitiu ou não «entrou» no desenvolvimento cultural que se tem seguido. Foi mau, esse passado (?) ou foi uma coisa que não merece manter os seus traços? Tenho dificuldade em aceitar isso...

Uma parte substancial, por exemplo, dos Prémios Nobel ou outros têm sido entregues a alguns mais jovens mas muito mais a pessoas com tradição cultural implantada, com provas consolidadas: o falecido escritor José Saramago disse que a pessoa que mais lhe ensinou na sua vida foi o seu avô que não sabia ler nem escrever e todos nós temos exemplos de lições de vida que recordamos. O passado não foi e não é assim tão inócuo como isso: todos nós o sabemos e alguns esquecem (ou pensam que esquecem).

Há dias, bastantes, ouvi um jovem poeta e romancista, muito bom, na minha opinião, dizer que sabia que nunca seria um Fernando Pessoa ou um Tolstoi ...as referências comparativas que se vão buscar, na literatura, por exemplo, na sua grande parte, são de consagrados alguns deles já falecidos. E para isso o passado serve, serve para isso e deveria servir para muito mais.

Ora bem, dito isto quero agradecer ao José Varzeano e aos restantes colaboradores, leitores e amigos do Blogue Alcoutim Livre. Vou continuar a escrever no estilo e sobre os assuntos que sei...

E termino com um poema de PedroAfonso que fui «pescar» aqui.

rega as tuas plantas

semear é sorrir no futuro. Por entre a terra
recordar amanhã.
O meu quintal é pequeno
e acredito que cobrir-lhe os muros
com vida
não é apenas uma forma de
me alhear.

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

Descobrir o Folclore


Pequena nota

Recebemos deste nosso amigo, recentemente o texto que a seguir publicamos após ter  sido autorizado pelo autor.

O assunto tratado já o conhecia de uma maneira geral, pois sempre tivemos interesse por tal temática, tendo-nos habituado desde bem novo a ouvir especialistas na matéria que pugnavam como lhes competia pela verdade e não pela fantochada.

O folclore é um assunto muito sério que obriga a um âmbito muito alargado de conhecimentos e a uma investigação cuidada, como têm de ser todas as investigações. Esta área oferece dificuldades, pois segundo pensamos saber, a documentação escrita é escassa e a oral é muito falível e necessita de confirmação, o que por vezes é difícil de obter.

Um agrupamento folclórico não se faz de um dia para o outro, não basta arranjar uns músicos, enfarpelar as cachopas com saias ou blusas garridas, que ao dançar façam levantar as saias e arranjar um poeta popular, em que o país é fértil para escrever umas letras a contento. Isto é, quando muito, um grupo carnavalesco e neste contexto tudo é admissível.

Este texto serviu para nós e serve para toda a gente que verdadeiramente se preocupe como o assunto, ficando assim mais esclarecido.

JV

 

 
Escreve 

Lino Mendes



Em Portugal moram os grupos de folclore “mais representativos” a nível mundial; mas é também em Portugal que mais de metade dos grupos “que de folclore se dizem” não têm representatividade. Em parte porque nunca se promoveu uma ”Educação para a Cultura da Tradição”, porque o ensino da “cultura tradicional” não entrou ainda no “ensino básico”, porque mesmo ao nível das cúpulas culturais não se sabe o que é folclore, que a UNESCO também se designa por “cultura tradicional e popular”. Aliás, muitos são lá por cima os que consideram “folclore” como coisa de somenos: não ligues que isso não passa de folclore. Aliás ainda, por que muitos são os que ainda não aceitaram que o “popular” e o “erudito” são duas faces da mesma moeda—a Cultura—e que se situam  em  “espaços” que não em” patamares” diferentes. Não compreendendo também ainda que até é no popular que se situam os valores “identitários”.

Pois bem, depois da Secretaria de Estado da Cultura não ter mostrado interesse pelo projecto que “sem custos” lhe apresentámos (refiro-me ao anterior Secretário de Estado, que o actual ainda não respondeu), avancei com a elaboração de um pequeno texto destinado à Escola de Montargil, que foi elaborado com todo o cuidado e seriedade. A pesquisa de conteúdos e o texto base é de minha responsabilidade, que entretanto solicitei a revisão ao antropólogo Dr. Aurélio Lopes que bastante o enriqueceu em especial na forma, para finalmente a escritora Rita Vilela lhe conferir uma linguagem visando o público alvo—os alunos dos 4 anos do ensino básico (e naturalmente todos os que ainda não se iniciaram ou pouco sabem da matéria.

Iniciativa muito interessante a considerou o Dr. Aurélio Lopes, com formação académica mas também experiência no terreno.

O texto é-vos hoje apresentado, e gostaria de saber a vossa opinião sobre o mesmo, inclusivamente para o melhorar, se disso for caso.

 
FOLCLORE?! O QUE É ISSO?

FOLCLORE é um conjunto de tradições, de usos e costumes ligados à maneira como os nossos antepassados viviam, no tempo em que a sua vida ainda não era influenciada pelos usos e costumes de outros povos.

Consegues imaginar um tempo em que “viajar” significava apenas ir trabalhar para outras terras durante algum tempo?

Nesse tempo, quando “viajavam”, as pessoas podiam trazer ou deixar uma ou mais danças, canções, provérbios... Alguns ficavam na cabeça do povo, que os ia adaptando, de maneira espontânea, à sua maneira de ser e de estar.

Dizem os entendidos que a partir de 1910 tudo o que foi criado já não pode ser considerado tradição, folclore, mas nós não acreditamos… pois houve terras onde o progresso chegou mais tarde, e foi o progresso que fez parar a evolução das tradições.

O que cabe dentro do folclore? Música, dança, canções, provérbios, anexins… tanta coisa!

PARA QUE SERVE UM GRUPO FOLCLÓRICO?

Serve para manter vivas as nossas tradições, e também para mostrar, através do espectáculo, os usos e costumes de antigamente, para que as pessoas os possam conhecer.

Um grupo folclórico é assim um tipo de MUSEU VIVO.

Mas, para se poder mostrar como as coisas eram realmente, é preciso que os trajos, as danças, os cantares sejam resultado de uma pesquisa.

Como deves imaginar, à medida que o tempo passa, é cada vez mais difícil encontrar pessoas que ainda conheceram as pessoas que viviam nesses tempos… e começa a ser raro encontrar velhinhos que nos possam falar do tempo dos seus avós. Mas a pesquisa tem de ser feita, não podemos inventar.

HÁ ROUPAS MAIS FEIAS E OUTRAS MAIS BONITAS…

Não interessa se um trajo de um grupo folclórico é mais ou menos bonito, o que é realmente importante é que ele seja igualzinho àquele que usavam os nossos antepassados. E o mesmo se passa com a música…

O outro ponto que temos de garantir é que tudo seja da mesma época: a música, o “baile”, o traje, os cantares… todas as vivências das nossas gentes de um mesmo tempo.

SOMOS UM RANCHO !!!

Decidimos chamar-nos RANCHO FOLCLÓRICO DE MONTARGIL. A designação de GRUPO FOLCLÓRICO também podia servir, mas preferimos o RANCHO pois, em terras como a nossa, um grupo de trabalhadores era chamado de RANCHO de trabalhadores. Há regiões onde um grupo de pessoas se chama RUSGA, outras onde o termo correto é RONDA… na nossa é RANCHO!

HÁ GRUPOS EM QUE OS HOMENS VESTEM DE IGUAL E AS MULHERES TAMBÉM…

Um “grupo de folclore” representa um povo e este não veste todo de igual… Porque é que um grupo folclórico havia de vestir?

Trajo ou farda? Os fatos do folclore chamam-se trajo. FARDA é o que usam a GNR, a PSP, as BANDAS DE MÚSICA, é vestir todos de igual.

 

NOTA FINAL

Quando vemos um grupo folclórico a atuar estamos a assistir a um pedaço de História, não estamos preocupados em fazer um espetáculo ao nosso gosto, estamos a representar os nossos antepassados, gente que viveu entre 199 e 1920. A pesquisa é base de tudo, em folclore não podemos inventar. E não conseguimos recuar no tempo para além dos finais do século XIX.

Isto é apenas o começo. Há tanto a aprender, tanto a descobrir…

Vestir um trajo é transformar-se numa personagem de outros tempos… e, enquanto fores uma “personagem antiga”, não podes usar coisas modernas, só da altura que o traje representa.

Se usas pinturas, brincos, pulseiras, relógios de pulso, rabo-de-cavalo, se te comportas com alguém do teu tempo… ninguém vai acreditar em ti.

Texto elaborado para as aulas de “Iniciação ao Folclore”, na Escola Básica Integrada de Montargil, facultativo e para os primeiros três anos de escolaridade

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Alcoutim, 1965


Câmara Escura de hoje é uma interessantíssima fotografia que não é muito vulgar.

Existem muitíssimas fotografias de Alcoutim mas quase todas tiradas de Sanlúcar ou do seu castelo, o que não acontece com esta, que apresenta um ângulo fotograficamente pouco conhecido, ou seja, tirado do sul e neste caso de um barco.

Nesta perspectiva, o castelo aparece em posição de evidência e se nesta altura não servia de pocilgo, era utilizado como curral. Um colega de trabalho que já se encontrava em Alcoutim quando lá chegámos, dizia-nos muita vez que nunca mais se esqueceria do espectáculo que lhe proporcionavam os ovinos balindo na “esplanada”, quadro que desfrutava do seu gabinete de trabalho. Hoje, o castelo só não é uma sala de visitas da vila porque é necessário pagar para o visitar.

Se olharmos bem para ela, podemos encontrar algumas diferenças para o que no presente é.

Esta fotografia foi tirada, como se refere no título, em 1965, quando nós ainda não tínhamos chegado a Alcoutim e é seu autor, Eckart K. E. Frischmuth, cidadão alemão, que passou cerca de dois anos em Alcoutim, tendo-se hospedado em casa do senhor Luís Lopes Corvo.

Dominando relativamente bem o português era um jovem na casa dos 22/23 anos, louro e com 1,98 de altura.

Foi para Alcoutim a conselho de um professor com o intuito de preparar o trabalho final do curso de Geólogo. Desconhecemos se seria de licenciatura ou de um grau mais elevado, pois o tempo de permanência pode sugerir isso.

Não deixou de ser notado o seu rigor no horário de trabalho, que cumpria rigorosamente, o que não admira devido às características daquele povo. À hora marcada, era vê-lo sair sempre com martelo de geólogo a caminho do Cerro da Mina ou de qualquer outro local. Cumpria igualmente a hora de regresso.

Segundo nos consta enquadrou-se bem na vida alcouteneja e tinha uma excelente relação com a juventude local.

Foi-nos sempre referido que ele com o seu 1,98 e um alcoutenejo seu amigo, que terá cerca de 1,5 m ou pouco mais, deram grande espectáculo passeando pela praia de Monte Gordo, ao lado um do outro!

Francisco António João, vulgo Chico Balbino, contou-nos que quando trabalhava na Alemanha se encontrou com ele.

É pena que este trabalho científico não seja do conhecimento dos alcoutenejos.

Acresce referir que a fotografia nos foi amavelmente cedida, como tem acontecido com outras, pelo alcoutenejo nosso amigo, José Madeira Serafim, a quem muito agradecemos.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

Começamos bem o Ano!




À NOSSA COLABORADORA
PELA PASSAGEM DO ANIVERSÁRIO NATALÍCIO
HOJE OCORRIDO.
 
BOM REGRESSO E QUE ENCONTRE AS “CRIANÇAS”
SOSSEGADAS.


VOTOS
DO